domingo, 16 de agosto de 2020

Profecia

 

Em defesa da profecia bíblica

Norbert Lieth

Escrevo essas linhas durante uma longa viagem missionária através da Alemanha. Durante o trajeto observamos que, nos mais diversos locais, somos confrontados com a importância e a necessidade que muitas pessoas atribuem à nossa revista, já que a profecia bíblica quase não é mais proclamada e que a volta de Jesus se tornou um tema secundário. De modo algum isso nos deixa orgulhosos, muito antes nos entristece, mas ao mesmo tempo nos incentiva a cumprirmos ainda mais efetivamente a nossa missão.

A última afirmação de Jesus na Bíblia é: “Sim, venho em breve!”. E a última oração da Bíblia é a reação adequada dos crentes diante dessa afirmação: “Amém. Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20).

Uma das últimas coisas que o apóstolo Paulo escreveu pouco antes de sua morte foi: “Eu já estou sendo derramado como oferta de bebida. Está próximo o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2Tm 4.6-8).

Assim, Paulo confirma que toda a sua batalha de fé, todo o seu trabalho e esforço foram motivados pela visão da volta de Jesus e seu desejo evidente é que – assim como ele – também nós amemos a volta do Senhor e trabalhemos nesse sentido.

Também o apóstolo Pedro escreveu pouco tempo antes da sua morte: “Porque sei que em breve deixarei este tabernáculo, como o nosso Senhor Jesus Cristo já me revelou. Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça no coração de vocês” (2Pe 1.14,19).

Temos, assim, a confirmação através de duas ou três testemunhas sobre a importância e urgência em nos preocuparmos adequadamente com a profecia bíblica e com a volta de nosso Senhor Jesus (ver Mt 18.16; Jo 8.17). Se Deus posiciona essas afirmações em três passagens tão importantes, então ele deve considerar isso como sendo muito importante. Isso soa como se fosse um legado, como o último desejo de um testamento.

Não podemos determinar o dia da volta de Jesus, mas deveríamos contar sempre com ela. No Novo Testamento somos incentivados a nos envolvermos com a profecia bíblica, a amar a sua volta, esperar ansiosamente por ela, a vigiar, a orar por ela e a nos consolarmos com ela. O ensino sobre a volta de Jesus não deve cair em segundo plano diante das demais doutrinas importantes da Bíblia.

Nós comemoramos a Páscoa, a morte e a ressurreição de Jesus, bem como a sua ascensão. Tão certo como ele subiu ao céu, tão certo ele voltará (At 1.11). E quando celebramos a Ceia do Senhor, proclamamos a morte do Senhor até que ele venha (1Co 11.26). Justamente no Apocalipse, o livro profético do Novo Testamento, o Cordeiro de Deus nos é apresentado quase 30 vezes. Nele encontramos o Cordeiro, que foi sacrificado para nos salvar – mas também vemos a adoração ao Cordeiro, o pleno poder do Cordeiro, a ira do Cordeiro, o sangue do Cordeiro, o cântico do Cordeiro, o trono do Cordeiro, o livro do Cordeiro, a vitória do Cordeiro, as bodas do Cordeiro e a noiva do Cordeiro.

A primeira vinda de Jesus como o Cordeiro de Deus e sua obra redentora no Gólgota não podem ser separadas da sua glória e sua volta. Assim como olhamos retrospectivamente para a sua obra consumada, para vivermos a partir dela, deveríamos olhar firmemente para a sua volta, pois assim se torna visível a vida eterna.

sábado, 1 de agosto de 2020

Enfrentando o Desânimo


Enfrentando o Desânimo Espiritual

Daniel Lima
Para mim, uma das características mais curiosas da pandemia tem sido o reconectar com amigos antigos. Ao investir tempo com amigos, dos quais me distanciei por vários motivos, uma verdade tem se revelado inegável: sem um investimento intencional e cuidadoso, todo relacionamento esfria e pode até morrer. Isso é verdade com amigos, com o cônjuge, com filhos, ou seja, mesmo com pessoas que amamos. Ao pensar nisso, um segundo e poderoso pensamento me ocorreu: se isso acontece com pessoas que vejo, quanto mais com Deus, que não vejo...
Conversando com muitos cristãos, me parece que um efeito da pandemia é um esfriamento espiritual (Pandemia e Esfriamento Espiritual). Parece que programas e eventos de igrejas mantinham a vida espiritual (ou aparência) de muitos. Percebendo isso, vejo igrejas tentando reproduzir virtualmente os mesmos eventos e programas para manter seus fiéis conectados com a igreja e, em última análise, com Deus. Fui pastor por cerca de 30 anos e entendo plenamente essa preocupação. No entanto, não é curioso que tenhamos de manter programas para que pessoas não se afastem de Deus? Esses programas, por mais bem-intencionados que sejam, não estariam ocupando o papel de “muletas” espirituais? Um dos benefícios da pandemia é que as “muletas” foram retiradas. Cristãos agora têm de se alimentar e manter vivo seu relacionamento com Deus sem os eventos e programas, ou pelo menos sem participar presencialmente dos mesmos. Como manter uma vida espiritual saudável nessas condições? Como não escorregar para o esfriamento espiritual?
Manter nossa fé viva é algo que nos cabe, não a nossos pastores e líderes, muito embora estes possam nos ajudar.
Um dos textos aos quais fui levado são as cartas de Paulo a Timóteo. O teor da primeira carta foi de encorajamento. Paulo se preocupou em animar Timóteo alertando para os perigos e para suas responsabilidades. Aparentemente Timóteo ainda precisava de encorajamento alguns anos depois, por isso a segunda carta. É curioso que Paulo estava preso em condições terríveis e ainda assim escreve uma carta de encorajamento para este jovem líder. Gostaria de compartilhar contigo neste texto sobre algumas lições que tiro do primeiro capítulo desta segunda carta:
Paulo escreve no verso 5 que se lembra da fé não fingida que viu tanto na avó como na mãe de Timóteo, assim como também nele. Era evidente que o desânimo de Timóteo não era devido a uma fé falsa... Os versos 6-7 apresentam o propósito de Paulo para este trecho da carta:
Por essa razão, torno a lembrá-lo de que mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você mediante a imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.
Paulo desafia Timóteo para que ele mantenha viva a chama do dom de Deus. Essa é uma responsabilidade sua e minha. Manter nossa fé viva é algo que nos cabe, não a nossos pastores e líderes, muito embora estes possam nos ajudar. E Paulo fundamenta essa tarefa nos recursos que Deus nos deu: “espírito... de poder, de amor e de equilíbrio”. Quando eu cedo à covardia, ao desânimo, estou fazendo o trabalho do Diabo. É certo que passaremos por períodos de desânimo e esfriamento, mas não por termos sido abandonados por Deus. Como então posso acessar esse poder em momentos que não percebo, esse amor nas horas em que não sinto e esse equilíbrio que gostaria de ter sempre? Com certeza existem muitas instruções nos versos seguintes, mas eu gostaria de destacar cinco delas:
  1. Suporte os sofrimentos pelo evangelho. Paulo deixa claro que quem quiser viver uma vida piedosa sofrerá perseguição (2Timóteo 3.12). Por que, então, ficamos surpresos quando enfrentamos sofrimentos neste mundo? Arrisco-me a dizer que você e eu sofremos, em parte, por adotarmos expectativas deste mundo, tais como sucesso, dinheiro, conforto, poder ou influência. Jesus já deixou claro que seus seguidores enfrentariam lutas (João 16.33).
  2. Lembre-se de que fomos chamados para estar com ele desde a eternidade passada. O primeiro chamado de Jesus é para estarmos com ele, só depois somos chamados a fazer algo por ele. Isso deveria me levar a cultivar minha relação com o Pai. Buscar a Deus, buscar ouvir o que ele está dizendo, me aquietar diante dele.
  3. Confie que ele pode guardar o que lhe entregamos até o final. O que foi que você e eu entregamos a Jesus no momento de nossa conversão? Se entregamos apenas nosso destino eterno, somos salvos, mas nosso dia a dia será muito difícil; no entanto, se entreguei a ele toda a minha vida, posso confiar que ele pode guardar cada aspecto dela, mesmo aquele que não entendo ou que não gosto.
  4. Mantenha o ensino que recebeu. Há um ditado antigo que diz: “Não duvide no escuro daquilo que Deus lhe mostrou no claro!”. Momentos de pandemia, de isolamento e mesmo de esfriamento são momentos de se agarrar ao que aprendemos e cremos. Nossa fé é mais testada e forte em períodos de provação do que em momentos de tranquilidade!
  5. Cerque-se de irmãos que podem te estimular. Paulo conclui lembrando aqueles que o abandonaram e aqueles que o apoiaram. Não se isole nos momentos de desânimo (como é minha tendência); pelo contrário, agarre-se a pessoas que o apoiam e o sustentam. Busque aqueles que também buscam a Deus, aqueles em cujas vidas você vê evidências de um caminhar com ele.
Minha oração por você, meu amigo ou amiga, e por mim é que, nos momentos de dúvida, de desânimo, nos momentos em que parece que Deus desistiu de nós, possamos combater o bom combate mantendo-nos firmes naquilo que cremos. Ao passar pelo vale da sombra da morte, que a presença do Bom Pastor nos dê plena confiança – apesar das circunstâncias!