domingo, 28 de maio de 2017

AÍ!


Ai!

Todo ramo... que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda” (João 15.2).
É algo impressionante andar entre as árvores coloridas do pomar num dia ensolarado de outono. O Criador permitiu o crescimento de uma grande variedade de frutas para nosso prazer. No entanto, após a colheita, chega o agricultor e poda os galhos. Vemos então as árvores desgalhadas e os parreirais com aspecto de que foram maltratados. E isso que há pouco eles produziram tanto, a ponto de quase suspirar sob o peso dos frutos em seus galhos. É algo incompreensível para um leigo!
Quem quiser produzir frutos em sua vida não consegue se escapar da poda. Não deveria ser motivo de estranhar se o Viticultor considera sua vida tão valiosa que aplica a tesoura para podar, para que produza ainda mais frutos. Pergunta-se, porém, se também os galhos produtivos mais úteis precisam ser podados?
O viticultor avalia cada ramo. Cada um. Sem exceção. Se ele estiver ligado à videira, ele a limpa. Nessa vida, a promessa de limpeza por meio de uma intervenção dolorosa é feita para os bons e não para os maus. O resultado dos recursos dolorosos é mais do que compensador. Se desejarmos produzir frutos para o Senhor Jesus, podemos estar tranquilos de que a mão amorosa e suave do nosso Viticultor celestial fará exatamente aquilo que for da amorosa vontade dele.
Não atente para os sussurros do inimigo dizendo que a mão do Viticultor seja muito brutal ao cortar. O olhar do Pai examina os galhos produtivos e ele aplica a eles a sua honra para que, ao final, somente ele seja glorificado. O Pai celestial é glorificado com mais frutos, e frutos permanentes! Aquele que em sua vida nunca sentiu a mão limpadora do Viticultor e que só espera dias bons e prazer precisa verificar em que tipo de ramo ele está enxertado.
De que maneira, porém, podemos produzir frutos? O segredo é a ideia: “Permaneçam em mim”. Quando iniciei minha vida cristã, muitas vezes eu cometia o erro de me preocupar com a qualidade do fruto ao invés de me concentrar na ligação íntima com a videira. Tentei muitas vezes viver de maneira agradável a Deus por meio de esforços carnais. Eu mesmo determinava o que seria um fruto bom. No entanto, eu sempre me desesperava com minha instável firmeza espiritual. O irmão Werner Heukelbach, que sofria de dolorosa Angina pectoris, certa vez orou de modo comovente: “Senhor Jesus, corte, corte mais fundo, separe aquilo que não te agrada”. Um irmão que o acompanhava disse em seguida que, ao ouvir essas palavras, ele sentiu como se uma ducha gelada escorresse em suas costas. E quanto o Senhor cortou! Quantas bênçãos resultaram desse ramo!
Você, no entanto, não precisa orar dessa maneira, pois o seu Pai celestial sabe muito bem o que pode exigir de você. A estrofe do cântico a seguir mostra o significado de viver em íntima ligação com a videira: “Olhe somente para Jesus, veja unicamente a sua face e as coisas do mundo obscurecerão e ficarão pequenas à luz da sua glória”. Assim, entregue a avaliação da sua situação confiadamente ao seu Pai celestial. Ele sabe das suas aptidões, sejam quais forem. O consolo contido nessa promessa de produzir frutos é tão grande que pode ser comparado à riqueza, saúde e honra.
Para Deus, um coração humilde é mais valioso do que ouro e prata.
Esteja tranquilo, pois seu Pai celestial também sabe das suas noites sofridas e de insônia. Ele sabe de suas lágrimas secretas. Ele conhece também os limites da sua capacidade de suportar cargas. Ele nunca colocará uma responsabilidade maior do que você consegue suportar. Em suas situações de sofrimento, ele tornará em realidade as suas palavras: “Minha graça é suficiente a você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Coríntios 12.9).
Quando não conseguimos superar determinadas coisas, precisamos nos submeter a elas. O potencial da força da graça de Deus está à sua disposição. Para Deus, um coração humilde é mais valioso do que ouro e prata. E é nessa força de Deus que encontramos a vitória! — Manfred Paul

Manfred Paul é autor de muitos livros, folhetos e brochuras que foram distribuídos em mais de 30 países, encorajando milhões de pessoas. Casado há mais de 50 anos, tem 3 filhos e 10 netos. Foi Diretor e encarregado das missões da organização internacional Janz Team (agora TeachBeyond), em Lörrach, Alemanha. Por 24 anos foi evangelista e líder espiritual da missão Werner Heukelbach, onde pregou na Alemanha e no exterior. Também participou de transmissões de rádio em diversos países, como Alemanha, Rússia e Equador. Aos 76 anos, ele não pensa na bem merecida aposentadoria. Toda a sua vida está a serviço do Senhor Jesus Cristo.

Mundanismo: O Inimigo Das Orações (Tiago 4:1-10) - Augustus Nicodemus

VOX Quarteto - Medley HOMENAGEM ( Arautos, Athus, Cânticos, Communion )

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Quando Voltará o Noivo?




Norbert Lieth
No último livro da Bíblia o Senhor Jesus promete quatro vezes que virá sem demora (Ap 3.11; Ap 22.7,12,20). Quase dois mil anos depois, Ele ainda não voltou. Olhando para a história da Igreja e para a história dos judeus, veremos que tanto judeus como cristãos sempre depositaram suas esperanças em que o Messias viria em breve ou que Ele retornaria.
O sábio judeu Maimônides escreveu na Idade Média: “Creio com toda a convicção na futura vinda do Messias, e mesmo que ele demore, esperarei pela sua vinda a cada dia!”. Com cada nova onda de perseguição que vinha sobre os judeus “espalhados entre as nações”, da Espanha à Rússia, eles contavam firmemente que agora o Messias viria e que essa seria a última perseguição. Ao invés disso, muitas vezes as coisas só foram piorando até culminarem no Holocausto.
Da mesma forma, os cristãos sempre esperaram por seu Senhor. Durante a Inquisição católica, nos anos em que a peste espalhava o pavor, quando guerras terríveis devastavam as nações, quando ditadores oprimiam os povos e quando muitas outras coisas ruins ameaçavam os crentes, eles depositavam suas últimas esperanças na breve volta de seu Senhor. Um hino expressa assim essa expectativa: “Vem Jesus, ó Senhor, vem depressa reinar. Vem a paz e a justiça trazer. Criação, povo teu, tudo almeja o raiar, Desse dia de glória e poder”.
Mas até hoje o Senhor continua ausente. Sei de cristãos que, ao ficarem velhos, quase perderam a esperança pela volta de seu Senhor Jesus Cristo. Durante toda a sua vida contavam firmemente com o Seu retorno e acabaram seus últimos dias em um asilo. Isso os deixou inseguros quanto à sua esperança. Nossos pais e mães em Cristo acreditavam que Jesus voltaria ainda durante suas vidas. Até morrer, eles amaram a vinda do Senhor, pregaram sobre ela e oraram para que seu Senhor viesse logo... E então? Deus os decepcionou? Deus nos frustrou?

Depois de um longo tempo

É interessante: observando com mais atenção as passagens que profetizam a volta de Cristo, percebemos que existem indícios e indicações claras de que Ele voltaria somente depois de um longo tempo. Por exemplo:
  • Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lc 18.7-8).
  • Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles” (Mt 25.19).
  • A seguir passou Jesus a proferir ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, arrendou-a a lavradores e ausentou-se do país por prazo considerável” (Lc 20.9).
  • E, tardando o noivo, foram todas tomadas de sono e adormeceram” (Mt 25.5).
O livro de Habacuque é profético e ao mesmo tempo profundo e rico em aconselhamento espiritual. Nele encontramos as respostas a perguntas que as pessoas fazem em todas as épocas: Por que existe o mal no mundo? Por que o mal parece triunfar? Onde está Deus? Por que Ele não interfere nos acontecimentos? Ele escuta o que se pede? Habacuque questionou a Deus fazendo as mesmas perguntas que todos nós temos:
Sentença revelada ao profeta Habacuque. Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão? Pois a destruição e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita. Por esta causa, a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o justo, a justiça é torcida. (...) Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?” (Hc 1.1-4,13).
Não é extremamente atual essa acusação do profeta a Deus? Ao nosso redor impera a violência e o mal, a injustiça e a desordem. O mal parece desdobrar-se em milhares de facetas diferentes, dominando de forma brutal e inclemente, as leis parecem sem força para detê-lo... E onde fica Deus? Por que o Senhor ainda não voltou para acabar com tanta maldade?
É maravilhoso ver como Deus nos aconselha espiritualmente no livro de Habacuque. Ele não responde os questionamentos dizendo: “Você não tem vergonha de ficar fazendo esse tipo de pergunta? De ficar fazendo acusações? De achar que tem razão!?”. Não! Ele não faz assim! Deus manda registrar as perguntas de Habacuque nas Sagradas Escrituras para estarem disponíveis a todas as gerações depois dele. Podemos perguntar a Deus. E quando perguntamos, Ele responde!
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O Senhor me respondeu e disse: ...” (Hc 2.2). No decorrer desse livro profético, o Senhor vai dando diversas respostas a todos os questionamentos de seu servo. Gostaria de salientar apenas duas:
1. “Vede entre as nações, olhai, maravilhai-vos e desvanecei, porque realizo, em vossos dias, obra tal, que vós não crereis, quando vos for contada” (Hc 1.5).
Naquela época, Deus havia despertado os caldeus (babilônios) para usá-los na realização de Seus planos. Os caldeus são descritos como um povo inclemente, que fazia o que bem entendia, idolatrava seu próprio poder e exaltava sua própria força. Ainda assim, tudo estava completamente sob o controle do Todo-Poderoso: “porque realizo... obra tal”. Por meio dos caldeus, Deus modificou a geopolítica daquela época, deslocando forças e transferindo poderes. E os usou para trabalhar o caráter dos judeus e corrigir o povo de Israel. Assim, os caldeus serviram para realizar os planos de Deus em relação à futura vinda de Jesus Cristo ao mundo. Por exemplo, mais tarde, na Babilônia dos caldeus viveram grandes profetas judeus como Daniel ou Ezequiel. Dessa região vieram os magos do Oriente para ver Jesus, o recém-nascido Rei dos judeus (Mt 2). (Provavelmente tinham obtido suas informações nos registros do profeta Daniel). Ninguém teria imaginado que esse povo indomável, despótico e destruidor acabaria servindo aos planos de Deus e que até um homem como Nabucodonosor fosse obrigado a curvar-se diante do Deus de Israel. Todos os povos deveriam reconhecer que o Deus de Israel era e é o Deus verdadeiro.
Será que achamos que hoje é diferente? O que está acontecendo na Europa, na Ucrânia, no Oriente Médio estaria fora do controle de Deus? Talvez, neste momento, o seu próprio mundo particular esteja de cabeça para baixo! Você está numa situação difícil e não tem as respostas que precisa? Uma coisa é certa: para servir a um propósito específico foi que Deus permitiu ou até fez que alguma coisa acontecesse na sua vida. Deus tem um plano com tudo!
2. Eis que eu venho! “O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará” (Hc 2.2-3).
Essas eram palavras anunciando o juízo para castigar os caldeus. O juízo certamente viria sobre eles, mesmo que as aparências dissessem o contrário. – Deus não vai ficar olhando a injustiça para todo o sempre; Ele intervirá, fará mudanças e trará justiça, mas tudo isso a seu tempo. Até lá todas as coisas servem para alguma finalidade específica.

“Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3.9).
Quando lemos o último livro da Bíblia também poderíamos dizer: “O Apocalipse foi registrado há muito tempo, mas até hoje ainda não se cumpriu”. Mesmo que tudo pareça contrário, mesmo que tenhamos dúvidas de que as profecias se cumprirão, tudo se realizará, inclusive o Apocalipse! O Senhor vem em nosso socorro com seus conselhos espirituais bem preciosos. “Sim, o Apocalipse ainda espera pelo tempo oportuno para se cumprir integralmente. Mas tudo o que está acontecendo no mundo se dirige inexoravelmente para o clímax. A profecia não nos engana. Ela virá e se cumprirá”. Está escrito: “Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo” (Ap 1.3).
Porque a visão ainda está para cumprir-se...”. Quando o tempo da “revelação de Jesus Cristo” tiver chegado “já não haverá demora” (Ap 10.6). Nessa fase, o tempo da última grande tribulação estará se encaminhando para seu final, e isso se dará rapidamente: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João” (Ap 1.1). Aí Ele “depressa lhes fará justiça” (Lc 18.8). Sim, quando os eventos do Apocalipse tiveram começado, então o Senhor virá rapidamente: “Logo em seguida à tribulação daqueles dias...” (Mt 24.29).
Até o momento de Sua manifestação, Deus, em Sua imensa graça, demonstra extrema paciência com os homens. Enquanto Ele espera e vai se revelando aos homens, vai salvando pecadores e edificando Sua Igreja. Pedro fala a esse respeito, enfatizando mais ou menos o mesmo que Habacuque: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pe 3.9).
Inicialmente, Habacuque não conseguia entender seu Deus. Mas o Senhor respondeu suas perguntas, e repentinamente tudo passava a fazer sentido. Para Deus o tempo tem outras dimensões, mas o momento de Sua interferência certamente virá, e até lá o mundo não está largado à própria sorte. Todas as relações de poder, os equilíbrios de forças, os deslocamentos nos poderes políticos e todas as mudanças sociais fazem sentido. Deus se contém para não intervir imediatamente, dando tempo para salvar ainda mais pecadores. No entremeio, até que aconteça a intervenção divina, o justo viverá por fé (Hc 2.4). Na hora de Deus, acontecerá a Tribulação, quando o Senhor castigará as nações, aniquilará o Anticristo, salvará Israel e enviará Seu Ungido. Assim, no final tudo irá convergir para o grande triunfo e para a infinita vitória do Senhor, e todos os salvos O adorarão.
Como Igreja de Jesus, sabemos que o Senhor virá antes da última tribulação de juízo para buscar Seu corpo, cujos membros somos nós, para arrebatar-nos ao céu. Até lá vale para nós: “O Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ler até quem passa correndo. Porque a visão ainda está para cumprir-se no tempo determinado, mas se apressa para o fim e não falhará; se tardar, espera-o, porque, certamente, virá, não tardará” (Hc 2.2-3).
Ele virá e não tardará! Maranata! (Norbert Lieth — Chamada.com.br)

Norbert Lieth é Diretor da Chamada da Meia-Noite Internacional. Suas mensagens têm como tema central a Palavra Profética. Logo após sua conversão, estudou em nossa Escola Bíblica e ficou no Uruguai até concluí-la. Por alguns anos trabalhou como missionário em nossa Obra na Bolívia e depois iniciou a divulgação da nossa literatura na Venezuela, onde permaneceu até 1985. Nesse ano, voltou à Suíça e é o principal preletor em nossas conferências na Europa. É autor de vários livros publicados em alemão, português e espanhol.

terça-feira, 16 de maio de 2017

James H. Brookes


Um Pioneiro do Arrebatamento Pré-Tribulacionista

Thomas Ice
Muitos hoje ficam surpresos por verificar que a maioria dos defensores do pré-milenismo pré-tribulacionista dispensacional antes da Primeira Guerra Mundial pertencia aos círculos presbiterianos. James Hall Brookes (1830-1897), um ministro presbiteriano muito conhecido em seus dias, é considerado o pai do pré-tribulacionismo e do dispensacionalismo americanos. Brookes foi um dos primeiros a ensinar o Arrebatamento pré-Tribulação e as verdades dispensacionalistas que o acompanham, na América pós Guerra Civil. O ministério dele foi caracterizado pela dedicação a uma exposição bíblica versículo por versículo das Escrituras e por uma asserção e defesa firmes da inspiração completa e infalível da Escritura Sagrada. Ele foi um pastor muito amado, que demonstrava grande integridade pessoal e espiritualidade, e que exerceu muita influência nacional tanto dentro da denominação quanto por todo o âmbito evangélico.[1]

Vida Pregressa

Brookes nasceu no dia 27 de fevereiro de 1830, em Pulaski, no estado americano do Tennessee. Seu pai, um ministro presbiteriano, morreu de cólera em junho de 1833, deixando a família e James em uma situação financeira de pobreza. Ambos os avós de James eram também ministros presbiterianos. Brookes aparentemente tornou-se crente em Cristo com a idade de oito anos e também começou a se sustentar nessa mesma ocasião. Quando Brookes tinha 14 anos, foi-lhe oferecida uma designação na Academia Militar de West Point, mas ele não a aceitou porque, em vez disso, desejava se preparar para o ministério. A maior parte da educação formal de James até aos 14 anos foi ministrada por sua mãe, que era bem educada e capaz de oferecer uma excelente instrução escolar. Aos 16 anos, James se tornou professor em Pulaski, Tennessee, e economizou tanto dinheiro quanto lhe foi possível a fim de poder pagar seus estudos na faculdade.
James acabou começando sua carreira na faculdade com 20 anos e entrou na Universidade de Miami em Oxford, no estado americano de Ohio. Ele foi colocado em turma mais adiantada por causa de suas habilidades acadêmicas e de seu treinamento anterior. Durante seu último ano no curso de graduação, Brookes assumiu estudos adicionais no Seminário Presbiteriano Union de Oxford, Ohio, a fim de se equipar melhor para conseguir fazer seu treinamento ministerial em Princeton. Brookes se formou na Universidade de Miami em 1853 e entrou para o Seminário Teológico de Princeton em Nova Jérsei no mesmo ano. Ele não somente recebeu o diploma de graduação na Universidade de Miami, mas foi lá que encontrou sua esposa, Susan Oliver, filha de um proeminente médico. Diz-se que Susan era excepcionalmente bonita e bem educada, e que seria uma ótima esposa de pastor. Eles se casaram no dia 2 de maio de 1854, em Dayton, Ohio, onde Brookes se tornou pastor da Primeira Igreja Presbiteriana. James terminou seus estudos de pós-graduação no Seminário de Princeton, que naquela época era considerado o melhor e mais conservador seminário nos Estados Unidos. Em 1854, foi ordenado pelo seminário por conta de seus estudos de pós-graduação.

Vida Pastoral

De 1854 a 1858, Brookes pastoreou sua primeira igreja em Dayton. A seguir, ele foi chamado para pastorear a Segunda Igreja Presbiteriana, em Saint Louis, estado americano do Missouri. Em Missouri ele permaneceu até sua morte, em 1897. Quando a Guerra Civil irrompeu, no início dos anos 1860, uma série de acontecimentos levou Brookes a renunciar a seu cargo na igreja. Exatamente no dia seguinte, ele foi chamado a uma nova igreja e aceitou o chamado da Igreja Presbiteriana nas ruas Décima Sexta com Walnut, que foi onde ele serviu como pastor até sua morte. (Essa igreja mais tarde mudou e se tornou a Igreja Presbiteriana nas avenidas Washington e Campton.) A nova Igreja Presbiteriana cresceu rapidamente e passou a ser a maior e mais influente igreja em Saint Louis.
A pregação de Brookes era extremamente popular onde quer que ele falasse. Ele foi um pioneiro em seus dias, com sua ênfase na exposição da Bíblia em inglês em uma época que a maioria apresentava tratados teológicos nos púlpitos. Um dos autores que escreveu sua biografia observou que ele manteve essas visões mesmo enquanto estava no Seminário.
Ele também afirmava que os seminários teológicos não davam o devido valor à Bíblia em inglês. Ele, o defensor da Bíblia em inglês, sempre falava e não poupava esforços quando discutia sobre esse ponto. Ele disse que a média dos formandos do seminário “sabia demais sobre a Bíblia, mas não o suficiente da Bíblia”.[2]
Embora não negligenciasse o importante papel do grego e do hebraico para o expositor bíblico, Brookes proporcionou um grande legado que foi seguido, nos últimos 150 anos, pelos excelentes professores que ministravam versículo por versículo. Esta ênfase na Bíblia em inglês estava no coração dos fundadores do primeiro Departamento de Exposição Bíblica do Seminário Teológico de Dallas.

Ministério e Influência

É inquestionável que, durante a última terça parte do Século XIX, Brookes foi o mais famoso e influente ministro presbiteriano da América. Ele começou seu ministério literário nos anos 1860 e produziu no mínimo 26 livros que foram publicados e cerca de 200 porções bíblicas. No início dos anos 1870, ele publicou Maranata, uma obra abrangente sobre escatologia que foi um dos trabalhos mais populares que ensinava o Arrebatamento pré-Tribulação. Outros livros sobre profecia incluíram: Israel and the Church [Israel e a Igreja], Bible Reading on the Second Coming [Leitura Bíblica Sobre a Segunda Vinda] e Till He Come [Até que Ele Venha], título que mais tarde foi trocado por I Am Coming [Eu Estou Chegando]. Brookes defendeu valorosamente a inspiração completa das Escrituras numa época em que as visões liberal e crítica da Bíblia estavam entrando na Igreja Presbiteriana e em outras denominações americanas. Foi quando ele escreveu God Spake All These Words [Deus Falou Todas Estas Palavras].

Universidade bíblica Brookes, localizada em Saint Louis, Missouri, Eua.
Em 1875, Brookes começou um periódico mensal denominado The Truth or Testimony for Christ [A Verdade ou Testemunho por Cristo], que finalmente chegou a ter uma circulação de mais de 40.000 exemplares. Ele continuou a servir como editor até a sua morte, e através dessa publicação ele estimulava os cristãos no evangelismo, e no estudo das profecias. Depois de sua morte, o periódico fundiu-se com The Watchword [Palavra de Ordem], que mais tarde ficou conhecido como The Watchword and Truth [Palavra de Ordem e Verdade].
Durante todos os anos do ministério de Brookes, ele foi um participante ativo em eventos denominacionais e interdenominacionais. James foi eleito moderador da assembleia geral múltiplas vezes. Este era o ofício mais importante dentro de sua denominação na América. Foi um palestrante muito conhecido em conferências bíblicas, em encontros da YMCA, e em conferências sobre profecias. Em 1875, James foi um dos fundadores e presidente de uma conferência anual que finalmente se tornou conhecida como a Conferência Bíblica de Niágara. Esse evento anual em Niagara-on-the-Lake, em Ontário, Canadá, tornou-se a principal conferência para estudiosos da Bíblia nos últimos anos do Século XIX. Durante sua existência, a conferência era interdenominacional e pré-milenista. Ela era incondicionalmente pré-tribulacionista em perspectiva até que a controvérsia entre pré-tribulação e pós-tribulação passou a ser pública depois da morte de Brookes. A controvérsia doutrinária, as incertezas quanto à localização e a morte de Brookes levaram ao seu declínio e, em 1900, foi realizada a última conferência. O Instituto Bíblico Brookes, em Saint Louis, recebeu o nome em homenagem ao Dr. Brookes e é hoje denominado Brookes Bible College [Faculdade de Teologia Brookes]. Por todos os seus anos, Brookes foi um líder indiscutível e, através de seus esforços, o pré-milenismo e o dispensacionalismo foram amplamente disseminados para além das barreiras denominacionais dentro do Protestantismo conservador.

Influência da Profecia Bíblica

Brookes foi um dos mais proeminentes e fervorosos estudantes de profecia de seu tempo. Em um artigo de 1896 no The Truth chamado “Como Tornei-me Pré-Milenista”, Brookes afirmou que ele chegou à sua escatologia pré-milenista através de suas próprias leituras e estudos de Apocalipse e Daniel, depois de ter entrado para o pastorado e depois de ter negligenciado as profecias por muitos anos. Esse estudo independente, juntamente com alguma influência dos Plymouth Brethren [Irmãos de Plymouth] nos anos depois da Guerra Civil, lhe proporcionaram o pano de fundo histórico para suas convicções. Ele hospedou o líder dos British Brethren [Irmãos Britânicos], John Nelson Darby, em sua igreja em múltiplas ocasiões, mas Brookes negava ser receptor direto da escatologia dos Brethren, embora reconhecesse ter um apreço pelo entusiasmo escatológico deles. Logo em 1871, Brookes já estava publicando e ensinando visões semelhantes ao dispensacionalismo. Em 1874, seu sistema estava bem desenvolvido e foi Brookes quem apresentou C.I. Scofield, logo depois da conversão deste, aos ensinamentos do pré-milenismo dispensacionalista. Seria através de Scofield e de sua Bíblia de Estudos que Brookes teria sua influência mais duradoura.
Brookes era versado nas opções escatológicas dentro do pré-milenismo e discutia tanto contra uma teoria do Arrebatamento parcial quanto contra o pós-tribulacionismo. Ele se recusava a estabelecer datas para o Arrebatamento e se apegou a uma forte doutrina do retorno do Senhor e da iminência desse retorno:
Quão emocionante é o pensamento de que o primeiro desses sensacionais acontecimentos, a saber, a vinda de Cristo para os santos, possa ocorrer a qualquer momento.[3]
Ele era muito consciente da acusação feita por críticos mal informados de que os dispensacionalistas afirmavam haver mais de um caminho para a salvação, e refutava isto veementemente em seus escritos:
É desnecessário lembrar qualquer leitor comum das Sagradas Escrituras de que, desde os versículos de abertura de Gênesis até Malaquias, o Espírito é posto à vista na criação, providência e redenção, e que todos os que são salvos foram vivificados através de seu divino poder e graça, como o são agora.[4]
Um estudioso escreveu em uma tese de doutorado:
James Brookes causou um tremendo impacto sobre a cena religiosa americana. Ele teve um papel crucial no desenvolvimento e divulgação do pré-milenismo dispensacionalista americano e, assim, sobre o Fundamentalismo americano. Por meio de seus escritos, sua liderança na Conferência Bíblica de Niágara e seus relacionamentos pessoais, ele afetou toda uma geração de líderes pré-milenistas. Seu impacto é difícil de ser superestimado. A despeito dessa importância, ele permanece relativamente negligenciado.[5]
Brookes tinha uma versão altamente desenvolvida da teologia dispensacionalista, a qual ele promoveu e divulgou por toda a América do Norte através de suas pregações, seus escritos e sua influência como Presidente da Conferência Bíblica de Niágara. Ele também estabeleceu um padrão para a teologia evangélica como resultado da declaração doutrinária de Niágara que escreveu. James seguiu vigorosamente a Cristo ao edificar sua teologia com base na Bíblia e na Bíblia somente. “James H. Brookes merece uma posição nobre nas memórias daqueles que hoje, como ele, buscam honrar a verdade bíblica”.[6] Brookes é um valioso pai do movimento de exposição bíblica, do pré-milenismo futurista, do dispensacionalismo, e do Arrebatamento pré-tribulacionista. É triste ver uma ênfase tão saudável em tamanho declínio em nossos dias, até mesmo entre as igrejas, denominações e associações que certa vez já prosperaram quando seguiam a liderança dele. Maranata! (Thomas Ice — Pre-Trib Perspectives)

Notas:

  1. Baseei-me grandemente em um artigo de Timothy Demy, “James Hall Brookes” http://www.pre-trib.org/data/pdf/Demy-JamesHallBookes.pdf.
  2. David Riddle Williams, James H. Brookes: A Memoir [James H. Brookes: Uma Memória] (St. Louis: Presbyterian Board of Publication, 1897), pp. 58 59.
  3. James H. Brookes, Maranatha: or The Lord Cometh [Maranata: ou Vem Senhor], 10th edition (New York: Fleming H. Revell Company, 1889), p. 540.
  4. James H. Brookes, Israel and the Church: The Terms Distinguished as Found in the Word of God [Israel e a Igreja: Os Termos Distintos Como São Encontrados na Palavra de Deus] (Chicago: The Bible Institute Colportage Association, 188?), p. 38.
  5. Carl E. Sanders II, “The Premillennial Faith of James Hall Brookes” [A Fé Pré-Milenista de James H. Brookes] (PhD dissertation, Dallas Theological Seminary, 1995), p. 202.
  6. Larry Dean Pettegrew, “The Historical and Theological Contributions of the Niagara Bible Conference to American Fundamentalism” [As Contribuições Históricas e Teológicas da Conferência Bíblica de Niagara para o Fundamentalismo Americano] (ThD dissertation, Dallas Theological Seminary, 1976), p. 161.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Os Judeus no Iraque


Os judeus no Iraque

A história dos judeus do Iraque tem mais de 2.700 anos, constituindo uma das mais antigas comunidades judaicas no mundo. Atualmente conhecida como Iraque, a região situada entre os rios Tigre e Eufrates, no Crescente Fértil, era, como indica essa denominação, das mais férteis da Antiguidade. Ela mudou várias vezes de nome – Mesopotâmia, Babilônia, entre outros – à medida que se alternavam seus conquistadores através dos milênios.
Persas, gregos, árabes e turcos se sucederam no domínio da área e talvez essa seja a razão pela qual os judeus locais se autodefinem, muitas vezes, como "judeus babilônicos". Nas palavras da Torá, a própria história do povo judeu começou nessa região. Foi na cidade de Ur, na Mesopotâmia, que nasceu o primeiro patriarca, Abraão, e Sara, sua mulher. E da mesma região vieram as esposas de Isaque e Jacó.

Na Antiguidade

Apesar de alguns historiadores acreditarem que a presença judaica na região teve início em 722 a.C. – quando o Reino de Israel foi derrotado pelos assírios e sua população, as Dez Tribos, dispersa – há maior evidência de que tenha sido somente em 586 a.C., após a derrota do Reino de Judá por Nabucodonosor II, que um grande contingente de judeus passou a morar na região. O exército babilônico, por ele chefiado, conquistou Jerusalém, incendiando o Primeiro Templo e destruindo a cidade. A maioria da população, cerca de 40 mil judeus, foi deportada para a Babilônia. Os judeus levaram consigo rolos da Torá e suas leis e tradições. Iniciava-se a "Diáspora Babilônica", o "Galut Bavel", tão decantado nas orações e na literatura judaica, que historicamente durou até 538 a.C., quando Ciro, o Grande, o novo monarca persa governante da Babilônia, permitiu aos exilados da Judéia voltarem à sua pátria.
Sabe-se que no Império Babilônico os judeus não eram escravizados nem tratados com crueldade. Eles estabeleceram-se em comunidades compactas, onde refizeram sua vida, mantendo sua crença e práticas religiosas. Foi nessa época que os judeus adotaram o aramaico como língua do povo e instituíram vários dos costumes que perduram até hoje. Acredita-se que, durante esse exílio, os judeus tenham atingido um alto grau de desenvolvimento. Quando, por volta de 539 a.C., o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a região e colocou um fim ao Império Babilônico, ele deu aos exilados judeus permissão de voltar a Jerusalém e lá reconstruir o Templo. O Livro de Esdras atesta que 42 mil judeus voltaram para a Judéia. Mas, apesar de todos ansiarem pelo retorno, como o comprovam os versos litúrgicos: "Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião" (Sl 137.1) e "Se eu de ti me esquecer, ó Jerusalém, que se resseque a minha mão direita" (v.5), muitos judeus optaram por não voltar para a Terra de Israel e permaneceram na Babilônia, onde fincaram sólidas raízes. A presença da comunidade judaica babilônica perduraria até a emigração dos judeus iraquianos para Israel, no século XX.

A Era Comum


"Às margens dos rios da Babilônia, nós nos assentávamos e chorávamos, lembrando-nos de Sião" (Sl 137.1). Na foto: o rio Eufrates.
Mais de quinhentos anos depois da volta dos exilados no tempo de Ciro, já no século I de nossa era – tendo sobrevivido aos exércitos de Alexandre o Grande, ao domínio grego e ao jugo do Império Romano – a Babilônia, na época sob o domínio dos partas, ressurgiu como o grande centro intelectual judaico. Em 40 d.C., os partas – um dos povos que compunham a Pérsia – conquistaram e passaram a dominar esse país e a Babilônia, enquanto a Judéia continuou parte do Império Romano. A opressão dos judeus sob o jugo romano foi o grande propulsor para o crescimento da comunidade judaica na Babilônia, que chegou a superar a da Judéia no final do século I.
Desde essa época até o século II, a situação na Judéia continuou marcada por revoltas e perseguições. A primeira revolta, no ano 70 d.C., provocou a destruição do Segundo Templo. A segunda, liderada por Bar Kochba (135 d.C.), teve conseqüências ainda mais graves, com a morte de milhares de judeus, sendo os remanescentes levados como escravos. Foi o início da Diáspora (Dispersão). Entre várias outras sanções que lhes foram impostas, uma, muito grave, foi o decreto do imperador romano Adriano colocando o judaísmo na ilegalidade. Muitos judeus, entre eles vários sábios, perseguidos pelas tropas romanas, deixaram a Judéia e se estabeleceram na Babilônia. Esta, com o declínio das instituições judaicas na terra de Israel, firmou-se como o mais importante centro isolado de ensino judaico do mundo, assim permanecendo até o início do século XI.

O Império Persa volta a dominar a Babilônia

Após terem vencido os partas em 226, os persas voltaram a assumir o governo da Babilônia. No século III, os judeus gozavam de autonomia religiosa, sob a liderança do exilarca, o "Resh Galuta" (Príncipe do Cativeiro). Líder oficial da comunidade judaica desde seus primórdios, descendente da Casa de Davi, foi ele quem estimulou o estabelecimento de academias rabínicas na Babilônia Central. Nessa época foram fundadas as academias de Sura, ao sul do que é hoje Bagdá, e de Pumbedita. Em seu auge, essas "ieshivot" (escolas) centralizavam toda a vida judaica. Os nomes de Sura e Pumbedita e seus eruditos são reverenciados até o presente.
No século IV, continuaram a florescer os estudos rabínicos. Entre os maiores sábios estão Abaie e Rava, este último também conhecido como Rav Aba. Foi no final desse século que se iniciou, na academia de Sura, a compilação do material para o "Talmude Babilônico". Esse rico cabedal de conhecimento foi praticamente completado por volta do ano 530 da nossa era, passando a constituir orientação segura sobre o judaísmo para a Diáspora, irradiando e influenciando, com seus ensinamentos, todas as futuras gerações judaicas.

O domínio do islã

Entre os anos de 630-640, progressivamente toda a Babilônia caiu sob o controle árabe, sendo o islamismo proclamado religião oficial na região. Devido à escassez de fontes judaicas e à limitada menção nos escritos muçulmanos, poucas são as informações sobre a história do povo judeu nos dois primeiros séculos do Império Islâmico. Sabe-se, no entanto, que ao conquistarem a Babilônia, em cerca de 638, os árabes mudaram o nome da região para Iraque. Os judeus, sempre rápidos em se adaptar às contingências circunstanciais, aceitaram o domínio árabe que, por sua vez, reconheceu a religião que praticavam e confirmou a autoridade do exilarca, que os representava na corte do califa. O árabe passou a ser usado pelos judeus, que deixaram de lado o aramaico em seus escritos.
Os muçulmanos, por considerarem os judeus e os cristãos "os povos do Livro", legalizaram a presença dessas minorias em seus vastos domínios. No período do Califado (632-1057), foi instituído um código de leis – o Estatuto dos Dhimmis, obrigando judeus e cristãos a pagar certas taxas e impostos para que lhes fosse permitido viver em terras muçulmanas, sem aceitar o Corão. Pelo Estatuto dos Dhimmis, tendo pago as devidas taxas, judeus e cristãos poderiam lá residir e manter o exercício livre de suas habilidades profissionais, apesar de serem considerados, por opção própria (isto é, não aceitando Alá e o Corão), "cidadãos de segunda classe".

Bagdá


A cidade de Bagdá, próxima ao reino da antiga Babilônia, tornou-se o centro do Califado por volta do ano 762, transformando-se rapidamente em uma cidade esplendorosa.
A cidade de Bagdá, próxima ao reino da antiga Babilônia, tornou-se o centro do Califado por volta do ano 762, transformando-se rapidamente em uma cidade esplendorosa. Acompanhando esse ritmo e valendo-se da tranqüilidade e do sistema de autogoverno que os califas lhes proporcionavam, as comunidades judaicas também vivenciaram um período de grande prosperidade e desenvolvimento. Sua afluente população incluía em seu seio banqueiros, médicos, engenheiros, astrônomos, lingüistas tradutores, entre outros.
Essa prosperidade atingiu seu ponto culminante durante o reinado de Harun al-Rashid, no início do século IX. Nesse período, Bagdá viu aumentar seu contingente de estudiosos e senhores de grandes riquezas. Tornou-se um grande centro comercial, científico e artístico. Também nesse período, para lá se transferiram os dois grandes centros educacionais judeus, as "ieshivot" de Sura e Pumbedita, cada uma liderada por um "gaon" (eminência, em hebraico). O título usado pelos diretores das academias da Babilônia do século VI ao século XI denota a sua liderança espiritual como guardiões da tradição de autoridade emanada do Talmude Babilônico. Eles respondiam perguntas formuladas por judeus de todo o mundo sobre o significado dos textos talmúdicos, iniciando assim a célebre "Literatura das Responsas". Eram esses "gaonim" que, ao lado do exilarca, governavam todos os aspectos da vida comunitária.
Foi justamente a importância de Bagdá como centro de estudo judaico e de grande erudição que fez com que a autoridade dos "gaonim" fosse aceita pelos judeus do mundo inteiro. Os primeiros textos sobre leis e preceitos religiosos foram elaborados na cidade e de lá enviados para outras comunidades em diferentes países. O primeiro livro de rezas foi preparado especialmente para as comunidades da Espanha e do Cairo (Egito).
Essa autoridade suprema dos "gaonim" em questões religiosas continuou até os séculos X-XI, quando surgiram novos centros de estudos judaicos na África do Norte, na Europa cristã e na Espanha moura. Segundo os historiadores, talvez uma das maiores contribuições do período gaônico tenha sido o desenvolvimento do método de ensino do Talmude, ainda utilizado nos tempos contemporâneos.
A história continua e sucedem-se os conquistadores. Em 945, a cidade de Bagdá foi conquistada por muçulmanos xiitas, para ser depois tomada pelos turcos, por volta de 1058. Assim que Bagdá foi atacada por conquistadores estrangeiros, iniciou-se um período de decadência e corrupção interna. A liderança judaica local também foi afetada e, apesar da comunidade continuar a prosperar, houve um enfraquecimento da liderança espiritual. Somente no século XII, o poder do exilarca voltou a crescer junto ao califado. Um texto desse período revela a sua importância: "Cavaleiros, judeus e não-judeus, escoltavam-no toda quinta-feira quando ele ia visitar o grande califa. Arautos seguiam à sua frente, proclamando: ‘Abram o caminho para o nosso senhor, o filho de Davi’. Ele está montado em um cavalo e veste roupas de seda... o califa se levanta e o encaminha ao trono... e todos os príncipes maometanos levantam-se diante dele".
Segundo um relato de Benjamim de Tudela, datado de 1170, cerca de quarenta mil judeus viviam pacificamente em Bagdá. A comunidade possuía 28 sinagogas e dez colégios religiosos. Outros relatos do mesmo período dão conta de que a comunidade judaica era composta por médicos, perfumistas, lojistas e acadêmicos, entre outras profissões.
A era áurea de Bagdá encerrou-se definitivamente com a conquista da região por Hulagu, um neto do Gengis Khan, em 1258. Os exércitos mongóis saquearam a cidade, massacrando, sem piedade, sua população. Se, inicialmente, os conquistadores preservaram a população judaica, até indicando um judeu para o cargo de governador supremo da Babilônia, a situação foi-se alterando à medida que os mongóis se convertiam ao islamismo.
A dominação continuou se alternando entre persas e turcos. A população judaica a todos sobreviveu, apesar de sua vida ter ora períodos de tranqüilidade, ora de perseguições.

O Império Otomano


Antiga sinagoga em Bagdá.
Na Baixa Idade Média (século XI ao XV) os otomanos, procedentes das regiões armênias, iniciaram destemidas conquistas. Em 1453, depois de tomar Constantinopla, eles conquistaram as grandes concentrações urbanas islâmicas. Em 1534, os turcos-otomanos tomaram Bagdá, lá permanecendo por quatro séculos. Há poucas informações detalhadas sobre a mesma até meados do século XVI, quando grupos de judeus que fugiam da Inquisição refugiaram-se na outrora suntuosa cidade dos califas. Foi somente a partir dessa época que para lá retornaram em números significativos, encontrando uma Bagdá bem diferente. Os institutos de estudos dirigidos pelos "gaonim" (sábios) haviam desaparecido, assim como também o cargo de "Príncipe do Cativeiro" e as honras garantidas pelos califas. Em seu lugar, foi instituído o cargo de "nassi", isto é, presidente da comunidade.
Bagdá, no entanto, ainda mantinha uma posição estratégica enquanto rota de comércio. Pela cidade passavam mercadorias vindas da Europa rumo ao Golfo Pérsico, além das caravanas que, atravessando o deserto de Alepo, na Síria, buscavam o Mediterrâneo e a Europa, garantindo-lhe o status de importante centro comercial. A cidade prosperava, levando consigo, nesse ímpeto, os judeus, cujas fortunas aumentaram consideravelmente durante o Império Turco-Otomano.
Quando o sultão Suleimã, o Magnífico, entrou em Bagdá, em 1534, vinha acompanhado por um médico e vários estudiosos judeus. No entanto, apesar da tolerância do soberano, cada cidade tinha um governante local e o tratamento destinado à população judaica dependia de suas idéias e desejos. As perseguições por parte das autoridades não eram, no entanto, o único problema enfrentado pela comunidade judaica. As moléstias e as intempéries climáticas também a afetavam. Em 1742, uma epidemia matou quase todos os mais importantes rabinos da cidade e os membros do Beth Din. O novo líder espiritual vindo de Alepo também caiu vitimado pela moléstia. Cinco famílias oriundas da mesma cidade conseguiram sobreviver e ajudaram a aumentar a população judaica local, que decrescera sensivelmente.

A Era Moderna


Rabinos em Bagdá em 1910.
Dessa forma, em função das mudanças na relação entre judeus e governantes que variavam a cada novo califa, a partir do século XIX os judeus começaram a buscar outros locais para viver, entre eles a Índia, a Pérsia e também Alepo, antes de chegarem, finalmente, à Europa e, posteriormente, às Américas. Os que permaneceram em Bagdá, porém, tentaram reviver o brilho do passado, chegando a fundar um instituto de ensino superior, o Beth Zilkha, em 1840. Foi nesse local que estudaram rabinos que, anos mais tarde, deslocaram-se para outros países, no desempenho de sua função. Grande parte dos rabinos sefaraditas de Israel é oriunda do Iraque. A instrução, no entanto, manteve-se restrita a determinados círculos e o papel de difundir o ensino entre a população coube às escolas ocidentais, da rede da conhecida "Alliance Israélite Universelle". Como resultado, o ensino laico substituiu gradativamente a educação religiosa.
No início do século XX, viviam no Iraque mais de oitenta mil judeus, dois terços dos quais em Bagdá. Em 1908, o governo turco fez uma série de reformas, concedendo aos judeus igualdade de direitos. A partir de então, eles poderiam ocupar cadeiras no Parlamento e trabalhar em instituições públicas nas cidades de Bagdá, Basra e Mosul. Os mercadores ampliaram suas atividades e, pela primeira vez em sua história, a comunidade judaica da região vislumbrava um futuro no qual seus membros não seriam mais considerados "cidadãos de segunda classe". Quando a Grã-Bretanha assumiu o mandato sobre a região, depois da Primeira Guerra Mundial, criou o Reino do Iraque. O rei Faisal, o novo monarca imposto pelos mandatários britânicos, concedeu liberdade religiosa, de educação e de trabalho para todos os judeus de Bagdá, os quais, segundo ele, tiveram papel determinante para o desenvolvimento e o progresso da região. Eles constituíam cerca de 25% da população de Bagdá e controlavam o comércio da cidade. Muitos foram indicados para cargos de confiança no governo e outros tantos tornaram-se representantes no Parlamento e no Senado. No entanto, esse período de tranqüilidade para os judeus terminou com a morte do rei Faisal em 1932, um ano após a independência do Iraque.
A bonança terminou com a ascensão ao poder de seu filho Ghazi, que o sucedeu e não nutria os mesmos sentimentos pelos judeus. Coincidentemente, no mesmo período, Hitler chegava ao poder na Alemanha, sendo seu livro Mein Kampf (Minha Luta) traduzido para o árabe e uma embaixada alemã aberta no Iraque. Rapidamente começaram as perseguições contra todas as minorias, não apenas a judaica.
O governo de Ghazi foi vítima de um golpe de Estado em 1936, mas o ódio contra a população judaica se estendeu através dos anos, como decorrência da crescente simpatia oficial pelas idéias e táticas nazistas. Tornaram-se cada vez mais comuns atentados a bomba contra instalações judaicas, sob o pretexto de abrigarem atividades sionistas – que eram totalmente proibidas no Iraque. Ademais, em 1939, Bagdá tornou-se o refúgio de Amin al-Husseini, o grão-mufti de Jerusalém, abertamente anti-semita e totalmente favorável à Alemanha nazista.
Em seu ápice, na década de 1940, a comunidade judaica do Iraque totalizava 130 mil pessoas, que despontavam em cargos governamentais, no comércio, na medicina e nas artes. Viviam, em sua maioria, em Bagdá, e a segunda maior concentração ocorria na cidade portuária de Basra. Nos anos que antecederam a II Guerra Mundial, mais da metade dos importadores e exportadores do Iraque eram judeus, segundo Itamar Levin, autor do livro Locked Doors: The Seizure of Jewish Property in Arab Countries (A Portas Trancadas: O Confisco das Propriedades de Judeus nos Países Árabes). A comunidade orgulhava-se, também, de seus quatro grandes colégios judaicos, que formavam seus alunos em inglês, árabe, francês e hebraico.
Em 1941, simpatizantes do nazismo e do grão-mufti incentivaram uma rebelião contra o governo iraquiano, partidário da Grã-Bretanha. Derrotado, o mufti fugiu para Berlim. Apesar da derrota e da repressão a seus adeptos, um violento "pogrom" tomou conta de Bagdá. As tropas britânicas na região recusaram-se a intervir, alegando não ter recebido ordens para tal. Essa foi uma das datas mais sangrentas na história de violência contra a população judaica do país. Cerca de 180 pessoas foram assassinadas e mais de mil feridas por uma multidão armada, com a complacência da polícia e do exército. A violência desses eventos levou muitos judeus a deixarem o Iraque, rumo à Índia, à Pérsia, à Indonésia e a Cingapura, onde, graças a seus contatos comerciais, algumas comunidades de judeus iraquianos conseguiram estabelecer-se.

Tempos modernos

Considerada uma das mais antigas do mundo, a comunidade judaica do Iraque, cuja origem remonta a quase 2.700 anos, tem sido vítima de perseguições constantes pelos governos que se sucederam no poder. A partir do violento pogrom de 1941 e, mais especificamente, após a criação do Estado de Israel, em 1948, uma certeza tomou conta dos judeus iraquianos: sua vida, já bastante difícil, tornar-se-ia cada vez mais complicada. As medidas adotadas pelas autoridades nos anos seguintes infelizmente o comprovaram.

Em 1939, Bagdá tornou-se o refúgio de Amin al-Husseini, o grão-mufti de Jerusalém, abertamente anti-semita e totalmente favorável à Alemanha nazista.
Em 1948, havia aproximadamente 150 mil judeus no Iraque, mas a perseguição orientada pelo governo forçou-os a fugir. Os judeus iraquianos foram, em sua maioria, para Israel, apesar do Iraque congelar todo o patrimônio dos que para lá se dirigiam. As autoridades permitiam a partida dos judeus devido à pressão internacional, aliada ao desejo de apossar-se dos seus bens e à idéia de que a absorção de grandes contingentes causaria o colapso do jovem Estado Judeu.
Entre as determinações impostas pelo Iraque aos judeus estavam restrições de caráter econômico e de liberdade pessoal, além da constante violência física incentivada pela retórica anti-semita, disfarçada de anti-sionismo. A situação tornou-se tão grave que, em 1949 e 1951, o governo do recém-criado Estado de Israel ordenou a realização das operações "Esdras" e "Neemias", com o objetivo de resgatar os judeus daquele país. Cerca de 104 mil foram evacuados e mais 20 mil conseguiram sair clandestinamente através da fronteira com o Irã.
Em represália, em 1952, os judeus foram proibidos de emigrar e, a partir de 1960, de vender suas propriedades, além de serem obrigados a ostentar uma estrela amarela em seus cartões de identidade – medida semelhante à adotada durante a II Guerra Mundial, quando os nazistas os obrigavam a colocar uma estrela amarela em suas roupas. Foram-lhes também vedados os cargos públicos. Seus bens foram confiscados, seus negócios fechados, seus telefones desligados e as autorizações de viagem canceladas, além de serem mantidos em prisão domiciliar por longos períodos, de acordo com o humor das autoridades iraquianas.
A Guerra dos Seis Dias, em 1967, fez recrudescer ainda mais o anti-semitismo, que chegou ao ápice em 1969. Naquele ano, o julgamento e posterior enforcamento público de onze judeus, acusados de pertencer a uma rede de espionagem, provocou forte condenação internacional. O governo, no entanto, negou as acusações de anti-semitismo, afirmando que "apenas enforcara onze espiões". O mais chocante no episódio foi o fato de as autoridades terem convocado a população para assistir o enforcamento, conclamando-a a "vir para se divertir". Cerca de 500 mil pessoas – homens, mulheres e crianças – desfilaram e dançaram diante dos corpos expostos, cantando "morte a Israel" e "morte a todos os traidores".
No início da década de 1970, as autoridades permitiram a saída dos judeus que ainda estavam no país. No entanto, muitos dos que haviam permanecido eram idosos demais e já não tinham condições de partir. Raramente eram realizados casamentos e bar-mitzvot. O último casamento foi realizado em 1980. Em 1991, só restavam no Iraque 150 judeus. O último rabino morreu em 1996. Os rituais fúnebres não puderam ser realizados, pois ninguém os conhecia. Havia apenas uma sinagoga aberta no Iraque, na cidade de Bataween, outrora um dos principais bairros judaicos de Bagdá.

Em 1949 e 1951, o governo do recém-criado Estado de Israel ordenou a realização das operações "Esdras" e "Neemias", com o objetivo de resgatar os judeus daquele país. Na foto: judeus iraquianos chegando a Israel.
Sob Saddam Hussein, apesar de poderem seguir a sua religião, os pouquíssimos judeus que restavam ainda eram proibidos de ocupar cargos públicos ou trabalhar em empresas estatais. A retórica anti-semita e antiisraelense era constante. Nos discursos oficiais, os judeus eram denominados de "descendentes de macacos, porcos e adoradores do tirano infiel". Durante a Guerra do Golfo, em 1991, os membros remanescentes da comunidade continuaram proibidos de viajar e de manter contatos com grupos judaicos do Exterior. Segundo informações do jornal The Jerusalem Post, de 28 de setembro de 2002, havia apenas 38 judeus em Bagdá e mais uma meia dúzia no norte do Iraque, região controlada pelos curdos. Após a tomada do Iraque pelos americanos em 2003, os poucos judeus que ainda viviam no país foram levados para Israel. (extraído de www.morasha.com - http://www.beth-shalom.com.br)

Bibliografia:

  • Stillman, Norman A., The Jews of Arab Lands in Modern Times, Ed. The Jewish Publication Society.
  • Gubbay, Lucien e Levy, Abraham, The Sephardim – Their Glorious Tradition from the Babylonian Exile to the Present Day, Ed. Carnell Limited.
  • Levin, Itamar, Locked Doors: The Seizure of Jewish Property in Arab Countries.