sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Ira & Pânico

 


Ira e Pânico: Grandes Marcas dos Discípulos de Jesus?

Parece que em nossa sociedade começa a prevalecer o “mistério da iniquidade”. Alguns cristãos reagem a isso com ira, medo e pânico, mas há um caminho melhor.

Quem veste uma máscara de proteção é como alguém que nega a fé e aceita o número 666. A essa crassa conclusão chegou um pastor americano de Montana diante da obrigatoriedade do uso de máscara que as autoridades impuseram por causa do coronavírus. Milhões leem suas ideias na internet. O que ele diz é muito mais divulgado do que aquilo que dizem os supostos porta-vozes e líderes do evangelicalismo americano. O medo se dissemina e, com ele, seus irmãos pânico e ira. O Twitter está cheio disso, e regularmente recebo circulares acusando a sociedade e a igreja de estarem cada vez mais ímpias, alertando para tudo o que nos estaria sobrevindo e contra o que nos deveríamos prevenir. Muitas das conclusões que os crentes extraem dos acontecimentos atuais se justificam. Eu mesmo também já alertei nesta revista a respeito de um possível período de perseguição, mas mesmo assim... Ao ler essas numerosas circulares, geralmente via e-mail, quando acompanhei no Twitter e em blogs as batalhas entre cristãos de direita e todos os outros, pareceu-me olhar para um espelho – e não gostei do que vi.

Será que pretendo ser visto em público como alguém que defende o medo e o horror?

“Espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?” – Não, eu certamente não sou o campeão! A constante artilharia dos meus irmãos cristãos me causou repulsa, embora em termos da questão básica eu geralmente concordaria com eles. Mas a estridência do tom e a hostilidade (consciente ou não) contra todos os que não são como nós era e é desgastante. Há muito calor, mas onde está a luz? Nosso Senhor Jesus diz: “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (Jo 13.35). O amável leitor me perdoe este comentário, mas quando se observa a enxurrada de textos que jorram através da internet em nome de Jesus, parece antes que deveríamos prover uma triste correção: “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se disseminarem entre vocês pânico, ira e medo”.

Os apóstolos escreveram aos cristãos que se subordinassem às autoridades (o governo universal unificado romano) e que orassem por elas para que pudessem levar uma vida quieta e tranquila, com toda honestidade e piedade.

O espelho com que os meus certamente sinceros irmãos me defrontaram revelou a minha posição: será que pretendo ser visto em público como alguém que defende o medo e o horror? Se já me repulsa o desespero daqueles com quem no fundo concordo, como então será com aqueles que tiverem outra visão ou que ainda estão perdidos, se sentem atropelados pelo vocabulário religioso e só conseguem extrair daí a ideia de que esses cristãos me odeiam e desprezam junto com tudo o que é valioso para mim – mesmo se a intenção nem era essa?

O negócio do medo prospera. Embora quem gritar mais e se expuser mais janela afora seja desprezado pela “elite” do mundo cristão, ainda assim a pessoa conquistará muitos seguidores, fãs, leitores e adeptos. É compreensível. O homem normal na rua anda cansado do falatório cor-de-rosa, de mentiras, mentiras e mais mentiras. Quando então aparece alguém que não enfeita as coisas e apresenta “os fatos”, muitos correrão atrás dele como sedentos no deserto que finalmente encontraram uma fonte não envenenada ou aterrada. No entanto... por que o Deus que afirmam representar age mais como Nêmesis, a deusa grega da ira e da vingança, e não como o Pai que ansiosamente espera o filho perdido e corre ao seu encontro ao vê-lo retornar arrependido?

Por isso tomei uma resolução... algo que gostaria de passar adiante aqui: não quero mais me ocupar com a escuridão, mas com a luz. Não quero mais esquentar minha cabeça com aquilo que desperta paixões malignas em mim, como ira, fúria, medo, gritaria e pânico, mas meditar naquilo que é verdadeiro, bom e belo, ou seja, tudo o que se resume na pessoa de Jesus Cristo. Quem quiser, que advirta sobre a necessidade de observar o quanto predominam na sociedade a injustiça e a maldade, mas eu prefiro acompanhar Gregório Magno (o bispo de Roma que até Calvino ainda estimava) e dizer: “A verdadeira justiça não é hostil com os pecadores, mas compassiva”.

Nós cristãos temos muita facilidade em nos fixar em teorias e especulações. Alertamos contra governos mundiais e religiões mundiais. Abusamos do livro de Apocalipse para os nossos pareceres e prognósticos políticos. Fixamo-nos nas ideias mais complicadas sobre os tempos do fim e com isso perdemos de vista o mais importante: Jesus, que morreu pela salvação de todo o mundo e que logo voltará. “Consolem-se [e não ‘provoquem-se’] uns aos outros com essas palavras” (1Ts 4.18). Pânico, ira e medo não foi o que os apóstolos ensinaram em suas cartas.

Naquele mundo que os apóstolos conheciam já existia um governo romano centralizado e algo como uma religião unificada greco-romana. No entanto, nem Pedro, nem Paulo ou João escreveram longos tratados para desvendar o “mistério da iniquidade” (cf. 2Ts 2.7). Pelo contrário, sua postura foi bastante tranquila, tão tranquila que os que hoje nos advertem acusariam os apóstolos de ingenuidade e alheamento caso escrevessem atualmente. Os apóstolos escreveram aos cristãos que se subordinassem às autoridades (o governo universal unificado romano) e que orassem por elas para que pudessem levar uma vida quieta e tranquila, com toda honestidade e piedade. Na medida do possível para os cristãos, eles deveriam viver em paz com todos e demonstrar a todos a sua mansidão. E, se então a autoridade lançasse mão da espada para perseguir os cristãos, estes deveriam alegrar-se por terem sido considerados dignos de sofrer por amor do seu Senhor. Sim, este é um grande desafio, e eu não me atrevo a achar que já tenha assimilado essa atitude profundamente espiritual.

Misericórdia é bondade visualizada. Misericórdia é a beleza do céu na prática. Misericórdia é a confirmação do maior mandamento na verdade.

Isso não significa que os apóstolos não falassem dos maus tempos. Faziam isso, mas em conjunto com incentivos como: não se deixem irritar! Evitem conversas inúteis! Jesus é vencedor! Permaneçam fiéis, muito mais agora! Por exemplo, citam-se muito as tenebrosas palavras do apóstolo Paulo sobre os terríveis tempos dos últimos dias em 2Timóteo 3.1-8. Lemos sua precisão e exclamamos: “Assim é hoje!”. No entanto, em meio a todo o pânico sobre este mundo que Jesus já superou há tanto tempo, esquecemos de continuar lendo, porque no versículo 9 Paulo diz a respeito dos maus: “[Mas eles] não irão longe”, ou, em outras palavras: “Terão pouco sucesso”. As portas do inferno realmente não podem subjugar a igreja do Deus vivo.

Por isso quero mudar e renovar meu modo de pensar, como Paulo disse. Por amor do bem da minha alma, não quero mais focar naquilo que de qualquer maneira não posso controlar ou saber, mas naquilo que engrandece o amor de Deus diante de toda a humanidade. É disso que essa maltratada sociedade de hoje precisa!

Em suas bem-aventuranças, o nosso Senhor não diz: “Bem-aventurados aqueles que desvendaram o mistério da iniquidade e estão informados sobre toda a maldade, porque deles é o reino dos céus”. Não, ele promete o reino dos céus aos humildes, às almas simples e dispostas a servir, aos pobres de espírito ou pobres diante de Deus (Mt 5.3-12). Existe uma antiga oração cristã atribuída ao grande missionário Patrício da Irlanda. Nela ele pede a Deus que o guarde do conhecimento que profana. Parece-me bem significativo e uma atitude bem mais saudável para nossa alma. Nem é preciso conhecer tão bem as trevas, porque justamente isso pode nos profanar e esfriar o amor em nós. Basta amar a Deus e ao nosso próximo, porque o amor “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7).

Paulo nos incentiva a nos revestirmos de “profunda compaixão” (Cl 3.12). A misericórdia não deve ser simplesmente parte de nós, mas deve nos envolver; deve ficar tão visível em nós quanto nossas vestimentas. Receio que muitas vezes queremos ser como Cristo, mas quando ele tomou um açoite na mão para purificar o templo. Eis aí uma história que nos agrada, mas com isso esquecemos todos os outros relatos nos evangelhos em que Jesus demonstrou misericórdia com prostitutas, publicanos, adúlteras, pecadores e o povo simples. Sua reação usual a pessoas em torno dele foi o que ele disse aos seus discípulos: “Tenho compaixão desta multidão...” (Mt 15.32). O que nos move quando contemplamos o nosso mundo? Compaixão, misericórdia e amor? Ou ira, medo e pânico?

Quando Paulo nos exorta em Efésios 5.1-2 a sermos imitadores de Deus, ele não quer dizer que devemos ser juízes santos e justos como Deus, mostrando à sociedade como deve se comportar. Não, ele diz: “... vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus”.

É nisso que devemos imitar o nosso Deus. “O Senhor é cheio de compaixão e misericórdia” (Tg 5.11c). Essa deve ser a nossa mentalidade (Fp 2). Cristo nos desafia diretamente: “Sejam misericordiosos, assim como o Pai de vocês é misericordioso” (Lc 6.36). – Isto é importante. Para podermos credenciar-nos como verdadeiros filhos do nosso Pai celestial, não somos chamados a imitar sua santa onipotência, sua santa onisciência, sua santa soberania ou sua santa ira (o que nem podemos), mas sua santa misericórdia, bondade e amor. Isso podemos e devemos praticar por meio do Espírito Santo do amor que habita em nós, e, com isso – entendo – pode-se dispensar toda discussão a respeito do que devemos enfatizar em um mundo ímpio. Porque, conforme Gregório Magno também diz: “A falsa justiça não tem compaixão, mas má vontade”.

Por isso arrisco prognosticar que não encontraremos a verdadeira justiça e a verdadeira santidade onde se grita com mais estridência, onde se dissemina mais medo e terror ou onde se especula mais intensamente sobre o “mistério da iniquidade”, mas onde se exerce mais misericórdia. A misericórdia é bondade visualizada. Misericórdia é a beleza do céu na prática. Misericórdia é a confirmação do maior mandamento na verdade: amar a Deus de todo o coração e o nosso próximo como a nós mesmos.

Deus diz: “Desejo misericórdia...” (Mt 9.13; cf. Os 6.6) – e devemos tratar de aprender o que isso significa, diz o nosso Senhor Jesus. Com isso teremos o suficiente a fazer pelo restante da nossa vida e não precisamos mais nos sentir compelidos a nos ocupar com o conhecimento que profana. É isso que pretendo fazer e escolher para mim. Não mais as trevas, mas a luz. Porque “o perfeito amor expulsa o medo” (1Jo 4.18) – de todas as formas.

A verdadeira justiça não tem má vontade com os pecadores, mas compaixão.” – Maranata. Vem, Senhor Jesus!

René Malgo é encarregado do trabalho editorial das revistas da Chamada em alemão. Também é autor e coautor de diversos livros.


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

ANDANDO JUNTOS - Luciano Subirá


Uma palavra de ordem para igreja no Brasil e no Mundo. Um ensinamento profundo sobre o que é autoridade e submissão à vontade de Deus.

sábado, 21 de novembro de 2020

O Último Homem


O Último Homem (Justo) na Terra


Jeff Kinley

Em meio a todo esse pecaminoso frenesi global, Deus encontrou um homem que se destacou entre bilhões. “Porém Noé encontrou favor aos olhos do Senhor” (Gênesis 6.8). Descrito como “homem justo, íntegro entre o povo da sua época”, Noé era um homem que “andava com Deus” (Gênesis 6.9). Mesmo não sendo perfeito, Noé tinha integridade. E, ainda que certamente não fosse isento de culpa, Noé ainda era inocente, ou um homem de alto caráter e reputação morais. Em contraste com o caráter perverso, odioso e violento de seus pares, ele se manteve puro, decente e civilizado. Não havia sujeira na vida de Noé. Ele sentia a pressão de se conformar à impiedade de sua geração, mas também se sentia chamado a ser diferente dela em caráter e estilo de vida (ver 2Coríntios 6.14-18).

O desafio de viver na cultura do mundo envolve não se deixar consumir pelo pecado inerente a ela. Não há dúvida que nós cristãos estamos destinados a viver neste mundo, mas não derivamos dele nossa identidade nem nossos valores porque não pertencemos a ele (João 17.16). Usando a sabedoria, podemos nos manter conectados com as pessoas e a sociedade sem permitir que atitudes, crenças e condutas ímpias nos moldem ou influenciem (João 17.11,14-18; Romanos 12.2). Em sua essência, o cristão não é nem um pouco melhor que qualquer outra pessoa, e Jesus condena aqueles que exibem sua fé com uma atitude de arrogância (Mateus 23). Somos chamados a demonstrar humildade, amor e compaixão, mesmo em relação àqueles de quem discordamos veementemente. Esse equilíbrio pode ser difícil de alcançar, e muitas vezes significa ter uma voz dissidente e isolada. Ou ser o único justo. Em geral, significa não se deixar levar pela correnteza, mas nadar contra ela. Seguir a Deus pode até acarretar decisões e comportamentos que gerem ridicularização, zombaria e mesmo ódio.

Somos chamados a demonstrar humildade, amor e compaixão, mesmo em relação àqueles de quem discordamos veementemente.

Noé sabia como era.

Ele era justo em “sua época”. Seguia a Deus aqui e agora, respondendo ao contexto de sua própria geração. Decidido a andar com Deus, manteve-se limpo em meio a um mundo poluído – não por sua própria justiça; antes, para se preservar. Ele era justo. Mas o que exatamente fazia de Noé alguém tão justo aos olhos de Deus? Qual era sua história? Como Noé se tornou “Noé”?

Fé Resistente

Noé estava plenamente convencido da realidade de algo que ainda não conseguia enxergar. E é exatamente isso que a fé faz. Ela capacita aqueles que creem para ver o invisível. A conhecer o “ainda não”. A ir em frente em confiante obediência, independentemente do quanto isso o faça parecer esquisito, ridículo ou controverso. E Deus honra aqueles que escolhem os seus caminhos “ridículos” em detrimento da “sabedoria” convencional do ser humano (1Coríntios 1.18-29).

Um único homem ou mulher com fé consegue resistir a um exército de antagonistas. E havia uma legião de opositores em torno de Noé. A desvantagem era de bilhões para um.

Mas será que, diante das implicações físicas, espirituais e sociais de sua hercúlea tarefa, Noé alguma vez experimentou momentos de dúvida? Terá o filho de Lameque em algum momento vacilado na fé enquanto trabalhou durante um século, dia após dia, naquele projeto? Se o rei Davi, o apóstolo Pedro e João Batista tiveram momentos importantes em que sua fé praticamente faltou, é razoável assumir que Noé também tenha enfrentado esses momentos. Ele certamente passou várias noites em claro durante aqueles 120 anos, com dores lancinantes nas costas, machucados nas pernas ou mãos inchadas e feridas, pensando: “Deus, será que tudo isso realmente vale a pena? Será que esse dilúvio realmente vai acontecer, ou eu imaginei tudo isso? Será que meu barco vai flutuar, ou será que vou afundar e me afogar com os demais? Tu realmente falaste comigo anos atrás, ou estou aqui desperdiçando meu tempo e minha vida? Será que os céticos e cínicos têm razão no que dizem a meu respeito? Será que todos verão que sou um tolo? Essa é realmente a única maneira de nos salvar? Não tem um jeito mais fácil de realizar tua vontade?”.

Mesmo que não tenha passado por dúvidas crônicas e contínuas, Noé, como todos os crentes, com certeza teve ataques satânicos e de insegurança. É provável que sua própria natureza pecaminosa também tenha agido, inundando sua mente com apreensão ocasional e ondas de autopiedade. Ele também ficava cansado. Exausto de usar machados, serras e martelos. E os milhares de insultos lançados regularmente em sua direção ameaçavam desgastar a camada de fé que protegia seu coração. Afinal de contas, Noé continuava sendo apenas um ser humano. Mas, a despeito de suas limitações mortais, com o tempo ele aprendeu a desenvolver e exercitar o seu músculo da fé. Era a sua fé forte que o tirava da cama a cada manhã. O exercício da fé ajudava-o a suportar a dor e o cansaço. Ela protegia-o contra as afiadas setas verbais daqueles que o ridicularizavam.

Nossos ideais românticos sobre ser um crente forte adquirem perspectiva quando a corrida da nossa fé atinge a marca dos 10 ou 20 quilômetros.

Acreditar em Deus por causa de algo grande soa muito nobre. Alguns até consideram isso admirável. Tentar fazer uma obra grande para o Senhor é algo bom. Mas a realidade da vida em um mundo cheio de pecado é que essa fé real muitas vezes fica ensanguentada e suja, difícil e desafiadora. Esse é o tipo de fé que vai além da pura teoria e alcança a ação. Ela vai da cabeça e do coração para suas mãos, pés e boca. Esse não é o tipo de fé sobre o qual se fala ou escreve. Esse é o tipo de fé que se vive (ver Tiago 2.14-26). Não é hipotética, mas prática. Embora invisível, outros podem enxergá-la. É uma fé que trabalha. Se necessário, ela sacrifica e sofre. É uma fé manchada de sangue. Daquele tipo marcado por feridas e cicatrizes. Um pouco desfiada nas pontas. Rasgada e lacerada em alguns lugares. Batida, mas não estragada. Com aparência de quem levou uma surra, mas ainda ousada. Aparentemente derrotada, mas mantendo-se determinada. E – o melhor de tudo – é sua. Como um par favorito de sapatos: quanto mais é usado, mais confortável lhe parece.

Essa é a fé aprovada na batalha.

Não é atraente, mas com certeza é linda.

Nossos ideais românticos sobre ser um crente forte adquirem perspectiva quando a corrida da nossa fé atinge a marca dos 10 ou 20 quilômetros. Quão forte seria sua fé se todas as pessoas à sua volta estivessem contra você? Se cada ser humano vivo em torno de você o julgasse um tolo? E se quisessem tirar sua vida por causa da sua fé? Ou se sabotassem seus esforços para cumprir a missão dada por Deus? Será que Noé sofreu com sabotadores? Será que houve prejuízos porque alguém colocou fogo numa pilha de madeira ou roubou ferramentas e materiais? De qualquer forma, ele continua fazendo o que Deus lhe pedira, até nos menores detalhes (Gênesis 6.22). É isso que a fé faz. Ela obedece. E não há nada de glamoroso nisso. Apenas glorioso.

Noé tinha fé.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Sofrimento


 

Como encarar momentos de sofrimento?


Daniel Lima

Como você imagina Jesus em um corpo glorificado? Imagino que, como eu, você imagina um corpo que brilha, roupas brancas e uma aparência sobrenatural; afinal, ele surgia e desaparecia conforme desejava! No entanto, lendo os relatos dos evangelhos, fui surpreendido por um detalhe importante: ele trazia suas cicatrizes. De alguma forma isso me pareceu contraditório. Um corpo glorificado trazendo as marcas de suas tortura e morte?

Refletindo sobre isso, li um texto de Macrina Wiederkehr, onde ela escreve:

Quando Jesus ressuscitou, suas feridas ainda eram visíveis. As cicatrizes podiam ser vistas ali, bem no meio da glória. Se minha vida deve ser moldada à vida de Cristo, por que isso seria diferente em mim?[1]

A realidade é que lidamos muito mal com nossos sofrimentos. Eu por exemplo reconheço que é por meio de períodos de sofrimento que o Espírito produz em mim algumas transformações que eu não sei como seriam possíveis de outra forma. Após um período de dor, de confusão, mesmo de reclamação a Deus, eu chego num novo lugar. Um lugar de entendimento, de quebrantamento, de nova adoração ao meu Senhor. Ainda assim, eu não teria voluntariamente escolhido este período de sofrimento. Mesmo após compreender a transformação que este “deserto” me trouxe, eu ainda o evitaria.

Por isso somos levados ao deserto pelo Espírito (Mateus 4.1). É no deserto que aprendemos a abrir mão de coisas inúteis, de vaidades e de sonhos que, apesar de parecerem tão belos, são na verdade cadeias que nos escravizam. É no deserto que Cristo se torna meu bem maior. Davi expressa isso no Salmo 16.1-2:

Protege-me, ó Deus, pois em ti me refugio. Ao Senhor declaro: “Tu és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de ti”.

Ao atravessarmos momentos de dor e confusão, momentos em que parece que todo o nosso mundo ruiu, então começamos a vislumbrar algo muito mais belo. Começamos a ver relances do mundo que Deus deseja construir em nossa vida. Assim, as cicatrizes não contrastam com a glória, mas aprofundam a perspectiva dela. São como símbolos que nos lembram de uma época em que éramos escravos e do preço que foi pago para nossa liberdade.

As cicatrizes não contrastam com a glória, mas aprofundam a perspectiva dela. São como símbolos que nos lembram de uma época em que éramos escravos e do preço que foi pago para nossa liberdade.

Paulo expressa esse entendimento em Colossenses 1.24:

Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês e completo no meu corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo, que é a igreja.

Ele não era masoquista de se alegrar com sofrimentos. Sua alegria estava no privilégio de participar dos sofrimentos de Cristo em favor de outros. Suas cicatrizes de açoites, de apedrejamentos, de prisões, naufrágios e outros sofrimentos não eram um prazer em si. (Nem tampouco eram motivo de orgulho para mostrar sua resiliência.) Sua alegria estava em participar dos sofrimentos de Cristo em favor da igreja.

Também em Filipenses 3.10-11, após declarar que abriu mão de suas credenciais anteriores, ele volta a expressar o mesmo conceito:

Quero conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos.

Assim, meu irmão, minha irmã, não devemos temer os momentos difíceis, as provações. Eles são oportunidades únicas de crescimento. Sim, serão doloridos e eu não anseio por eles. Ao mesmo tempo, sei que me libertarão do meu velho homem, gerarão a transformação que tanto desejo, vão – enfim – realizar o que Paulo nos exorta em Colossenses 3.5: “Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês...”. Ao final, quando formos feitos semelhantes a ele (1João 3.2), nossas cicatrizes serão preciosas lembranças da jornada pela qual nos conduziu nosso Senhor.

  1. Macrina Wiederkehr, Seasons of Your Heart: Prayers and Reflections, ed. rev. (Nova York: HarperOne, 1991).

domingo, 15 de novembro de 2020

JESUS IS HOLY || VIOLIN || 30 MINUTE INSTRUMENTAL ( JESUS É SANTO) INSTRUMENTAL


SALMO  100
Exorta-se toda a criatura a celebrar o Senhor

Salmo de louvor

1  CELEBRAI com júbilo ao SENHOR, todas as terras.
2  Servi ao SENHOR com alegria; e entrai diante dele com canto.
3  Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto.
4  Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.
5  Porque o SENHOR é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

ENCONTRE SUA VERDADEIRA IDENTIDADE - Douglas Gonçalves


Seja uma cópia de Jesus. Sua verdadeira identidade está NELE.
Pare de procurar em alguém ou em algum lugar o que está dentro de você mesmo.
(...) o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações(...) CRISTO em vós, a esperança da GLÓRIA. ( Colossenses 1: 26a e 27b)

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Humilhação

Exaltação ou humilhação?

O caminho para a vida eterna não passa pela autoglorificação humana, mas única e exclusivamente pela cruz de Cristo, que (afinal) é também a nossa cruz.


Então Jesus disse aos seus discípulos: ‘Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará’.” (Mateus 16.24-25)

Além do versículo acima, podemos ler algo semelhantes nas seguintes passagens da Escritura Sagrada: “Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23.12). João Batista fala de Jesus: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (João 3.30). O apóstolo Paulo escreve: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim...” (Gálatas 2.20). E: “Quem semeia para a sua carne da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito do Espírito colherá a vida eterna” (Gálatas 6.8).

Diante da busca humana por autorrealização, é difícil imaginar um contraste maior do que aquele que encontramos nessas passagens. O caminho da autorrealização do homem é o caminho da perdição, pois ele, na busca da autoglorificação, contorna o caminho da cruz. O caminho para a vida eterna, no entanto, não passa pela autoglorificação humana, mas única e exclusivamente pela cruz de Cristo, que (afinal) é também a nossa cruz. Como já falamos anteriormente, uma nova variante para a teologia da glória (theologia gloriae) atualmente reprimiu drasticamente a teologia da cruz (theologia crucis). Nela se encontra o maior engano e a maior culpa das ideologias da autorrealização.

O caminho para a autoexaltação é o caminho de Satanás (Mateus 4.8-11), no entanto, o caminho para a humilhação própria é o caminho de Jesus (Filipenses 2.5-8). O caminho de Satanás está impregnado de autopromoção, egoísmo, arbitrariedade e na fé em si mesmo; o caminho de Jesus é caracterizado por autodoação, amor ao próximo, consideração e pela fé em Deus. O caminho de Satanás é o caminho largo que conduz à perdição; o caminho de Jesus é o caminho estreito, que conduz à vida eterna (Mateus 7.13-14). Quando chamadas pelo nome, as coisas ficam drásticas; mas somente assim fica clara a seriedade da decisão que devemos tomar diante dos dois caminhos!

Por qual dos caminhos você decide seguir?
Se busco só por mim mesmo, só a mim mesmo encontrarei,
Exceto se a mim mesmo num outro alguém eu encontrar.
Se busco a realização para o meu “eu” somente,
Para os outros totalmente inútil vou ficar.
Serei de fato eu mesmo se realmente me tornar
Alguém que perde seu “eu” e deixa Cristo reinar.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Desanimado


 

Quando Deus se encontra com o desanimado

Daniel Lima

Desânimo é algo surpreendente. Ele surge de modo inesperado, se infiltra em nossas vidas e suga nossa motivação. A princípio, reagimos investindo mais energia, nos cobramos mais, tentamos ser mais fortes e perseverantes. No entanto, pouco a pouco, mesmo essas resoluções caem em terreno estéril; falta energia, as cobranças nos deprimem, e nossas forças se esvaem. Existem muitas razões para o desânimo. Aparentemente, ele não se baseia em resultados de nossos esforços, mas tanto em fatores biológicos e químicos quanto em expectativas e perspectivas de vida.

A Bíblia nos relata uma história sobre um encontro de Deus com Elias quando este estava profundamente desanimado. O relato está em 1Reis 19, mas, logo antes, no capítulo 17 lemos que Elias falou que não haveria chuva em Israel. A seca se prolongou por três anos. Lemos no capítulo 18 que, mais uma vez obedecendo ao Senhor, Elias se apresenta a Acabe e o chama para um desafio entre ele e os profetas de Baal. O resultado conhecido foi uma vitória espiritual. Ao final da experiência é possível que Elias tenha entendido que estava diante de um avivamento em Israel. Primeiro, o povo declarou que “o Senhor é Deus!” (1Reis 18.39). Depois, os profetas são eliminados. Por fim, o próprio rei Acabe parece assumir uma atitude submissa quando Elias lhe dá instruções para comer e beber, pois ele já ouvia o barulho de chuva. Elias estava se baseando tanto na promessa de Deus quanto em sua própria expectativa.

Não seria um exagero supor que Elias estava no auge de seu entusiasmo. No entanto, o avivamento não havia chegado. Havia Jezabel. Esta mulher é descrita como uma mulher perversa, idólatra, opressora, manipuladora e perseguidora daqueles que temiam a Deus. O rei Acabe é descrito como um marido que não sabia ou não queria tomar uma atitude quanto à sua esposa. Chegando em casa, ela ouve o que aconteceu e o resultado foi o contrário do que Elias imaginava:

Por isso Jezabel mandou um mensageiro a Elias para dizer-lhe: “Que os deuses me castiguem com todo o rigor, se amanhã nesta hora eu não fizer com a sua vida o que você fez com a deles”. Elias teve medo e fugiu para salvar a vida. (2Reis 19.2-3a)

Este é momento que parece que algo se partiu no coração de Elias. O mesmo homem que enfrentou o rei dizendo que não choveria, que enfrentou 850 profetas malignos e depois os matou, que correu adiante do carro do rei teve medo agora diante de uma ameaça de uma rainha iníqua. Não só fugiu, como desistiu de sua vida. Após caminhar só por um dia, ele se senta sob uma árvore e pede sua própria morte. Primeira Reis 19.4b diz que Elias orou: “Já tive o bastante, Senhor. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados”.

É natural que o desânimo se instale logo após profundas experiências espirituais, seguidas de fortes decepções. Talvez você já tenha passado por isso. Eu sei que eu já passei. Parece que Deus fez algo fantástico, estamos no limiar de um grande mover de Deus e, de repente, surge uma grande decepção, uma traição, frustrações se acumulam e você começa a se perguntar se Deus realmente pode fazer algo, se vale a pena continuar lhe servindo, se seu tempo não acabou.

É natural que o desânimo se instale logo após profundas experiências espirituais, seguidas de fortes decepções.

A resposta de Deus para estas situações, descrita em 1Reis 19.5-18, não é só surpreendente, mas cheia de misericórdia e amor. Deixe-me alistar:

  1. Deus o alimenta e o faz descansar (versos 5-7);

  2. Deus o leva a uma local deserto e especial (versos 8-9);

  3. Deus pergunta o que ele faz ali (verso 9b);

  4. Diante de suas queixas, Deus lhe dá uma pequena amostra de seu poder (versos 10-13);

  5. Aparentemente Elias continua com suas queixas (verso 14). Mas Deus não o descarta do ministério;

  6. Ele o chama para ungir futuros reis (versos 15-16a);

  7. Ele o chama para encontrar um companheiro de ministério (verso 16b);

  8. Ele revela seu plano e que ainda mantém um remanescente fiel (versos 17-18).

Não sei como você está. Tenho vários amigos que têm enfrentado o desânimo. Eles, após longos períodos de ministério fiel, começam a achar que não fazem diferença, que são descartáveis, que seu tempo passou. Se você está enfrentando uma fase assim, eu quero encorajá-lo. Quem sabe você medita sobre este relato na história de Elias. Quem sabe você não precisa de um tempo de descanso, de retiro espiritual, de ouvir a Deus. Você certamente precisa de companheiros de ministério e precisa vislumbrar o que Deus tem feito e vai fazer. Minha oração sincera por você e por mim é que, em meio a períodos de desânimo, a presença de Deus seja ao mesmo tempo poderosa e íntima. Isaías 57.15 diz:

Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: “Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito”.