terça-feira, 19 de novembro de 2019

Apóstolos?


Ainda existem apóstolos?

Lothar Gassmann
E ele designou alguns para apóstolos...” (Efésios 4.11)
O termo “apóstolo” significa “enviado” (grego apostelein: “enviar”). Apóstolo é alguém que age por ordem de seu superior e precisa cumprir fielmente a determinação recebida. Isso significa que o apóstolo não age como autônomo, mas em total dependência do seu senhor.
À época do Novo Testamento existia o círculo dos doze: doze apóstolos como representantes das doze tribos de Israel, que era o grupo mais próximo de Jesus. Além desses, houve também outros apóstolos, como Matias, que foi escolhido em substituição ao traidor Judas Iscariotes, bem como Paulo, que viu o Senhor (mesmo que fosse de modo diferente dos outros), e finalmente um grupo de algumas dúzias de homens, que foram enviados em missão para estabelecer a base da igreja cristã. Entre esses “outros” apóstolos além dos doze, havia Barnabé, Apolo, Júnias, Epafrodito, Andrônico, Mateus, Tiago etc.
Os apóstolos originais viveram com Jesus e foram testemunhas da sua ressurreição.
Há uma interrupção na sucessão de apóstolos ou uma ordenação de apóstolos sucessores no Novo Testamento, como alguns agrupamentos afirmam? Claramente, não! Se o apostolado fosse uma instituição permanente, como se explicaria que, após o falecimento dos primeiros apóstolos, nenhum deles foi substituído (no círculo dos doze: exceto a escolha de Matias para substituir o traidor Judas Iscariotes)? Isso teria sido uma leviandade condenável e estaria em contradição com a ordem do Senhor. Obviamente não houve diretriz para que se continuasse a instituir apóstolos. A corrente sucessória, a sucessão do cargo para os primeiros apóstolos, foi interrompida com a morte deles.
Os primeiros mensageiros foram enviados para estabelecer a base da igreja. Apóstolos têm uma função fundamental: eles executam o estabelecimento do alicerce (Efésios 2.20). E quando o alicerce está colocado, outra pessoa continua a construção. Quando um alicerce está colocado, não é possível colocar um outro alicerce sobre o primeiro. Por isso a função de apóstolo foi extinta na primeira geração.
Os apóstolos foram chamados diretamente pelo Senhor – até mesmo Matias, que foi eleito por meio do método de escolha do Antigo Testamento. Matias preenchia os critérios decisivos para um apóstolo, isto é, de ser testemunha ocular (Atos 1.21-26). Ele conheceu Jesus antes e depois da sua ressurreição, algo que ninguém dos supostos “novos apóstolos” das diferentes seitas pode afirmar hoje em dia. Os apóstolos originais viveram com Jesus e foram testemunhas da sua ressurreição.
Os primeiros mensageiros foram enviados para estabelecer a base da igreja. Quando um alicerce está colocado, não é possível colocar um outro alicerce sobre o primeiro.
Paulo também foi chamado diretamente por Jesus, como vemos claramente em Gálatas 1.1. Em Gálatas 1.12 ele fala de uma “revelação” de Jesus Cristo e, em Gálatas 1.16, diz que a Deus agradou “revelar o seu Filho em mim”. Em Gálatas 2, Paulo afirma que não tratou com autoridades humanas, nem com Pedro, o qual ele conheceu apenas três anos após o seu chamado; muito antes, ele foi chamado diretamente por Deus, não instituído por pessoas (isto é, p.ex., por outros apóstolos). Paulo “viu” ao Senhor Jesus (1Coríntios 9.1). Não foi o Espírito Santo, mas foi Cristo quem o chamou, como se fosse “um que nasceu fora de tempo” – como o último (1Coríntios 15.8)!
Resumindo: os primeiros apóstolos eram (1) testemunhas oculares da vida e da ressurreição de Jesus Cristo, ou (2) tiveram um outro chamado direto de Cristo. Em lugar algum a Escritura relata que eles tivessem recebido a incumbência de continuar instituindo apóstolos na “segunda geração”, o que eles de fato não fizeram. Estejamos, pois, alertas e críticos quando hoje aparecem pessoas reivindicando o título de “apóstolos” chamados pelo Senhor! Trata-se de um típico sinal do fim dos tempos (ver 2Coríntios 11.13-15).

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Falsos mestres

Como reconhecer falsos mestres?

Lothar Gassmann
Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos.” (2Timóteo 4.3-4)
A Bíblia previu para nós que haverá um aumento de falsas doutrinas no fim dos tempos. Tais falsos doutrinadores dos últimos dias apresentam as seguintes características:
Nem todas as características correspondem a todas as falsas doutrinas, às vezes são apenas uma ou duas. O número de falsas doutrinas chega a legiões. Uma contagem delas nos levaria ao ilimitado. Cada cristão deve examinar, à luz dos critérios mencionados, onde a igreja está se desviando, para que ele seja preservado e se prepare para o maravilhoso lar junto ao Senhor.

Apedrejamento


Por que Deus permitiu o apedrejamento?

Bobby Conway
Certas partes das Escrituras são mais difíceis de entender do que outras. É o caso das passagens que falam do apedrejamento (ver Levítico 20.2724.16Números 15.32-36Deuteronômio 13.6-11; 21.18-21). Eu posso entender a pena de morte, mas o apedrejamento parece tão bárbaro, cruel e severo, especialmente quando o mandamento é direcionado para pais que acusam filhos rebeldes, como visto em Deuteronômio 21.18-21:
18Se um homem tiver um filho obstinado e rebelde que não obedece ao seu pai nem à sua mãe e não os escuta quando o disciplinam, 19o pai e a mãe o levarão aos líderes da sua comunidade, à porta da cidade, 20e dirão aos líderes: “Este nosso filho é obstinado e rebelde. Não nos obedece! É devasso e vive bêbado”. 21Então todos os homens da cidade o apedrejarão até a morte. Eliminem o mal do meio de vocês. Todo o Israel saberá disso e temerá.
Essa é uma passagem difícil de processar, você não acha? Eu prefiro uma morte por injeção letal, mas apedrejamento? Que bagunça. Como cristãos, como devemos entender esses versículos?
  1. Devemos entender esse texto, como todos os textos, em seu contexto. Não podemos sobrepor nossa compreensão ocidental do século 21 nesse ambiente antigo. Nada trará mais confusão e frustração do que isso. A nossa cultura é uma em que um pequeno golpe causa grandes problemas. Não é de admirar que o apedrejamento seja mais difícil de digerir.
  2. O apedrejamento era o último recurso. O filho descrito nesses versos apresenta um espírito inflexível e rebelde. Ele está mergulhado no pecado, entregando-se livremente à embriaguez e à gula, recusando-se a responder a qualquer disciplina dos pais – ignorando completamente o quinto mandamento. Esses versos descrevem um caso aparentemente sem esperança, onde a pessoa segue o seu próprio caminho; indo contra Deus, seus pais e os princípios da nação teocrática que o rodeia. Ele é um filho “leproso” cujo pecado, se não for controlado, se espalhará e desfará o tecido moral da nação. Depois que os pais percebem a obstinação de seu filho, eles buscam intervenção externa como um recurso final.
  3. O propósito final do apedrejamento era extinguir o mal da comunidade e criar um medo saudável de viver uma vida moral descontrolada. A saúde da nação depende de toda a comunidade andar em sintonia com Deus. Isso não significa dizer que as pessoas não pecavam. Elas pecavam. Muito. E havia todo um sistema de sacrifícios em funcionamento para que as pessoas pudessem obter novamente uma consciência limpa diante do Senhor. O filho descrito nesses versículos não estava buscando uma consciência limpa – sua consciência estava cauterizada.
  4. Esse não era um costume comum. Curiosamente, temos pouquíssimos casos de apedrejamento que ocorrem nos registros bíblicos e não tenho conhecimento de nenhuma evidência extrabíblica de que essa punição tenha sido comumente executada. Talvez sua ameaça tenha sido suficiente para dissuadir as pessoas de tal comportamento REBELDE.
Por fim, Jesus serve como exemplo do coração de Deus em relação ao apedrejamento. Em João 8.7 ele disse àqueles que acusavam a mulher adúltera: “Se algum de vocês estiver sem pecado, seja o primeiro a atirar pedra nela”. A lei nos ensina que somos todos infratores. Sob a lei de Deus, todos merecem a pena de morte, mas Jesus a experimentou em nosso lugar, mesmo que ele tenha sido o único a cumprir a lei. Essencialmente, ele foi apedrejado por nós em um ato de amor incondicional ao experimentar a morte em nosso lugar.
Bobby Conway Publicado com permissão do ministério The One Minute Apologist (disponível em: <https://oneminuteapologist.com/blog/why-did-god-allow-stoning/>).

Partidarismo


O efeito destruidor do partidarismo em nossas igrejas

Daniel Lima
“Quem vota em comunista não é cristão!” “Quem apoia este governo apoia tortura e, portanto, não entendeu o evangelho!” Ambas as frases foram retiradas de postagens de pessoas que se dizem cristãs e, indignadas com posturas por elas consideradas absurdas, saem em defesa de suas ideias. Seria inacreditável – se não fosse tão comum – como cristãos partem para o ataque contra outros cristãos em defesa de posições, partidos e pessoas que não têm o mesmo compromisso de vida com nosso Senhor Jesus Cristo.
Por um lado, posturas assim demonstram onde está a esperança de cada um. Se eu me sinto tão ofendido com a postura do outro a ponto de atacá-lo de forma tão passional, é porque o que tenho de mais precioso foi ameaçado. Será que o que temos de mais precioso é nossa posição política? Será que convicções políticas deveriam tomar precedência à nossa fé? Com isso, sendo brasileiro e passional confesso, não quero dizer que não há razão de indignação, de decepção ou mesmo de ira. Meu questionamento é em que momento minha frustração me autoriza a atacar ou passar julgamento sobre outro?
Quero convidá-los a examinar comigo duas passagens do livro de Paulo aos Filipenses. Em primeiro lugar, importa destacar que a cidade de Filipos era uma colônia de ex-soldados romanos. Os filipenses eram considerados cidadãos romanos por decreto imperial e isentos do pagamento de impostos. O status político era de enorme importância nesta cidade. À medida que uma igreja cristã teve início ali (Atos 16) surgiu uma tensão enorme entre os cidadãos que declaravam que César é Senhor e os cristãos que ousadamente firmavam que Jesus é Senhor. O texto que quero estudar primeiramente é verso 27 do capítulo 1:
27Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica...
No verso 27 Paulo começa usando um termo precioso a qualquer cidadão de Filipos: “exerçam a sua cidadania”. Há um debate entre estudiosos se Paulo se referia à cidadania política ou à cidadania celestial. Ambas interpretações parecem possíveis. Por um lado devo exercer minha cidadania como brasileiro de modo digno do evangelho (o que traz alguns desafios e reflexões); por outro lado devo exercer minha cidadania celestial de modo digno do evangelho (o que destacaria outras implicações). 
De qualquer forma, a aplicação imediata que Paulo destaca é seu desejo de ver estes cristãos “num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica”. Infelizmente, o que temos visto são cristãos lutando entre si por partidos, posições e personagens políticos. Nossa causa é uma só, nossa bandeira é uma só. A única causa pela qual devemos lutar é pela fé evangélica. E, muito embora eu entenda que a fé evangélica traz implicações que afetam a política, estas não são elementos fundamentais da fé evangélica!
Temos de tomar extremo cuidado para não acrescentar qualquer outra condição à fé evangélica. Por mais que eu encontre incoerências entre fé evangélica e o socialismo, no momento que eu digo que quem apoia o socialismo não pode ser cristão, estou acrescentando ao evangelho. Por outro lado, por mais que apoiar a tortura seja uma postura contrária ao cristianismo, no momento que acrescento à fé na vida, morte salvífica e ressurreição de Cristo uma rejeição a posturas totalitárias como condição de salvação, estou acrescentando ao evangelho.
Uma unidade de pensar, de amor, de espírito e de atitude só é possível quando existe humildade, consideração e cuidado mútuo.
Podemos lamentar que cristãos não percebam estas incoerências. Na medida do possível podemos e devemos tentar ajudar estes irmãos a corrigir seus caminhos. Mas todo cuidado deve ser tomado para que neste movimento não lancemos fora a essência do que nos exorta o apóstolo: unidade!
O segundo texto vem logo a seguir, quando Paulo continua no capítulo 2, versos de 1 a 4:
1Se por estarmos em Cristo nós temos alguma motivação, alguma exortação de amor, alguma comunhão no Espírito, alguma profunda afeição e compaixão, 2completem a minha alegria, tendo o mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude. 3Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos. 4Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros. 
Os cristão de Filipos, e por consequência nós também, foram exortados a demonstrarem sua unidade como testemunho de sua fé em Cristo. Não se trata de uma uniformidade cega, mas da construção de convicções sólidas a partir do senhorio de Cristo. As expressões do verso 2: “mesmo modo de pensar, o mesmo amor, um só espírito e uma só atitude” não significam posições impostas por uma liderança, mas conclusões de uma comunidade. O versos 3 e 4 mostram como podemos chegar a uma unidade assim: “... humildemente considerem os outros superiores a vocês mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros”. Uma unidade de pensar, de amor, de espírito e de atitude só é possível quando existe humildade, consideração e cuidado mútuo.
Paulo continua a passagem estabelecendo qual deve ser nosso modelo: o próprio Senhor Jesus! Nos versos 5 a 11 ele passa a descrever qual é a atitude que devemos cultivar. Isso não deveria nos surpreender. O próprio Jesus nos ensina que “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13.35). Nossa unidade não é apenas um acréscimo interessante, não é apenas para que nosso convívio seja agradável. Jesus expressa que nossa unidade é uma das bases do nosso testemunho diante de um mundo perdido.
Temo que os combates do mundo estão começando a invadir a igreja, enfraquecendo nosso testemunho diante dos incrédulos. Ao invés de um amor que surpreende o mundo, estamos lutando entre nós em disputas que imitam o próprio mundo. Uma vez mais sou levado a lembrar das palavras de Jesus: “Pois eu digo que, se a justiça de vocês não for muito superior à dos fariseus e mestres da lei, de modo nenhum entrarão no Reino dos céus” (Mateus 5.20).
Eu oro para que cada um de nós exerça sua cidadania terrena ou celestial de modo digno do evangelho. Que o amor que nos une a partir de Jesus seja nosso vínculo da paz. Que, ao enfrentarmos este mundo iníquo, mantenhamos nosso papel profético, mas sem se deixar aliciar por um ou outro lado de ideologias que, em última análise, representam muito mal o evangelho. Que o mundo se surpreenda com o amor que os seguidores de Jesus manifestam uns pelos outros mesmo quando nossas preferências políticas sejam conflitantes!