domingo, 30 de setembro de 2018

Por Que Deveríamos Fugir das Redes Sociais? (E Porque Não Fugimos)




POR QUE DEVERÍAMOS FUGIR DAS REDES SOCIAIS? (E Por Que Não Fugimos?)

Publicado por  Reformados 21 em  12/09/2018


Mais um ex-executivo do Facebook emitiu um alerta sobre como o seu antigo empregador nos condicionou a maus hábitos, envenenou nossa vida social, roubou nossa sanidade e sabotou nossos relacionamentos mais íntimos. Desta vez, foi Chamath Palihapitiya, de 41 anos, agora um empreendedor de alto risco e co-proprietário do time de basquete “Golden State Warriors”, da NBA.

FALSA E FRÁGIL

Palihapitiya falou recentemente aos alunos do curso de pós-graduação em administração da Universidade de Stanford, explicando como o Facebook corrompe a linguagem social.

Os circuitos de resposta rápida e movidos à dopamina que criamos estão destruindo a forma como a sociedade funciona. Moldamos nossas vidas em torno desse senso aparente de perfeição porque somos recompensados ​​em curto prazo (acenos, corações, curtidas), e associamos isso com valor, associamos isso com a verdade. Contudo, na realidade, esta é uma popularidade falsa e frágil; e isso nos deixa ainda mais vazios.

Este vício agora contamina toda a base de dois bilhões de usuários do Facebook, disse ele. Tudo planejado. “Não percebemos isso, mas estamos sendo programados”, advertiu Palihapitiya, repudiando perante os alunos a ideia de que muita inteligência e uma boa formação os imunizariam contra a praga. Não imunizam!

ENTÃO, QUAL É A RESPOSTA

“Cada um deve decidir o quanto de sua independência intelectual está disposto a abrir mão”, disse ele. “Não tenho uma boa solução. Minha solução é: simplesmente não uso mais essas ferramentas. Já faz anos”. Em outras palavras, saia definitivamente das Mídias Sociais!

VICIADOS EM REDE SOCIAL

Parece bom. Parece simples. Basta se desligar das Mídias Sociais. Mas é claro que não é assim que funciona. Os cristãos sabem que existem desejos mais profundos por trás dos vícios digitais. Mesmo com todos os hábitos de Rede Social que afligem nossas vidas, com toda a falta de atenção aos que nos rodeiam, a maioria de nós jamais consideraria seriamente desativar nossas plataformas sociais (até mesmo Palihapitiya mantém uma conta ativa no Facebook).

As Redes Sociais viciam cada um de nós. Amamos participar dos debates nos comentários do Facebook, emplacar o GIF perfeito, o Twitter, ou espalhar outra selfie descartável no Snapchat. A sedução das mídias é o desejo de ser visto de forma onisciente, ser sempre “ovacionado” e estar sempre visível aos outros. Os smartphones prometem nos proteger da “atazagorafobia”, que é o medo de ser esquecido. Desta forma, nos comunicamos impulsivamente, desde que acordamos até o momento em que adormecemos.

Tudo isso condiciona nosso comportamento digital e beneficia as plataformas sociais, que proporcionam bilhões de dólares em lucro. As nossas emoções são condicionadas e autocondicionadas. Nós fazemos isso a nós mesmos. Como disse um escritor: “Cada plataforma de Rede Social é uma droga que prescrevemos a nós mesmos; consumimos para regular a nossa vida emocional, e estamos constantemente fazendo experiências com a combinação”.

ENFRENTANDO O SILÊNCIO

As Mídias Sociais são um coquetel de drogas que estimulam as emoções, e que misturamos para nós mesmos. E, sair das Redes Sociais, mesmo que por alguns dias, ou apenas por algumas semanas, significa encarar a dura realidade de que nossos colegas não irão perceber nossa ausência; ninguém irá perceber o nosso silêncio, e não ficarão ansiosos por nossa volta. Fugir das Mídias Sociais é provar a picada amarga do esquecimento, uma pequena pitada da solidão dos idosos, ou da crise de identidade da meia-idade, que agora se espalha por todos os estratos demográficos.

Se decidirmos parar de sermos vistos nas Redes Sociais, iremos desaparecer completamente; mas não ousamos parar. É por isso que o primeiro passo para sair definitivamente da Mídia Social, o primeiro dia desconectado, tem um gosto amargo. Isso porque usamos os sons das notificações em nossas vidas para reprimir duas coisas que preferimos não enfrentar.

O SILÊNCIO E O EU

Em seu sermão sobre o Salmo 62:1 – “Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosamente” – Dietrich Bonhoeffer explica o medo moderno do silêncio e mostra como o homem o repele pelo uso das Redes Sociais, um fenômeno que operava na Alemanha, no final da década de 1920.

Ele disse que, primeiro, buscamos novos sons para evitarmos a nós mesmos.

“Nós fugimos do silêncio”, disse Bonhoeffer. “Corremos de uma atividade a outra, para evitar ficarmos sozinhos com o nosso eu, mesmo que apenas por um momento, e para evitar também de nos olharmos no espelho. Estamos entediados com nós mesmos, e, muitas vezes, as horas mais desesperadas e desperdiçadas são aquelas que somos obrigados a passar sozinhos” (Works [Escritos] 10:503).

Odiamos isso. O silêncio força, inevitavelmente, que as verdades desconfortáveis ​​voltem à nossa mente. Tudo sobre nossas vidas: quem somos, quem nos tornamos, bons, o maus, o entediante, as coisas que gostaríamos de mudar, as memórias, fatos e cicatrizes que nunca apresentaríamos nas Redes Sociais. No silêncio, porém, nada sobre nós permanece escondido; tudo emerge novamente para a superfície. Tirar e compartilhar novas selfies é sempre mais fácil do que o medo do desconhecido, que surgirá se tudo ficar silencioso.

Entretanto, o nosso medo do silêncio pessoal expõe algo ainda mais profundo.

O SILÊNCIO E JESUS

Repetidamente, nas Escrituras, o silêncio é uma demonstração de nossa fé constante, uma confiança decidida no Redentor para mover, agir e salvar. Quando as tentações e os perigos aumentam, os cristãos piedosos podem acalmar os sons alarmantes à sua volta e recuperar o silêncio.

Na tranquilidade e na confiança reside a força de vocês (Isaías 30:15).

Descanse no SENHOR e espere nele (Salmo 37:7).

Somente em Deus a minha alma espera silenciosa; dele vem a minha salvação (Salmos 62:1).

Somente em Deus, ó minha alma, espere silenciosa, porque dele vem a minha esperança (Salmo 62.5).

O silêncio revela confiança em Deus. O silêncio também é um convite divino. E este é o medo moderno mais profundo.

“Não somente temos medo de nós mesmos, de nos descobrirmos e nos desmascararmos”, escreveu Bonhoeffer, “mas temos ainda mais medo de Deus, de que ele possa perturbar o nosso silêncio, nos descobrir e nos desmascarar. Que Deus possa nos atrair para uma comunhão mais profunda e fazer conosco o que Ele quiser. Por temermos encontros tão inquietantes e solitários com Deus, nós o evitamos; evitamos até mesmo pensar em Deus, para que, de repente, ele não se aproxime demais de nós. Ter que “olhar nos olhos de Deus”, ter que ser responsável perante Ele, é uma ideia terrível; o nosso sorriso perpétuo pode desaparecer, as coisas podem ficar sérias demais, de modo que não estamos nem um pouco acostumados”.

A frágil e falsa popularidade digital e a presença de Deus se aproximam. O que parece mais atraente nesta era? Geralmente, acordamos e pegamos nosso smartphone direto da cama.

Essa ansiedade caracteriza toda a nossa época. Vivemos com medo perpétuo de sermos apreendidos repentinamente e chamados por Deus a servi-lo, preferindo socializar, ir ao cinema, ou ao teatro, até que finalmente sejamos levados aos nossos túmulos. Qualquer coisa é melhor do que ter de suportar um único minuto diante de Deus (Works [Obras] 10:503).

Cada momento silencioso em 1928 poderia ser interrompido pela vida social ou pela mídia. Noventa anos depois, podemos manter o som de distração da vida social e das redes simultaneamente.

A Mídia Social não é o problema; é a máscara dos nossos medos ocultos. Todos nós queremos notícias novas e urgentes, ou tweets virais, ou uma nova mensagem de texto, porque significa que, por pelo menos mais um momento, evadimos o contato visual com o Salvador e a seriedade do que significaria encontrá-lo, ouvi-lo, e encarar o chamado de Deus que pode atrapalhar as nossas vidas confortáveis.

O SILÊNCIO E A IGREJA

Bonhoeffer não está comemorando o isolamento social e a solidão. Há um silêncio que decorre de nossa condição humana caída. Bonhoeffer está ressaltando o silêncio intencional, o qual devemos aprender a praticar, o que agora chamamos de “solidão”, a decisão de escolher o silêncio e a tranquilidade quando há oportunidades de barulho. O silêncio escolhido é a nova expressão do empoderamento social na era digital. O silêncio é liberdade. E o silêncio é uma forma de proteger a saúde da igreja local.

À medida que o ministério de Bonhoeffer se desenvolveu, ele tomou as duas verdades deste sermão inicial (que o silêncio nos obriga a enfrentar a nós mesmos, e que ele nos alerta para a voz e o chamado de Deus) e as aplicou à vida em comunidade.

Em seu livro, Vida em Comunhão, ele diz que “aprendemos em comunidade a paciência e a honestidade necessárias para ficarmos sozinhos. Enquanto estamos sozinhos, conhecemos a Deus e desenvolvemos a autenticidade necessária para o florescimento social. “Quem não consegue ficar sozinho deve ter cuidado com a comunidade. Quem não suporta estar em comunidade deve ter cuidado ao estar sozinho” (Works [Obras] 5:83).

Em um mundo saturado de Redes Sociais, na onipresença do eu, perdemos a disciplina do silêncio. Perdemos um senso de ouvir a Deus. Ele parece distante. Ficamos vazios da verdade divina, a qual necessitamos possuir antes de podermos oferecer graça aos nossos irmãos e amigos.

Destarte, Bonhoeffer perguntou em seu tempo, e nos pergunta agora: “A Palavra de Deus está com você, como conforto e força? Ou você usa indevidamente a “solidão” contra a comunidade, contra a Palavra e a oração? Os indivíduos devem estar conscientes de que, mesmo as horas que são gastas sozinhas, reverberam na comunidade. Na “solidão” podemos fragmentar e manchar a comunidade, ou podemos fortalecê-la e santificá-la. Todo ato de autodisciplina de um cristão também é um serviço para a comunidade” (Works [Obras] 5:92).

Uma comunhão saudável em nossas igrejas nunca irá acontecer enquanto cada membro abusar das Mídias Sociais e deixar de prestar atenção à sua própria solidão.

SOLIDÃO PIEDOSA

Nesta era midiática isso pode soar antinatural. Estranho. Bonhoeffer confirma que “vai parecer bastante engraçado, talvez até vazio nas primeiras vezes. Em pouco tempo, no entanto, a alma ficará cheia; ela ficará mais forte” (10:504). Ele também poderia estar falando dos primeiros dias longe das Redes Sociais.

Bonhoeffer acreditava que era uma obra especial do Espírito Santo levar cada crente a esta serena solidão, no lugar calmo onde as nossas necessidades mais profundas são expostas, e as maiores verdades eternas podem mais uma vez impregnar nossas almas. Porque quem, sozinho, sem o poder do próprio Deus, poderia desejar o silêncio em uma era de autoprojeção incessante?

Pelo poder do Espírito, aprendemos a abraçar a seriedade desacostumada da solidão, enquanto oramos com o sentimento dos primeiros versículos do Salmo 139:

SENHOR, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me sento e quando me levanto; de longe conheces os meus pensamentos. Observas o meu andar e o meu deitar e conheces todos os meus caminhos.

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