sexta-feira, 12 de julho de 2019

Qual o papel do sofrimento?


Qual o papel do sofrimento?

Daniel Lima
Nesta última semana estive lendo o livro de Jó. Todos conhecemos a história. Jó era um homem bom e fiel, mas Deus permite que Satanás faça todo tipo de maldade contra ele. Após tragédias gigantescas em sua vida, três amigos chegam para trazer consolo. Nessa leitura, um dos conselhos dados pelos amigos de Jó saltou aos meus olhos e me fez parar para refletir sobre o tema do propósito do sofrimento. Trata-se da palavra de Bildade registrada em Jó 8.5-6:
5Mas, se você procurar a Deus e implorar junto ao Todo-poderoso, 6se você for íntegro e puro, ele se levantará agora mesmo em seu favor e o restabelecerá no lugar que por justiça cabe a você.
A primeira parte da sentença faz todo sentido, pois estimula Jó a procurar a Deus e implorar. No entanto, a segunda parte revela uma distorção tão comum e frequente. Apesar de bem-intencionadas, as palavras do amigo de Jó mostram sua percepção de uma relação meritória com Deus. Começa com a condição de sermos íntegros e puros e se torna ainda mais evidente com a expressão “restabelecerá no lugar que por justiça cabe a você”, acrescentando ainda que Deus fará isso “agora mesmo”.
Vamos ver estes desvios com cuidado. Primeiramente, a palavra de Bildade indica uma percepção de que integridade e pureza tornam a pessoa merecedora de algo em troca. Nesta perspectiva, diante da integridade e da pureza, Deus se vê obrigado a vir em favor da pessoa. Esta é a razão da bondade de Deus (o que automaticamente deixa de ser bondade e passa a ser “pagar o que é devido”). Pensando assim, Deus é obrigado a, diante de minha justiça, me abençoar. O apóstolo Paulo trata deste tema em sua autoavaliação, em Filipenses 3.2-11. Ele afirma no verso 4 que, “se alguém pensa que tem razões para confiar na carne, eu ainda mais”. Porém, Paulo rapidamente afirma que o que para ele era lucro ou razão de mérito tornou-se como lixo; ou seja, suas realizações de “justiça” não lhe atribuíam nenhum mérito.
Se você já fez uma avaliação profunda e sincera de seu coração, você também treme ao pensar em Deus fazendo justiça com base na sua integridade ou pureza.
Em segundo lugar, Bildade desenvolve a ideia de que Deus colocará alguém no lugar que “por justiça” lhe é devido. Mais uma vez vemos uma imagem de um Deus subserviente ou obrigado a restaurar a alguém por causa de sua justiça pessoal. Com frequência vemos isso tanto em cânticos como em pregações. Esta é uma relação mercantilista, onde Deus é obrigado a cumprir seu lado do negócio. É algo como: “Eu fiz minha parte sendo justo, agora Deus tem que fazer a parte dele me restabelecendo à posição que é minha por justiça”. Percebe a arrogância deste pensamento? Paulo compreende que não pode – nem deve – se apoiar em sua própria justiça. Nos versos 8 e 9 ele afirma:
8... para poder ganhar Cristo 9e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da Lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé.
Repare que Paulo não confia em sua própria justiça. Se você, como eu, já fez uma avaliação profunda e sincera de seu coração, você também treme ao pensar em Deus fazendo justiça com base na sua integridade ou pureza. O que queremos é misericórdia. O que pode nos salvar é justamente a justiça de Cristo, mediante a fé.
Você, eu e a maioria dos seres humanos, diante de um problema, com frequência reage perguntando “onde foi que errei”? Isso faz um certo sentido, pois geralmente nos envolvemos em problemas que nós mesmos criamos, mas a Bíblia aponta inúmeras vezes em que homens e mulheres de Deus se deparam com problemas e sofrimentos que não têm nenhuma relação direta com erros e deslizes seus. Se não é por decisões tolas de nossa parte, e se cremos que nosso Deus é soberano sobre todos os detalhes, por que, então, sofremos?
Nos próximos artigos eu gostaria de examinar situações em que a Bíblia registra homens e mulheres que sofreram (em alguns casos até a morte), sem que isso fosse consequência de erros seus. Ou seja, Deus permitiu que sofressem por motivos superiores. Minha esperança é que, ao olhar estes santos de Deus enfrentando desafios, possamos compreender melhor os propósitos de Deus e sermos estimulados a manter nossos olhos fixos no autor e consumador de nossa fé.

O Segredo do Povo de Israel


O Segredo do Povo de Israel

Fredy Peter
Em Jeremias 31 Deus esclarece que Israel permanecerá sendo o seu povo enquanto houver sol, lua e estrelas (v. 35-36). Esse capítulo é um dos argumentos mais fortes sobre a eleição permanente do povo judeu.
Mark Twain (1835-1910), escritor que viajou pelo mundo, escreveu em 1899: “Se as estatísticas forem corretas, os judeus compõem apenas um por cento da humanidade – uma faísca insignificante diante do brilho da Via Láctea. Normalmente não se deveria nem ouvir algo do judeu, mas mesmo assim ouvimos no passado e hoje continuamos ouvindo sobre ele. A sua fama pode crescer como qualquer outro país do mundo, e sua importância para a economia e comércio de modo nenhum está relacionada com seu número de habitantes. Sua contribuição para a lista de grandes nomes da literatura, ciência, artes, música, sistema financeiro, medicina e do profundo pensamento é igualmente admirável. Ele se portou de modo grandioso durante vários séculos neste mundo – e isso com as mãos amarradas nas costas. Com razão ele poderia estar orgulhoso e vaidoso com isso. Os egípcios, babilônios e persas assumiram o poder, encheram a terra com seu brilho, mas o som deles naufragou. Na sequência os gregos e romanos seguiram, fizeram muito barulho e desapareceram. O judeu viu a todos, os venceu e hoje é aquilo que ele sempre foi; não apresenta decadência, nem envelhecimento, nem fraquezas, nem diminuição de energia, nem deficiências em sua vigilância e em seu espírito dinâmico. Todas as coisas são mortais, menos os judeus; todas as forças se esvaem, mas ele permanece. Qual é o segredo de sua imortalidade?”.
O segredo está na eleição e na vocação de Israel pelo único, verdadeiro e eterno Deus vivo! “Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí” (Jr 31.3 RA).
Os versículos 31 a 40 de Jeremias 31 estão entre os mais maravilhosos de todo o Antigo Testamento. Eles mostram que, mesmo em tempos de muita dificuldade e opressão, Israel está seguro nas mãos de Deus.
Deus promete ao seu povo:
Uma nova aliança: “‘Estão chegando os dias’, declara o Senhor, ‘quando farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá’”.
Renovação espiritual: “Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações”.
Renovação nacional: “Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo”.
Renovação jurídica: “Porque eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados”.
Renovação da segurança: “‘Se os céus em cima puderem ser medidos, e os alicerces da terra embaixo puderem ser sondados, então eu rejeitarei os descendentes de Israel”.
Renovação topográfica: Jerusalém “será reconstruída para o Senhor... A cidade nunca mais será arrasada ou destruída”.
Todas essas afirmações com certeza serão cumpridas. Israel não desaparecerá!
Assim como acontecerá com Israel, assim também Jesus Cristo, com toda a certeza, chegará ao alvo conosco e com a nossa vida (cf. Fp 1.6). Podemos confiar que “Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam” (Rm 8.28) e que nada “será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39).

quinta-feira, 11 de julho de 2019

O Deus que torna mal em bem


O Deus que torna mal em bem

Daniel Lima
É impressionante como um período de sofrimento parece eterno para quem o está atravessando, mas para quem olha de fora é mais fácil ter uma perspectiva mais real. Lembro-me bem do período em que lutei com uma depressão, fruto de não liberar perdão. Foi quase um ano em que nada me animava; durante o dia eu ansiava pela noite, para dormir, e durante a noite eu ansiava pelo dia, para poder sair da cama... Pareceu uma eternidade, um tempo sem fim. No entanto, foram apenas alguns meses.
Este é o terceiro artigo sobre sofrimento. No primeiro escrevi sobre a realidade do sofrimento e como sofrer sem entender a razão tem o poder de nos tornar mais sábios ou mais amargos (leia “Qual o papel do sofrimento?”). No segundo comecei a estudar a vida de José, que sofreu a traição de seus irmãos de forma totalmente desproporcional a qualquer atitude arrogante que pudesse ter tido: foi vendido como escravo e levado ao Egito (leia E agora, José?).
Escravos eram bens valiosos e, muito embora vivessem em condições precárias, José teve a sorte de ser comprado por um oficial do Faraó (Gênesis 37.36). Potifar era certamente um membro da nobreza militar do Egito. Homem de influência e riqueza. É evidente que a condição de José, ainda que escravo, foi privilegiada. Gênesis afirma que ele passou a morar na casa do seu Senhor. Não só se tornou um escravo da casa, ao invés de um escravo do campo, mas também era bem-sucedido no que fazia, ao ponto de que o próprio Faraó passou a confiar nele. A Bíblia deixa claro que isso ocorria porque “o Senhor estava com José”. Esta confiança do patrão foi recompensada e tudo que era seu prosperava.
Contudo, mais uma vez Deus permite que José seja enredado em uma trama perversa (Gênesis 39). Desta vez a esposa de Potifar tenta seduzi-lo. Registros históricos mostram que esta situação não era tão rara. Nesta sociedade pagã da Antiguidade, senhores (e senhoras) mantinham relações sexuais com escravos selecionados. No entanto, José se nega a trair a confiança de seu senhor e de seu Deus. Em determinado dia a senhora cria uma situação e, sendo rejeitada, acusa José injustamente de assédio.
Por que nos surpreendemos quando sofremos injustiças? Deveríamos nos preocupar se o mundo não nos confrontar.
Mesmo um escravo qualificado não tinha nenhuma credibilidade diante da senhora da casa. José é enviado para a prisão. Ali também o “Senhor estava com ele”, e ele é encarregado da administração da prisão. Algum tempo depois ele interpreta corretamente os sonhos de dois oficiais do rei. Muito embora ambas as interpretações se cumpram, e mesmo tendo pedido por intervenção do chefe dos copeiros, José é mais uma vez esquecido na prisão. Mais dois anos se passam antes de José ser chamado a interpretar os sonhos do Faraó e ser erguido à posição de governador do Egito. Nesta condição, mais uma vez ele é bem-sucedido e prospera em sua função.
Mais alguns anos se passam até que seus irmãos venham comprar comida no Egito. Nesta ocasião José testa seus irmãos forçando-os a trazer o irmão mais novo, Benjamim, na próxima viagem, enquanto mantém Simeão como refém. Na segunda vinda ele mais uma vez testa os irmãos, mas acaba por se revelar e promove a vinda e a instalação do pai e do restante da família ali no Egito. É uma história impressionante e complexa. As reações são muito humanas – a ponto de não deixar dúvidas de se tratar de uma história real. Nosso foco, no entanto, é em como José encarou seu sofrimento e que lições podemos tirar desta história.
  1. Primeiramente, não resta dúvidas de que o sofrimento de José não foi causado por ele. O relato afirma repetidas vezes que Deus estava com José. Embora se possa vislumbrar alguma arrogância em sua juventude, não há nenhum indício desta em sua idade adulta. Pode-se imaginar que a experiência de ser vendido como escravo transformou sua atitude de uma vez por todas.
  2. As injustiças que José sofreu foram resultado do mundo em pecado. Como cristãos, não deveríamos ficar surpresos com o sofrimento que o mundo nos causa. O apóstolo Paulo escreveu com clareza: “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Timóteo 3.12). Por que então nos surpreendemos quando sofremos injustiças? Deveríamos nos preocupar se o mundo não nos confrontar.
  3. José continuou servindo a Deus mesmo em meio a condições injustas e indignas. Ele sabia quem era seu Salvador e Sustentador. Após a morte do pai, quando seus irmãos ficaram temerosos do que José podia fazer, ele faz uma declaração que indica duas verdades: “Não tenham medo. Estaria eu no lugar de Deus? Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos. Por isso, não tenham medo. Eu sustentarei vocês e seus filhos” (Gênesis 50.19-21).
Primeira verdade: vocês planejaram o mal... Reconhecer que sofremos a injustiça é o primeiro passo do perdão. Infelizmente, quando ouvimos alguém se queixar de uma injustiça, queremos minimizar o ocorrido procurando dizer que “quem sabe o outro não percebeu? Quem sabe foi sem querer?”. É importante reconhecer que sofremos injustiças, mesmo de outros cristãos; caso contrário, vamos continuar tentando nos convencer de que o engano foi meu, que eu não entendi o que aconteceu... Embora isso possa ocorrer, às vezes pessoas (mesmo família ou cristãos) planejam o mal contra nós.
José continuou servindo a Deus mesmo em meio a condições injustas e indignas. Ele sabia quem era seu Salvador e Sustentador.
Segunda verdade: Deus é soberano e ele torna o mal em bem! Esta é nossa grande esperança em um mundo caído. Sim, vamos sofrer injustiças; sim, sofreremos as atitudes de um mundo caído. No entanto, podemos confiar em um Deus que torna o mal em bem, que lida com o pecado daqueles que pecaram contra nós.

Minha oração é que diante do sofrimento que Deus tem permitido contra nós, nosso coração não fique amargurado, mas confie naquele que pode tornar o mal em bem. Pessoalmente, eu acredito que era devido a esta crença que “Deus estava com José”, mesmo no fundo da prisão.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

A Respeito das Dificuldades


1.
As dificuldades que você enfrenta podem ser ocasionais, periódicas ou constantes. Repare no que registra Lucas a propósito da tentação de Jesus: “Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno” (Lc 4.13). As dificuldades periódicas estão relacionadas com certas mudanças fisiológicas. Por exemplo, a maioria esmagadora dos crimes femininos é cometida durante períodos de menstruação, gravidez e menopausa. Já a esperança de algo como o espinho na carne a que se refere Paulo (2 Co 12.7-10), produz uma dificuldade permanente.
2.
Você adquire sabedoria para enfrentar as dificuldades se souber a origem delas. Não se esqueça de que “o mundo inteiro jaz no maligno” (1 Jo 5.19). Esta é uma informação das mais preciosas. A Bíblia diz que Satanás é o homem forte do sistema, “o príncipe da potestade do ar”, aquele que atua sobre “os dominadores deste mundo tenebroso” (Ef 2.2; 6.12). Isto quer dizer que a estrutura toda está danificada e o ambiente no qual você vive é hostil. Dele fazem parte a mentira, a injustiça, a maldade, a violência e coisas semelhantes. O curso deste mundo não o ajuda em nada.
3.
Outro forte gerador de dificuldades é o seu próprio pecado, “pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7). Jamais esqueça desta lei natural e implacável. Talvez você estranhe e veja nisto alguma injustiça, mas o pecado dos outros também o atinge. Não é difícil tomar consciência deste fato. O pai que peca infelicita os filhos; o legislador que redige leis em causa própria prejudica o povo; o governante que se corrompe perturba a nação; o empregador que explora oprime o trabalhador. E o que estes fazem contra aqueles produz o mesmo resultado, pois vivemos todos em sociedade.
4.
A maneira como você enfrenta as dificuldades é muito importante. Há soluções inadequadas, que complicam e endurecem os problemas. São soluções acatadas e difundidas pelo mundo, mas contrárias ao espírito do cristianismo. Se o casamento vai mal, a solução cristã não é a separação dos cônjuges, mas a aplicação dos princípios básicos contidos nas Escrituras Sagradas. Se alguém o maltrata, a solução cristã não é a prática da vingança, mas a entrega da ofensa e do ofensor nas mãos de Deus, para que Ele mesmo, em dose certa, exerça a justiça. E assim por diante.
5.
Entre as soluções adequadas estão a paciência, a absoluta confiança em Deus, a capacidade de esperar – “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5) -, a saúde do espírito e,sobretudo, aquilo que é bom chamar de cordão umbilical. Este cordão é o que liga positivamente a Deus. Por meio dele você recebe a vida, energia, força, poder e virtude. Jesus Cristo menciona isto na reunião de despedida, e usa outra figura: “Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim” (Jo 15.4).
6.
Para que as dificuldades sejam mais leves, menos resistentes e mais passageiras, evite certos sentimentos muito comuns, mas terrivelmente nocivos. Não generalize, não seja ingênuo, não se revolte, não acredite em varinha de condão, não traga para o presente a lembrança de aflições já passadas, não fique ansioso e não tenha pena de você mesmo. Faça como Paulo: “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13-14). Esqueça e avance!
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