quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Estatuto do Hamas



O Hamas é considerado como organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia, Japão, Israel e Canadá. A Austrália e o Reino Unido consideram como organização terrorista o braço militar da organização - as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam. Outros países, como a África do Sul, a Rússia a Noruega e o Brasil não consideram o Hamas como organização terrorista. Na Jordânia, o Hamas tinha uma presença forte até o final da década de 1990, o que causava atritos entre o governo jordaniano e Israel. O rei Abdullah fechou a sede do Hamas na Jordânia e expulsou seus líderes.


Estatuto do Hamas

Nota: esta é a tradução literal do Estatuto (Carta) de fundação do Hamas, tornada pública em 1988 e amplamente divulgada pelos sites palestinos oficiais.
Esta tradução foi realizada a partir do original em árabe (1) - e não de traduções para o inglês.

Em nome de Alá, o Misericordioso e Piedoso

Sois (palestinos) a melhor nação surgida na face da terra. Fazei o bem e proibis o mal, e credes em Alá. Se somente os povos do Livro (i.e., judeus [e cristãos]) tivessem crido, teria sido melhor para eles. Alguns deles crêem, mas a maioria deles é iníqua. Nunca serão capazes de nos causar sério mal, serão apenas uns incômodos. Se vos atacarem, acabarão virando as costas e fugirão, e não serão socorridos. Humilhação é a sina deles, onde possam se encontrar, exceto se forem salvos por meio de um compromisso com Alá ou por um compromisso com os homens. Recaiu sobre eles a ira de Alá, e a sina deles é a desgraça, porque recusaram as indicações de Alá e erradamente mataram os profetas, e por serem desobedientes e transgressores (Alcorão, 3:110-112).
Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele. (segundo palavras do mártir, Iman Hasan al-Banna, com a graça de Alá). (2)
O mundo islâmico se encontra em chamas, e cada um de vós deveis, e todos nós devemos, jogar água, mesmo que seja um pouquinho, para fazer extinguir o que pode ser extinto, sem esperar pelos outros. (das palavras de Sheik Amjad Al-Zahawi, que receba as graças de Alá). (3)
Em nome de Alá, o Misericordioso e Piedoso.

Preâmbulo

Louvado seja Alá. Buscamos Sua ajuda, pedimos Seu perdão, pedimos Sua orientação, e Nele confiamos. Que a paz e as orações se dirijam a Seu Mensageiro, seus familiares e companheiros, e a todos os que lhe são leais e levam a sua mensagem e seguem sua sunna (os costumes do Profeta). Que as orações e a paz lhes sejam dirigidas para todo o sempre, enquanto existirem o céu e a terra.
Oh! Povo, em meio aos nossos grandes problemas e profundos sofrimentos, e dos sofridos corações e braços dos crentes, purificados pelas orações, independente do dever, e em resposta às determinações de Alá – donde emana o chamamento (de nosso Movimento) e o encontro e reunião (de forças), e de onde decorre a educação de acordo com os caminhos de Alá e uma decidida vontade de levar adiante os objetivos (do Movimento) em nossas vidas, ultrapassando todos os obstáculos e sobrepujando as dificuldades da jornada. Daí decorre, também, a permanente prontidão (e também) estardes preparados para o sacrifício da vida de cada um e de todos vós pela causa de Alá.
Então a semente brota e (o movimento) começa a se mover adiante através de mares tempestuosos de desejos e esperanças, sonhos e aspirações, perigos e obstáculos, sofrimentos e desafios, tanto locais (na Palestina) como afora.
Quando a idéia desabrocha e a semente cresce, e a planta lança suas raízes no terreno da realidade, longe das emoções fugidias e impetuosidades impróprias, então o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) (4) estará apto a desempenhar sua missão, marchando em frente pela causa de Alá, (assim fazendo, Hamas) junta suas forças com aqueles que lutam a Guerra Santa (jihad) pela libertação da Palestina. (5). As almas dos combatentes da Jihad encontrarão as almas de todos os guerreiros santos que sacrificaram suas vidas pela terra da Palestina, desde o tempo em que os companheiros do Profeta a conquistaram, até o presente.
Por este Pacto, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) mostra a sua cara, apresenta sua identidade, clarifica sua posição, esclarece suas aspirações, discute suas esperanças, e conclama pelo apoio e suporte, e para que se juntem às suas fileiras, porque nossa luta contra os judeus é muito longa e muito séria, e exige todos os esforços sinceros. É um passo dado que deve ser seguido por outros passos; é uma brigada que deve ser reforçada por outras brigadas e mais outras brigadas deste vasto mundo islâmico, até que o inimigo seja derrotado e a vitória de Alá triunfe.
É assim que vemos o futuro chegando no horizonte. "E depois de algum tempo, sabereis" (Alcorão 38-88).
Alá escreveu: Eu e Meu Mensageiro predominaremos. Alá é Forte e Poderoso" (Alcorão 58-21).
"Dizei: Este é o meu caminho. Chamo Alá com toda certeza, eu e aqueles que me seguem, e que a glória seja para Alá, não me encontro entre os politeístas". (Alcorão 12-108).

Capítulo I

Introdução às Premissas Ideológicas do Movimento

Art. 1º O Movimento de Resistência Islâmica é o caminho. É do Islã que derivam suas idéias, conceitos e percepções a respeito do universo, da vida, e do homem, e todas as suas ações levam em conta o julgamento do Islã. É do Islã que busca orientação bem como guia de seus passos.

O Relacionamento do Movimento de Resistência Islâmica e a Fraternidade Muçulmana

Art. 2º O Movimento de Resistência Islâmica é um dos ramos da Fraternidade Muçulmana na Palestina. A Fraternidade Muçulmana é uma organização global (universal) e é o maior movimento islâmico nos tempos modernos. Ela se distingue por seu profundo entendimento e sua precisão conceitual e pelo fato de englobar a totalidade dos conceitos islâmicos em todos os aspectos da vida, em idéias e crença, na política e na economia, na educação e assuntos sociais, em matérias judiciais e em matérias de governo, na pregação e no ensino, na arte e nas comunicações, no que deve ser secreto e no que deve ser transparente, bem como em todas as áreas da vida.

Estrutura e Formação

Art. 3º O Movimento de Resistência Islâmica é constituído por muçulmanos dedicados a Alá e que a Ele servem, como Ele merece ser servido. "Eu não criei demônios e homens senão para servir-Me" (Alcorão 51:56).
(Tais muçulmanos) reconhecem seus deveres para consigo mesmos, suas famílias e sua pátria, temendo a Alá em tudo. Eles fizeram levantar a bandeira da jihad diante dos opressores a fim de livrar a terra e os crentes de suas depravações, impurezas e maldades. "Atiramos a verdade contra a falsidade e arrebentamos a cabeça dela e, vedes, ela desaparece." (Alcorão 21:18).
Art. 4º O Movimento de Resistência Islâmica considera bem-vindo todo muçulmano que abrace seu credo, adote sua ideologia, se compromete a seguir seu caminho, manter seus segredos e que deseje juntar-se às suas fileiras a fim de levar a cabo seu dever, e tendo Alá como recompensa.

O Movimento de Resistência Islâmica – Dimensões de Tempo e Espaço

Art. 5º A dimensão temporal do Movimento de Resistência Islâmica – em vista do fato de ter adotado o Islã como seu modo de vida – regride ao nascimento da mensagem islâmica e aos primeiros crentes e justos; Alá é o seu objetivo, o Profeta é o exemplo a ser seguido e o Alcorão sua Constituição.
Sua dimensão espacial: onde houver muçulmanos que abracem o islã como seu modo de vida, em todos os confins terrestres. Assim, (o Hamas) lança as suas raízes bem fundo no solo, e a planta se levanta para abraçar os céus.
"Não vedes como Alá nos deu uma parábola? Uma palavra boa é como uma boa árvore; suas raízes são firmes e seus galhos se elevam aos céus. Ela sempre proporciona seus frutos no tempo certo, de acordo com a vontade de Deus. Alá recita parábolas aos homens para que tomem os devidos cuidados". (Alcorão, 14;24/25)

Diferenciação e Independência

Art.6º O Movimento de Resistência Islâmica é um movimento palestino distinto, que é leal a Alá, adota o Islã como modo de vida e se dedica a levantar a bandeira de Alá sobre cada centímetro da Palestina. Sob as asas do Islã, seguidores de outras religiões podem todos viver salvos e seguros em suas vidas, propriedades e direitos; porque na ausência do Islã, a discórdia surge, a injustiça se espalha, a corrupção brota, e acabam existindo conflitos e guerras. Alá abençoe o poeta muçulmano Muhammed Iqbal (6) que disse:
Quando a fé vai embora, não há salvação.
Não há vida para quem não possui uma religião.
Quem se acha contente em viver sem religião,
Adotou a morte como parte da vida.

A Universalidade do Movimento de Resistência Islâmica

Art. 7º Em todos os países do mundo encontram-se muçulmanos que seguem o caminho do Movimento de Resistência Islâmica, e tudo fazem para o apoiar, adotando seu posicionamento e reforçando a sua Guerra Santa (jihad). Por isso, é um Movimento universal, qualificado para esse papel devido à clareza de sua ideologia, superioridade de seus fins e sublimidade de seus objetivos. Nessas bases é que deve ser visto e avaliado, e é nessas bases que seu papel deve ser reconhecido. Quem nega os direitos do Movimento, se recusa a ajuda-lo, se mostra cego (á verdade) e se esforça para embotar seu papel – é como alguém que tenta entrar numa disputa com a predestinação (divina). Quem fecha os olhos aos fatos, intencionalmente ou não, eventualmente despertará (para ver) que foi ultrapassado pelos acontecimentos, e que o valor das provas o torna incapaz de justificar suas posições. Será dada prioridade aos que chegarem primeiro (ao Movimento). A iniqüidade de alguém da família é mais dolorosa para alma do que o golpe de uma espada afiada. (7)
Temos vos revelado a verdade do Livro, confirmando a escritura que vem diante dela e guardando-a. Fazeis o julgamento das pessoas de acordo com o que Alá revelou, e não sigais os caprichos delas, afastando-se da verdade que vos foi revelada. Para cada um de vós Alá indicou a lei e apontou um caminho. Se Alá tivesse assim desejado, faria de vos uma única nação. Entretanto Ele desejou testar-vos em tudo que vos concedeu. Assim, deveis competir uns com os outros em boas ações. Por vontade de Alá todos vós devereis retornar e, então, Ele vos revelará (a verdade) sobre as matérias nas quais vós divergis. (Alcorão 5-48)
O Movimento de Resistência Islâmica é um elo da corrente da jihad contra a invasão sionista. Acha-se conectado e vinculado ao (corajoso) levante do mártir "Izz Al-Din Al-Kassam e sua irmandade, os combatentes da jihad da Fraternidade Muçulmana no ano de 1936. Em seguida está relacionado e conectado a outro elo, a jihad dos palestinos, o empenho e a jihad da Fraternidade Muçulmana na guerra de 1948, e às operações da jihad da Fraternidade Muçulmana de 1968 em diante. Apesar de que tais ligações estejam distantes e apesar de que a continuidade da jihad foi interrompida por obstáculos colocados no caminho dos combatentes da jihad por aqueles que gravitam na órbita do sionismo, o Movimento de Resistência Islâmica aspira concretizar a promessa de Alá, não importando quanto tempo levará. O Profeta, que as bênçãos e a paz de Alá recaiam sobre ele, disse; "A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os judeus e terminem por mata-los e mesmo que os judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venha e mate-o, exceto se se tratar da árvore Gharkad, porque ela é uma árvore dos judeus." (registrado na coleção de Hadith de Bukhari e Muslim).

O Lema do Movimento de Resistência Islâmica

Art. 8º Alá é a finalidade, o Profeta o modelo a ser seguido, o Alcorão a Constituição, a Jihad é o caminho e a morte por Alá é a sublime aspiração.

Capítulo II

Os Fins – Causas e Objetivos

Art. 9º O Movimento de Resistência Islâmica se encontra num período em que o Islã se acha ausente da vida diária. Conseqüentemente, o equilíbrio está rompido, conceitos se acham confusos, valores se acham alterados, as pessoas más galgaram o poder, a injustiça e a escuridão prevalecem, covardes se tornaram tigres, a pátria foi usurpada, o povo expulso e se encontra errante em todos os países do mundo. O governo dos justos está ausente, e prevalece o império da falsidade. Nada se acha no devido lugar. Pois, quando o Islã está ausente, tudo se acha modificado. Essas são as causas.
No que toca aos objetivos, compreendem o combate à falsidade, derrota-la e elimina-la, de forma que os justos venham a imperar. A pátria deve retornar (aos seus verdadeiros donos), e do alto das mesquitas tocará a conclamação para as orações, anunciando o surgimento do império do Islã, de maneira que as pessoas e as coisas retornem aos seus devidos lugares. De Alá buscamos o socorro.
"Se Alá não promovesse a defesa de um grupo de pessoas diante das outras, a terra, certamente, se encontraria em estado de desordem. Alá é o mais bondoso de todos os seres." (Alcorão 2-251)
Art. 10 O Movimento de Resistência Islâmica – enquanto marcha adiante – oferece ajuda a todos os perseguidos e protege os oprimidos com toda a sua força. Não mede esforços para fazer sobressair a verdade e erradicar a mentira, tanto com palavras como com ações concretas, aqui e em qualquer lugar que possa chegar e exercer sua influência.

Capítulo III

Estratégia e Meios

A Estratégia do Movimento de Resistência Islâmica

A Palestina é um Wakf islâmico (propriedade concedida, doada).
Art. 11 O Movimento de Resistência Islâmica sustenta que a Palestina é um território de Wakf, (legado hereditário) para todas as gerações de muçulmanos, até o Dia da Ressurreição. Ninguém pode negligenciar essa terra, nem mesmo uma parte dela, nem abandoná-la, ou parte dela. Nenhum Estado Árabe, ou mesmo todos os Estados Árabes (juntos) têm o direito de faze-lo; nenhum Rei ou Presidente tem esse direito, nem tampouco todos os Reis ou Presidentes juntos, nenhuma organização, ou todas as organizações juntas – sejam elas palestinas ou árabes – têm o direito de faze-lo, porque a Palestina é território Wakf, dado para todas as gerações de muçulmanos, até o Dia da Ressurreição.
Esse é o status legal da terra da Palestina de acordo com a Lei Islâmica. A esse respeito, é igual a quaisquer outras terras que os muçulmanos tenham conquistado pela força, porque os muçulmanos a consagraram, à época da conquista, como legado hereditário para todas as gerações de muçulmanos, até o Dia da Ressurreição. Assim ocorreu quando foi completada a conquista de Al-Sha'm (8) e do Iraque, e os Comandantes dos exércitos muçulmanos enviaram mensagens ao Califa 'Umar b. Al-Khattab, pedindo instruções a respeito das terras conquistadas – dividi-las entre as tropas ou deixa-las em mãos dos seus proprietários, ou proceder de outra forma.
Depois de discussões e consultas entre o Califa 'Umar b. Al-Khattab e os Companheiros do Profeta, ficou decidido que as terras deveriam permanecer em mãos dos proprietários (originais) para se beneficiarem de suas colheitas, mas a terra, isto é, a terra em si, deveria constituir um Wakf, (legado hereditário) para todas as gerações de muçulmanos, até o Dia da Ressurreição. A posse dos proprietários é somente um usufruto. Esse Wakf existirá enquanto existirem os céu e a terra. Qualquer ato que não esteja de acordo com essa Lei Islâmica em relação à Palestina é nulo e revogado."Essa é a única verdade. Por isso, Louvai o Grande Nome do Senhor." (Alcorão 56 –95/96).
Pátria e Nacionalismo Segundo o Movimento de Resistência Islâmica.
Art. 12 Nacionalismo (9), segundo o Movimento de Resistência Islâmica, é parte do credo religioso (islâmico). Não existe nada que fale mais eloqüentemente e mais profundamente de nacionalismo do que se segue quando o inimigo usurpa território muçulmano, quando travar a Jihad e confrontar o inimigo se torna um dever pessoal de cada muçulmano, homem e mulher. Uma mulher pode sair para lutar contra o inimigo (mesmo) sem a permissão do marido e um escravo sem a permissão do seu senhor.
Não existe nada igual em qualquer outro sistema político – é um fato indiscutível. Enquanto vários outros (ideologias nacionalistas) nacionalismos se baseiam em fatores físicos, humanos e regionais, o nacionalismo do Movimento de Resistência Islâmica é caracterizado por todos os fatores acima e mais – e o mais importante – é caracterizado por motivos divinos que promovem um pacto entre esse nacionalismo, o espírito e a vida, desde que se torna relativo à fonte do espírito e a Ele que dá a vida. (O Movimento de Resistência Islâmica) está levantando a bandeira divina nos céus da pátria, de modo a criar laços indissolúveis entre o firmamento e a terra.
Quando Moisés chegou e bateu com seu bastão
Tanto o mago e a magia deixaram de ter valor.
"O caminho certo surge claramente do erro; por isso quem renuncia à falsidade e crê em Alá, é como agarrar firmemente um apoio, que nunca se quebra, e Alá tudo ouve e vê." (Alcorão 2 – 256).

Soluções Pacíficas, Iniciativas e Conferências Internacionais

Art. 13 As iniciativas, as assim chamadas soluções pacíficas, e conferências internacionais para resolver o problema palestino se acham em contradição com os princípios do Movimento de Resistência Islâmica, pois ceder uma parte da Palestina é negligenciar parte da fé islâmica. O nacionalismo do Movimento de Resistência Islâmica é parte da fé (islâmica). É à luz desse princípio que seus membros são educados e lutam a jihad (Guerra Santa) a fim de erguer a bandeira de Alá sobre a pátria.
"E Alá tem total controle sobre Seus feitos; mas muita gente não sabe." (Alcorão 12-21)
De tempos em tempos surge uma convocação de uma conferência internacional a fim de buscar uma solução para o problema (palestino). Alguns aceitam (a proposta), outros a rejeitam, por uma razão ou outra, exigindo o cumprimento de alguma condição ou de condições prévias antes da concordância com a conferência ou para dela participar. Entretanto, o Movimento de Resistência Islâmica - estando familiarizado com as partes intervenientes na conferência, e com suas posições no passado e no presente, em matérias que dizem respeito aos muçulmanos - não acredita que tais conferências possam satisfazer as suas demandas ou restaurar os direitos (dos palestinos), ou trazer benefício para os oprimidos. Tais conferências não passam de um meio para dar poder aos hereges para se instituírem como árbitros sobre terras muçulmanas, e quando foi que infiéis, hereges, tiveram posições equilibradas para com os fiéis observantes?.
"Os judeus nunca ficarão contentes, tampouco os cristãos, ao menos que se siga a religião deles. Dizei: 'A orientação de Alá é a orientação certa.' Mas se seguirdes os desejos deles, depois de saberdes quem foi que veio até vós, então não tereis a proteção e a guarda se Alá." (Alcorão 2- 120).
Não há solução para o problema palestino a não ser pela jihad (guerra santa).
Iniciativas de paz, propostas e conferências internacionais são perda de tempo e uma farsa. O povo palestino é muito importante para que se brinque com seu futuro, seus direitos e seu destino. Como consta do Hadith: "O povo de Al-Sha'm é o açoite (de Alá) na Sua terra. Por meio dele, Ele se vinga de quem Ele quer, dentre os Seus servos. Os hipócritas não podem ser superiores aos crentes, e devem morrer em desgraça e aflição." (registrado por Al-Tabarani, que se acha em linha com Maomé, e por Ahmad (Ibn Hanbal), que possui uma linha incompleta com Maomé, e que pode ser o registro mais preciso, podendo ser confiáveis, em ambos os casos, a transmissão das palavras do Profeta – Alá, por si, é onisciente).

Os Três Círculos

Art. 14 O problema da libertação da Palestina envolve três círculos: o círculo palestino, o círculo (pan-árabe) e o círculo islâmico. Cada um desses três círculos tem o seu papel na luta contra o sionismo e tem seus deveres. É um grave erro e uma vergonhosa ignorância descartar qualquer um dos círculos, porque a Palestina é uma terra islâmica. Nela se encontra a primeira das duas kiblas (a orientação da posição das rezas) e a terceira das mais sagradas mesquitas, depois das Mesquitas de Meca e de Medina. É o destino da jornada noturna do Profeta.
"Louvai a Ele que transportou seu servo, durante a noite, da mais sagrada mesquita para a mais distante mesquita, e cuja vizinhança Ele abençoou, a fim de mostrarmos a Ele os sinais de nossa presença. Ele é o único que tudo ouve e tudo vê." (Alcorão 17-1)
Diante desse fato, a libertação da palestina é uma obrigação pessoal de cada muçulmano, onde estiver. É nessas condições que se deve considerar o problema, e cada muçulmano deve compreende-lo. Quando o dia chegar, e o problema é tratado nessas bases, e toda a capacidade desses três círculos é mobilizada – as circunstâncias atuais serão modificadas e o dia da libertação estará próximo.
"Vós infligis mais medo nos corações dos judeus do que o próprio Alá, porque eles são pessoas que não entendem" (Alcorão 59-13).

A Jihad (guerra santa) para Libertação da Palestina é um Dever

Art. 15 No dia em que o inimigo conquista alguma parte da terra muçulmana, a jihad (guerra santa) passa a ser uma obrigação de cada muçulmano. Diante da ocupação da Palestina pelos judeus é necessário levantar a bandeira da jihad (guerra santa). Isso exige a propagação da consciência islâmica nas massas, localmente (na Palestina), no mundo árabe e no mundo islâmico. È necessário instilar o espírito da jihad (guerra santa) em toda a nação, reunir todas as fileiras dos combatentes da jihad (guerra santa) envolvendo os inimigos.
A campanha de indoutrinação deve envolver a ulama (o conselho dos sábios), educadores, professores e especialistas em comunicação e mídia, bem como os intelectuais, especialmente os jovens e os Sheiks dos movimentos islâmicos. Faz-se (também) necessário introduzir mudanças essenciais nos currículos, a fim de eliminar as influências da invasão intelectual infligida pelos orientalistas e missionários. Essa invasão foi introduzida na região depois que Salah Al-Din Al-Ayyubi derrotou as Cruzadas. As Cruzadas chegaram à conclusão de que era impossível eliminar os muçulmanos, a menos que o caminho tivesse sido pavimentado por uma invasão intelectual, que faria confundir o pensamento (dos muçulmanos), distorcer seu legado e impugnar seus ideais. Somente depois disso (da invasão intelectual) poderia seguir a invasão das tropas. Isso (a invasão intelectual) prepararia o terreno para a invasão colonialista, como (o General) Allemby declarou, depois de entrar em Jerusalém: "Agora as Cruzadas chegaram ao fim.". O General Gouraud disse diante do túmulo de Salah Al-Din Al-Ayyubi: "Oh!, Salah Al-Din, estamos de volta!". O colonialismo ajudou a intensificar a invasão intelectual, e ajudou-a a fincar raízes. E ainda o faz. Tudo isso pavimentou o caminho para a perda da Palestina.
É necessário colocar nas mentes de todas as gerações de muçulmanos que o problema da Palestina é um problema religioso, e que assim deve ser tratado, pois (a Palestina) contém lugares sagrados islâmicos, a mesquita de Al Aksa, que está inseparavelmente ligada, enquanto durarem o céu e a terra, à sagrada mesquita de Meca, devido á vigem noturna do Profeta (da mesquita de Meca à de Al Aksa), e a sua conseqüente ascensão ao céu.
"Colocar-se a serviço de Alá por um dia é melhor do que o mundo inteiro, com tudo que nele existe, e ter cada um de vós, combatentes da jihad, açoitados no Paraíso, é melhor do que o mundo inteiro com tudo que nele se encontra. Cada ato pela manhã e a cada ato à tarde, realizados pelos muçulmanos em prol de Alá é melhor do que o mundo inteiro com tudo o que nele se encontra." (registrado na coleção de Hadith de Bukhari, Muslim, Tirmidhi e Ibn Maja).
"Em Seu nome, que guarda a alma de Maomé em Suas mãos, quero me lançar no ataque em prol de Alá, e ser morto, para atacar de novo e ser morto, e atacar de novo e ser morto)" (Registrado na coleção de Hadith de Bukhari e Muslim).

Educando as Próximas Gerações

Art. 16 É necessário educar as próximas gerações, em nossa região, dentro dos caminhos islâmicos, com base no cumprimento das obrigações religiosas, com acurado estudo do Livro de Alá, estudar a sunna (os costumes) do Profeta, com a leitura atenta da história e legado islâmicos, mas baseados em fontes confiáveis, e submetidos às instruções de especialistas e entendidos, com metodologia competente que ensinem a visão global do pensamento e da fé. Ademais, é necessário um apurado estudo do inimigo, suas condições humanas, e capacidade de ação, para ficar familiarizado com suas fraquezas e seus poderes, para conhecer as forças que o ajudam e apóiam. Também é necessário ficar a par dos acontecimentos, acompanhar os novos desenvolvimentos e estudar as análises e comentários relativos ao inimigo. Também se faz necessário planejar para o futuro, estudando cada um e todos os fenômenos, de maneira que os muçulmanos que se dediquem à jihad (guerra santa) possam viver com completo e total conhecimento de seus fins e seus objetivos, e caminho a seguir, e com total conhecimento do que está ocorrendo em sua volta.
"Oh! Meu filho! Mesmo que (uma coisa) tenha o peso de um grão de mostarda, esteja sobre uma rocha, ou nos céus ou na terra, Alá a fará trazer diante de Sua presença. Alá é capaz de discernir a menor coisa, Ele é onisciente. Oh! Meu filho! Mantenha-te orando e aproveite o que é bom e proíba todo o mal, e mantenha-te nesse caminho, frente a qualquer circunstância que te possa abater; seguramente isso (o comportamento) vale manter com firmeza. Não vire a cara com desprezo ao teu povo; não ande com arrogância na terra. Alá não ama o arrogante e o presunçoso." (Alcorão, 31 – 16/18)

O Papel da Mulher Muçulmana

Art. 17 O papel da mulher muçulmana na Guerra da Libertação não é menos importante do que a do homem, porque ela é que faz o homem. O papel delas na orientação e educação da nova geração é muito importante. Os inimigos (entenderam) o papel dela, e pensam que, educando-a de acordo com as idéias deles, afastando-a do Islã, terão ganho a guerra. Vereis, portanto, que, continuadamente, desenvolvem grandes esforços (nesse sentido) pela mídia, no cinema, nos currículos escolares, por meio de seus agentes, incorporados em organizações sionistas, que assumem variados nomes, tais como Maçons Livres, Rotarys Clubes, grupos de espionagem, etc., todos sendo covis de sabotagem e sabotadores. Tais organizações sionistas dispõem de abundantes recursos materiais, que lhes permitem fazer o jogo delas nas mais variadas sociedades, com a finalidade de levar a cabo seus objetivos, enquanto o Islã ficar afastado (de sua fé).Os seguidores do Movimento Islâmico (10) devem fazer a sua parte, enfrentando os esquemas desses sabotadores. Quando o Islã estiver no leme, fará erradicar todas essas organizações, pois são hostis à humanidade e ao Islã.
Art. 18 A mulher no lar e na família jihadista, seja mãe ou irmã, tem a função principal de cuidar da casa, educando as crianças de acordo com as idéias morais e valores inspirados pelo Islã, ensinando-as a cumprir com os deveres religiosos na preparação para a jihad (guerra santa) que as espera. Assim, é necessária acurada atenção com as escolas nas quais as meninas muçulmanas são educadas, bem como sobre o currículo, de forma que elas cresçam, preparando-se para serem boas mães, conscientes do seu papel na guerra de libertação. As meninas devem receber adequados conhecimentos para compreenderem os cuidados com as tarefas domésticas; a economia e como evitar desperdícios nas despesas domésticas são requisitos para se capacitarem a um comportamento adequado nas atuais difíceis circunstâncias. As meninas devem ter consciência de que os recursos disponíveis são como o sangue que deve fluir somente nas veias, para que a vida continue, tanto na juventude com na velhice.
"Os homens e as mulheres muçulmanos, os homens e as mulheres crentes, os homens e as mulheres confiáveis, os homens e as mulheres que preservam as tradições, os homens e mulheres caridosas, os homens e mulheres que se mantêm firmes em seus caracteres, os homens e mulheres que mantêm a castidade, os homens e mulheres que lembram de Alá constantemente – para eles Alá concederá seu perdão e uma grande recompensa." (Alcorão 33 35).

O Papel da Arte Islâmica na Guerra de Libertação

Art. 19 A arte possui regras e padrões por meio das quais é possível determinar se é islâmica ou pagã. A libertação islâmica necessita da arte islâmica, que eleva o espírito sem destacar um aspecto da natureza humana frente a outro aspecto, mas, pelo contrário, eleva todos os aspectos em perfeito equilíbrio e harmonia. O homem é uma criatura maravilhosa e única, feito de um punhado de argila e do sopro do espírito. A arte islâmica vai ao encontro do homem nessas bases, enquanto a arte pagã destaca o corpo físico e dá predominância ao componente da argila.
Os livros, artigos, panfletos, sermões, epístolas, canções tradicionais, poemas, cantos patrióticos, peças, etc. – detendo as características da arte islâmica, são meios necessários para a doutrinação. Constituem uma auto-renovação do alento para a continuação da jornada, refrescando o espírito, pois a estrada é longa, o sofrimento é grande e alma acaba fatigada. A arte islâmica renova as energias, revive a emoção e desperta a alma para elevados ideais e condutas sadias.
Nada pode curar a alma se ela se retrai, vagando de um lado para outro.
Tudo isso é extremamente sério e não uma brincadeira, porque uma nação engajada numa jihad (guerra santa) não conhece brincadeiras.

Solidariedade Social

Art. 20 A sociedade muçulmana se caracteriza pela solidariedade. O Profeta, que as bênçãos e a paz de Alá estejam sobre ele, disse: "Abençoados sejam os da tribo de Banu Al-Ash'ar. Quando atingidos pela seca – tanto numa cidade ou na caminhada – reúnem tudo que têm e dividem entre si em partes iguais." Esse é o espírito islâmico que deve existir em cada sociedade islâmica. Uma sociedade que está enfrentando um inimigo perverso, com comportamento nazista, que não faz distinção entre homens e mulheres, entre velhos e jovens, tem maior necessidade de se comportar dentro desse espírito islâmico (de solidariedade). Nosso inimigo usa a punição coletiva, desapossando as pessoas de suas casas e posses. Ele persegue as pessoas até nos seus locais de exílio, quebrando os ossos, atirando nas mulheres, crianças e velhos, com ou sem motivo. O inimigo construiu campos de detenção para neles aprisionar milhares e milhares (de pessoas) em condições desumanas, tudo isso além de destruir as suas casas, tornar as crianças órfãs, e injustamente condenando jovens a despender os melhores anos de sua juventude em prisões escuras. O nazismo dos judeus é dirigido tanto contra mulheres como contra crianças. O terror que espalham é dirigido contra qualquer um. O inimigo combate as pessoas para destruir suas vidas, roubar seu dinheiro e esmagar a sua dignidade. Tratam as pessoas como os piores criminosos de guerra. A deportação dos respectivos lares é uma forma de assassinato. Diante de tal comportamento, devemos demonstrar solidariedade social entre nós, e devemos enfrentar o inimigo como um corpo unido, e que, quando um membro sofre os demais reagem despertos e fervorosamente.
Art. 21 Solidariedade social significa ajudar a todo necessitado, seja material ou moralmente, estando presente para completar um trabalho. Os membros do Movimento de Resistência Islâmica devem olhar os interesses das massas como os seus próprios, e não devem medir esforços para satisfaze-las e proteje-las. Devem evitar ser negligentes em matérias que afetem as futuras gerações ou que causem prejuízos à sociedade. As massas devem ser do interesse dos membros do Hamas e devem trabalhar por elas, porque o fortalecimento das massas é o fortalecimento do Hamas, o futuro delas é o futuro do Hamas. Os membros do Movimento de Resistência Islâmica devem estar com o povo nos momentos de alegria e na tristeza. Devem cuidar da demandas das massas e esforçarem-se para servir aos interesses das massas, que são os deles mesmo. Quando tal espírito está presente, a amizade se aprofunda, havendo conseqüentemente cooperação e empatia, a unidade aumentará e as fileiras serão reforçadas para enfrentar os inimigos.

As Forças que Apóiam o Inimigo

Art. 22 Os inimigos têm feito planejamento inteligente e cuidadoso, durante muito tempo, a fim de chegar ao ponto em que chegaram, com emprego de métodos que afetam o curso dos acontecimentos. Dedicam-se a acumular imensos recursos financeiros que empregam para realizar os sues sonhos.
Com dinheiro assumem o controle da mídia mundial – agências de notícias, jornais, editoras, serviços de radiodifusão, etc. Com dinheiro promovem revoluções em vários países mundo afora, para servir aos seus interesses e obter lucros. Estiveram por detrás da Revolução Francesa e da Revolução Comunista e se acham por detrás da maioria das revoluções de que ouvimos falar, de tempos em tempos, aqui e ali. Com dinheiro criaram organizações secretas, em todo o mundo, a fim de destruir as sociedades respectivas e servir aos interesses sionistas, organizações tais como os Maçons Livres, Rotary Clubes, Lions, os Filhos da Aliança (B'nei Brith), etc. Todas essas organizações servem para fazer espionagem e sabotagem. Com dinheiro foram capazes de assumir o controle dos países colonialistas, e os instigaram a colonizar muitos outros países, de forma a explorar os recursos de cada país e lá espalhar a corrupção moral.
Não há um fim para dizer tudo sobre o envolvimento do inimigo sionista em guerras localizadas e guerras mundiais. Estiveram por detrás da Primeira Guerra Mundial, por meio da qual obtiveram a destruição do Califado Islâmico, tiveram altos ganhos materiais, passaram a controlar numerosos recursos naturais, obtiveram a Declaração Balfour e criaram a Liga das Nações Unidas (assim no original), para poder governar o mundo por meio dessa Organização.
Estiveram, também, por detrás da Segunda Guerra Mundial, através da qual juntaram um tremendo lucro com o comércio de materiais de guerra e abriram o caminho para o estabelecimento do seu Estado. Os sionistas também propuseram a criação das Nações Unidas e o Conselho de Segurança em substituição da Liga das Nações Unidas (sic), para governar o mundo. Onde há uma guerra no mundo eles se encontram acionando os cordéis por detrás das cortinas. "Quando acendem o fogo da guerra, Alá o extingue. Eles se esforçam para espalhar o mal na terra, mas Alá não ama aqueles que praticam o mal" (Alcorão, 5 – 64).
As potências colonialistas, tanto do ocidente capitalista como do oriente comunista, apóiam o inimigo com toda a sua força, seja materialmente seja com mão de obra, alternando um ou outro. Quando o Islã aparece, todas as forças dos infiéis se unem em oposição, porque todos infiéis constituem uma só dominação.
"Oh! Vós que credes, não tomeis como amigos alguém fora se vossas fileiras, porque não medirão esforços para vos fazer o mal. Desejam aquilo que vos causai sofrimento. O ódio sai das suas bocas, mas o que escondem em seus corações é ainda pior. Nós vos apresentamos sinais bastante claros, se compreenderdes." (Alcorão, 3 – 118). Não é por acaso que esse versículo termina com Suas palavras "se compreenderdes".

Capítulo IV

Nosso Posicionamento

A – Os Movimentos Islâmicos

Art. 23 O Movimento de Resistência Islâmica vê, com todo respeito e apreço, os demais movimentos islâmicos, mesmo que tenha divergências com os mesmos em alguns aspectos e idéias, mas tem concordâncias com eles em muitos outros aspectos e idéias, e os consideram, enquanto suas intenções forem boas e forem devotos de Alá – como dentro do direito de legítima opinião, isto é, enquanto suas respectivas ações se situarem dentro do círculo islâmico. Todo aquele que se esforça em prol da verdade receberá sua recompensa.
O Movimento de Resistência Islâmica considera tais movimentos como um reforço, e suplica a Alá para guiar-nos e orientar-nos. Nunca esquece de, constantemente, levantar a bandeira da unidade e de se esforçar, permanentemente para alcançar a unidade de acordo com o Alcorão e a sunna. "Deveis vos manter firmemente agarrados á corda que Alá vos oferece, todos vós. Não vos dividais entre si, e lembrai-vos de que Alá ficará a vosso lado. Caso sejais inimigos uns dos outros, Ele juntará vossos corações, e por meio Dele vos tornareis irmãos. Vos encontráveis num grande incêndio e Ele vos salvou. Assim, Alá mostra Seus feitos, de forma que possais seguir o caminho correto." (Alcorão3 –103) (11)
Art. 24 O Movimento de Resistência Islâmica não permite que o nome de um indivíduo seja vetado ou ofendido, porque verdadeiros muçulmanos não vetam ou xingam os outros. Deve ser feita uma clara distinção entre isso e posições ou comportamentos, porque o Movimento de Resistência Islâmica deve ter o direito de expor erros e evitar que as pessoas os cometam, e se esforçar com afinco para tornar a verdade conhecida e adotada de forma imparcial em todas as situações. Os muçulmanos buscam a sabedoria, e a agarram onde a puderem encontrar. (12)
"Alá não gosta quando as pessoas falam mal uma das outras, e em público, exceto daqueles que tenham pecado. Alá tudo ouve e tudo sabe. Quando vós fazeis o bem, seja em público ou secretamente, ou perdoais algo de errado (que lhes fizeram), seguramente Alá vos estará perdoando, pois é Onipotente." (Alcorão 4 – 148/149)

B – Os Movimentos Nacionalistas na Arena Palestina

Art. 25 O Movimento de Resistência Islâmica respeita e aprecia as condições que envolvem e afetam os outros movimentos. Apóia a todos enquanto não prestam obediência ao Leste Comunista e aos Cruzados do Ocidente, e enfatiza a todos os seus (deles) membros e a todos que os apóiam, que o Movimento de Resistência Islâmica é um movimento ético jihadista, consciente em sua visão mundial e no tratamento com os outros movimentos. Abomina o oportunismo, deseja somente o bem para as pessoas, enquanto indivíduos ou grupos, e não se dedica a obter lucros materiais ou fama para si. Não busca a recompensa das pessoas, e segue em frente com seus próprios recursos e com o que tem em mão. "Juntais contra eles todas as forças que podeis." (Alcorão, 8:60), a fim de levardes adiante vossos deveres e que conquistais a graça de Alá. O Movimento de Resistência Islâmica não tem outro escopo senão este.
E reafirma a todos os grupos nacionalistas, de todas as orientações, operando na Palestina, de que não deve ocorrer outra coisa senão o apoio e a ajuda para todos eles, com palavras e ações, no presente e no futuro. Reúne a todos e não busca a separação, preserva a unidade e não a dispersão, une e não divide, valoriza cada palavra, cada esforço sincero e cada palavra de louvor pelo esforço. Fecha as portas diante dos desentendimentos. Não dá atenção a boatos e observações tendenciosas, mas reserva-se o direto de se defender.
Tudo que se oponha ou contradiz a essa orientação é fabricado pelo inimigo ou por seus lacaios a fim de provocar confusão, dividir as fileiras e provocar distração com assuntos laterais. "Oh! Vós que credes, se um mal intencionado lhe traz informação (sobre alguém), deveis examiná-la cuidadosamente, para não atingir pessoas (inocentes), devido a ignorância, para depois vos arrependerdes." (Alcorão 49 – 6)
Art. 26 O Movimento de Resistência Islâmica – observando favoravelmente, como o faz, os movimentos nacionalistas palestinos, não se furta de discutir os novos desenvolvimentos a respeito do problema da Palestina, no local ou na arena internacional, de maneira objetiva, para ver em que extensão (tais desenvolvimentos) se coadunam, ou não, aos interesses da causa segundo a visão islâmica.

C – A Organização para a Libertação da Palestina

Art. 27 A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) está junto do coração do Movimento de Resistência Islâmica, como um pai, um irmão ou amigo, e um verdadeiro muçulmano não deve repelir seu pai, seu irmão ou seu amigo. Nossa pátria é um só, nosso infortúnio é um só, nosso destino é um só e enfrentamos o mesmo inimigo.
Devido às circunstâncias que conduziram à criação da OLP, e (devido) à confusão intelectual que imperava no mundo árabe, como resultado da invasão intelectual que estava sendo feita desde a derrota das Cruzadas, e que passou a ser intensificada, e continua a ser intensificada, pelas atividades de orientalistas e missionários cristãos – a OLP decidiu adotar a idéia de um Estado Secular, e, assim, vemos a OLP. A ideologia secularista se acha em total contradição com a ideologia religiosa, e são as idéias que são as bases das posições, condutas e decisões.
Assim, com todo o nosso apreço pela Organização para a Libertação da Palestina, e o que ela posa vir a se tornar, e sem desprezar o seu papel no conflito árabe-israelí, não podemos eliminar a identidade islâmica da Palestina, que é parte da nossa fé, e quem negligencia essa fé está perdido. "Quem rejeita a religião de Abrahão é alguém que ficou um tolo". (Alcorão 2-130).
Quando a OLP adotar o Islã como seu meio de vida, então seremos as suas tropas e o combustível para o seu fogo que consumirá o inimigo. Mas, até que essa ocasião chegue – e rezamos para que ele não demore – a posição do Movimento de Resistência Islâmica vis a vis a OLP é de um filho para com um pai, de um irmão para com seu irmão, ou de um parente para com seus parentes. Compartilha dos sofrimentos do outro quando é atingido por uma tormenta, e o apóia diante do inimigo, e faz votos que encontre a orientação divina e siga o caminho certo.
Vosso irmão, vosso irmão antes dos outros!
Quem não tem um irmão é igual a alguém que vai para a guerra sem uma arma.
Vosso primo, deveis conhecer a força de suas asas.
Por que, como pode um falcão levantar vôo sem asas? (13).

D – Estados e Governos Árabes e Islâmicos

Art. 28 A invasão sionista é uma invasão cruel que não possui quaisquer escrúpulos e utiliza métodos viciados e vilãos para atingir seus objetivos. Nas suas operações de espionagem e infiltração, se apóia em organizações secretas, que cresceram fora do seu âmbito, tais como os Maçons Livres, Rotary Clubes, Lions e outros grupos de espionagem do mesmo tipo. Todas essas organizações, secretas ou abertas, operam pelos interesses do sionismo e sob sua direção, e suas finalidades consistem em enfraquecer as sociedades, minar seus valores, destruir a honra das pessoas, introduzir a degradação moral e aniquilar o Islã. O sionismo se encontra por detrás de todo tipo de tráfico de drogas e do álcool, para facilitar o seu controle e sua expansão.
Exigimos que os países árabes em torno de Israel abram as suas fronteiras aos árabes e muçulmanos combatentes da Jihad, a fim de cumprirem sua parte, juntando suas forças às forças dos seus irmãos – a Fraternidade Muçulmana na Palestina. Dos demais países árabes e muçulmanos, exigimos que, no mínimo, facilitem a passagem através de seus territórios dos combatentes da Jihad.
Não podemos deixar de lembrar a cada muçulmano que, quando os judeus ocuparam o Lugar Sagrado (i.e – Jerusalém), em 1967, e se postaram diante da abençoada Mesquita de Al-Aksa, gritaram: "Maomé está morto, sua descendência é de mulheres". Com isso, Israel, com sua identidade judaica e o povo judeu estão desafiando o Islã e os muçulmanos. Que a covardia não conheça descanso.

E – Grupos Nacionalistas e Religiosos, Intelectuais e o Mundo Árabe e Muçulmano

Art. 29 O Movimento de Resistência Islâmica espera que tais grupos estejam sempre prontos para ajudar, mas, em qualquer circunstância, lhes dará ajuda, apoiará seus posicionamentos, dará suporte às atividades deles e terá todo empenho na busca de apoio para eles, de forma que cada cidadão muçulmano seja uma reserva de apoio e reforço para o Movimento, e que disponibilizem profundo apoio estratégico em termos de recursos humanos e materiais e em informação, a qualquer tempo e em qualquer lugar. Deve ser atingido por meio de conferências, panfletos ideológicos e pela doutrinação das massas com relação ao problema palestino – o que estão enfrentando e o que é plantado contra eles. Da mesma forma devem tais grupos trabalhar para mobilizar cada muçulmano ideologicamente, educacionalmente e culturalmente, de modo a que tenha o seu papel na decisiva guerra de libertação, assim como tiveram participação importante na derrota das Cruzadas, na expulsão dos mongóis, salvando, assim, a civilização humana. Isso não é difícil para Alá.
"Alá disse: 'EU e Meu Mensageiro acabaremos prevalecendo.' Alá é forte e todo-poderoso" (Alcorão, 58-21).
Art. 30 Escritores, intelectuais, profissionais da mídia, pregadores nas mesquitas, educadores e todos os demais setores do mundo árabe e islâmico são convocados a desempenhar seu papel e a cumprir com seu dever. (Isto é necessário) Devido à ferocidade do assalto sionista e devido ao fato de ter-se infiltrado em muitos países, e assumido o controle das finanças e da mídia – com todas as ramificações que daí decorrem – na maioria dos países do mundo.
A jihad não se limita a pegar em armas e combater o inimigo cara a cara, pois palavras eloqüentes, escritos que persuadem, livros que efetivamente cumprem com sua finalidade, o apoio e a ajuda – tudo leva a desempenhar a sincera intenção de levantar a bandeira de Alá e faze-la reinar suprema – tudo isso é a jihad em prol de Alá.
(O Profeta disse: "Quem prepara um guerreiro com todas as armas para lutar por Alá é (também) um guerreiro, e quem dá apoio à família de um guerreiro (que saiu para combater por Alá) é, também, um guerreiro." (registrado por Bukhari, Muslim, Abu Da'ud e Tirmidhi na suas coleções de Hadith).

F – Fiéis de Outras Religiões

O Movimento de Resistência Islâmica é um Movimento Humano

Art. 31 O Movimento de Resistência Islâmica é um Movimento humano que respeita os direitos humanos e se acha comprometido com a tolerância islâmica para com os seguidores de outras religiões. Mostra-se hostil apenas para com aqueles seguidores de outras religiões que fazem hostilidades para com o Movimento, ou que se colocam em seu caminho, impedindo suas atividades e prejudicando os seus esforços. Sob as asas do Islã, os seguidores das três religiões – Islã, Cristianismo e Judaísmo – podem coexistir em segurança e a salvo. Somente sob o manto do Islã é que a salvaguarda e a segurança imperam. A história antiga e a recente dão provas disso. Os seguidores de outras religiões devem parar de competir com o Islã pela soberania nesta região, porque quando eles governam, ocorrem atos de assassinatos, torturas e deportações, e não permitem que outras religiões possam ter seu curso. Tanto o presente como o passado estão cheios de provas disso.
"Não vos dão combate, a não ser de dentro de vilas fortificadas, ou por detrás dos muros. Eles lutam ferozmente uns com os outros. Vós os considerais unidos, mas os corações deles estão divididos, pois são um povo sem sentido". (Alcorão, 59-14).
O Islã está de acordo com os direitos de cada pessoa, e evita qualquer infração aos direitos de outras pessoas. As medidas que os sionistas-nazistas adotam contra o nosso povo não vão conseguir prolongar a duração da sua invasão, porque o governo da injustiça não dura uma hora sequer, enquanto o governo da verdade dura até a Hora da Ressurreição.
"Alá não vos proíbe de demonstrardes bondade e que agis com justiça para com aqueles que não vos combatem por conta de vossa religião, e não vos retirais das casas deles. Alá ama quem age com justiça". (Alcorão, 60-8).

G – As Tentativas para Isolar o Povo Palestino

Art. 32 O sionismo mundial e as potências colonialistas, por meio de manobras espertas e meticuloso planejamento, tentam afastar os países árabes, um a um, do círculo do conflito com o sionismo, a fim de, finalmente, conseguir isolar o povo palestino. Já levaram o Egito para fora do círculo do conflito, em grande parte através do traidor Acordo de Camp David (de setembro de 1978), e está tentando arrastar outros países árabes para acordos semelhantes, de forma a ficarem fora do círculo do conflito.
O Movimento de Resistência Islâmica convoca todos os povos árabes e muçulmanos a lutarem seriamente e diligentemente a fim de prevenir esse terrível esquema, bem alerta as massas dos perigos inerentes à exclusão do círculo do conflito com o sionismo. Hoje é a Palestina, e amanhã será algum outro país ou países, pois o plano sionista não tem limites, e depois da Palestina pretenderão se expandir do Nilo até o Eufrates, e quando terminarem de devorar uma área, estará famintos para novas expansões, e assim por diante, indefinidamente. O plano deles está exposto nos Protocolos dos Sábios de Sião, e o comportamento deles no presente, é a melhor prova daquilo que lá está dito. Deixar o círculo do conflito com o sionismo é um ato de alta traição; todos os que o fazem devem ser amaldiçoados. "Quem (quando combatendo os infiéis) vira as costas para eles, ao menos que seja uma manobra de batalha, ou para se juntar a outra companhia, incorre na ira de Alá, e sua morada deverá ser o inferno. Seu destino será do maior infortúnio." (Alcorão, 8:16)
Todas as forças e toda capacidade disponível devem ser reunidas para enfrentar os ferozes ataques dos mongóis, nazistas, para impedir que a pátria seja perdida, o povo exilado, o mal espalhado sobre a terra e todos os valores religiosos sejam destruídos. Cada qual e todas as pessoas devem saber que são responsáveis perante Alá.
"Cada qual que faz um peso mínimo de um grão de bem que seja, o verá; e cada qual que faz um peso mínimo de um grão de mal, deverá vê-lo." (Alcorão, 99: 7-8).
No círculo do conflito contra o mundo sionista, o Movimento de Resistência Islâmica se vê como ponta de lança ou como um passo à frente no caminho da vitória. Junta suas forças às forças de todos que se encontram atuando na arena palestina. Aguarda agora pelos passos a serem tomados pelo mundo árabe e islâmico. O Movimento de Resistência Islâmica se acha muito bem qualificado para o próximo estágio da luta contra os judeus, os instigadores das guerras.
"Planejamos a inimizade e ódio entre eles (isto é, entre os judeus), até o Dia da Ressurreição. Toda vez que eles acendem o fogo da guerra, Alá o extingue. Eles procuram espalhar o mal sobre a terra, e Alá detesta quem faz o mal." (Alcorão, 5:64)
Art. 33 O Movimento de Resistência Islâmica – partindo de tais conceitos gerais, que se acham de acordo e em harmonia com as leis da natureza, e seguindo a corrente do destino divino para confrontação com os inimigos e a Jihad contra eles, em defesa dos muçulmanos, da civilização islâmica e dos santuários islâmicos, sendo a Mesquita de Al-Aksa a primeira – conclama os povos árabes e islâmicos e seus governos, e suas ONGs e organizações oficiais, para respeitar a Alá em suas atitudes para com o Movimento de Resistência Islâmica e no seu tratamento para com ele. Devem agir para com o Movimento de Resistência Islâmica da forma como Alá deseja, especialmente apoiando-o, mantendo-o, ajudando-o e continuamente reforçando-o, até que a palavra de Alá seja cumprida. Então, todas as fileiras estarão unidas, os combatentes da Jihad se juntarão aos outros combatentes da Jihad, e as massas em todo o mundo islâmico acorrerão e responderão ao chamado pelo cumprimento do dever, gritando: "Apressemo-nos para a Jihad". Essa conclamação penetrará nas nuvens do céu e continuará a soar até que a libertação seja atingida, os invasores derrotados e a vitória de Alá seja vista.
"Alá com certeza ajuda quem O ajuda; Alá é forte e poderoso." (Alcorão, 22:40)

Capítulo V

As Provas Históricas Através das Gerações, com Vistas ao Enfrentamento dos Agressores

Art. 34 A Palestina é o centro da Terra e o ponto de encontro dos continentes; sempre foi o alvo dos agressores gananciosos. Assim ocorreu desde os primórdios da história. O Profeta, que receba a graça e a paz de Alá, assinalou esse fato em suas nobres palavras com as quais se dirigiu ao exaltado companheiro, Um'adh Jabal, dizendo: "Oh! Um'adh, Alá lhe concederá as Terras de Al-Sha'm após minha morte, que vai de Al-'Arish ao Eufrates. Seus homens, mulheres e o produto do trabalho de suas mãos ficarão permanentemente nessas terras até o Dia da Ressurreição, para todos aqueles que tenham escolhido viver em alguma parte da planície costeira de Al-Sha'm ou Bayt Al-Makdis (Palestina), que se encontrará em permanente estado de Jihad, até o Dia da Ressurreição."
Os agressores cobiçaram a Palestina em muitas ocasiões. Foi atacada com grandes exércitos tentando realizar suas gananciosas aspirações. Grandes exércitos das Cruzadas vieram aqui, trazendo seu credo religioso e fincando suas cruzes. Conseguiram derrotar os muçulmanos por um certo tempo, e os muçulmanos só conseguiram reconquistar a região quando lutaram sob a bandeira de sua própria religião, juntando as forças e gritando "Alá Akbar", e se empenharam na Jihad sob o comando de Salah Al-Din Al-Ayyubi, por cerca de duas décadas, o que os conduziu a uma vitória retumbante: os Cruzados foram derrotados e a Palestina foi libertada.
"Dizeis aos que não crêem: Sereis, sem dúvida, derrotados e reunidos no Inferno. O vosso lugar de descanso será o mais terrível." (Alcorão, 3:12)
Trata-se da única forma de libertação, e ninguém pode duvidar do testemunho da história. Trata-se de uma das leis do universo e leis da realidade. Somente o ferro pode romper o ferro, e a falsa e fabricada fé dos inimigos somente pode ser vencida pela fé verdadeira do Islã, porque a verdadeira fé religiosa não pode ser atacada senão pela fé religiosa. E a verdade deverá triunfar porque a verdade é mais forte.
"Já demos Nossa Palavra para Nossos servos, os mensageiros, e que serão ajudados até a vitória e que o Nosso exército acabará triunfando." (Alcorão, 37: 171 – 173)
Art. 35 O Movimento de Resistência Islâmica estuda a derrota das Cruzadas nas mãos de Salah Al-Din Al-Ayyubi, a conseqüente libertação da Palestina, bem como a derrota dos Mongóis em Ayn Jalut e a destruição de sua força militar nas mãos de Qutuz e Al-Zahir Baybars, livrando o mundo árabe da conquista dos mongóis, que destruiu todos os aspectos da civilização humana. (14). [O Movimento de Resistência Islâmica] estuda esses acontecimentos seriamente e extrai deles lições e exemplos. A atual invasão sionista foi precedida pela invasão das Cruzadas do Ocidente e pela invasão mongol do oriente. Se os muçulmanos enfrentaram essas invasões, planejaram combatê-las e as derrotaram, podem (agora) confrontar a invasão sionista e derrotá-la. Tal não é difícil para Alá, desde que as intenções sejam sinceras e a decisão seja forte, e os muçulmanos extraiam as boas coisas da experiência do passado, contenham as influências da invasão intelectual e sigam os caminhos dos seus predecessores.

CONCLUSÃO: Os Soldados (pela causa) do Movimento de Resistência Islâmica

Art. 36 O Movimento de Resistência Islâmica, em sua marcha à frente, insiste em enfatizar a todos do nosso povo, e dos povos árabes e muçulmanos, de que não busca fama para si próprio, ou ganhos materiais, ou status social, e de que não se dirige contra quem quer que seja do nosso povo, a fim de competir com alguém ou tomar-lhe o lugar – nada desse teor. Não se opõe a qualquer muçulmano, ou a quaisquer não-muçulmanos que tenham intenções pacíficas para com o nosso povo, aqui, (na Palestina) ou em qualquer lugar. Sempre oferecerá nada mais do que ajuda a todos os grupos e organizações que lutam contra o inimigo sionista e seus lacaios.
O Movimento de Resistência Islâmica adota o Islã como seu modo de vida. (O Islã) é seu credo e sua lei. (Qualquer grupo que) adotando o Islã como seu modo de vida, aqui ou onde for – seja uma organização, uma associação, estado ou qualquer outro grupo – o Movimento de Resistência Islâmica o servirá como seu soldado. Pedimos a Alá que nos guie, que guie (os outros) por nosso intermédio, e que faça o julgamento entre nós e nosso povo com a verdade "Oh, Senhor, julgai entre nós e nosso povo com a verdade. Sois o melhor dos juízes." (Alcorão 7:89).
No fim, suplicamos: Louvado seja Alá, Senhor do Universo.
Palestina, 1º de Muharram de 1409 AH/ 18 DE AGOSTO DE 1988
Tradução: Organização Sionista do Brasil
Notas da tradução (trechos explicativos entre parentes foram acrescentados ao texto):
  1. Islamonline, http://www.islamonline.net/Arabic/doc/2004/03/article11.SHTML
  2. Hasan Al-Banna (1906-1949) fundou a Fraternidade Muçulmana em 1928, e foi seu diretor-geral até o seu assassinato em 1949.
  3. Amjad Al-Zahawi foi um acadêmico religioso sunita iraquiano, filiado ao Movimento de Resistência Islâmica, e atuante em várias iniciativas em apoio da causa palestina.
  4. Hamas, em árabe, é o acrônimo de Movimento de Resistência Islâmica (harakat al-muqawam al-islamiyya); é também uma palavra árabe significando entusiasmo, ardor ou zelo.
  5. Devido à importância do conceito de jihad na ideologia do Hamas, este termo figura assim onde aparece no texto.
  6. Os versos de Muhammad Iqbal (1873-1938), um poeta e pensador religioso muçulmano hindu, é freqüentemente citado tanto por reformistas como conservadores muçulmanos, em apoio às suas respectivas orientações, embora opostas.
  7. Trata-se de verso freqüentemente citado do famoso poeta pré-islâmico Tarafa.
  8. Nos escritos islâmicos medievais, Al-Sha'm se refere, grosseiramente, a toda uma área que corresponde presentemente a Israel, Palestina, Líbano, Jordânia e Síria.
  9. A palavra "nacionalismo" aqui, neste documento, é usada como equivalente ao termo wataniyya, que deriva da palavra árabe watan (pátria), e no discurso árabe moderno significa nacionalismo territorial particularizado, em contraposição a qawmiyya, que também significa nacionalismo, mas é usada para se referir ao nacionalismo pan-árabe.
  10. A expressão "os seguidores dos movimentos islâmicos" é usada aqui para traduzir a palavra árabe al-islamiyyum.
  11. No texto original árabe, esse verso consta, erradamente, como 3:102
  12. Trata-se de um Hadith muito conhecido (isto é, um ditado atribuído ao Profeta)
  13. Tratam-se de dois versos muito citados do poeta do Século VII, Miskin al-Darimi
  14. Saif Al-Din Qutuz ( - 1260) foi o Sultão mameluco do Egito, de 1257 até sua morte. Em 1260, o comandante de seu exército, Al-Zahir Baybars (1223-1277) derrotou os mongóis na batalha de Ain-Jalut.

sábado, 4 de novembro de 2017

Nossa Resposta à Reforma

Nossa Resposta à Reforma

Benedikt Peters
Várias igrejas e organizações têm ideias diferentes sobre como os cristãos devem se portar no ano da Reforma. Qual deve ser a reação aos 500 anos de Reforma?
Nesse ano recordamos o grande reavivamento espiritual que Deus concedeu em vários países da Europa, há 500 anos. Por que o fazemos? A antiga história do povo de Israel responde a essa pergunta, em Juízes 2.6-11. Quando o povo de Deus esquece as grandes obras de salvação, esquece também de Deus e recai no paganismo e na idolatria. Isso ocorreu no cristianismo protestante, que não sabe mais nada ou não quer saber das grandes obras de Deus à época da Reforma.
 “Combata o bom combate da fé... guarde o que foi confiado a você” (1Tm 6.12,20). “Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os sofrimentos pelo evangelho, segundo o poder de Deus” (2Tm 1.8). “Eu os estou enviando como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas. Tenham cuidado, pois os homens os entregarão aos tribunais e os açoitarão nas sinagogas deles. Por minha causa vocês serão levados à presença de governadores e reis como testemunhas a eles e aos gentios” (Mt 10.16-18).
No dia 18 de abril de 1521, um monge agostiniano de 38 anos de idade estava diante do rei do Sacro Império Romano da nação alemã, juntamente com os maiorais do reino e dignitários da igreja, e falou as seguintes palavras:
“Se eu não fui convencido pelos testemunhos das Escrituras e pelas claras bases sóbrias – pois não acredito nem no papa nem mesmo unicamente nos concílios, uma vez que estamos no dia em que eles erraram várias vezes e se contradisseram –, assim fui convencido em minha consciência pelas passagens das Escrituras Sagradas que mencionei e cativado na Palavra de Deus. Por isso não posso e não quero revogar nada, pois, fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável”.
Enquanto o monge Martinho Lutero comparecia diante do parlamento, os olhos de toda a Alemanha estavam voltados para ele. Todos queriam saber como o monge se derrotaria. Quando ele pronunciou as palavras anteriormente citadas, houve a deflagração daquele movimento espiritual que denominamos “Reforma”, do reavivamento espiritual como o cristianismo jamais havia visto desde a primeira geração de cristãos. Esse “minuto de agitação mundial”, ao olharmos retrospectivamente, foi a hora decisiva da Reforma para o reavivamento bíblico que abalou todos os países da Europa e alterou alguns em suas bases.
O que levou o monge Martinho Lutero, doutor em teologia, professor da Universidade de Wittenberg, a defender seu posicionamento diante das Escrituras diante do rei do Império?

Em 1517 Lutero fixou suas famosas 95 teses na porta da catedral de Wittenberg.
Em 1517, Lutero havia fixado suas famosas 95 teses na porta da catedral de Wittenberg. Ele também enviou essas teses ao cardeal Albrecht, de Mainz, assessor de Tetzel, incluindo o sermão sobre graça e indulgência. Nesse ele afirmou resumindo: “Sobre esses pontos eu não tenho dúvida alguma e são suficientemente fundamentados na Escritura”. O cardeal Albrecht encaminhou os documentos para Roma.
Um ano após a publicação das teses, Lutero foi convocado para um interrogatório em Augsburgo (outubro de 1518). O cardeal Caetano, que havia sido encarregado pelo papa, exigiu: “Revoca! Revoca! – Revogue!”. Mas Lutero não conseguiu pronunciar as seis letras REVOCO. Ele permaneceu firme nas provas das Escrituras.
Nove meses depois, aconteceu a discussão com o dr. Eck, em Leipzig (junho-julho de 1519). Nessa ocasião, Lutero respondeu à respectiva questão de que ele não reconhecia a autoridade do papa nem dos concílios. Essa foi a consequência obrigatória em razão do que ele havia escrito no seu sermão sobre graça e indulgência. Lutero já então havia assinalado o desvio e não podia nem desejava retroceder: somente a Escritura é a fonte da verdade e o direcionamento para a fé e para a vida.
Em 1520 surgiram os textos de Lutero: “Sobre o Papado em Roma”, “À Aristocracia Cristã da Nação Alemã”, “Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja”, “Sobre a Liberdade de Uma Pessoa Cristã”, sendo que todos eles, com base somente na autoridade da Escritura, rejeitam a autoridade do papa e ensinam sobre a justificação pela fé.
Em junho de 1520 Lutero recebeu a bula de exortação e condenação “Exsurge Domine”: “Levanta-te, ó Senhor, e julgue a tua causa, as raposas procuram destruir a tua vinha e um javali especialmente selvagem é quem a cuida”.
No dia 10 de dezembro de 1520 Lutero queimou a bula diante do Portão de Elster, em Wittenberg. Em janeiro de 1521 ele recebeu a segunda bula condenatória “Decet Romanum Pontificem”.
Diante de tudo isso, Lutero foi intimado pelo parlamento. Na noite de 18 de abril de 1521 ele compareceu diante do parlamento em Worms. Os livros, que haviam sido escritos por Lutero e que haviam sido lidos por toda a Alemanha, estavam expostos em uma mesa e Lutero foi obrigado a responder se ele reconhecia ser o autor desses livros e se ele estaria disposto a revogá-los. Sua resposta foi:
“Se eu não fui convencido pelos testemunhos das Escrituras e pelas claras bases sóbrias – pois não acredito nem no papa nem mesmo unicamente nos concílios, uma vez que estamos no dia em que eles erraram várias vezes e se contradisseram –, assim fui convencido em minha consciência pelas passagens das Escrituras Sagradas que mencionei e cativado na Palavra de Deus. Por isso não posso e não quero revogar nada, pois, fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável. Que Deus me ajude, amém!”.
A afirmação-chave foi clara: Lutero considerava somente uma autoridade, isto é, a da Bíblia. Todos precisam se curvar diante dela, todos precisam se avaliar com base nela, mesmo o papa e os concílios. Já na 62ª tese das 95, Lutero havia afirmado: “O Evangelho é o verdadeiro tesouro da Igreja...”.
Todavia, as teses foram escritas em latim e a intenção era que servissem de base para uma disputa científica entre colegas de ofício. Para o povo, Lutero escreveu o sermão sobre indulgência e graça no idioma alemão e ali consta a frase desrespeitada e problemática em referência às 18 teses formuladas no sermão: “Sobre esses pontos eu não tenho dúvida alguma e são suficientemente fundamentados na Escritura. Por isso vocês também não devem ter dúvidas. Deixem que os doutores escolásticos sejam escolásticos”.
O que eliminou todas as dúvidas? Onde Lutero encontrou tal certeza? O que ele havia escrito estava “suficientemente fundamentado na Escritura”. Aquilo que lemos na Escritura é vinculante, e é “suficiente”, basta! Não há necessidade de saber mais do que isso. Assim, que os escolásticos, os mestres da igreja, ensinem o que quiserem.
Essa frase continha teor explosivo que abalou o papado e o levou a ruir em vários países. Era uma frase com potencial ofensivo extremo: alguém estava afirmando que a Escritura seria a única norma a seguir. Isso foi um desafio aberto contra a obviedade do domínio absoluto da igreja do papa. Esta também reconhecia a autoridade da Bíblia. Além dela, no entanto, haveria mais duas fontes adicionais da verdade: as tradições e o ensino da igreja. E isso significava: a igreja decidia e determinava como a Bíblia deveria ser entendida.
Essa tese, de que unicamente a Escritura determina e fundamenta a verdade, foi a que deu início ao processo de inquisição, o qual concluiu, primeiramente, que Lutero fosse banido pela igreja e, posteriormente, perdeu o reconhecimento diante do país.

A igreja do papa reconhecia a autoridade da Bíblia. Além dela, no entanto, haveria mais duas fontes adicionais da verdade: as tradições e o ensino da igreja. E isso significava: a igreja decidia e determinava como a Bíblia deveria ser entendida.
Esse foi o motivo do incômodo, e assim permaneceu até hoje: somente a Bíblia e a Bíblia para todas as questões. Essa verdade serviu de tropeço para os da era antiga, da nova, da moderna e da pós-moderna. Ela serve de tropeço para ateus e piedosos, para pensadores e para os que nunca pensam – para todos. Isso é algo insuportável para todos: uma verdade absoluta, ilimitada e imutável, disponível por escrito e formulada claramente, compreensível para todos. Somente a Bíblia e nada mais além dela.
E para nós, o que significam essas verdades proclamadas por Lutero e também por Martin Bucer, Ulrico Zuínglio e Heinrich Bullinger, João Calvino e Guilherme Farel, John Knox, incluindo os anabatistas Balthasar Hubmaier, Michael Sattler, Menno Simons e outros pregadores do século XVI? Estamos vivendo numa época em que se procura igualar todas as diferenças entre as religiões e confissões.
Vivemos em uma época em que se evita imediatamente assumir um posicionamento claro ao distinguir entre verdade e erro. Pertencemos a uma geração em que as igrejas protestantes fazem de tudo para ter boas relações com a igreja católica romana. Em 31 de outubro de 1999, teólogos protestantes e seus colegas católicos assinaram uma declaração, em Augsburgo, na qual ambas as confissões aparentemente creem e defendem a mesma doutrina sobre a justificação.
E hoje, no país da Reforma, os mais altos representantes das igrejas católicas e das evangélicas deverão comemorar juntamente o Jubileu da Reforma. Foi o que afirmou ninguém menos do que o presidente do Conselho das Igrejas Evangélicas da Alemanha, o bispo Bedford-Strohm, que visitou pessoalmente o papa em Roma com a finalidade de convidá-lo para participar.
A pressão do espírito da época é imensa e a tendência ecumênica está cada vez mais forte. Quem se opõe a essa tendência é considerado inimigo do cristianismo, como inimigo da paz e, finalmente, como inimigo das pessoas. Pois hoje a ampla maioria acredita que todas as barreiras religiosas e das maneiras de ver o mundo deveriam ser rompidas e todas as diferenças separatistas deveriam ser igualadas. Considera-se que a Reforma provocou uma cisão na igreja e discussões dogmáticas que culminaram em guerras religiosas.
No entanto: o que diz a Escritura?
“Pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb 4.12). “Deus é luz; nele não há treva alguma” (1Jo 1.5). “Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente? Que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos? Pois somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus: ‘Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo’ Portanto, ‘saiam do meio deles e separem-se’, diz o Senhor. ‘Não toquem em coisas impuras, e eu os receberei’” (2Co 6.14-17). “Então ouvi outra voz dos céus que dizia: ‘Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam! Pois os pecados da Babilônia acumularam-se até o céu, e Deus se lembrou dos seus crimes’” (Ap 18.4-5).
Essas são divisões firmes, claras diferenças, ordens inequívocas. O evangelho é a Palavra de Deus e, assim, a única e exclusiva fonte da verdade. Somente na Bíblia a pessoa encontra a compreensão a respeito da salvação. Cristo é o Salvador das pessoas, e ninguém mais. Somente por meio da graça a pessoa recebe perdão, justificação e, assim, a vida. Sobre essas verdades comprovadas na Bíblia não existe barganha. Precisamos nos afastar de pessoas que não ensinam ou defendem essas verdades.
Qual é a nossa resposta à herança da Reforma? Podemos responder à Reforma ao nos colocarmos decididamente contra as opiniões e poderes da época, do mesmo modo como os reformadores o fizeram. Ao contestarmos decididamente as ideias dos líderes da filosofia, da religião e da política. Quando estamos decididos a defender a verdade que Deus nos revela no Evangelho, a ensiná-la e a proclamá-la da maneira como Deus nos ajuda a fazê-lo. Essa é a ordem que recebemos.
A Escritura é soberana. Tudo precisa se submeter ao seu julgamento. Tudo o que a Escritura ensina é a verdade coerente. O cristão verdadeiro reconhece, a exemplo do que fez Lutero em Worms, que ele “foi convencido pelo testemunho da Escritura”. E a Escritura comprova: Cristo o chamou, justificou e santificou. Em Cristo ele é uma nova criatura (2Co 5.17), uma criação de Deus (Ef 2.10). Não é ele quem vive agora, mas é Cristo quem vive nele (Gl 2.20). Ele foi “convencido em sua consciência, cativado na Palavra de Deus”. Ele foi convencido pela verdade de Deus e, assim, convencido, vencido e dominado pelo próprio Deus. Ele não mais pertence a si mesmo (1Co 6.19).
“Quando aquele um, que é maior do que Satanás, ataca e vence a este, então passamos ao domínio desse mais forte. Então igualmente seremos dominados, prisioneiros do Espírito Santo... Então, desejaremos e faremos de boa vontade aquilo que Deus quiser.”
A doutrina tem prioridade, isto é, a verdade bíblica sobre Deus, a pessoa e a salvação. Lutero compreendia que tudo dependia da doutrina. Em seu trabalho e anseios ele não se preocupava com a decadência dos costumes e da perdição do clero romano e do papa, mas com a doutrina corrompida do sistema romano. Com a clareza própria de Lutero, ele declarou:
“A vida está ruim tanto para nós como para os do papa. Por isso, não discutimos por causa da vida, mas por causa da doutrina”.
A doutrina era o que importava. É o que aprendemos da Bíblia. Depois que as pessoas se converteram após ouvirem a pregação do evangelho, no dia do Pentecostes, elas permaneceram firmes na doutrina dos apóstolos (At 2.42), pois a tarefa dos cristãos era pregar e defender o evangelho. A igreja é a coluna e o fundamento da verdade (1Tm 3.15). Ela existe para sustentar a verdade da salvação em Cristo e mantê-la efetivamente na doutrina e na pregação. Paulo escreveu a Timóteo: “Ordene e ensine essas coisas. Ninguém o despreze pelo fato de você ser jovem, mas seja um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza. Até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura, à exortação e ao ensino... Atente bem para a sua própria vida e para a doutrina, perseverando nesses deveres, pois, agindo assim, você salvará tanto você mesmo quanto aos que o ouvem” (1Tm 4.11-16).
Se a igreja não mantiver essas orientações, ela perdeu seu objetivo e perdeu a razão de ser. Ela se degenera tornando-se um “clube social” ou, como Martyn Lloyd Jones o definiu certa vez, uma associação de lazer. Ou se torna um fórum de discussões para troca de ideias sobre as múltiplas possibilidades da vida religiosa e de estilos de vida piedosa, o que seria uma das características de nossa civilização. Uma igreja dessas vendeu sua alma, tornou-se uma prostituta espiritual.
São essas as alternativas. Nós, que pertencemos à noiva eleita de Cristo, permanecemos firmes no evangelho de Deus, nos separamos de todos que diluem, adaptam e reinterpretam o evangelho. O próprio Deus nos ordenou:
“Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente? Que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos?” (2Co 6.14-16).
Ou seguimos com crescente anseio em direção ao grande dia das bodas do Cordeiro, ou adaptaremos o evangelho ao gosto das pessoas e praticamos prostituição com o príncipe dessa era. A grande prostituta será condenada nos juízos que em breve se abaterão sobre o globo terrestre.
A doutrina precisa ser pregada. A verdade sobre a salvação em Cristo precisa ser divulgada. Foi Deus que determinou isso, que a justificação ocorre somente por meio de Cristo e somente pela fé. Por essa razão, Cristo e a salvação conquistada por ele na cruz precisam ser proclamados; pois Deus providenciou a Palavra como o único meio que proporciona a salvação: “Consequentemente, a fé vem por se ouvir a mensagem, e a mensagem é ouvida mediante a palavra de Cristo” (Rm 10.17; cf. Jo 17.20).
Heiko Oberman escreveu na biografia sobre Lutero: “A Reforma conseguiu penetrar tão profundamente no povo porque Lutero descobriu uma surpreendente consequência do princípio da Escritura: ela precisa ser pregada”.
Em seus escritos “Contra os Profetas Celestes”, de 1525, Lutero escreveu sobre a necessidade de proclamar a Palavra: “A Palavra, a Palavra, a Palavra o faz. Mesmo que Cristo fosse entregue e crucificado mil vezes em nosso lugar, tudo seria em vão se a Palavra de Deus não tivesse vindo, repartido comigo e me presenteado, e tivesse dito: isso é para você; tome-o e guarde-o para si”.
A Palavra de Deus e a verdade estão sempre em oposição aos desejos das pessoas. Por isso surgem lutas. Precisamos, no entanto, tentar compreender o efeito da resposta de Lutero diante do parlamento. Ela foi um prenúncio de luta, uma declaração de guerra contra a ordem que estava em vigor desde o início da Idade Média: a igreja era representante do céu e o imperador era responsável pelo governo do mundo. O que o mundo deseja é ordem, paz e bem-estar, mas ele quer tudo isso sem Deus, e sem a sua verdade. Lutero falou as seguintes palavras contra isso diante do parlamento reunido:
“Para mim... de todos os aspectos, o mais aceitável é que surgem ciúmes e brigas por causa da Palavra de Deus. Aliás, essa é a tendência, o efeito da Palavra de Deus conforme o próprio Cristo diz: eu não vim para trazer paz, mas espada”.

O que o mundo deseja é ordem, paz e bem-estar, mas ele quer tudo isso sem Deus, e sem a sua verdade.
Acontece que a Palavra de Cristo, o evangelho da salvação, é a espada, e isso transforma em inimigos os membros da uma mesma família, e os que até então eram amigos em opositores. No entanto, esta Palavra é o poder de Deus para a salvação. Por isso ela deve ser testificada, mesmo que isso conduza inexoravelmente à indignação e controvérsia.
Quatro anos após os acontecimentos em Worms, Lutero escreveu para Erasmo, esse intelectual proeminente que sabia equilibrar tudo respeitosamente, a esse talvez maior humanista que se esforçava ao máximo para não causar brigas e inquietações:
“Com o seu conselho, você [Erasmo] pretende determinar que, por consideração ao papa e aos maiorais ou em favor da paz na terra, deixemos temporariamente de proclamar a verdade. [...] Você não leu ou não observou que desde sempre o destino da verdade foi de causar revolução no mundo? Foi isso que também Cristo afirmou, quando disse abertamente: ‘Não vim trazer paz, mas espada’ (Mt 10.34). E mais: ‘Vim trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso!’ (Lc 12.49). [...] Leia em Atos dos Apóstolos! Veja tudo o que aconteceu apenas porque Paulo pregou! O quanto esse homem conseguiu motivar gentios e judeus! O quanto ele movimentou toda a terra! Foi o que disseram até os seus inimigos (At 17.6)”.
Devemos manter a verdade escondida somente para que tenhamos calmaria e para salvar a paz no mundo? Trata-se da única mensagem de salvação; trata-se do destino de almas; trata-se, acima de tudo, da glória de Deus.
Lutero sabia o que dizer se fosse acusado diante do parlamento, e ele sabia claramente das devidas consequências. No dia 29 de dezembro de 1520, ele escreveu para Georg Spalatin:
“Um chamado do imperador significa que sou chamado por Deus. E mais: se eles usarem de violência contra mim, o que é muito provável, [...] então preciso confiar tudo às mãos do Senhor. [...] Nesse caso não se pode levar em conta o perigo ou bem-estar; nesse caso permanece uma só preocupação: que nós não nos descuidemos do evangelho com o qual aqui comparecemos, permitindo que sejamos zombados pelos ímpios, que não demos motivo de vitória para nossos inimigos como se não ousássemos professar livremente nossa doutrina, que não tenhamos medo de derramar nosso sangue em favor do evangelho. Que Cristo, em sua misericórdia, nos resguarde de tal covardia e de uma tal vitória deles. Amém!”.
Quando Lutero esteve diante do imperador, ele sabia que este precisaria apenas falar uma palavra e o herege seria preso e encaminhado para Roma. E isso teria sido o seu fim.
Cremos que somente a Bíblia é a Palavra de Deus e que somente o evangelho de Deus é o poder de Deus para a salvação? Se for assim, então também estamos dispostos a pôr nossa cabeça a prêmio por ela.
Todos os servos de Deus precisaram enfrentar a batalha pela verdade da Bíblia e do evangelho bíblico. Vejamos isso rapidamente na vida de John Knox, Heinrich Bullinger e do pastor Wilhelm Busch.
John Knox, o reformador na Escócia, nasceu em 1514 e faleceu em 1572. Pelas suas incansáveis viagens e pregações através de todos os recantos da Escócia, a Reforma se espalhou e, em 1560, a igreja escocesa assumiu uma confissão de fé reformada na Confessio Scoticana. A Escócia se tornou um Estado protestante. Todavia, havia inimigos convictos contra a Reforma:
Maria Stuart foi da França para a Escócia a fim de, na condição de rainha, reintroduzir a fé católico romana. No dia 24 de agosto de 1561, em seu primeiro domingo em solo escocês, ela mandou celebrar a missa no Palácio de Holyrood, em Edimburgo. Diante disso, John Knox não conseguiu se calar; na primeira oportunidade, “no domingo após o primeiro ato da monarquia em Holyrood, os moradores de Edimburgo ouviram o sonoro tom de fanfarra da sua voz, falando do púlpito: ‘Uma missa é mais terrível do que se o reino tivesse sido invadido por dez mil inimigos armados’”.
A ideia de Knox a respeito da missa ele já havia inserido na Confessio Scoticana, a confissão de fé escocesa. Ali, no capítulo 23, consta: “Essa doutrina é uma ofensa a Cristo Jesus e uma negação da suficiência do seu sacrifício salvador único [...] por esse motivo nós a detestamos ao máximo, a odiamos e a rejeitamos”.
Toda a sua vida estava marcada por testemunhos de alerta contra a missa: “Quero prestar contas por constantemente explicar que a missa é, e sempre foi, um culto idólatra e uma abominação [...] a idolatria mais abominável praticada desde o início do mundo”.
Joseph Chambon avalia a julgamento do reformador escocês com as seguintes palavras: “A ideia de que uma pessoa possa se atrever [...] por meios próprios, tornar concreto o Santo Deus em Cristo, para adoração dessa substância pela igreja, para constantemente repetir a morte vicária de Cristo na cruz em todo seu valor e efeito através dessa matéria, faz com que seu sangue ferva incessantemente. Para definir a vida de Knox se poderia escrever: ‘O zelo pela tua casa me consome’. O fato de que o protestantismo de nossos dias mal compreende o horror diante da missa, ou é algo que fala em favor da missa, a qual não se modificou, ou fala contra o protestantismo, que estaria modificado”.
Knox foi imediatamente acusado perante a rainha e convocado a se responsabilizar. Ela percebeu já no começo que Knox não aceitava negociar. A rainha declarou: “Eu entendo – meus súditos devam obedecer a você e não a mim!”.
Knox lhe respondeu: “Eu me esforço, majestade, para que autoridades e súditos obedeçam a Deus”.
A rainha: “EU!”
Knox: “Obra de Deus!”
A seguir, a jovem e, como consta, bela e encantadora rainha tentou comover o pregador do evangelho com suas lágrimas.
Knox: “Eu preciso antes, mesmo contrariado, suportar as lágrimas de sua majestade do que ousar ferir minha consciência”.
Resultado: ódio incansável e mortal dessa fina dama contra um pregador do evangelho. Ela tentou, por todos os meios, eliminá-lo do mundo. No entanto, nada deteve John Knox. Por isso Joseph Chambon fala da “vontade quase terrivelmente imprevisível e obstinada do homem John Knox em varrer a falsa doutrina romana e de implantar a fé evangélica para a salvação em todo o país”.
Lancemos o olhar sobre o segundo centro de Reforma, em Zurique. Heinrich Bullinger (1504-1575) era o colaborador 20 anos mais jovem de Ulrico Zuínglio. Após a morte deste, continuou com a implantação da Reforma e a consolidou. Em 1567, nove anos antes de sua morte, publicou uma detalhada apresentação da Reforma na Suíça, sob o título “História da Reforma”. No prefácio, ele escreveu as seguintes frases sobre o objetivo de sua “História da Reforma”:
“Aqui o leitor [...] verá claramente o que a cidade de Zurique suportou em termos de trabalho, agitação, custos, medo e dificuldades antes da Palavra divina ou a proclamação do santo evangelho ter sido amplamente divulgado na confederação. [...] O leitor encontrará muitas obras maravilhosas de Deus, principalmente a tremenda luta da verdadeira religião contra a falsa, assim como também conhecerá as duas. Além disso, quem tem um coração sério [...] vai adquirir e carregar uma eterna animosidade contra a falsa religião”.
Por fim, um exemplo de épocas mais recentes. O pastor evangélico Wilhelm Busch (1897-1966) era um dos poucos cristãos a exercer oposição ao Partido Nacional Socialista. Em 1935, ele escreveu um panfleto com o título: “A Tua Palavra é a Resistência do Nosso Coração: Um alerta para a cristandade evangélica”. Entre outros, nele constava o seguinte:
“A verdadeira igreja de Jesus Cristo não é uma companhia de seguros, mas um acampamento militar. [...] Novamente surgiram forças de paganismo entre nosso povo e que enfrentam o evangelho. [...] Um novo paganismo se levanta como uma tempestade, cheio de ódio contra o evangelho da Bíblia. [...] Nós, no entanto, atacamos o paganismo moderno. Por quê? Atacamos o paganismo por causa de sua idolatria”.
Busch foi intimado pela Gestapo. No dia 17 de maio de 1935 ele declarou para o protocolo da Gestapo: “Eu redigi o folheto ‘A Tua Palavra é a Resistência do Nosso Coração’ porque, como pregador da Palavra de Deus, estou comprometido em alertar nossas igrejas contra todas as doutrinas de homens, que as afastam de Cristo”.
O evangelho nos transforma em escravos de Deus. Enquanto éramos pecadores não estávamos livres; também como redimidos não somos livres. Enquanto éramos pecadores, estávamos presos no pecado e na morte e, assim, estávamos livres da justiça (Rm 6.20). Sendo salvos, estamos libertos do pecado e da morte e, assim, escravos da justiça (Rm 6.18).
Sendo escravos de Cristo, temos a obrigação de obedecê-lo. Temos a obrigação hoje perante o povo de Deus de guardar, defender e ensinar a verdade do evangelho, aconteça o que acontecer. Hoje temos a obrigação, diante de nossos concidadãos, de lhes transmitir a mensagem salvadora da redenção de modo legítimo e sem cortes. E isso significa: Sola scriptura; o que, por sua vez, significa: a Escritura é inequívoca, a Escritura é clara, a Escritura é suficiente e a Escritura é eficaz.
O que impulsionou os testemunhos da época da Reforma e um pastor Wilhelm Busch, e o que deve nos impulsionar, é o imenso e insuperável anseio:
Soli Deo gloria! – A Glória seja dada unicamente a Deus! — Benedikt Peters