domingo, 20 de dezembro de 2020

Âncora


 

Âncora na tempestade

por Eitan Shishkoff

Estamos atualmente num momento de isolamento e rotinas interrompidas. A crise mundial da saúde afetou cada um de nós. Consequentemente, algo no âmago do meu ser está em busca de um terreno sólido. As circunstâncias da vida mudaram radicalmente, de uma forma que ameaça minha segurança interior. Sem saber o propósito final da minha vida, posso começar a me afogar nas ondas do Coronavírus.

A Pandemia e a Alma

As estatísticas de saúde mental fornecem um retrato sombrio da situação. Ligações para linhas diretas de suicídio estão disparando. Com a manchete “Pandemia de solidão, ansiedade: linha direta de crise diz que as ligações suicidas dobraram”, o The Times of Israel, em 30 de outubro de 2020, relatou “um nível sem precedentes de ligações para prevenção de suicídio – e muitas delas são de pessoas que não tinham problemas de saúde mental diagnosticados antes do início da pandemia.”

O site da Covid-19 Alert afirma que “luto, isolamento, perda de renda e medo estão desencadeando problemas de saúde mental ou agravando os já existentes … (levando a) níveis elevados de uso de álcool e drogas, insônia e ansiedade”.

Isso nos traz de volta à questão do propósito da vida. A vida é um acaso? Se meu corpo está sujeito aos caprichos de um vírus desenfreado, onde posso encontrar uma âncora nesta tempestade incontrolável? Por que estou aqui?

Retornando à nossa Origem

No início do relato de Gênesis, recebemos uma resposta simples, mas profunda.

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a.” (Gênesis 1.26-28, ênfase adicionada).

Claramente, nos inventar não foi uma ideia ou plano secundário. Faça uma pausa e procure digerir esta verdade: O eterno Criador do Céu e da Terra – que acabou de estender todo o universo – agora está descrevendo os seres humanos como portadores de sua imagem! Duas palavras são usadas aqui no texto hebraico. Uma é tzelem /צלם, do qual obtemos a palavra hebraica moderna para câmera. Nós não somos Deus. Mas, assim como uma fotografia reflete a imagem de seu objeto, refletimos o conteúdo original do cenário. A outra palavra é d’mute /דמות,  traduzida de várias maneiras como imagem, semelhança ou padrão.

Portanto, eu fui projetado para refletir a natureza de Deus. Uau! Algo profundamente assombroso. Fenomenal. Se eu permitir que esse fato penetre minha estrutura mental/emocional, sairei das ameaças de depressão, ansiedade, medo e confusão com nova clareza.

Qual é a medida da minha vida? Ou da sua? É que somos feitos à imagem de Deus. O apóstolo Pedro diz que somos “participantes da natureza divina” (2 Pedro 1.4). Minha âncora na tempestade é que estou em um relacionamento cooperativo com Deus, participando do seu empreendimento eterno. Esse fato se sobrepõe às circunstâncias imprevisíveis ao meu redor.

Que o mesmo Espírito, pelo qual o homem foi originalmente criado, conceda uma compreensão mais completa de quem somos, para que possamos não apenas sobreviver, mas florescer nestes tempos.

sábado, 19 de dezembro de 2020

José


 

O Exemplo de José

José faz parte da história de Jesus. Seu procedimento foi exemplar ao colocar Deus acima da sua própria percepção de justiça, tornando-se assim parte da profecia bíblica. Vamos examinar a conhecida história do Natal com base naquilo que sabemos sobre esse homem que desapareceu da história de modo tão discreto como entrou nela.

Cada vida escreve uma história. A vida de José participou da história de Jesus: “Foi assim o nascimento de Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Por ser José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente. Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse: ‘José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados’.

“Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: ‘A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel’, que significa ‘Deus conosco’.

“Ao acordar, José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa. Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus” (Mt 1.18-25).

1. José faz parte da história de Jesus

“Foi assim o nascimento de Jesus Cristo” (v. 18a). O procedimento de José faz parte dos conhecidos eventos em torno do nascimento do nosso Senhor. Ele se tornou um elemento sustentador. O nascimento encarnado de Deus é inseparável desse homem, embora ele não fosse seu “pai biológico”.

Hoje Deus também quer nos incluir em sua atuação. É assim que a história do evangelho se desenrola. Ela ocorre onde nós estamos presentes, onde vivemos e onde trabalhamos.

A nossa vida também escreve uma história. Seria a história de Jesus Cristo?

2. José agiu de forma exemplar

“Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Por ser José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente” (v. 18b-19).

José deve ter sido um bom sujeito. Tudo na sua vida parecia estar em ordem. Ele estava apaixonado, era trabalhador e zeloso, alegrando-se na expectativa do casamento com Maria, que vinha preparando.

A Bíblia o descreve como um homem “justo”. Isso significa que ele vivia fielmente de acordo com a Lei. Quando, então, descobriu que sua noiva estava grávida, ele não agiu movido por vingança, retribuição ou ódio, mas de modo muito compreensivo e manso – e isso num momento em que ele ainda não tinha nenhuma resposta de Deus.

Como nós agimos quando não entendemos os caminhos de Deus? Como agimos quando achamos que temos razão? Será que então também buscamos uma via que prejudique o outro o mínimo possível? Seríamos cuidadosos e sensíveis?

3. José colocou Deus acima da sua percepção de justiça

“Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse: ‘José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo’” (v. 20).

Quando Deus interferiu nas considerações de José, ele atendeu sem discutir. Nada se lê de que ele tenha dito algo. Ele simplesmente fez o que Deus lhe disse, creu em tudo e agiu de acordo. Aquilo certamente não foi uma decisão fácil e deve ter trazido vários incômodos a ele.

José aceitou que seus planos fossem desfeitos. Será que Deus poderá nos redirecionar em situações complicadas? Colocaremos as exigências do seu Santo Espírito acima do nosso senso de justiça contaminado? Seria o amor o nosso máximo mandamento?

4. José e Jesus

“Ela dará à luz um filho, e você deverá dar-lhe o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (v. 21).

Jesus significa “Javé é Salvação”. É interessante que havia um José no início da vida de Jesus e outro em seu final (José de Arimateia, que cedeu seu sepulcro a Jesus; cf. Mt 27.57-60).

Ao dar ao Senhor o nome de Jesus, José anunciou a melhor mensagem possível. Por meio da sua obediência, ele ofereceu ao mundo mais benefício do que poderia ter proporcionado por meio de tudo o mais que poderia ter feito de bom. O próprio José nunca aparece nos evangelhos dizendo algo, mas foi ele quem deu o nome a Jesus.

Não importa o que façamos para o Senhor, se somos pregadores ou contadores, artistas gráficos ou artesãos. Há só uma coisa que importa: que estejamos disponíveis para o nome de Jesus. Nossa vida deve representar Jesus como Salvador.

5. José tornou-se parte da profecia bíblica

“Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor dissera pelo profeta: ‘A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel’, que significa ‘Deus conosco’”. (v. 22-23).

A palavra profética que Isaías enunciou séculos antes por inspiração divina por meio do Espírito Santo se cumpriria, e para isso Deus lançou mão da obediência de um homem que viveu 700 anos depois. Deus teria chegado ao seu objetivo mesmo sem José, mas ele quis alcançá-lo com José.

O Senhor atinge seu objetivo mesmo sem nós. Que preciosidade é, porém, quando nos deixamos usar, podendo contribuir para que esse objetivo seja alcançado!

6. José agiu

“Ao acordar, José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa. Mas não teve relações com ela enquanto ela não deu à luz um filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus” (v. 24-25).

A melhor atitude neste mundo é agir do modo como o Senhor nos encarrega. José agiu em fé e obediência. Portanto, ele era ao mesmo tempo confiável e prático, como também sensível, perseverante e forte – e Deus confiou seu Filho, ou seja, a si mesmo, àquele carpinteiro – e não a algum sacerdote, fariseu ou escriba.

  • José era um homem que cria incondicionalmente;
  • José era um homem capaz de dar apoio a uma virgem, que de outro modo iria se tornar alvo de escárnio;
  • José era um homem que Deus pôde usar para conduzir o seu Filho e a mãe dele para Belém, cuidar deles numa estrebaria, sustentá-los durante a fuga para o Egito e levá-los de volta para Nazaré;
  • Fica evidente que José era capaz de suportar peripécias e ao mesmo tempo manter o cuidado pelos outros;
  • José era um homem que oferecia calor, proteção e aconchego. Foi o homem que instruiu o Senhor Jesus durante os primeiros anos de sua vida no artesanato e certamente também na Torá;
  • José era um homem quieto, mas também forte. Ele não pregava, mas sua história tem rica expressão.

Deus quer confiar Jesus a nós, ou seja, a mensagem da sua vida e do seu evangelho. Será que demonstramos em cada situação ser fiéis e confiáveis?

7. José desapareceu da história tão silenciosamente como entrou nela

Justamente esse fato desse homem é bem típico. Ele permitiu ser usado para Jesus. Não buscou fama e honras, mas apenas tratou de fazer aquilo de que Deus o encarregou. Quis estar à disposição de Jesus – plenamente.

Em algum momento depois de o Senhor Jesus ultrapassar a idade de 12 anos, José desaparece da história bíblica, mas a luz que sua vida lançou continua brilhando clara e viva até hoje.

O que restará da nossa vida? Que história ela contará?

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Belém, Nazaré e Jerusalém (2)


 

A Fuga ao Egito e o Retorno a Nazaré


Thomas Lieth

A história do nascimento de Jesus Cristo não é encontrada em apenas um lugar da Bíblia. Como vimos semana passada, se tivéssemos apenas o evangelho de Lucas, teríamos de supor que, após a circuncisão e a apresentação do Senhor Jesus, a família teria voltado a Nazaré. Este é em princípio o primeiro cenário, que também nem se distingue tanto da outra possibilidade que veremos logo mais. Todavia, se de fato foi assim, a família de Jesus precisaria estar novamente em Belém em algum momento, porque foi ali que os magos homenagearam o Senhor – algo que ainda não havia acontecido até o momento.

Belém, Jerusalém e Nazaré

Antes de prosseguir por esta via, vamos examinar brevemente um segundo cenário, em que a família não teria ido a Nazaré, porém voltado a Belém. Neste caso, Lucas teria omitido os eventos correspondentes e o relato de Mateus teria ocorrido entre as declarações em Lucas 2.39: “Depois de terem feito tudo o que era exigido pela Lei do Senhor...”, e aí vem a grande lacuna – os eventos que Lucas omite – e só depois a narrativa prossegue dizendo: “... voltaram para a sua própria cidade, Nazaré, na Galileia”.

Isso significaria que Maria e José voltaram com seu filho (a essa altura com um mês e meio de idade) de Jerusalém para Belém, talvez até com a intenção de se estabelecerem por lá. Neste caso, os magos teriam aparecido pouco depois e ocorrido a cruel matança das crianças e a fuga para o Egito... e só depois Maria e José teriam voltado a Nazaré.

Mas vamos retornar à primeira ideia, ou seja, que a família se pôs a caminho de Jerusalém para Nazaré, a cidade em que Maria e José haviam morado originalmente e onde seus pais e parentes esperavam saudosos o seu retorno. Durante esse período, os magos do oriente ainda se encontram em sua longa viagem em direção a Jerusalém. A família de Jesus mora novamente em Nazaré, tendo-se passado pouco menos de dois meses desde o nascimento do Senhor. E agora Lucas 2.41 nos informa, quase à margem, um importante detalhe: “Todos os anos seus pais iam a Jerusalém para a festa da Páscoa”.

Maria e José eram muito tementes a Deus, de modo que anualmente eles se punham pelo menos uma vez a caminho para Jerusalém. Havia três festas de romaria por causa das quais os judeus piedosos se dirigiam a Jerusalém: a festa das cabanas, a festa das semanas e a Páscoa, mencionada aqui.

Maria e José eram muito tementes a Deus, de modo que anualmente eles se punham pelo menos uma vez a caminho para Jerusalém.

É verdade que Lucas 2.41 fala de uma Páscoa em que o Senhor Jesus já estava com doze anos de idade, mas é muito provável que a família também tenha ido a Jerusalém para festejar a Páscoa nos anos anteriores. Isso significaria então que, alguns meses depois do seu retorno a Nazaré, a família viajou novamente para Jerusalém, seja para a festa da Páscoa ou para alguma das outras festas. Além disso, a distância entre Nazaré e Jerusalém é de aproximadamente 100 quilômetros, de modo que não se trata de um passeio de um dia. E como Jerusalém provavelmente estaria bastante superlotada durante aquelas festas, é mais do que provável que Maria e José tenham se abrigado em Belém, mesmo porque José era natural de Belém e possivelmente podia se hospedar com parentes.

De acordo com esse cenário, a família de Jesus teria chegado novamente a Belém no contexto de uma visita por ocasião da Páscoa. Estes seriam então o oitavo e novo acontecimentos: o retorno a Nazaré e a nova ida a Belém e Jerusalém.

A visita dos magos e a fuga ao Egito

Com isso voltamos ao evangelho de Mateus e àquilo sobre o que Lucas se cala: “Então Herodes chamou os magos secretamente e informou-se com eles a respeito do tempo exato em que a estrela tinha aparecido. Enviou-os a Belém e disse: ‘Vão informar-se com exatidão sobre o menino. Logo que o encontrarem, avisem-me, para que eu também vá adorá-lo’. Depois de ouvirem o rei, eles seguiram o seu caminho, e a estrela que tinham visto no oriente foi adiante deles, até que finalmente parou sobre o lugar onde estava o menino” (Mateus 2.7-9).

Como já dissemos, não sabemos quando os magos se puseram a caminho nem quando chegaram a Jerusalém e a Belém. Podemos, porém, supor que tenham vindo da região da Babilônia e da Pérsia, o que significa que necessitaram de pelo menos meio ano para o trajeto até Jerusalém – isso combina tanto com a primeira possibilidade, segundo a qual a família de Jesus já morava em Belém porque José se estabelecera ali, como também com a segunda, segundo a qual, dependendo da festa a que compareceram, o Senhor Jesus tinha entre seis e dezoito meses de idade quando os magos finalmente chegaram a Belém. Este é o décimo passo: a visita dos magos.

De qualquer modo, porém, fica claro que por um lado o Senhor Jesus há tempo já não ocupava mais a manjedoura e, por outro, que ele poderá ter tido no máximo dois anos de idade quando os magos o visitaram: “Ao entrarem na casa, viram o menino com Maria, sua mãe...” (Mateus 2.11). Aqui nada se diz de alguma estrebaria, gruta ou manjedoura, nem de pastores de ovelhas. Os magos nunca estiveram junto à manjedoura nem se encontraram com os pastores de ovelhas. A essa altura, a família de Jesus morava numa casa. Além disso, o versículo 16 nos informa que Herodes decidiu matar todos os meninos de até dois anos de idade. Em razão desse acesso de fúria de Herodes, deu-se a fuga para o Egito.

Este é o décimo primeiro acontecimento: a fuga para o Egito. “Depois que partiram, um anjo do Senhor apareceu a José em sonho e lhe disse: ‘Levante-se, tome o menino e sua mãe, e fuja para o Egito. Fique lá até que eu diga a você, pois Herodes vai procurar o menino para matá-lo’. Então ele se levantou, tomou o menino e sua mãe durante a noite e partiu para o Egito, onde ficou até a morte de Herodes. E assim se cumpriu o que o Senhor tinha dito pelo profeta: ‘Do Egito chamei o meu filho’” (Mateus 2.13-15).

Assim como o nascimento virginal do Senhor Jesus fora predito, assim como se profetizou que o Salvador prometido viria da tribo de Judá e da família de Davi, e assim como o nascimento em Belém foi profetizado, assim também a estada no Egito foi um componente predeterminado no plano divido da salvação, porque Oseias 11.1 diz: “... do Egito chamei o meu filho”.

Como vemos, Deus não deixa nada por conta do acaso. Seus atos sempre visam a um objetivo. Isso também não é um encorajamento para nós, hoje? Podemos ter certeza de que não estamos à mercê do acaso ou do destino, nem sequer da arbitrariedade de quaisquer poderosos autonomeados, mas da bondade e do amor de Deus. Que felicidade para a pessoa que pode se considerar filho ou filha de Deus. É como Paulo disse: “... considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor” (Filipenses 3.8). Em outras palavras: “Sem Jesus não tenho nada!”, e, inversamente, vale a palavra de 2Coríntios 6.10c: “Nada tendo, mas possuindo tudo”.

Deus não deixa nada por conta do acaso. Seus atos sempre visam a um objetivo.

Voltemos ao Egito. Não se declara quanto tempo José permaneceu ali com sua família, mas a história nos informa que Herodes morreu pouco tempo depois, e com sua morte houve o retorno a Israel, de modo que a permanência no Egito não deve ter durado muito. E somente então é que o evangelho de Mateus relata que Maria e José se estabeleceram novamente em Nazaré. Este é o décimo segundo acontecimento: o retorno a Nazaré – seja pela primeira vez desde o nascimento do Senhor Jesus, possivelmente depois de aproximadamente dois anos, ou um novo retorno após um comparecimento intermediário à festa da Páscoa.

“Depois que Herodes morreu, um anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, e disse: ‘Levante-se, tome o menino e sua mãe e vá para a terra de Israel, pois estão mortos os que procuravam tirar a vida do menino’. Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe e foi para a terra de Israel. Mas, ao ouvir que Arquelau estava reinando na Judeia em lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Tendo sido avisado em sonho, retirou-se para a região da Galileia e foi viver numa cidade chamada Nazaré. Assim cumpriu-se o que fora dito pelos profetas: ‘Ele será chamado Nazareno’” (Mateus 2.19-23).

O enunciado do versículo 22 sugere fortemente que José nem queria ir a Nazaré com sua família, mas para Belém. Como consta ali, ele teve medo de ir à Judeia (e Belém ficava na Judeia) porque Arquelau reinava sobre a região. Só depois de orientado por um sonho é que José voltou a Nazaré. Como já dissemos, é bem provável que José quisesse ir morar em Belém ou que até já se tivesse estabelecido ali. Mas Deus, que anteriormente providenciou que Maria e José deixassem Nazaré e tivessem de ir a Belém, o mesmo Deus providenciou agora que Maria e José não fossem novamente a Belém, mas retornassem a Nazaré, porque isso também fazia parte do plano sagrado de Deus, conforme está escrito: “Assim cumpriu-se o que fora dito pelos profetas: ‘Ele será chamado Nazareno’”.

Retorno a Nazaré

E assim estamos de volta a Nazaré. De Nazaré a Nazaré. E vemos que a Palavra não se contradiz, mas constitui uma única revelação de Deus a nós. O plano sagrado de Deus perpassa a Bíblia toda como um fio vermelho. Nós é que constantemente nos contradizemos e partimos de premissas erradas. Deus, porém, não se contradiz. O que ele diz é claro, verdadeiro, preciso, único, soberano, onipotente e inabalável.

É fascinante observar como Deus atinge seu objetivo com sua palavra e seu plano.

É fascinante observar como Deus atinge seu objetivo com sua palavra e seu plano. Ele lança mão de um imperador romano para ordenar o recenseamento no momento certo, que acaba por fazer com que o Senhor Jesus nasça no momento certo e no lugar determinado. Ele utiliza um tirano vaidoso e aterrorizante como Herodes para assegurar que se cumprisse a palavra “do Egito chamei o meu Filho”. Deus usa um outro governador não menos cruel, chamado Arquelau, para providenciar que Jesus não crescesse em Belém, mas em Nazaré – para que ele seja chamado de nazareno.

Nada acontece por acaso, porque os céus e a terra passarão, mas a Palavra de Deus permanece para sempre (Mateus 24.35), e assim podemos encerrar com plena confiança na sua Palavra citando 2Tessalonicenses 2.13: “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vocês, irmãos amados pelo Senhor, porque desde o princípio Deus os escolheu para serem salvos mediante a obra santificadora do Espírito e a fé na verdade”.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Mary Did You Know by Clay Aiken ( Maria, você sabia?)


Mary, Did You Know?

Mary, did you know that your baby boy
Would one day walk on water?
Mary, did you know that your baby boy
Would save our sons and daughters?
Did you know that your baby boy
Has come to make you new?
This child that you've delivered
Will soon deliver you

Mary, did you know that your baby boy
Would give sight to a blind man?
Mary, did you know that your baby boy
Would calm the storm with his hand?
Did you know that your baby boy
Has walked where angels trod?
When you kiss your little baby
You kiss the face of God

Mary, did you know
Mary, did you know
Mary, did you know
Mary, did you know

The blind will see
The deaf will hear
And the dead will live again
The lame will leap
The dumb will speak
The praises of the lamb

Mary, did you know that your baby boy
Is Lord of all creation?
Mary, did you know that your baby boy
Would one day rule the nations?
Did you know that your baby boy
Is heavens perfect lamb?
This sleeping child you're holding
Is the great I Am

Maria, Você Sabia?

Maria, você sabia que seu filho
Andaria sobre as águas?
Maria, você sabia que seu filho
Salvaria nossos filhos e filhas?
Você sabia que seu filho
Veio para te fazer nova?
Essa criança que você deu a luz
Em breve vai libertar você

Maria, você sabia que seu filho
Daria a visão a um cego?
Maria, você sabia que seu filho
Acalmaria uma tempestade com a própria mão?
Você sabia que seu filho
Caminhou onde anjos pisaram?
Quando você beija o seu bebê
Você beija o rosto de Deus

Maria, você sabia
Maria, você sabia
Maria, você sabia
Maria, você sabia

Os cegos verão
Os surdos ouvirão
E os mortos viverão novamente
O aleijado saltará
O mudo falará
Os louvores ao cordeiro

Maria, você sabia que seu filho
É o Senhor de toda a criação?
Maria, você sabia que seu filho
Irá um dia governar as nações?
Você sabia que seu filho
É o cordeiro perfeito dos céus?
Esta criança adormecida que você está segurando
É o grande Eu Sou

Belém, Nazaré e Jerusalém ( 1 )

 


De Nazaré a Nazaré


Thomas Lieth

A Bíblia contém dois relatos do nascimento do Senhor Jesus – nos evangelhos de Mateus e de Lucas. Se compararmos esses dois relatos, nota-se que não coincidem plenamente, o que, afinal, não deixa de ter sua lógica; caso contrário, bastaria um único relato. Assim, Mateus escreve em seu evangelho sobre pontos que Lucas não menciona, e vice-versa.

Meu objetivo aqui será então combinar os relatos dos evangelhos de Mateus e de Lucas para apresentar um decurso possível da história do Natal.

Visitas Angelicais aos Pais

Comecemos com o anúncio do nascimento do Senhor Jesus no evangelho de Lucas: “No sexto mês Deus enviou o anjo Gabriel a Nazaré, cidade da Galileia, a uma virgem prometida em casamento a certo homem chamado José, descendente de Davi. O nome da virgem era Maria” (Lucas 1.26-27).

Lucas confirma que Maria vivia em Nazaré e que ali o anjo apareceu a ela. Este foi o primeiro acontecimento: Maria recebe em Nazaré o anúncio do nascimento do Senhor Jesus ainda antes de engravidar, pois a continuação do texto diz: “Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus” (Lucas 1.31).

Quando o anjo lhe apareceu, Maria ainda não estava grávida, mas então, tendo em vista sua confiança em Deus e sua declaração ao dizer: “Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra” (v. 38), o Espírito Santo veio sobre Maria e ela engravidou.

Em seguida, um anjo apresentou-se a José a respeito disso num momento em que Maria já estava grávida, conforme se lê no evangelho de Mateus – uma vez que Lucas não cita José, totalmente atropelado pela ocorrência: “Foi assim o nascimento de Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, mas, antes que se unissem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Por ser José, seu marido, um homem justo, e não querendo expô-la à desonra pública, pretendia anular o casamento secretamente. Mas, depois de ter pensado nisso, apareceu-lhe um anjo do Senhor em sonho e disse: ‘José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o que nela foi gerado procede do Espírito Santo’” (Mateus 1.18-20).

O fato de que José “pretendia anular o casamento secretamente” significa que de algum modo e em algum momento ele havia descoberto a gravidez da sua noiva, e só depois disso é que também apareceu um anjo a ele. Essa circunstância permite supor que a visita de Maria a Isabel – que somente Lucas relata – tenha ocorrido quando José ainda não sabia nada da gravidez.

Portanto, poderá ter ocorrido o seguinte: Maria recebe o anúncio do nascimento: “Você ficará grávida”. Após sua resposta “Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra”, ela engravida. Segue-se então sua visita a Isabel (Lucas 1.39-56), e o versículo 56 termina dizendo: “Maria ficou com Isabel cerca de três meses e depois voltou para casa”. Ou seja, Maria retorna a Nazaré grávida de três meses e não sabe como o seu ingênuo noivo reagirá a essa situação... correndo mesmo o risco de talvez ser apedrejada como prostituta e adúltera ou, no mínimo, ser repudiada. Enquanto, então, José decide chocado separar-se de Maria, o anjo lhe aparece com as palavras: “José, filho de Davi, não tema receber Maria como sua esposa, pois o quer nela foi gerado procede do Espírito Santo” (Mateus 1.20b). Este é o segundo acontecimento: um anjo também anuncia a José, em Nazaré, o iminente nascimento do Senhor Jesus.

O nascimento do Senhor Jesus ocorreu em Belém, exatamente como Deus quis e como havia sido predito pelos profetas.

Com isso já chegamos ao nascimento propriamente dito do Senhor Jesus. – E onde ele nasceu? “É claro que em Nazaré – é evidente!” Mas não: quem crê isso, nunca esteve presente num culto natalino, e talvez até suponha que Pôncio tenha sido o irmão de Pilatos. O nascimento do Senhor Jesus ocorreu em Belém, exatamente como Deus quis e como havia sido predito pelos profetas.

O Nascimento de Jesus

Com isso, deixamos Nazaré temporariamente e vamos a Belém. Este é o terceiro acontecimento: o nascimento do Senhor Jesus em Belém. Lucas explica-nos então como foi que isso aconteceu: “Naqueles dias, César Augusto publicou um decreto ordenando o recenseamento de todo o império romano. Este foi o primeiro recenseamento feito quando Quirino era governador da Síria. E todos iam para a sua cidade natal, a fim de alistar-se. Assim, José também foi da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, para Belém, cidade de Davi, porque pertencia à casa e à linhagem de Davi. Ele foi a fim de alistar-se, com Maria, que lhe estava prometida em casamento e esperava um filho. Enquanto estavam lá, chegou o tempo de nascer o bebê, e ela deu à luz o seu primogênito. Envolveu-o em panos e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2.1-7).

Maria e José são forçados a deixar Nazaré e viajar a Belém. É uma distância de aproximadamente 130 quilômetros, em parte através de regiões montanhosas. Não é sem motivo que o texto informa que “subi[ram] da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia” (Lucas 2.4, BKJ). Não foi um passeio plano, e com tudo isso não devemos esquecer que Maria estava em estado adiantado de gravidez quando empreendeu com José essa longa jornada. Devem ter viajado por mais ou menos um semana e, considerando as circunstâncias e as dificuldades da viagem, não teria sido incomum que Maria já tivesse dado à luz a criança quando ainda estavam a caminho. Nesse caso, o Salvador do mundo não teria nascido nem em Nazaré nem em Belém, mas em algum lugar intermediário. Deus, porém, proveu que o parto só ocorresse quando Maria e José chegassem a Belém, encontrando finalmente uma pousada, exatamente segundo a predição de Miqueias 5.2: “Mas tu, Belém-Efrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti virá para mim aquele que será o governante sobre Israel...”.

Maria e José são forçados a deixar Nazaré e viajar a Belém. É uma distância de aproximadamente 130 quilômetros, em parte através de regiões montanhosas.

Na mesma noite do nascimento do Senhor Jesus, um anjo aparece aos pastores no campo: “Havia pastores que estavam nos campos próximos e durante a noite tomavam conta dos seus rebanhos. E aconteceu que um anjo do Senhor apareceu-lhes e a glória do Senhor resplandeceu ao redor deles; e ficaram aterrorizados. Mas o anjo lhes disse: ‘Não tenham medo. Estou trazendo boas-novas de grande alegria para vocês, que são para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor’. Então correram para lá e encontraram Maria e José e o bebê deitado na manjedoura” (Lucas 2.8-11,16). Este é o quarto acontecimento: os pastores junto à manjedoura.

Até aqui, tudo parece encaixar-se bem, mesmo porque Lucas nos fornece um belo quadro cronológico. Porém, como já vimos, Lucas não dá um relato completo, mas deixa a palavra com Mateus para completar aquilo que ele omite. Assim ocorre, por exemplo, o evento com os chamados magos do oriente. Voltemos ao evangelho de Mateus: “Depois que Jesus nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: ‘Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo’” (Mateus 2.1-2). Este é o próximo acontecimento: os magos veem uma estrela e viajam para Jerusalém.

O que, porém, não sabemos é quando os magos realmente se puseram a caminho. Teriam partido imediatamente após a primeira aparição celeste, quem sabe já no dia seguinte, ou será que primeiro fizeram investigações a respeito dessa estrela extraordinária? De qualquer modo devem ter necessitado de algum tempo com os preparativos para essa longa viagem. Uma vez que o texto não expõe nada com clareza a respeito, não é possível saber. Contudo, lembremos que neste quinto ponto, em conexão direta com o nascimento do Senhor Jesus e com a visita dos pastores à manjedoura, uma estrela brilha para os magos a uma distância de aproximadamente mil quilômetros, uma estrela que os alerta sobre o nascimento do Senhor Jesus. Em razão disso, eles empreendem a longa viagem até Jerusalém porque era lá que esperavam encontrar o rei dos judeus.

Continuando com Lucas: “Completando-se os oito dias para a circuncisão do menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, o qual lhe tinha sido dado pelo anjo antes de ele nascer” (Lucas 2.21). Maria e José ainda permanecem em Belém – e supõe-se que nesse meio tempo tenham encontrado um alojamento normal. Então, oito dias após o nascimento e a visita dos pastores, o bebê é circuncidado conforme exige a lei. Este é o sexto acontecimento: a circuncisão do Senhor Jesus em Belém enquanto os magos do oriente se põem a caminho para render homenagem ao recém-nascido rei dos judeus.

Lucas não dá um relato completo, mas deixa a palavra com Mateus para completar aquilo que ele omite.

Em seguida, lemos: “Completando-se o tempo da purificação deles, de acordo com a Lei de Moisés, José e Maria o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor (como está escrito na Lei do Senhor: ‘Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor’)” (Lucas 2.22-23). Este é o sétimo acontecimento: a apresentação do Senhor Jesus no templo em Jerusalém a fim de atender ao mandamento de Levítico 12.1-4. Portanto, cerca de 40 dias depois, Maria e José vão a Jerusalém, distante apenas cerca de 10 quilômetros de Jerusalém. O que quer dizer que Maria e José permaneceram no mínimo 40 dias em Belém, e que toda a parentela – primos, primas, vovó, vovô – até então ainda não tinham visto o bebê Jesus em Nazaré, a cerca de 130 quilômetros de distância. Somente agora, após cerca de 40 dias, a família se encontra em Jerusalém e os magos do oriente estão em algum lugar num congestionamento junto ao Eufrates.

Continuando a ler o evangelho de Lucas, vemos que Maria e José retornaram com seu filho a Nazaré: “Depois de terem feito tudo o que era exigido pela Lei do Senhor, voltaram para a sua própria cidade, Nazaré, na Galileia” (Lucas 2.39). – Finalmente de volta ao lar, na sua cidade. E finalmente também a parentela curiosa pode abraçar a jovem família e entregar seus presentes... se, pois é, se não fosse Mateus...

Ainda falta algo. Como ficaram os magos do oriente? Será que não chegaram ao seu destino? E não houve aí ainda uma matança de crianças em Belém e uma fuga para o Egito? Sim, de fato: mas quando e como? Conforme dissemos, o relato de Lucas permite supor que a família retornou de Jerusalém para Nazaré. Segundo Mateus, porém, parece que a família só retornou bem mais tarde. Examinemos melhor essa aparente contradição na próxima semana.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O Verdadeiro Cristo

 


Quem é o “seu” Cristo?


Daniel Lima

O ambiente era tenso. Após algumas conversas, eu e certo irmão nos encontrávamos novamente. Eu tinha a pesada tarefa de tentar mostrar-lhe porque achava que o caminho que ele havia escolhido era um caminho que desagradava a Deus. Ele, insistente, queria que eu compreendesse suas escolhas, e, talvez mais que isso, que eu apoiasse suas escolhas. Após abrirmos mais uma vez a Bíblia para apontar o que, para mim, é claro, chegamos a um impasse.

Como última alternativa, virei minha Bíblia para ele, que estava do outro lado da mesa, e, apontando para um versículo, disse: “Meu irmão, se você consegue explicar sua escolha diante deste versículo, eu passo a concordar com você”. Eu não estava brincando. Na verdade, eu queria muito encontrar um espaço para não continuar naquela tensão. Eu queria muito não ser o opositor, o “estraga prazeres”. Houve momentos antes deste encontro que até mesmo orei para que Deus passasse de mim este cálice.

Este homem não era um herege, teoricamente não negava a autoridade bíblica, era membro da igreja, havia participado desta comunidade por muitos anos e era tido como um cristão sincero. Após ler mais uma vez o versículo, meu irmão pensou e respondeu: “O meu Jesus, a quem eu sigo e tenho amado todos estes anos, não diria isso aqui!”. E ele disse isso sabendo muito bem que o texto que eu apontava era um texto bíblico que confrontava diretamente o caminho que ele havia decidido seguir. Neste momento eu me dei conta que nós não seguíamos o mesmo Jesus.

Não podemos nos deixar levar pela tentação de produzir em nossas mentes um “Cristo” mais de acordo com nossas preferências, pelo simples fato de que este não será Jesus Cristo, Senhor e Salvador.

Em João 17.17, Jesus afirma: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”. Assim, Jesus afirma que a Bíblia é a verdade. Essa é a visão que o próprio Cristo tinha da Palavra. Como pode então alguém afirmar que crê em Cristo, mas não na Palavra? É necessário perguntar em que “Cristo” esta pessoa crê? Quem afirma crer num Jesus que difere da revelação bíblica certamente, ou cria um Jesus que se adequa às suas perspectivas (homem criando deus...), ou afirma ter alguma outra revelação superior à própria Bíblia.

Paulo já enfrentou durante seu ministério pessoas que pregavam um outro evangelho. Reagindo com força a estes, ele escreve em Gálatas 1.6-9:

Admiro-me de que vocês estejam abandonando tão rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro evangelho que, na realidade, não é o evangelho. O que ocorre é que algumas pessoas os estão perturbando, querendo perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou um anjo dos céus pregue um evangelho diferente daquele que pregamos a vocês, que seja amaldiçoado! Como já dissemos, agora repito: Se alguém anuncia a vocês um evangelho diferente daquele que já receberam, que seja amaldiçoado!

Em resumo, não podemos nos deixar levar pela tentação de produzir em nossas mentes um “Cristo” mais adequado, mais agradável, mais de acordo com nossas preferências, pelo simples fato de que este não será Jesus Cristo, Senhor e Salvador, mas apenas um ideal que anestesia nossas ansiedades. O próprio Paulo nos alerta contra isso em 1Coríntios 3.11: “Porque ninguém pode colocar outro alicerce além do que já está posto, que é Jesus Cristo”.

Com isso eu preciso lhe perguntar: qual é o “seu” Cristo? Ele é o autor e consumador da tua fé (Hebreus 12.2)? Ele é o Cordeiro de Deus (João 1.29), a Luz do Mundo (João 8.12), o Bom Pastor (João 10.11), a Ressurreição e a Vida (João 11.25) e o Caminho, a Verdade e a Vida (João 14.6)? Não siga um salvador feito sob encomenda para seus interesses, siga aquele que sustenta todas as coisas por sua palavra poderosa (Hebreus 1.3).

Minha oração é que você e eu possamos conhecer e continuar conhecendo o Jesus da Bíblia, o único que pode nos salvar.

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Ira & Pânico

 


Ira e Pânico: Grandes Marcas dos Discípulos de Jesus?

Parece que em nossa sociedade começa a prevalecer o “mistério da iniquidade”. Alguns cristãos reagem a isso com ira, medo e pânico, mas há um caminho melhor.

Quem veste uma máscara de proteção é como alguém que nega a fé e aceita o número 666. A essa crassa conclusão chegou um pastor americano de Montana diante da obrigatoriedade do uso de máscara que as autoridades impuseram por causa do coronavírus. Milhões leem suas ideias na internet. O que ele diz é muito mais divulgado do que aquilo que dizem os supostos porta-vozes e líderes do evangelicalismo americano. O medo se dissemina e, com ele, seus irmãos pânico e ira. O Twitter está cheio disso, e regularmente recebo circulares acusando a sociedade e a igreja de estarem cada vez mais ímpias, alertando para tudo o que nos estaria sobrevindo e contra o que nos deveríamos prevenir. Muitas das conclusões que os crentes extraem dos acontecimentos atuais se justificam. Eu mesmo também já alertei nesta revista a respeito de um possível período de perseguição, mas mesmo assim... Ao ler essas numerosas circulares, geralmente via e-mail, quando acompanhei no Twitter e em blogs as batalhas entre cristãos de direita e todos os outros, pareceu-me olhar para um espelho – e não gostei do que vi.

Será que pretendo ser visto em público como alguém que defende o medo e o horror?

“Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?” – Não, eu certamente não sou o campeão! A constante artilharia dos meus irmãos cristãos me causou repulsa, embora em termos da questão básica eu geralmente concordaria com eles. Mas a estridência do tom e a hostilidade (consciente ou não) contra todos os que não são como nós era e é desgastante. Há muito calor, mas onde está a luz? Nosso Senhor Jesus diz: “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (Jo 13.35). O amável leitor me perdoe este comentário, mas quando se observa a enxurrada de textos que jorram através da internet em nome de Jesus, parece antes que deveríamos prover uma triste correção: “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se disseminarem entre vocês pânico, ira e medo”.

Os apóstolos escreveram aos cristãos que se subordinassem às autoridades (o governo universal unificado romano) e que orassem por elas para que pudessem levar uma vida quieta e tranquila, com toda honestidade e piedade.

O espelho com que os meus certamente sinceros irmãos me defrontaram revelou a minha posição: será que pretendo ser visto em público como alguém que defende o medo e o horror? Se já me repulsa o desespero daqueles com quem no fundo concordo, como então será com aqueles que tiverem outra visão ou que ainda estão perdidos, se sentem atropelados pelo vocabulário religioso e só conseguem extrair daí a ideia de que esses cristãos me odeiam e desprezam junto com tudo o que é valioso para mim – mesmo se a intenção nem era essa?

O negócio do medo prospera. Embora quem gritar mais e se expuser mais janela afora seja desprezado pela “elite” do mundo cristão, ainda assim a pessoa conquistará muitos seguidores, fãs, leitores e adeptos. É compreensível. O homem normal na rua anda cansado do falatório cor-de-rosa, de mentiras, mentiras e mais mentiras. Quando então aparece alguém que não enfeita as coisas e apresenta “os fatos”, muitos correrão atrás dele como sedentos no deserto que finalmente encontraram uma fonte não envenenada ou aterrada. No entanto... por que o Deus que afirmam representar age mais como Nêmesis, a deusa grega da ira e da vingança, e não como o Pai que ansiosamente espera o filho perdido e corre ao seu encontro ao vê-lo retornar arrependido?

Por isso tomei uma resolução... algo que gostaria de passar adiante aqui: não quero mais me ocupar com a escuridão, mas com a luz. Não quero mais esquentar minha cabeça com aquilo que desperta paixões malignas em mim, como ira, fúria, medo, gritaria e pânico, mas meditar naquilo que é verdadeiro, bom e belo, ou seja, tudo o que se resume na pessoa de Jesus Cristo. Quem quiser, que advirta sobre a necessidade de observar o quanto predominam na sociedade a injustiça e a maldade, mas eu prefiro acompanhar Gregório Magno (o bispo de Roma que até Calvino ainda estimava) e dizer: “A verdadeira justiça não é hostil com os pecadores, mas compassiva”.

Nós cristãos temos muita facilidade em nos fixar em teorias e especulações. Alertamos contra governos mundiais e religiões mundiais. Abusamos do livro de Apocalipse para os nossos pareceres e prognósticos políticos. Fixamo-nos nas ideias mais complicadas sobre os tempos do fim e com isso perdemos de vista o mais importante: Jesus, que morreu pela salvação de todo o mundo e que logo voltará. “Consolem-se [e não ‘provoquem-se’] uns aos outros com essas palavras” (1Ts 4.18). Pânico, ira e medo não foi o que os apóstolos ensinaram em suas cartas.

Naquele mundo que os apóstolos conheciam já existia um governo romano centralizado e algo como uma religião unificada greco-romana. No entanto, nem Pedro, nem Paulo ou João escreveram longos tratados para desvendar o “mistério da iniquidade” (cf. 2Ts 2.7). Pelo contrário, sua postura foi bastante tranquila, tão tranquila que os que hoje nos advertem acusariam os apóstolos de ingenuidade e alheamento caso escrevessem atualmente. Os apóstolos escreveram aos cristãos que se subordinassem às autoridades (o governo universal unificado romano) e que orassem por elas para que pudessem levar uma vida quieta e tranquila, com toda honestidade e piedade. Na medida do possível para os cristãos, eles deveriam viver em paz com todos e demonstrar a todos a sua mansidão. E, se então a autoridade lançasse mão da espada para perseguir os cristãos, estes deveriam alegrar-se por terem sido considerados dignos de sofrer por amor do seu Senhor. Sim, este é um grande desafio, e eu não me atrevo a achar que já tenha assimilado essa atitude profundamente espiritual.

Misericórdia é bondade visualizada. Misericórdia é a beleza do céu na prática. Misericórdia é a confirmação do maior mandamento na verdade.

Isso não significa que os apóstolos não falassem dos maus tempos. Faziam isso, mas em conjunto com incentivos como: não se deixem irritar! Evitem conversas inúteis! Jesus é vencedor! Permaneçam fiéis, muito mais agora! Por exemplo, citam-se muito as tenebrosas palavras do apóstolo Paulo sobre os terríveis tempos dos últimos dias em 2Timóteo 3.1-8. Lemos sua precisão e exclamamos: “Assim é hoje!”. No entanto, em meio a todo o pânico sobre este mundo que Jesus já superou há tanto tempo, esquecemos de continuar lendo, porque no versículo 9 Paulo diz a respeito dos maus: “[Mas eles] não irão longe”, ou, em outras palavras: “Terão pouco sucesso”. As portas do inferno realmente não podem subjugar a igreja do Deus vivo.

Por isso quero mudar e renovar meu modo de pensar, como Paulo disse. Por amor do bem da minha alma, não quero mais focar naquilo que de qualquer maneira não posso controlar ou saber, mas naquilo que engrandece o amor de Deus diante de toda a humanidade. É disso que essa maltratada sociedade de hoje precisa!

Em suas bem-aventuranças, o nosso Senhor não diz: “Bem-aventurados aqueles que desvendaram o mistério da iniquidade e estão informados sobre toda a maldade, porque deles é o reino dos céus”. Não, ele promete o reino dos céus aos humildes, às almas simples e dispostas a servir, aos pobres de espírito ou pobres diante de Deus (Mt 5.3-12). Existe uma antiga oração cristã atribuída ao grande missionário Patrício da Irlanda. Nela ele pede a Deus que o guarde do conhecimento que profana. Parece-me bem significativo e uma atitude bem mais saudável para nossa alma. Nem é preciso conhecer tão bem as trevas, porque justamente isso pode nos profanar e esfriar o amor em nós. Basta amar a Deus e ao nosso próximo, porque o amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7).

Paulo nos incentiva a nos revestirmos de “profunda compaixão” (Cl 3.12). A misericórdia não deve ser simplesmente parte de nós, mas deve nos envolver; deve ficar tão visível em nós quanto nossas vestimentas. Receio que muitas vezes queremos ser como Cristo, mas quando ele tomou um açoite na mão para purificar o templo. Eis aí uma história que nos agrada, mas com isso esquecemos todos os outros relatos nos evangelhos em que Jesus demonstrou misericórdia com prostitutas, publicanos, adúlteras, pecadores e o povo simples. Sua reação usual a pessoas em torno dele foi o que ele disse aos seus discípulos: “Tenho compaixão desta multidão...” (Mt 15.32). O que nos move quando contemplamos o nosso mundo? Compaixão, misericórdia e amor? Ou ira, medo e pânico?

Quando Paulo nos exorta em Efésios 5.1-2 a sermos imitadores de Deus, ele não quer dizer que devemos ser juízes santos e justos como Deus, mostrando à sociedade como deve se comportar. Não, ele diz: “... vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus”.

É nisso que devemos imitar o nosso Deus. “O Senhor é cheio de compaixão e misericórdia” (Tg 5.11c). Essa deve ser a nossa mentalidade (Fp 2). Cristo nos desafia diretamente: “Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso” (Lc 6.36). – Isto é importante. Para podermos credenciar-nos como verdadeiros filhos do nosso Pai celestial, não somos chamados a imitar sua santa onipotência, sua santa onisciência, sua santa soberania ou sua santa ira (o que nem podemos), mas sua santa misericórdia, bondade e amor. Isso podemos e devemos praticar por meio do Espírito Santo do amor que habita em nós, e, com isso – entendo – pode-se dispensar toda discussão a respeito do que devemos enfatizar em um mundo ímpio. Porque, conforme Gregório Magno também diz: “A falsa justiça não tem compaixão, mas má vontade”.

Por isso arrisco prognosticar que não encontraremos a verdadeira justiça e a verdadeira santidade onde se grita com mais estridência, onde se dissemina mais medo e terror ou onde se especula mais intensamente sobre o “mistério da iniquidade”, mas onde se exerce mais misericórdia. A misericórdia é bondade visualizada. Misericórdia é a beleza do céu na prática. Misericórdia é a confirmação do maior mandamento na verdade: amar a Deus de todo o coração e o nosso próximo como a nós mesmos.

Deus diz: “Desejo misericórdia...” (Mt 9.13; cf. Os 6.6) – e devemos tratar de aprender o que isso significa, diz o nosso Senhor Jesus. Com isso teremos o suficiente a fazer pelo restante da nossa vida e não precisamos mais nos sentir compelidos a nos ocupar com o conhecimento que profana. É isso que pretendo fazer e escolher para mim. Não mais as trevas, mas a luz. Porque “o perfeito amor expulsa o medo” (1Jo 4.18) – de todas as formas.

A verdadeira justiça não tem má vontade com os pecadores, mas compaixão.” – Maranata. Vem, Senhor Jesus!

René Malgo é encarregado do trabalho editorial das revistas da Chamada em alemão. Também é autor e coautor de diversos livros.


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

ANDANDO JUNTOS - Luciano Subirá


Uma palavra de ordem para igreja no Brasil e no Mundo. Um ensinamento profundo sobre o que é autoridade e submissão à vontade de Deus.

sábado, 21 de novembro de 2020

O Último Homem


O Último Homem (Justo) na Terra


Jeff Kinley

Em meio a todo esse pecaminoso frenesi global, Deus encontrou um homem que se destacou entre bilhões. “Porém Noé encontrou favor aos olhos do Senhor” (Gênesis 6.8). Descrito como “homem justo, íntegro entre o povo da sua época”, Noé era um homem que “andava com Deus” (Gênesis 6.9). Mesmo não sendo perfeito, Noé tinha integridade. E, ainda que certamente não fosse isento de culpa, Noé ainda era inocente, ou um homem de alto caráter e reputação morais. Em contraste com o caráter perverso, odioso e violento de seus pares, ele se manteve puro, decente e civilizado. Não havia sujeira na vida de Noé. Ele sentia a pressão de se conformar à impiedade de sua geração, mas também se sentia chamado a ser diferente dela em caráter e estilo de vida (ver 2Coríntios 6.14-18).

O desafio de viver na cultura do mundo envolve não se deixar consumir pelo pecado inerente a ela. Não há dúvida que nós cristãos estamos destinados a viver neste mundo, mas não derivamos dele nossa identidade nem nossos valores porque não pertencemos a ele (João 17.16). Usando a sabedoria, podemos nos manter conectados com as pessoas e a sociedade sem permitir que atitudes, crenças e condutas ímpias nos moldem ou influenciem (João 17.11,14-18; Romanos 12.2). Em sua essência, o cristão não é nem um pouco melhor que qualquer outra pessoa, e Jesus condena aqueles que exibem sua fé com uma atitude de arrogância (Mateus 23). Somos chamados a demonstrar humildade, amor e compaixão, mesmo em relação àqueles de quem discordamos veementemente. Esse equilíbrio pode ser difícil de alcançar, e muitas vezes significa ter uma voz dissidente e isolada. Ou ser o único justo. Em geral, significa não se deixar levar pela correnteza, mas nadar contra ela. Seguir a Deus pode até acarretar decisões e comportamentos que gerem ridicularização, zombaria e mesmo ódio.

Somos chamados a demonstrar humildade, amor e compaixão, mesmo em relação àqueles de quem discordamos veementemente.

Noé sabia como era.

Ele era justo em “sua época”. Seguia a Deus aqui e agora, respondendo ao contexto de sua própria geração. Decidido a andar com Deus, manteve-se limpo em meio a um mundo poluído – não por sua própria justiça; antes, para se preservar. Ele era justo. Mas o que exatamente fazia de Noé alguém tão justo aos olhos de Deus? Qual era sua história? Como Noé se tornou “Noé”?

Fé Resistente

Noé estava plenamente convencido da realidade de algo que ainda não conseguia enxergar. E é exatamente isso que a fé faz. Ela capacita aqueles que creem para ver o invisível. A conhecer o “ainda não”. A ir em frente em confiante obediência, independentemente do quanto isso o faça parecer esquisito, ridículo ou controverso. E Deus honra aqueles que escolhem os seus caminhos “ridículos” em detrimento da “sabedoria” convencional do ser humano (1Coríntios 1.18-29).

Um único homem ou mulher com fé consegue resistir a um exército de antagonistas. E havia uma legião de opositores em torno de Noé. A desvantagem era de bilhões para um.

Mas será que, diante das implicações físicas, espirituais e sociais de sua hercúlea tarefa, Noé alguma vez experimentou momentos de dúvida? Terá o filho de Lameque em algum momento vacilado na fé enquanto trabalhou durante um século, dia após dia, naquele projeto? Se o rei Davi, o apóstolo Pedro e João Batista tiveram momentos importantes em que sua fé praticamente faltou, é razoável assumir que Noé também tenha enfrentado esses momentos. Ele certamente passou várias noites em claro durante aqueles 120 anos, com dores lancinantes nas costas, machucados nas pernas ou mãos inchadas e feridas, pensando: “Deus, será que tudo isso realmente vale a pena? Será que esse dilúvio realmente vai acontecer, ou eu imaginei tudo isso? Será que meu barco vai flutuar, ou será que vou afundar e me afogar com os demais? Tu realmente falaste comigo anos atrás, ou estou aqui desperdiçando meu tempo e minha vida? Será que os céticos e cínicos têm razão no que dizem a meu respeito? Será que todos verão que sou um tolo? Essa é realmente a única maneira de nos salvar? Não tem um jeito mais fácil de realizar tua vontade?”.

Mesmo que não tenha passado por dúvidas crônicas e contínuas, Noé, como todos os crentes, com certeza teve ataques satânicos e de insegurança. É provável que sua própria natureza pecaminosa também tenha agido, inundando sua mente com apreensão ocasional e ondas de autopiedade. Ele também ficava cansado. Exausto de usar machados, serras e martelos. E os milhares de insultos lançados regularmente em sua direção ameaçavam desgastar a camada de fé que protegia seu coração. Afinal de contas, Noé continuava sendo apenas um ser humano. Mas, a despeito de suas limitações mortais, com o tempo ele aprendeu a desenvolver e exercitar o seu músculo da fé. Era a sua fé forte que o tirava da cama a cada manhã. O exercício da fé ajudava-o a suportar a dor e o cansaço. Ela protegia-o contra as afiadas setas verbais daqueles que o ridicularizavam.

Nossos ideais românticos sobre ser um crente forte adquirem perspectiva quando a corrida da nossa fé atinge a marca dos 10 ou 20 quilômetros.

Acreditar em Deus por causa de algo grande soa muito nobre. Alguns até consideram isso admirável. Tentar fazer uma obra grande para o Senhor é algo bom. Mas a realidade da vida em um mundo cheio de pecado é que essa fé real muitas vezes fica ensanguentada e suja, difícil e desafiadora. Esse é o tipo de fé que vai além da pura teoria e alcança a ação. Ela vai da cabeça e do coração para suas mãos, pés e boca. Esse não é o tipo de fé sobre o qual se fala ou escreve. Esse é o tipo de fé que se vive (ver Tiago 2.14-26). Não é hipotética, mas prática. Embora invisível, outros podem enxergá-la. É uma fé que trabalha. Se necessário, ela sacrifica e sofre. É uma fé manchada de sangue. Daquele tipo marcado por feridas e cicatrizes. Um pouco desfiada nas pontas. Rasgada e lacerada em alguns lugares. Batida, mas não estragada. Com aparência de quem levou uma surra, mas ainda ousada. Aparentemente derrotada, mas mantendo-se determinada. E – o melhor de tudo – é sua. Como um par favorito de sapatos: quanto mais é usado, mais confortável lhe parece.

Essa é a fé aprovada na batalha.

Não é atraente, mas com certeza é linda.

Nossos ideais românticos sobre ser um crente forte adquirem perspectiva quando a corrida da nossa fé atinge a marca dos 10 ou 20 quilômetros. Quão forte seria sua fé se todas as pessoas à sua volta estivessem contra você? Se cada ser humano vivo em torno de você o julgasse um tolo? E se quisessem tirar sua vida por causa da sua fé? Ou se sabotassem seus esforços para cumprir a missão dada por Deus? Será que Noé sofreu com sabotadores? Será que houve prejuízos porque alguém colocou fogo numa pilha de madeira ou roubou ferramentas e materiais? De qualquer forma, ele continua fazendo o que Deus lhe pedira, até nos menores detalhes (Gênesis 6.22). É isso que a fé faz. Ela obedece. E não há nada de glamoroso nisso. Apenas glorioso.

Noé tinha fé.