segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Reconstituição


 Porque não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz. (Lucas 8:17)

A Reconstrução Dos Fatos


Ali estava o assassino entre os guardas civis e rodeado de veículos da polícia, de magistrados, de advogados, de testemunhas e de alguns jornalistas. Ele assistia cabisbaixo a reconstrução dos fatos ordenada pelo juiz. Ele pensava que nunca teria que prestar contas pelo que havia feito. Todavia, havia sido obrigado a retornar e ver certos rostos, tornar a pensar neste crime acerca do qual sua consciência tanto o havia reprovado, que talvez desejasse apagar de sua mente. Ele quase conseguiu fazer isso, mas a situação deu um giro inesperado. 

Fato é que cada indivíduo terá que assistir uma reconstrução total de sua vida por ordem da justiça divina. Tudo o que foi escondido será revelado. “Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo” (Romanos 2:16).

Essa é uma das afirmações mais sérias do evangelho. Existe uma memória infinita e infalível que grava nossos atos e gestos, e os trará à luz diante do Tribunal de Deus (Apocalipse 20:12). Ali se pronunciará um veredito inapelável.

Sim, existe um Deus que tudo sabe e Ele realizará um julgamento. Mas também existe um Salvador, Seu Filho Jesus Cristo, que conhece perfeitamente todos os nossos pensamentos e ações mais secretas. Ele nos convida a irmos até Ele tal como estamos e independentemente do que tenhamos feito. Ele pagou por nossas faltas e quer perdoar-nos agora, para que não tenhamos que encontrá-Lo amanhã, diante do grande trono branco, como o Juiz. Hoje é o dia da salvação, o amanhã não nos pertence.

“Mas a ti agradou livrar a minha alma da cova da corrupção; porque lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados” (Isaías 38:17).

sábado, 24 de outubro de 2020

O QUE É PECADO? - Luciano Subirá

Centrado em Cristo


 

Devo ser equilibrado ou centrado?

Daniel Lima

É muito comum ouvirmos que o segredo da vida é o equilíbrio. Por exemplo, tua vida, como a minha, deve incluir amizades, família, trabalho, devoção e lazer. E, para poder cumprir tudo que nos é exigido, devemos manter tudo em equilíbrio, certo? Tenho ao longo da minha vida tentado alcançar este equilíbrio. Com isso me pego tentando dar a diferentes e conflitantes prioridades a devida atenção. Afinal, preciso ser excelente em meu trabalho e ministério; ao mesmo tempo, desejo ser um pai e esposo presente e interessado. Preciso manter contato com os amigos, além de cuidar da saúde, estar disponível para aqueles que pedem minha ajuda e ser um bom vizinho. Juntamente com isso, preciso me manter informado de acontecimentos, tendências e ler uma enorme quantidade de novos livros (todos “essenciais”) que são lançados semanalmente. Percebe-se que essa é uma proposta falida. Ninguém consegue atender a todas as demandas e manter o ideal do equilíbrio. Apesar de ser uma proposta válida, é uma tarefa sobre-humana.

Há algum tempo tenho pensado que nosso alvo não é o equilíbrio, mas algo diferente. Como acredito que o Senhor controla minha vida e os eventos ao meu redor, e como estou comprometido a viver de acordo com a vontade e os planos dele, minha busca não deveria ser por equilíbrio entre muitas exigências, mas sim estar centrado nele. Deixe-me explicar: diante das demandas conflitantes que me cercam, posso tentar atender todas dentro da minha limitação, mas certamente o valor que vou dar a cada tarefa ou relacionamento será contaminado por meus interesses e pelo interesse dos outros. (E estes interesses nem sempre são puros ou refletem a mente de Cristo.)

Jesus não buscava equilíbrio, nem fazia simplesmente o que as pessoas esperavam dele. Na verdade, mais de uma vez ele se recusou a fazer o que as pessoas pediam (João 6.14-15Mateus 16.4). Ele também não simplesmente equilibrava suas atividades na tentativa de manter todos relativamente contentes. Seu foco era superior, mais nobre. Jesus era alguém centrado. Reconhecendo que ele vinha do Pai, seu foco era cumprir a vontade do Pai. Em João 5.19 lemos:

Jesus lhes deu esta resposta: “Eu digo verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer, porque o que o Pai faz o Filho também faz”.

Uma vez que nos tornamos seguidores de Jesus, este é nosso modelo: não tentar cumprir ansiosamente todas as tarefas e oportunidades que surgem, mas buscar fazer o que o Pai faz. Em João 6.38, Jesus afirma ainda com mais clareza:

Pois desci dos céus, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou.

Com isso não estou promovendo a irresponsabilidade, mas encorajando você, leitor, a tentar organizar sua vida, não em termos de equilíbrio entre inúmeras demandas, mas a buscar assumir apenas compromissos que estejam alinhados com aquilo que Deus tem para você. Sim, eu sei que temos de trabalhar e que haverá muitos momentos em que o que eu estou fazendo parece não contribuir diretamente para o Reino. No entanto, não acredito que existem momentos irrelevantes em nossa caminhada com Deus. Mesmo que eu esteja fazendo um trabalho rotineiro, ou assistindo uma aula desinteressante, ou limpando mais uma vez minha casa, neste momento eu estou em comunhão com o Senhor do universo. Paulo comenta em dois momentos sobre essa realidade. Primeiramente, em Colossenses 3.23-24:

Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo.

Nesta passagem ele destaca que não há tarefas sem relevância para um seguidor de Jesus. Não existem funções espirituais e carnais. Para quem entregou sua vida a Jesus, tudo é espiritual, por isso fazemos tudo como para ele. Paulo escreve em Gálatas 2.20:

Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.

A vida que temos hoje, vivemos pela fé, é uma vida espiritual. Li recentemente um poema de Elizabeth Barrett Browning, que tomo a liberdade de adaptar e reproduzir aqui:

A terra está repleta do céu,
E Deus põe em chamas cada arbusto comum:

Mas somente aqueles que veem, tiram seus calçados;
Os outros apenas se sentam ao redor e colhem pitangas.

Minha oração é que a tua e a minha vida sejam centradas em Cristo e não estressadas numa tentativa alucinante de manter tudo em equilíbrio. Pode levar algum tempo, mas eu te desafio a reduzir o ritmo, a não se comprometer com tudo que lhe é pedido. Quando o povo de Israel pediu para adorar a Deus no deserto, a estratégia do faraó (e de Satanás) foi justamente lhes dar uma agenda mais apertada. Eu não quero perder um encontro com Deus num arbusto em chamas por estar ocupado demais colhendo pitangas...


domingo, 11 de outubro de 2020

Herodes


 

Herodes e seus descendentes no Novo Testamento

Fredi Winkler

Herodes e alguns dos seus descendentes são importantes na história do Novo Testamento. Para muitos leitores das Escrituras, as ligações familiares entre Herodes e os diversos descendentes da sua dinastia são um pouco confusas, inclusive porque o Novo Testamento chama dois desses descendentes simplesmente de Herodes, pois afinal descendem da dinastia herodiana. Trata-se, no caso, de Herodes Antipas, que reinava quando Jesus viveu na terra, e de Agripa I, que reinou no tempo dos apóstolos.

Herodes e seus descendentes governaram por um período de quatro gerações entre os anos de 37 a.C., quando Herodes, o Grande subiu ao poder, e 92 d.C., quando morreu seu bisneto Agripa II.

Ao longo da sua vida, Herodes teve mais de dez mulheres e consequentemente também muitos filhos. O Novo Testamento menciona apenas alguns deles, e passaremos aqui a citá-los em sequência.

Filhos de Herodes que herdaram partes do seu reino: Herodes alterou três vezes o seu testamento; a última pouco antes da sua morte em 4 a.C. Neste ele designou três dos seus filhos como herdeiros parciais do reino: Arquelau, Antipas e Filipe. Como cada um recebeu só parte do reino, eles não eram reis como seu pai. Receberam o título de tetrarcas, ou seja, príncipes de um quarto. Os romanos autenticaram o testamento de Herodes.

Arquelau

Arquelau, o filho mais velho, recebeu a Judeia, a parte maior do reino. Depois da morte de Herodes, a situação na Judeia se deteriorou progressivamente, e Arquelau revelou-se incapaz de controlá-la. Por isso, os romanos o depuseram no ano 6 após um reinado de dez anos. A partir de então, os romanos governaram a região diretamente por meio de um procurador. Arquelau é mencionado apenas uma vez no Novo Testamento, em Mateus 2.22.

Antipas

Antipas recebeu a Galileia e a Pereia, uma região a leste do Jordão e do mar Morto. Seu reinado foi mais feliz que o do seu irmão Arquelau, tendo durado de 4 a.C. até 39 d.C. Ele edificou Tiberíades como sua capital junto ao lago de Genesaré, denominando-a assim em homenagem ao imperador Tibério.

Antipas é citado várias vezes no Novo Testamento porque governou durante todo o período que Jesus passou na terra. Nunca, porém, ele é denominado por seu nome particular Antipas, mas sempre apenas de Herodes. Esse fato é a razão principal da falta de clareza quando se cita o nome Herodes.

Em Lucas 3.1, Antipas é mencionado cronologicamente pela primeira vez com a designação de “Herodes, tetrarca da Galileia”. Ele adquiriu fama lamentável pela decapitação de João Batista (Mt 14.1-13).
Antipas é citado várias vezes no Novo Testamento porque governou durante todo o período que Jesus passou na terra.

Nos evangelhos, Antipas é mencionado pela última vez no contexto do interrogatório do Senhor Jesus por Pôncio Pilatos. Quando Pilatos descobriu que Jesus era originário da Galileia, ele o enviou a Herodes Antipas a fim de que este o julgasse. Ele, porém, enviou-o de volta, contrariando Pilatos (Lc 23.1-15).

Filipe

Filipe é mencionado apenas uma vez no Novo Testamento, em Lucas 3.1. Foi-lhe atribuído o governo das regiões da Itureia e de Traconites, ao norte do lago de Genesaré. Ele governou de 4 a.C. até sua morte, em 34 d.C., tendo edificado a cidade de Paneas (atual Banias) para ser sua capital. Denominou a cidade de Cesareia em homenagem ao imperador. Como, porém, já existia uma Cesareia no litoral do Mediterrâneo, sua cidade ficou conhecida como Cesareia de Filipe (Mt 16.13).

Agripa I

Agripa I era neto de Herodes o Grande. Seu pai era Aristóbulo, um filho de Mariamne, a segunda mulher de Herodes. Ela era neta de Hircano, o último rei dos asmoneus, que reinaram antes de Herodes. Com isso, Agripa I era descendente tanto de Herodes como também dos asmoneus ou macabeus, como também eram chamados. Pelo fato de ser descendente não só de Herodes, mas também de ser um asmoneu, ele gozava de alguma simpatia e de reconhecimento entre os judeus. Seu pai Aristóbulo deveria ter sido herdeiro do trono junto com seu irmão Alexandre, mas Herodes acusou ambos e também sua mãe Mariamne de conspiração e mandou executá-los.

Agripa I cresceu em Roma na corte imperial e também viveu a maior parte do tempo ali, até que no ano 37 Calígula, o sucessor do imperador Tibério, fez Agripa rei e lhe deu o domínio da região órfã de Filipe. Ele tinha 47 anos de idade e reinou cerca de sete anos, até 44 d.C.

Herodias, que ganhou vergonhosa fama no episódio em torno da morte de João Batista, era irmã de Antipas (Mc 6.14-29).

Quando o imperador Calígula foi assassinado em janeiro de 41, Cláudio, seu sucessor, tornou Agripa soberano de todo o reino de Herodes, o Grande.

Em Atos 12.1-19, Agripa I é chamado de rei Herodes. Ele matou à espada Tiago, o irmão de João, e lançou Pedro na prisão, o qual foi então libertado pela intervenção milagrosa de um anjo. Os versículos 20 a 23 relatam sua morte súbita em Cesareia por um anjo do Senhor, porque ele “não glorificou a Deus”. Muitas vezes isso também é visto como juízo pela execução de Tiago e a tentativa de matar Pedro. Ao que parece, com isso ele queria conquistar a estima dos judeus, especialmente dos fariseus. Na ocasião, seu filho Agripa, de 16 anos, ainda era jovem demais para assumir sua sucessão, de modo que o país voltou a ser governado por um procurador romano.

Agripa II

No ano 50 d.C., aos 22 anos, Agripa II, o filho de Agripa I e bisneto de Herodes, o Grande, recebeu das mãos do imperador Cláudio o título de rei sobre a região do seu tio-avô Filipe, com a capital Cesareia de Filipe. Mais tarde, ele mudou o nome da cidade para Neronias para bajular o novo imperador, Nero. Quando Cláudio morreu, em 54, o novo imperador Nero entregou a Agripa mais territórios para administrar, entre os quais Tiberíades, a capital de Antipas.

Depois do início da rebelião dos judeus contra Roma no ano 66, ele tentou evitar uma guerra entre Roma e os judeus através da negociação. Os romanos premiaram sua lealdade aumentando seu território.

O discurso de defesa de Paulo diante de Festo, Agripa, Berenice e os líderes da cidade de Cesareia é um dos mais significativos de Paulo.

Entre os anos 48 e 66 d.C., Agripa teve a prerrogativa de nomear os sumos sacerdotes judeus.

O Novo Testamento menciona Agripa II (junto com sua irmã Berenice) no contexto do encontro de Paulo com o governador Festo (At 25.13–26.32). O discurso de defesa de Paulo diante de Festo, Agripa, Berenice e os líderes da cidade de Cesareia é um dos mais significativos de Paulo.

Na introdução do seu discurso de defesa, Paulo elogia Agripa como excelente conhecedor de todos os usos e polêmicas dentre os judeus e se declara feliz por poder defender-se diante dele. E as últimas frases chegam a ser espantosas (At 26.25-29). Paulo diz: “Rei Agripa, crês nos profetas? Eu sei que sim”. O próprio Agripa responde então a Paulo: “Por pouco você me convence a tornar-me cristão”.

De onde Paulo tinha a firme convicção de que Agripa cria nos profetas? Atos 13.1 menciona Manaém, um membro da igreja de Antioquia, e informa que ele foi educado com Herodes, o tetrarca. A referência é ao pai de Agripa II. Será que Paulo recebera desse Manaém mais informações sobre a família Agripa e sua posição em relação à fé judaica?

Ao que parece, Agripa II foi o mais nobre de toda a dinastia herodiana. Quando o governador Festo morreu após um mandato de dois anos, o sumo sacerdote Anano aproveitou a oportunidade para perseguir a comunidade cristã em Jerusalém. Ele matou Tiago, o irmão do Senhor, e mais alguns outros membros da igreja. Quando Agripa foi informado disso, ele imediatamente destituiu Anano.

O Novo Testamento sempre chama Agripa II de “rei Agripa” e nunca simplesmente de Herodes, como seus antecessores. Ele governou do ano 50 até sua morte (aprox. 92 d.C.).

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

A Glória de Deus


 

Como Deus é Grande!

Reinhold Federolf

A Bíblia menciona diversas vezes que Deus apareceu em meio a nuvens. Não eram nuvens de chuva, nuvens normais como as que vemos no céu; eram nuvens relacionadas à glória divina. Acompanhe este artigo e seja encorajado em sua caminhada cristã.

A coluna de nuvens e de fogo no deserto

Êxodo 13.21 diz acerca do povo de Israel que Deus conduzira para fora do Egito: “Durante o dia o Senhor ia adiante deles, numa coluna de nuvem, para guiá-los no caminho, e de noite, numa coluna de fogo, para iluminá-los, e assim podiam caminhar de dia e de noite”. Essa coluna de nuvem e de fogo sinalizava a presença do próprio Deus, como podemos ler em Êxodo 14.24: No fim da madrugada, do alto da coluna de fogo e de nuvem, o Senhor viu o exército dos egípcios e o pôs em confusão. A Bíblia Viva traduz esse texto da forma que o encontrei em diversas traduções alemãs: “De madrugada, o Senhor olhou da nuvem para as tropas egípcias...”. Não é interessante? Deus olhou para fora da nuvem. Ele estava na nuvem, de onde olhou para os inimigos de Israel.

Dali, da nuvem, Deus protegeu os israelitas e castigou os egípcios: A coluna de nuvem também saiu da frente deles e se pôs atrás, entre os egípcios e os israelitas. A nuvem trouxe trevas para um e luz para o outro, de modo que os egípcios não puderam aproximar-se dos israelitas durante toda a noite” (Êx 14.19b-20). O próprio Deus olhava da nuvem para os egípcios, interferindo sobrenaturalmente para barrar o ataque iminente do inimigo, deixando claro que Ele lutava por Israel (v. 25). Para os leitores mais críticos, o texto bíblico sublinha: Naquele dia o Senhor salvou Israel das mãos dos egípcios, e os israelitas viram os egípcios mortos na praia” (v. 30). Todos podiam ver e se admirar com o que Deus fizera, percebendo a forma maravilhosa com que Ele libertou Israel dos egípcios.

Essa nuvem divina significava que Deus estava manifestando visivelmente a Sua presença em um lugar específico. Assim que Moisés entrava, a coluna de nuvem descia e ficava à entrada da tenda, enquanto o Senhor falava com Moisés” (Êx 33.9). Deus estava legitimando Seu servo Moisés com Sua presença impressionante, visível a todos no arraial, com a descida da coluna de nuvem. Ela simbolizava o encontro entre Deus e Moisés quando falava com ele no santuário, como um amigo, face a face (Êx 33.11; Dt 34.10). Em inglês é comum encontrarmos o termo nuvem teofânica quando a Bíblia relata a manifestação divina em uma nuvem especial, sobrenatural e celestial.

A presença filtrada de Deus

No início da jornada pelo deserto, Moisés queria ver a glória de Deus. Então disse Moisés: “Peço-te que me mostres a tua glória”. E [Deus] acrescentou: ‘Você não poderá ver a minha face, porque ninguém poderá ver-me e continuar vivo’. Quando a minha glória passar, eu o colocarei numa fenda da rocha e o cobrirei com a minha mão até que eu tenha acabado de passar. Então tirarei a minha mão e você verá as minhas costas; mas a minha face ninguém poderá ver” (Êx 33.18,20,22-23).

Essa presença velada e escondida de Deus, uma presença como que filtrada, pode ser melhor entendida com a análise de outros versículos sobre o assunto: Então o Senhor falou a vocês do meio do fogo. Vocês ouviram as palavras, mas não viram forma alguma; apenas se ouvia a voz” (Dt 4.12). Deus parece se esconder dos homens.

Jesus explicou essa realidade: “ Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido” (Jo 1.18). E mais: Ninguém viu o Pai, a não ser aquele que vem de Deus; somente ele viu o Pai” (Jo 6.46). O apóstolo João diz a mesma coisa: “Ninguém jamais viu a Deus...” (1Jo 4.12). Paulo fala da necessidade de uma transformação completa para chegar perto de Deus: Irmãos, eu declaro a vocês que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus nem o que é perecível pode herdar o imperecível” (1Co 15.50).

Quem é Deus?

Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). A Bíblia nos mostra que o Deus vivo não é material, que a substância divina é espírito e que, além disso, Ele é supratemporal. E foi esse Deus que criou o universo material e o “tempo” físico. Nossa própria percepção de tempo e espaço, portanto, também é algo criado, assim como foram criadas a matéria e a energia. O próprio Deus é muito maior que o cosmo que Ele criou. E Deus é eterno!

O que a Bíblia chama de “eterno” é uma situação intemporal. E em circunstâncias intemporais, ou seja, em um constante e permanente presente, não existe um antes nem um depois. Com isso, torna-se supérflua a pergunta: “Quem criou a Deus?”, ou “de onde veio a informação que Deus usou na Criação?”. Pois o Deus-Espírito, que é atemporal e está acima do espaço, que é onisciente e infinitamente inteligente, esse já existe desde sempre. Isso também significa que tudo, tudo mesmo, sem exceção, é do conhecimento Dele. Não existe o mais ínfimo detalhe que Ele não conheça. Por exemplo, Ele sabe tudo sobre cada uma das moléculas de nosso corpo, do Sol, da nebulosa de Andrômeda... Ele conhece e sabe da situação de cada molécula do universo todo. Exatamente esse é o significado de “onisciente” ou “infinitamente inteligente”. E é com um Deus assim que lidamos, como explicou o cientista e evangelista alemão Werner Gitt. Deus, no final, é Aquele em quem está incorporado todo o universo material. Essas coisas, porém, não podem ser analisadas cientificamente, uma vez que não são materiais. Elas só podem ser compreendidas pela fé.

O salmista exclama maravilhado: Ele determina o número de estrelas e chama cada uma pelo nome. Grande é o nosso Soberano e tremendo é o seu poder; é impossível medir o seu entendimento” (Sl 147.4-5)Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que põe em marcha cada estrela do seu exército celestial, e a todas chama pelo nome. Tão grande é o seu poder e tão imensa a sua força, que nenhuma delas deixa de comparecer!” (Is 40.26).

Por que razão esse ser inimaginavelmente grandioso e poderoso, majestosamente elevado acima das infindáveis profundezas do universo, se interessaria justamente por nós, por você e por mim? O Salmo 8 se ocupa com essa questão: Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?” (v. 3-4).

A Bíblia nos mostra claramente que Deus não nos achou mais ou menos por acaso no universo, mas que o cosmo todo, com todos os seus 10 na 80ª potência de átomos foi criado para nós, homens. Além disso, fomos criados na imagem de Deus. Isso significa que temos muitas características que o próprio Deus tem, por exemplo a linguagem, a criatividade e o pensamento matemático. Criamos coisas completamente inéditas. Isso nenhum animal faz! Só que o homem caiu profundamente ao pecar pela primeira vez e decaiu de seu estado inicial perfeito. A Bíblia relata essa queda e suas consequências. Mesmo assim, homens e mulheres continuam sendo produtivos e criadores de muitas coisas novas, úteis e maravilhosas. Pena que se afastaram de Deus, de livre e espontânea vontade. Por isso, Deus amaldiçoou o cosmo inteiro, que Ele havia classificado de “muito bom”. Por causa dessa maldição é que vemos tanto mal no mundo. E por isso é que os homens se tornaram semelhantes a animais e hoje suas características divinas são apenas um resto do que já possuíram e resquícios do que já foram capazes. Nesse dilema todo, porém, o que traz esperança e alento é saber que um dia essa maldição será suspensa e tudo voltará a ser como foi planejado desde o início.

Já há 3.000 anos, quando outros povos adoravam o Sol e a Lua, animais, árvores e pedras como seus deuses, Israel já sabia mais: sabia que tudo o que vemos é criação de Deus, mas não é o próprio Deus!

Esse Deus grandioso, onipresente, onisciente e todo-poderoso trabalha agora de forma individual no coração de todos os que O aceitam, que creem e confiam Nele. “Pois Deus, que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6). Assim, hoje a presença de Deus é tangível pela fé, e essa divina presença transforma nossa vida.

O rei Salomão, extremamente inteligente, se perguntava diante da grandeza e majestade de Deus: Mas será possível que Deus habite na terra? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem conter-te. Muito menos este templo que construí!” (1Rs 8.27). E mais tarde ele disse: O templo que vou construir será grande, pois o nosso Deus é maior do que todos os outros deuses. Mas quem é capaz de construir um templo para ele, visto que os céus não podem contê-lo, nem mesmo os mais altos céus? Quem sou eu, então, para lhe construir um templo, a não ser como um lugar para queimar sacrifícios perante ele?” (2Cr 2.5-6).

Salomão acertou o ponto. Já há 3.000 anos, quando outros povos adoravam o Sol e a Lua, animais, árvores e pedras como seus deuses, Israel já sabia mais: sabia que tudo o que vemos é criação de Deus, mas não é o próprio Deus!

Uma pequena acrobacia numérica

Deus é ainda muito maior do que o universo, que segundo avaliações atuais, tem um raio de mais de 70 bilhões de anos-luz. Nosso Sol tem uma circunferência de 4.366.813 quilômetros, que equivale a 109 vezes a circunferência da terra (12.756 km), e nossa Lua alcança meros 3.476 km. A distância da terra à Lua é de 384.400 km e até o Sol são 146.000.000 de quilômetros. A luz precisa de 8 minutos e 19 segundos para chegar do Sol até nós (à velocidade da luz, que é de 299.792,458 km por segundo). Se um raio de luz circundasse o Sol, levaria 14,6 segundos.

Essa pequena acrobacia numérica serve para dar suporte à nossa imaginação quando nos movemos em direção à estrela hipergigante VY Canis Majoris. Para circundá-la, um raio luminoso precisaria de oito horas e meia. Para entender melhor, façamos uma simulação: entremos num avião e circundemos o Sol a uma velocidade de 900 quilômetros por hora. Essa viagem levaria quase meio ano e ao redor de VY Canis Majoris precisaríamos de 1.165 anos. Como já dissemos, para circundar o Sol um raio de luz precisa de 14,6 segundos e para Canis Majoris, 8,5 horas. Se representarmos a Terra com uma moeda de 1 Real, VY Canis Majoris seria uma bola gigantesca de 10 quilômetros de diâmetro. Se simularmos o tamanho de Canis Majoris no tamanho de uma bola de basquete, o Sol seria ainda menor que um grão de poeira.

Portanto, existem sóis que são milhões de vezes maiores e brilham milhões de vezes mais intensamente que o Sol. Os astrônomos conhecem, hoje, algumas dessas estrelas. Se chamam Eta Carinae, Betelgeuze, HR 5171A, Antares A, V 354 Cephei, Cassiopeia, R 136a1 e Mira. Se já ficamos cegos olhando para o Sol por muito tempo, como seria olhar para VY Cannis Majoris, milhões de vezes mais forte que o Sol? E tudo isso é apenas parte da criação de Deus! Por isso está escrito que Deus é o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém” (1Tm 6.16).

Quem vê Jesus vê a Deus

Em relação a Jesus Cristo está escrito que Deus ...nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1.2-3).

Jesus Cristo é a irradiação da glória de Deus e a expressão exata da Sua substância e do Seu ser. Foi por isso que Jesus perguntou a Seus discípulos cheios de dúvidas: Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: ‘Mostra-nos o Pai’?” (Jo 14.9). Em outra passagem lemos: Então Jesus disse em alta voz: ‘Quem crê em mim, não crê apenas em mim, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou’” (Jo 12.44-45). Tudo o que Jesus falou, a maneira como agiu e, finalmente, tudo o que Ele fez por nós reflete com exatidão e espelha perfeitamente o coração de Deus, o Ser de Deus e os propósitos divinos para conosco! Isso não é maravilhoso?

Ao invés de ficarmos matutando sobre um Deus como ser espiritual e no lugar de ficarmos arrepiados ao tentar imaginar a grandiosidade de um Deus tão inacessível à nossa compreensão, podemos olhar para Jesus. Aí saberemos exatamente o que é amor, compaixão e bondade e compreenderemos o que significa disposição para o sacrifício em lugar de outros. O Senhor Jesus fala em nome do Seu Pai: Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu teria dito a vocês. Vou preparar lugar para vocês. E, quando eu for e preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver” (Jo 14.1-3).

Um exemplo para esclarecer as coisas

Jesus Cristo em forma humana é como que o “transformador” divino. O que significa isso? Cito um exemplo: a gigantesca hidrelétrica brasileira de Itaipu, perto das Cataratas do Iguaçu, gera eletricidade. As 20 turbinas (no máximo 18 funcionam) produzem 700 megawatts de energia elétrica. No início a voltagem é de 6.600 volts, que então é transformada em 345.000 volts e transportada até importantes instalações industriais, onde chega com 138.000 volts. Parte da energia chega mais fraca a vilas e cidades, com apenas 13.800 volts, suficiente para abastecer entre 5.000 e 10.000 domicílios, agora transformada em 110 ou, conforme a região, 220 volts. O que aconteceria se 13.800 volts fossem jogados diretamente nas redes residenciais? Quase todos os aparelhos elétricos iriam queimar. Algo semelhante aconteceria se víssemos a Deus. Nossos sentidos não suportariam Sua glória e teríamos de morrer imediatamente. Por isso precisamos de Jesus para servir de transformador e “filtrar” a presença divina. O que Moisés viu ou conseguiu ver foi um pouco da glória divina – que não era nada mais do que Jesus Cristo antes de Sua encarnação (veja Fp 2.6-9).

Essa presença de Deus parcialmente visível também se manifestou mais tarde, no Templo, através da nuvem e no meio da nuvem: Quando os sacerdotes se retiraram do Lugar Santo, uma nuvem encheu o templo do Senhor, de forma que os sacerdotes não podiam desempenhar o seu serviço, pois a glória do Senhor encheu o seu templo” (1Rs 8.10-11). Obviamente era impossível descrever acertadamente essa maravilhosa presença divina; com ela, era preciso entrar em contato de forma direta e pessoal.

Cena semelhante aconteceu quando Jesus dirigiu a palavra ao funcionário público Levi, sentado na coletoria, e o chamou para que O seguisse (Mc 2.14). Levi percebeu imediatamente que uma pessoa muito especial estava falando com ele, pois em Jesus “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).

Ao invés de ficarmos matutando sobre um Deus como ser espiritual e no lugar de ficarmos arrepiados ao tentar imaginar a grandiosidade de um Deus tão inacessível à nossa compreensão, podemos olhar para Jesus. Aí saberemos exatamente o que é amor, compaixão e bondade e compreenderemos o que significa disposição para o sacrifício em lugar de outros.

Jesus veio em forma de servo e em figura de homem (Fp 2.6). Mas houve uma situação especial no monte da Transfiguração, mais uma das pequenas e raras aberturas da dimensão celestial: Ali ele foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e suas roupas se tornaram brancas como a luz. Naquele mesmo momento, apareceram diante deles Moisés e Elias, conversando com Jesus... Enquanto ele ainda estava falando, uma nuvem resplandecente os envolveu, e dela saiu uma voz, que dizia: ‘Este é o meu Filho amado de quem me agrado. Ouçam-no!’” (Mt 17.2-3,5). Quatro coisas extraordinárias chamam nossa atenção aqui: Jesus resplandeceu na glória divina com um fulgor tão forte como o Sol. Essa é uma fonte de luz e de energia que não conhecemos, não dessa forma. Aí apareceram Moisés e Elias falando com Jesus. Mais uma vez a velha e conhecida nuvem filtrou a presença divina, envolvendo todo o cume do monte, e a voz de Deus se fez ouvir. Que momento sublime! Não foi por acaso que, de repente, Jesus começou a brilhar tão intensamente como o Sol. No Apocalipse lemos acerca da maravilhosa Jerusalém celestial: A cidade não precisa de sol nem de lua para brilharem sobre ela, pois a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua candeia” (Ap 21.23).

A revelação de Deus no Sinai

As últimas palavras de Moisés foram: “Como você é feliz, Israel! Quem é como você, povo salvo pelo Senhor?” (Dt 33.29). Será que ele estava certo falando assim? A experiência de Israel no monte Sinai representou uma significativa etapa em sua formação e um marco em sua história. Lá aconteceu algo único, um evento singular que diferenciou Israel de todas as outras nações. O próprio Deus disse que essa era uma prova da Sua existência: “Perguntem, agora, aos tempos antigos, antes de vocês existirem, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra; perguntem de um lado ao outro do céu: Já aconteceu algo tão grandioso ou já se ouviu algo parecido? Que povo ouviu a voz de Deus falando do meio do fogo, como vocês ouviram, e continua vivo? Ou que deus decidiu tirar uma nação do meio de outra para lhe pertencer, com provas, sinais, maravilhas e lutas, com mão poderosa e braço forte, e com feitos temíveis e grandiosos, conforme tudo o que o Senhor fez por vocês no Egito, como vocês viram com os seus próprios olhos?... Reconheçam isso hoje, e ponham no coração que o Senhor é Deus em cima nos céus e embaixo na terra. Não há nenhum outro” (Dt 4.32-34,39).

Com o majestoso evento no monte Sinai Deus estava sublinhando visivelmente a Sua vinda e a Sua presença, conferindo peso e significado ao Seu falar especial com Moisés. Foi um começo marcante, carregado de simbolismo, para deixar bem claro a todo o povo de Israel a seriedade de Sua eleição “dentre todos os povos”: Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e raios, uma densa nuvem cobriu o monte, e uma trombeta ressoou fortemente. Todos no acampamento tremeram de medo. Moisés levou o povo para fora do acampamento, para encontrar-se com Deus, e eles ficaram ao pé do monte. O monte Sinai estava coberto de fumaça, pois o Senhor tinha descido sobre ele em chamas de fogo. Dele subia fumaça como que de uma fornalha; todo o monte tremia violentamente, e o som da trombeta era cada vez mais forte. Então Moisés falou, e a voz de Deus lhe respondeu” (Êx 19.16-19).

Esses acontecimentos extraordinários impressionavam e assustavam os povos que viviam em Canaã e arredores (veja Nm 14.11-16). Isso fica comprovado no diálogo de Raabe quando protegia os espias israelitas: e lhes disse: ‘Sei que o Senhor deu a vocês esta terra. Vocês nos causaram um medo terrível, e todos os habitantes desta terra estão apavorados por causa de vocês. Pois temos ouvido como o Senhor secou as águas do mar Vermelho perante vocês quando saíram do Egito, e o que vocês fizeram a leste do Jordão com Seom e Ogue, os dois reis amorreus que vocês aniquilaram. Quando soubemos disso, o povo desanimou-se completamente, e por causa de vocês todos perderam a coragem, pois o Senhor, o seu Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra’” (Js 2.9-11). O medo do poderoso rei moabita Balaque e de seus anciãos midianitas, quando mandaram chamar Balaão para enfraquecer Israel por meio de uma maldição (Nm 22-24) testemunha seu grande pavor diante desse Deus poderoso.

Um Deus que conduz Seu povo

A coluna de nuvens indicava as datas e demarcava os locais da singular peregrinação do povo de Israel pelo deserto, mostrando quando o povo devia parar e quando devia desmontar acampamento e seguir a jornada. Um povo estava sendo preparado. Durante o dia o Senhor ia adiante deles, numa coluna de nuvem, para guiá-los no caminho, e de noite, numa coluna de fogo, para iluminá-los, e assim podiam caminhar de dia e de noite” (Êx 13.21; veja Nm 9.15-23). Deus conduzia e protegia Israel como um pastor faz com seu rebanho. Com o movimento da nuvem Ele treinava Seu povo nas áreas de obediência, persistência, confiança e disposição. Essa descrição da nuvem indo com eles é um pequeno aperitivo da maravilhosa presença de Deus que um dia estará sobre Seu Santo Monte Sião, quando a terra voltará a estar acoplada à dimensão divina: o Senhor criará sobre todo o monte Sião e sobre aqueles que se reunirem ali uma nuvem de dia e um clarão de fogo de noite. A glória tudo cobrirá” (Is 4.5). Por essa razão, em Pentecostes apareceram chamas de fogo acima dos discípulos, para expressar visivelmente a presença de Deus no coração de cada salvo e Sua morada em todos os crentes (At 2.3).

A glória de Deus em Ezequiel

A glória de Deus em uma nuvem pode ser vista mais uma vez em Ezequiel: Olhei e vi uma tempestade que vinha do norte: uma nuvem imensa, com relâmpagos e faíscas, cercada por uma luz brilhante. O centro do fogo parecia metal reluzente” (Ez 1.4).

No livro de Ezequiel encontramos revelações proféticas grandiosas. Ele viu antecipadamente a invasão de exércitos inimigos em uma nação de Israel restaurada e o arrasador juízo divino sobre Gogue de Magogue, que virá do extremo Norte. Ezequiel também apresenta dados exatos e detalhados do futuro Templo, o quarto Templo judeu no Reino Milenar de Paz com sede em Sião. E mais: o relato de Ezequiel nos capítulos 47 a 48 fecha perfeitamente com a revelação do Apocalipse (capítulo 21). E ainda existem pessoas que questionam onde o Novo Testamento fala que Israel tem um futuro planejado por Deus!

Ezequiel viu a vinda (velada) de Deus na nuvem de glória (Ez 1). A revelação divina, Seu falar especial com Israel e a manifestação de Sua vontade para essa nação perpassam a Bíblia toda, como um fio conduzindo a história desse povo. Na revelação divina à queda em pecado, a perdição do homem e a necessidade de salvação ocupam um grande espaço. Porque Deus nos ama e nos busca, Ele manifestou Sua presença, para nós hoje ainda invisível e inacessível, repetidamente e de forma velada, porém perceptível, e isso se deu quase exclusivamente através do povo de Israel. Mas nós, gentios e não judeus, também podemos saber que nosso Senhor Jesus nos abriu o Céu e, com Sua morte em sacrifício por nós, Ele garante que voltará e nos buscará para estarmos com Ele.

As nuvens especiais de Deus

E as nuvens divinas no Novo Testamento? A ascensão de Jesus também poderia ser chamada de arrebatamento de Jesus. No começo do livro de Atos encontramos os detalhes desse evento: “Tendo dito isso, foi elevado às alturas enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu da vista deles” (At 1.9). A tradução dessa passagem em outros idiomas diz que uma nuvem veio e O levou, encobrindo-O ao seu olhar. Portanto, o Senhor não foi subindo cada vez mais até sumir na camada de nuvens. O arrebatamento de Jesus não tem nada a ver com distância; Ele não viajou até as bordas do nosso universo para então alcançar o Céu onde Deus está. Não! Uma nuvem veio e O levou, como um portal que se abriu para recebê-Lo em outra dimensão. As nuvens divinas sempre aparecem quando o Céu se abre. Aí, nas nuvens, as dimensões divinas normalmente inacessíveis se abrem e se tornam acessíveis. O Arrebatamento da Igreja também envolve essas misteriosas nuvens divinas: Depois nós, os que estivermos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre” (1Ts 4.17).

Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma com que sou plenamente conhecido” (1Co 13.12).

Essas nuvens não têm nada, absolutamente nada em comum com nuvens de chuva e vapor condensado. Elas representam janelas no Céu, aberturas da dimensão divina. Enquanto o Arrebatamento acontecerá em um momento, num piscar de olhos, lemos em Apocalipse 11 do arrebatamento diferente, lento, de duas pessoas muito curiosas: as Duas Testemunhas, que serão arrebatadas ao Céu depois de três anos e meio de ministério em Jerusalém. Esses homens serão assassinados pelo governante mundial e depois de três dias e meio, ressuscitarão espetacularmente por meio da intervenção sobrenatural divina e então serão chamados ao Céu: Então eles ouviram uma forte voz dos céus, que lhes disse: ‘Subam para cá’. E eles subiram para os céus numa nuvem, enquanto os seus inimigos olhavam” (Ap 11.12). A subida das Duas Testemunhas poderá ser observada por todos, nos mínimos detalhes, pois a mídia mundial se encarregará de transmitir ao vivo o seu arrebatamento ao Céu. Esse arrebatamento não será o da Igreja. Serão dois profetas judeus desaparecendo da vista humana. E mais uma vez temos uma nuvem servindo de portal para a entrada na dimensão de Deus.

Esse acontecimento se dará em um período muito marcante, pois será dentro dos sete anos apocalípticos. Mesmo sendo um tempo tão breve, o mundo verá o cumprimento de numerosas e antigas profecias bíblicas. A Bíblia fala muitas e muitas vezes de coisas que irão acontecer nesta que será a septuagésima semana de que falou o profeta Daniel. Esses sete anos somente poderão ter seu início depois que a Igreja de Jesus tiver sido tirada desta terra, após o final da Era da Igreja. Esses sete anos apocalípticos concluirão o plano de salvação de Deus com Israel. Pedro toca no centro desse ponto quando declara: É necessário que ele [Jesus] permaneça no céu até que chegue o tempo em que Deus restaurará todas as coisas, como falou há muito tempo, por meio dos seus santos profetas” (At 3.21). E então todo o Israel será salvo!

Com as nuvens do Céu: o final glorioso

O final glorioso da aparição dessas nuvens de Deus é mencionado por Jesus Cristo diante do sumo sacerdote: “... eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (Mt 26.64). Jesus, nesse confronto decisivo com as autoridades espirituais, apontou para o Filho do Homem de quem já falara o profeta Daniel: Em minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença” (Dn 7.13).

O sumo sacerdote entendeu imediatamente de quem Jesus estava falando: do Messias divino. Infelizmente ele rejeitou a última oportunidade de reconhecer Jesus como o Salvador enviado por Deus. Ao rasgar suas vestes sumo sacerdotais, a rejeição de Israel estava selada de forma irreversível, e por um longo tempo o véu do endurecimento caiu sobre o povo escolhido. Com certeza a liderança religiosa daquela época conhecia o Salmo 104, que falava do Senhor envolto em luz como numa veste, ele estende os céus como uma tenda, e põe sobre as águas dos céus as vigas dos seus aposentos. Faz das nuvens a sua carruagem e cavalga nas asas do vento” (v. 2-3). Mas o sumo sacerdote não queria, de forma alguma, relacionar tudo isso com a pessoa de Jesus Cristo, bem ali à sua frente. Essas nuvens em que Jesus virá em poder e glória para governar o mundo todo significam que o Céu se abrirá e a terra será reconectada: Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” (Mt 24.30).

Todos os homens do mundo todo verão Jesus Cristo, o Messias de Israel: Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todos os povos da terra se lamentarão por causa dele. Assim será! Amém” (Ap 1.7).

Ainda vivemos pela fé e não pelo que vemos: Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma com que sou plenamente conhecido” (1Co 13.12). E mais: Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3.2). Um dia estaremos frente a frente com nosso amado Senhor Jesus! Por isso, nesta vida tão passageira e tão fugaz, continuemos a seguir em frente mesmo em meio a todas as limitações, problemas e temores que nos assolam, sabendo que no final não haverá maldição nenhuma. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão. Eles verão a sua face, e o seu nome estará na testa deles” (Ap 22.3-4). O alvo divino e a coroação final então será: Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos” (1Co 15.28) — Reinhold Federolf