Corvo (Foto: Reprodução/Canva)
Elias foi alimentado por corvos
Cris Beloni
“Pergunte, porém, aos animais, e eles o ensinarão, ou às
aves do céu, e elas lhe contarão; fale com a terra, e ela o instruirá, deixe
que os peixes do mar o informem. Quem de todos eles ignora que a mão do Senhor
fez isso? Em sua mão está a vida de cada criatura e o fôlego de toda a
humanidade.” (Jó 12.7-10)
Reconhecendo que Deus é
o Criador de tudo o que vemos ao nosso redor, podemos identificar em cada ser
criado a Sua assinatura. Há sabedoria em todas as coisas e vestígios de uma
mente inteligente em cada detalhe. Daremos início à série que vai analisar a
inteligência presente nas aves do céu.
Vamos começar pelo corvo
“A palavra do Senhor veio a Elias: Saia daqui, vá para o
leste e esconda-se perto do riacho de Querite, a leste do Jordão. Você beberá
do riacho, e dei ordens aos corvos para o alimentarem lá.” (1 Reis 17.2-4)
“E ele fez o que o Senhor lhe tinha dito. Foi para o riacho
de Querite, a leste do Jordão, e ficou por lá. Os corvos lhe traziam pão e
carne de manhã e de tarde, e ele bebia água do riacho.” (1 Reis 17.5-6)
O que nos chama atenção nesse texto é o fato de um corvo
alimentar um ser humano. Estamos diante de um texto literal ou simbólico? Vamos
ao contexto:
Sabemos que os dois livros de reis narram a história nos
tempos da monarquia em Israel. E, no texto que vamos estudar, veremos um
profeta em conflito com o rei Acabe, por volta de 870 a.C.. Por conta desse
conflito, Elias disse ao rei:
“Vive o Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou, que
nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra.” (1 Reis 17.1)
Essa profecia se cumpriu e a seca naquela região durou três
anos. A fome afetou a todos, mas Deus providenciou socorro para algumas
pessoas. Vimos isso através do que aconteceu com Elias e com a viúva de
Sarepta. Agora vamos analisar algumas questões.
Conflito entre o rei Acabe e o profeta Elias
O reinado de Acabe foi marcado por corrupção e apostasia.
Veja o que diz a Palavra:
“E fez Acabe, filho de Onri, o que era mau aos olhos do
Senhor, mais do que todos os que foram antes dele. E sucedeu que (como se fora
pouco andar nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate) ainda tomou por mulher a
Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi e serviu a Baal, e o adorou.
E levantou um altar a Baal, na casa de Baal que edificara em Samaria. Também
Acabe fez um ídolo; de modo que Acabe fez muito mais para irritar ao Senhor
Deus de Israel, do que todos os reis de Israel que foram antes dele.” (1 Reis 16.30-33)
Sendo assim, Deus envia Elias para o povo de Israel que
estava vivendo nesse tempo de apostasia, crise social e espiritual, confusão
política e fome extrema. O profeta confronta a idolatria do rei e é chamado de
“perturbador de Israel” por causa disso.
Por que a profecia da seca?
Porque Baal era considerado o deus da fertilidade e senhor
das chuvas e tempestades. Com a seca, os profetas invocaram a Baal gritando e
se retalhando conforme o costume da época, mas nada aconteceu. E quando Elias
clamou, Deus enviou fogo de forma milagrosa. Isso foi feito para que o povo
pudesse diferenciar a verdadeira fé da idolatria.
Antes de isso acontecer, Elias alertou o povo com as
seguintes palavras: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é
Deus, segui-o, e se Baal, segui-o.” (1 Reis 18.21)
A palavra “coxear” que quer dizer mancar ou andar com
dificuldade, indica que o povo estava vacilando. Uma hora firmava o passo no
caminho de Deus, outra hora firmava o passo no caminho da idolatria.
Milagres
Antes de entrar no contexto do corvo, lembre-se que outros
milagres aconteceram na ocasião, por intermédio de Elias. A multiplicação do
azeite e da farinha da viúva, a ressurreição de seu filho, Deus enviou fogo
sobre a lenha molhada e um anjo alimentou Elias. Pensando em tudo isso, não há
dificuldade de entender que Deus deu ordens a uma ave para alimentá-lo.
Lembrando também que “milagre” significa “ato ou
acontecimento fora do comum”, ou seja, é inexplicável pelas leis naturais. Algo
que deixa de ser ordinário (dentro da ordem esperada) para ser extraordinário.
Não há muitas explicações racionais para o mundo espiritual. Mas vamos analisar
as que existem.
Os corvos realmente alimentaram Elias?
Dentro do que estamos analisando, a resposta é sim. Muitos
teólogos sérios seguem essa linha de pensamento. Outros, porém, defendem que
houve um erro de transliteração e tradução da Bíblia,
do hebraico para o grego (Septuaginta) – então, nesse caso, não é orevim
(corvos) que alimentaram Elias e sim os Aravim (árabes).
Esse suposto erro alimenta o argumento de quem não consegue
acreditar que Deus fez algo extraordinário. O outro argumento é que Deus não
enviaria uma “ave imunda” (Lv 11.13-15; Dt 14.14) para alimentar um judeu, conhecedor da
Torah e suas leis.
A questão é…
Se considerarmos que houve mesmo esse erro e a palavra
correta fosse traduzida por “árabes”, como ficaria então o texto de Gênesis?
“E aconteceu que ao cabo de quarenta dias, abriu Noé a
janela da arca que tinha feito. E soltou um corvo, que saiu, indo e voltando,
até que as águas se secaram de sobre a terra.” (Gênesis 8.6-7)
A palavra no hebraico é a mesma, então Noé teria soltado um
árabe pela janela da arca? A única diferença na palavra, segundo o
hebraísta Luiz Sayão, é que em Gênesis está escrito
“corvo” (Orev) no singular e no livro de 1 Reis “corvos” (orevim) no plural.
Simbologias relacionadas ao corvo
Antigamente, povos pagãos encaravam o corvo como uma espécie
de ave de mau agouro e de presságio da morte, por causa do seu grasnido
lamentoso. Já nos dias de hoje, as pessoas não gostam de imaginar um corvo
levando alimento para um profeta de Deus, porque essa ave foi associada ao
mundo das trevas.
O cinema se encarregou disso. Só para citar alguns exemplos
– Harry Potter e também o filme “O Corvo”, sucesso de bilheteria em 1994, onde
o ator Brandon Lee, com apenas 28 anos de idade, morre na vida real durante as
filmagens.
No enredo do filme, o personagem principal volta do mundo
dos mortos e é guiado por um corvo para se vingar de seus assassinos. Mas isso
é uma viagem cinematográfica, porque o corvo não é visto como uma “ave do mal”
no contexto bíblico, nem na biologia.
No contexto bíblico
Como já vimos, o corvo é a primeira ave, especificamente
citada na Bíblia, no livro de Gênesis. Note que o corvo era usado até na poesia
hebraica: “Sua cabeça é ouro, o ouro mais puro; seus cabelos ondulam ao vento
como ramos de palmeira; são
negros como o corvo.” (Cânticos 5.11)
Biologia e Design Inteligente
Os corvos são conhecidos como animais dotados de
inteligência para conseguirem alimento. Provavelmente, por esse motivo, Deus os
escolheu para realizarem a difícil tarefa de encontrar comida em terra seca.
Mas, devemos lembrar que, tanto humanos quanto aves, dependem de Deus para
sobreviver.
“Considerai os corvos, que nem semeiam, nem segam, nem têm
despensa nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis vós do que as
aves?” (Lucas 12.24)
Você sabia que o corvo está entre os seis animais mais
inteligentes do mundo? Na lista estão os golfinhos, chimpanzés, elefantes,
papagaios, cães e corvos. Os corvos chamam a atenção por conta da facilidade de
imitar sons, usar ferramentas com grau de complexidade para facilitar na
obtenção de alimento e ainda são capazes de forjar a própria morte para enganar
outros corvos e predadores naturais.
Em países como Japão, França e Estados Unidos, estudos
universitários apresentam muitas descobertas sobre os corvos. Seguem alguns
exemplos:
O corvo da Nova Caledônia (Corvus moneduloides), uma espécie
que só existe nesse território ultramarino francês, na Oceania, coleta
espontaneamente material de plantas para criar seus próprios “ganchos”, que ele
usa para capturar aranhas e insetos.
Em 2015, uma menina americana de 8 anos, chamada Lisa, que
costumava alimentar os corvos que visitavam o quintal de sua casa, teve uma
experiência surpreendente. Os corvos comiam e depois deixavam pequenos objetos
de presente nas bandejas vazias: brincos, pedras polidas, parafusos e até
clipes. Coisas brilhantes e pequenas que podem ser transportadas nos bicos.
A mãe de Lisa começou a fotografar e registrar o
comportamento das aves e percebeu a intencionalidade nas ações. Os corvos
acompanham a menina no caminho da escola. Certo dia, ela perdeu a tampa da
lente de sua câmera, e um dos corvos levou a tampa para sua casa, deixando-a no
bebedouro. Essa amizade entre Lisa e os corvos virou notícia nos Estados Unidos.
No Japão, o corvo grande (Corvus corax), leva a castanha no
bico, pousa em um fio de luz, perto de um semáforo, acima de uma faixa de
pedestres. Quando o trânsito está mais intenso, deixa cair a castanha na pista
e os carros que passam acabam por quebrá-la. O corvo usa a circulação
automotiva como ferramenta. Ele espera pacientemente até acender a luz verde
para pedestres e só então voa até a faixa para recolher a castanha já quebrada
e pronta para ser consumida.
É um poderoso voador, batendo forte e constantemente suas
asas, ou planando sem esforço em amplos círculos, enquanto busca alimento. Os
naturalistas consideram o astucioso corvo uma das aves mais adaptáveis e
engenhosas. Ele tem por hábito armazenar sobras de alimento em fendas de rochas
e demonstram devoção considerável por suas famílias.
Em vista de tudo disso, bem como por sua força de voo e
habilidade de sobreviver com uma ampla variedade de alimentos, inclusive
carniça, o corvo foi o candidato adequado para ser a primeira criatura a ser
enviada por Noé para fora da arca. E foi escolhido por Deus para alimentar
Elias naquela situação de seca.
Aplicação
Nesse estudo, aprendemos como o corvo é inteligente e como é
possível que uma simples ave cumpra uma missão dada pelo Criador. Também vimos
que Deus tem poder para suprir todas as nossas necessidades e que isso pode
acontecer de maneiras extraordinárias. Abra a sua mente pra isso. Qual é o seu
deserto ou a seca da sua vida? Não se preocupe, enquanto a chuva não vem, Deus
multiplica o azeite e a farinha, traz de volta a vida, faz a lenha queimar,
envia anjos e, se preciso for, dá ordem aos corvos. Essa é uma lição bíblica
que nos ensina a não questionar a forma como vem a provisão.
Então, faça como o profeta Elias, que mesmo diante da
calamidade, obedeceu a Deus e permaneceu perto do riacho, onde havia água para
matar a sede e o alimento que chegou de uma maneira improvável, sobrenatural e
extraordinária. E quando a fonte secar e não tiver mais água, é porque a chuva
já está chegando. Confie!
“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa
vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso
corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o
corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem
segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes
vós muito mais valor do que elas?” (Mateus 6.25-26)
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