EXISTE
ALGUMA COISA DEMASIADAMENTE DIFÍCIL PARA DEUS?
O Senhor e dois anjos aparecem a
Abraão
Certa vez, num dia quente, Abraão estava descansando em frente à porta
de sua tenda, à sombra fresca dos carvalhos. De repente viu aproximarem-se
três homens, de roupas alvas, no caminho poeirento.
Abraão logo se levantou para ir ao encontro deles. Tinha dó daqueles viajantes
vindos, talvez, de muito longe. Deviam descansar em sua casa, refrescar-se um
pouco antes de prosseguir viagem.
Mas, ao chegar perto deles, ficou muito admirado. O viajante do meio
parecia um rei poderoso. Então por que viajava ele assim durante a parte mais
quente do dia, quando todos faziam sua sesta?... Por que viajava assim a pé,
como um viajante pobre qualquer, percorrendo o país? ...
E uma idéia lhe veio, tão estranha e tão maravilhosa também, que ficou
assustado e muito alegre ao mesmo tempo. Curvou-se profundamente, dizendo: "Meu Senhor, não passes minha tenda.
Repousa um pouco à sombra desta árvore em poltronas macias. Refrescarei teus
pés com água fria. Também te darei de beber e de comer. Depois de repousar,
refrescado, poderás seguir."
"Faze como disseste",
ouviu dizer.
Os três estrangeiros o acompanharam e sentaram-se à sombra da árvore.
Abraão entrou depressa na tenda. "Sara,
corre, toma três medidas de farinha de trigo e faze bolos", disse.
Depois foi ràpidamente aos rebanhos escolher o melhor bezerro que possuía,
entregando-o ao criado para abater e assar a carne. Foi procurar água para
lavar os pés de seus convidados. Trouxe pão, manteiga, leite e carne. E, enquanto
comiam, ficou junto à árvore, atendendo seus convidados. Abraão, o rei dos
pastores, estava lá como um humilde servo. E seu coração cantava:
"Será possível?... Não seria demasiadamente grandioso e maravilhoso?"...
Então um dos convidados perguntou: "Onde está Sara, tua esposa?"
Abraão respondeu: "Ela está
dentro da tenda."
Então o principal falou: "Daqui
a um ano te visitarei de novo e Sara, tua esposa, terá um filho."
Houve grande alegria no coração de Abraão. Agora tinha toda a certeza:
era o próprio Senhor que viera vê-lo com dois de seus anjos! O próprio Senhor
quis ser seu convidado, para reforçar-lhe
a fé e mais uma vez repetir-lhe aquela bela promessa ...
Abraão
curvou respeitosamente a cabeça. Mas Sara, escondida atrás da porta da tenda,
tinha ouvido a conversa. Ela não sabia para quem tinha feito “Os bolos”. Só
ouviu aquelas palavras, pensando nos seus quase noventa anos e olhando para as
velhas mãos. Seria verdade que elas ainda serviriam para cuidar de uma
criancinha, um filhinho seu? Não, era impossível. Sara riu disso.
Mas levou
um susto, ao ouvir de repente aquela mesma Voz perguntar:
"Por que é que Sara riu? Existe alguma coisa
demasiado difícil para o Senhor?"
A velha Sara,
com grande medo, negou: "Não
ri", disse.
Mas ao
Senhor nada se encobria. Respondeu: "Não
mintas, Sara! Eu sei que riste."
Então os
Hóspedes se levantaram para partir na direção de Sodoma. E Abraão, como é dever
de um bom anfitrião, acompanhou-os até a saída.
Sara
ficou, surpresa, envergonhada e confusa. Então despertou novamente sua fé. Murmurava:
"Existe alguma coisa demasiado difícil,para o Senhor?"
Para Deus
tudo é possível, isto bem sabia Sara. Agora tinha ouvido a promessa de Sua
própria boca. Agora seria capaz de aguardar orando.
E no seu
coração nasceu um sentimento de paz como não tinha experimentado havia anos.
Enquanto
isso, Abraão foi acompanhar seus hóspedes até aos morros, donde se podia ver o
belo vale do Jordão ao longe, com seus prados férteis e o rio brilhando, com
as verdes palmeiras e as casas brancas de Sodoma e Gomorra, radiantes ao sol.
Então o
Senhor começou a falar com grande tristeza na sua sagrada voz: "Abraão, não te esconderei o que farei
agora! Olha aquelas cidades de Sodoma e Gomorra. O clamor daquelas cidades
chegou até aos céus. O pecado lá tornou-se muito grave. Arrasarei aquelas
cidades por causa dos pecados cometidos."
Abraão não
pôde dar mais um passo, tamanho fora o susto. Bem sabia como eram horríveis os
pecados naquelas cidades. Os habitantes eram piores que feras. Viviam como se
não existisse um Pai Celeste. Mas em Sodoma também morava Ló com sua família.
Talvez até houvesse outras pessoas tementes a Deus. E agora aquele castigo
terrível também haveria de atingi-las?...
Os dois
anjos foram andando, descendo os morros, rumo a Sodoma. Mas o Senhor não
partira ainda.
Então
Abraão chegou perto dele, curvando-se mui respeitosamente.
"Senhor",
balbuciou. "És o Juiz de toda a
terra. Talvez haja ainda cinqüenta justos em Sodoma ..."
O Senhor
respondeu: "Se encontrar em Sodoma
cinqüenta justos, salvarei a cidade por causa deles."
Abraão
ficou muito grato, porém continuou preocupado. Suplicou: "Senhor, sou apenas um mortal cheio de pecados; perdoa-me, se
ouso falar-te mais uma vez. Talvez haja apenas quarenta e cinco. Então
destruirás a cidade?"
O Senhor
respondeu: "Não destruirei a cidade, se houver apenas quarenta e cinco”
Abraão
curvou-se mais ainda. "E se houver
quarenta, Senhor?"
"Mesmo assim não mandarei o castigo."
"E trinta", perguntou Abraão baixinho.
"Nem
assim", disse Deus.
"Senhor
meu Deus, não fiques zangado comigo", suplicou Abraão. "E se houver só vinte?"
E o Senhor
respondeu: "Hei de salvar a cidade,
se lá encontrar apenas vinte justos."
Abraão
estremeceu.
Mas pensou
na grande misericórdia de Deus e balbuciou: "Senhor,
deixa-me falar ainda uma vez. Talvez haja apenas dez."
E ouviu a
resposta que Deus lhe deu:
"Não destruirei a cidade, se
encontrar dez justos."
Levantando
os olhos, Abraão viu que estava só, ajoelhado na areia do morro. O Senhor
tinha partido.
Mas lá ao
longe viu os dois anjos caminhando na direção de Sodoma.
Abraão
voltou, andando lentamente, o coração cheio de tristeza pela maldade humana.
Mas ao rever
Sara, em cujos olhos brilhava a luz de uma nova fé, a alegria lhe voltou.
Como isto
lhe parecia maravilhoso: poder apegar-se com sua mulher à promessa de Deus.
Agora
esperariam juntos...
Texto
bíblico da narração: Gênesis cap. 18
VRIES,
Anne de. O Grande Livro das Narrações Bíblicas, Antigo Testamento. Editora
Freitas Bastos, Rio de Janeiro-RJ, 1964, p.32-34.
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