quarta-feira, 18 de setembro de 2013

DEUS APARECE A ABRAÃO



EXISTE ALGUMA COISA DEMASIADAMENTE DIFÍCIL PARA DEUS?

O Senhor e dois anjos aparecem a Abraão


Certa vez, num dia quente, Abraão estava descansando em frente à porta de sua tenda, à sombra fresca dos car­valhos. De repente viu aproximarem­-se três homens, de roupas alvas, no caminho poeirento.
Abraão logo se levantou para ir ao encontro deles. Tinha dó daqueles via­jantes vindos, talvez, de muito longe. Deviam descansar em sua casa, refres­car-se um pouco antes de prosseguir viagem.
Mas, ao chegar perto deles, ficou muito admirado. O viajante do meio parecia um rei poderoso. Então por que viajava ele assim durante a parte mais quente do dia, quando todos faziam sua sesta?... Por que viajava assim a pé, como um viajante pobre qualquer, percorrendo o país? ...
E uma idéia lhe veio, tão estranha e tão maravilhosa também, que ficou assustado e muito alegre ao mesmo tempo. Curvou-se profundamente, di­zendo: "Meu Senhor, não passes mi­nha tenda. Repousa um pouco à som­bra desta árvore em poltronas macias. Refrescarei teus pés com água fria. Também te darei de beber e de comer. Depois de repousar, refrescado, pode­rás seguir."
"Faze como disseste", ouviu dizer.
Os três estrangeiros o acompanharam e sentaram-se à sombra da árvore.
Abraão entrou depressa na tenda. "Sara, corre, toma três medidas de farinha de trigo e faze bolos", disse. Depois foi ràpidamente aos rebanhos escolher o melhor bezerro que possuía, entregando-o ao criado para abater e assar a carne. Foi procurar água para lavar os pés de seus convidados. Trou­xe pão, manteiga, leite e carne. E, en­quanto comiam, ficou junto à árvore, atendendo seus convidados. Abraão, o rei dos pastores, estava lá como um humilde servo. E seu coração cantava:
"Será possível?... Não seria demasia­damente grandioso e maravilhoso?"...
Então um dos convidados pergun­tou: "Onde está Sara, tua esposa?"
Abraão respondeu: "Ela está den­tro da tenda."
Então o principal falou: "Daqui a um ano te visitarei de novo e Sara, tua esposa, terá um filho."
Houve grande alegria no coração de Abraão. Agora tinha toda a certeza: era o próprio Senhor que viera vê-lo com dois de seus anjos! O próprio Se­nhor quis ser seu convidado, para reforçar-lhe a fé e mais uma vez repe­tir-lhe aquela bela promessa ...
Abraão curvou respeitosamente a cabeça. Mas Sara, escondida atrás da porta da tenda, tinha ouvido a con­versa. Ela não sabia para quem tinha feito “Os bolos”. Só ouviu aquelas pala­vras, pensando nos seus quase noventa anos e olhando para as velhas mãos. Seria verdade que elas ainda serviriam para cuidar de uma criancinha, um fi­lhinho seu? Não, era impossível. Sara riu disso.
Mas levou um susto, ao ouvir de re­pente aquela mesma Voz perguntar:
"Por que é que Sara riu? Existe algu­ma coisa demasiado difícil para o Senhor?"
A velha Sara, com grande medo, ne­gou: "Não ri", disse.
Mas ao Senhor nada se encobria. Respondeu: "Não mintas, Sara! Eu sei que riste."
Então os Hóspedes se levantaram para partir na direção de Sodoma. E Abraão, como é dever de um bom an­fitrião, acompanhou-os até a saída.
Sara ficou, surpresa, envergonhada e confusa. Então despertou novamente sua fé. Murmurava: "Existe alguma coisa demasiado difícil,para o Se­nhor?"
Para Deus tudo é possível, isto bem sabia Sara. Agora tinha ouvido a pro­messa de Sua própria boca. Agora se­ria capaz de aguardar orando.
E no seu coração nasceu um sentimento de paz como não tinha experi­mentado havia anos.
Enquanto isso, Abraão foi acom­panhar seus hóspedes até aos morros, donde se podia ver o belo vale do Jor­dão ao longe, com seus prados férteis e o rio brilhando, com as verdes palmeiras e as casas brancas de Sodoma e Gomorra, radiantes ao sol.
Então o Senhor começou a falar com grande tristeza na sua sagrada voz: "Abraão, não te esconderei o que farei agora! Olha aquelas cidades de Sodoma e Gomorra. O clamor daquelas cidades chegou até aos céus. O pecado lá tornou-se muito grave. Arrasa­rei aquelas cidades por causa dos pe­cados cometidos."
Abraão não pôde dar mais um pas­so, tamanho fora o susto. Bem sabia como eram horríveis os pecados na­quelas cidades. Os habitantes eram piores que feras. Viviam como se não existisse um Pai Celeste. Mas em So­doma também morava Ló com sua família. Talvez até houvesse outras pessoas tementes a Deus. E agora aquele castigo terrível também haveria de atingi-las?...
Os dois anjos foram andando, des­cendo os morros, rumo a Sodoma. Mas o Senhor não partira ainda.
Então Abraão chegou perto dele, curvando-se mui respeitosamente.
"Senhor", balbuciou. "És o Juiz de toda a terra. Talvez haja ainda cin­qüenta justos em Sodoma ..."
O Senhor respondeu: "Se encontrar em Sodoma cinqüenta justos, salvarei a cidade por causa deles."
Abraão ficou muito grato, porém continuou preocupado. Suplicou: "Se­nhor, sou apenas um mortal cheio de pecados; perdoa-me, se ouso falar-te mais uma vez. Talvez haja apenas qua­renta e cinco. Então destruirás a cida­de?"
O Senhor respondeu: "Não destruirei a cidade, se houver apenas quarenta e cinco”
Abraão curvou-se mais ainda. "E se houver quarenta, Senhor?"
"Mesmo assim não mandarei o cas­tigo."
"E trinta", perguntou Abraão bai­xinho.
"Nem assim", disse Deus.
"Senhor meu Deus, não fiques zan­gado comigo", suplicou Abraão. "E se houver só vinte?"
E o Senhor respondeu: "Hei de sal­var a cidade, se lá encontrar apenas vinte justos."
Abraão estremeceu.
Mas pensou na grande misericórdia de Deus e balbuciou: "Senhor, deixa-­me falar ainda uma vez. Talvez haja apenas dez."
E ouviu a resposta que Deus lhe deu:
"Não destruirei a cidade, se encontrar dez justos."
Levantando os olhos, Abraão viu que estava só, ajoelhado na areia do mor­ro. O Senhor tinha partido.
Mas lá ao longe viu os dois anjos caminhando na direção de Sodoma.
Abraão voltou, andando lentamen­te, o coração cheio de tristeza pela maldade humana.
Mas ao rever Sara, em cujos olhos brilhava a luz de uma nova fé, a ale­gria lhe voltou.
Como isto lhe parecia maravilhoso: poder apegar-se com sua mulher à pro­messa de Deus.
Agora esperariam juntos...
Texto bíblico da narração: Gênesis cap. 18
VRIES, Anne de. O Grande Livro das Narrações Bíblicas, Antigo Testamento. Editora Freitas Bastos, Rio de Janeiro-RJ, 1964, p.32-34.




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