domingo, 11 de outubro de 2020

Herodes


 

Herodes e seus descendentes no Novo Testamento

Fredi Winkler

Herodes e alguns dos seus descendentes são importantes na história do Novo Testamento. Para muitos leitores das Escrituras, as ligações familiares entre Herodes e os diversos descendentes da sua dinastia são um pouco confusas, inclusive porque o Novo Testamento chama dois desses descendentes simplesmente de Herodes, pois afinal descendem da dinastia herodiana. Trata-se, no caso, de Herodes Antipas, que reinava quando Jesus viveu na terra, e de Agripa I, que reinou no tempo dos apóstolos.

Herodes e seus descendentes governaram por um período de quatro gerações entre os anos de 37 a.C., quando Herodes, o Grande subiu ao poder, e 92 d.C., quando morreu seu bisneto Agripa II.

Ao longo da sua vida, Herodes teve mais de dez mulheres e consequentemente também muitos filhos. O Novo Testamento menciona apenas alguns deles, e passaremos aqui a citá-los em sequência.

Filhos de Herodes que herdaram partes do seu reino: Herodes alterou três vezes o seu testamento; a última pouco antes da sua morte em 4 a.C. Neste ele designou três dos seus filhos como herdeiros parciais do reino: Arquelau, Antipas e Filipe. Como cada um recebeu só parte do reino, eles não eram reis como seu pai. Receberam o título de tetrarcas, ou seja, príncipes de um quarto. Os romanos autenticaram o testamento de Herodes.

Arquelau

Arquelau, o filho mais velho, recebeu a Judeia, a parte maior do reino. Depois da morte de Herodes, a situação na Judeia se deteriorou progressivamente, e Arquelau revelou-se incapaz de controlá-la. Por isso, os romanos o depuseram no ano 6 após um reinado de dez anos. A partir de então, os romanos governaram a região diretamente por meio de um procurador. Arquelau é mencionado apenas uma vez no Novo Testamento, em Mateus 2.22.

Antipas

Antipas recebeu a Galileia e a Pereia, uma região a leste do Jordão e do mar Morto. Seu reinado foi mais feliz que o do seu irmão Arquelau, tendo durado de 4 a.C. até 39 d.C. Ele edificou Tiberíades como sua capital junto ao lago de Genesaré, denominando-a assim em homenagem ao imperador Tibério.

Antipas é citado várias vezes no Novo Testamento porque governou durante todo o período que Jesus passou na terra. Nunca, porém, ele é denominado por seu nome particular Antipas, mas sempre apenas de Herodes. Esse fato é a razão principal da falta de clareza quando se cita o nome Herodes.

Em Lucas 3.1, Antipas é mencionado cronologicamente pela primeira vez com a designação de “Herodes, tetrarca da Galileia”. Ele adquiriu fama lamentável pela decapitação de João Batista (Mt 14.1-13).
Antipas é citado várias vezes no Novo Testamento porque governou durante todo o período que Jesus passou na terra.

Nos evangelhos, Antipas é mencionado pela última vez no contexto do interrogatório do Senhor Jesus por Pôncio Pilatos. Quando Pilatos descobriu que Jesus era originário da Galileia, ele o enviou a Herodes Antipas a fim de que este o julgasse. Ele, porém, enviou-o de volta, contrariando Pilatos (Lc 23.1-15).

Filipe

Filipe é mencionado apenas uma vez no Novo Testamento, em Lucas 3.1. Foi-lhe atribuído o governo das regiões da Itureia e de Traconites, ao norte do lago de Genesaré. Ele governou de 4 a.C. até sua morte, em 34 d.C., tendo edificado a cidade de Paneas (atual Banias) para ser sua capital. Denominou a cidade de Cesareia em homenagem ao imperador. Como, porém, já existia uma Cesareia no litoral do Mediterrâneo, sua cidade ficou conhecida como Cesareia de Filipe (Mt 16.13).

Agripa I

Agripa I era neto de Herodes o Grande. Seu pai era Aristóbulo, um filho de Mariamne, a segunda mulher de Herodes. Ela era neta de Hircano, o último rei dos asmoneus, que reinaram antes de Herodes. Com isso, Agripa I era descendente tanto de Herodes como também dos asmoneus ou macabeus, como também eram chamados. Pelo fato de ser descendente não só de Herodes, mas também de ser um asmoneu, ele gozava de alguma simpatia e de reconhecimento entre os judeus. Seu pai Aristóbulo deveria ter sido herdeiro do trono junto com seu irmão Alexandre, mas Herodes acusou ambos e também sua mãe Mariamne de conspiração e mandou executá-los.

Agripa I cresceu em Roma na corte imperial e também viveu a maior parte do tempo ali, até que no ano 37 Calígula, o sucessor do imperador Tibério, fez Agripa rei e lhe deu o domínio da região órfã de Filipe. Ele tinha 47 anos de idade e reinou cerca de sete anos, até 44 d.C.

Herodias, que ganhou vergonhosa fama no episódio em torno da morte de João Batista, era irmã de Antipas (Mc 6.14-29).

Quando o imperador Calígula foi assassinado em janeiro de 41, Cláudio, seu sucessor, tornou Agripa soberano de todo o reino de Herodes, o Grande.

Em Atos 12.1-19, Agripa I é chamado de rei Herodes. Ele matou à espada Tiago, o irmão de João, e lançou Pedro na prisão, o qual foi então libertado pela intervenção milagrosa de um anjo. Os versículos 20 a 23 relatam sua morte súbita em Cesareia por um anjo do Senhor, porque ele “não glorificou a Deus”. Muitas vezes isso também é visto como juízo pela execução de Tiago e a tentativa de matar Pedro. Ao que parece, com isso ele queria conquistar a estima dos judeus, especialmente dos fariseus. Na ocasião, seu filho Agripa, de 16 anos, ainda era jovem demais para assumir sua sucessão, de modo que o país voltou a ser governado por um procurador romano.

Agripa II

No ano 50 d.C., aos 22 anos, Agripa II, o filho de Agripa I e bisneto de Herodes, o Grande, recebeu das mãos do imperador Cláudio o título de rei sobre a região do seu tio-avô Filipe, com a capital Cesareia de Filipe. Mais tarde, ele mudou o nome da cidade para Neronias para bajular o novo imperador, Nero. Quando Cláudio morreu, em 54, o novo imperador Nero entregou a Agripa mais territórios para administrar, entre os quais Tiberíades, a capital de Antipas.

Depois do início da rebelião dos judeus contra Roma no ano 66, ele tentou evitar uma guerra entre Roma e os judeus através da negociação. Os romanos premiaram sua lealdade aumentando seu território.

O discurso de defesa de Paulo diante de Festo, Agripa, Berenice e os líderes da cidade de Cesareia é um dos mais significativos de Paulo.

Entre os anos 48 e 66 d.C., Agripa teve a prerrogativa de nomear os sumos sacerdotes judeus.

O Novo Testamento menciona Agripa II (junto com sua irmã Berenice) no contexto do encontro de Paulo com o governador Festo (At 25.13–26.32). O discurso de defesa de Paulo diante de Festo, Agripa, Berenice e os líderes da cidade de Cesareia é um dos mais significativos de Paulo.

Na introdução do seu discurso de defesa, Paulo elogia Agripa como excelente conhecedor de todos os usos e polêmicas dentre os judeus e se declara feliz por poder defender-se diante dele. E as últimas frases chegam a ser espantosas (At 26.25-29). Paulo diz: “Rei Agripa, crês nos profetas? Eu sei que sim”. O próprio Agripa responde então a Paulo: “Por pouco você me convence a tornar-me cristão”.

De onde Paulo tinha a firme convicção de que Agripa cria nos profetas? Atos 13.1 menciona Manaém, um membro da igreja de Antioquia, e informa que ele foi educado com Herodes, o tetrarca. A referência é ao pai de Agripa II. Será que Paulo recebera desse Manaém mais informações sobre a família Agripa e sua posição em relação à fé judaica?

Ao que parece, Agripa II foi o mais nobre de toda a dinastia herodiana. Quando o governador Festo morreu após um mandato de dois anos, o sumo sacerdote Anano aproveitou a oportunidade para perseguir a comunidade cristã em Jerusalém. Ele matou Tiago, o irmão do Senhor, e mais alguns outros membros da igreja. Quando Agripa foi informado disso, ele imediatamente destituiu Anano.

O Novo Testamento sempre chama Agripa II de “rei Agripa” e nunca simplesmente de Herodes, como seus antecessores. Ele governou do ano 50 até sua morte (aprox. 92 d.C.).

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