Devo ser equilibrado ou centrado?
É muito comum ouvirmos que o segredo da vida é o equilíbrio. Por exemplo, tua vida, como a minha, deve incluir amizades, família, trabalho, devoção e lazer. E, para poder cumprir tudo que nos é exigido, devemos manter tudo em equilíbrio, certo? Tenho ao longo da minha vida tentado alcançar este equilíbrio. Com isso me pego tentando dar a diferentes e conflitantes prioridades a devida atenção. Afinal, preciso ser excelente em meu trabalho e ministério; ao mesmo tempo, desejo ser um pai e esposo presente e interessado. Preciso manter contato com os amigos, além de cuidar da saúde, estar disponível para aqueles que pedem minha ajuda e ser um bom vizinho. Juntamente com isso, preciso me manter informado de acontecimentos, tendências e ler uma enorme quantidade de novos livros (todos “essenciais”) que são lançados semanalmente. Percebe-se que essa é uma proposta falida. Ninguém consegue atender a todas as demandas e manter o ideal do equilíbrio. Apesar de ser uma proposta válida, é uma tarefa sobre-humana.
Há algum tempo tenho pensado que nosso alvo não é o equilíbrio, mas algo diferente. Como acredito que o Senhor controla minha vida e os eventos ao meu redor, e como estou comprometido a viver de acordo com a vontade e os planos dele, minha busca não deveria ser por equilíbrio entre muitas exigências, mas sim estar centrado nele. Deixe-me explicar: diante das demandas conflitantes que me cercam, posso tentar atender todas dentro da minha limitação, mas certamente o valor que vou dar a cada tarefa ou relacionamento será contaminado por meus interesses e pelo interesse dos outros. (E estes interesses nem sempre são puros ou refletem a mente de Cristo.)
Jesus não buscava equilíbrio, nem fazia simplesmente o que as pessoas esperavam dele. Na verdade, mais de uma vez ele se recusou a fazer o que as pessoas pediam (João 6.14-15; Mateus 16.4). Ele também não simplesmente equilibrava suas atividades na tentativa de manter todos relativamente contentes. Seu foco era superior, mais nobre. Jesus era alguém centrado. Reconhecendo que ele vinha do Pai, seu foco era cumprir a vontade do Pai. Em João 5.19 lemos:
Jesus lhes deu esta resposta: “Eu digo verdadeiramente que o Filho não pode fazer nada de si mesmo; só pode fazer o que vê o Pai fazer, porque o que o Pai faz o Filho também faz”.
Uma vez que nos tornamos seguidores de Jesus, este é nosso modelo: não tentar cumprir ansiosamente todas as tarefas e oportunidades que surgem, mas buscar fazer o que o Pai faz. Em João 6.38, Jesus afirma ainda com mais clareza:
Pois desci dos céus, não para fazer a minha vontade, mas para fazer a vontade daquele que me enviou.
Com isso não estou promovendo a irresponsabilidade, mas encorajando você, leitor, a tentar organizar sua vida, não em termos de equilíbrio entre inúmeras demandas, mas a buscar assumir apenas compromissos que estejam alinhados com aquilo que Deus tem para você. Sim, eu sei que temos de trabalhar e que haverá muitos momentos em que o que eu estou fazendo parece não contribuir diretamente para o Reino. No entanto, não acredito que existem momentos irrelevantes em nossa caminhada com Deus. Mesmo que eu esteja fazendo um trabalho rotineiro, ou assistindo uma aula desinteressante, ou limpando mais uma vez minha casa, neste momento eu estou em comunhão com o Senhor do universo. Paulo comenta em dois momentos sobre essa realidade. Primeiramente, em Colossenses 3.23-24:
Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo.
Nesta passagem ele destaca que não há tarefas sem relevância para um seguidor de Jesus. Não existem funções espirituais e carnais. Para quem entregou sua vida a Jesus, tudo é espiritual, por isso fazemos tudo como para ele. Paulo escreve em Gálatas 2.20:
Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
A vida que temos hoje, vivemos pela fé, é uma vida espiritual. Li recentemente um poema de Elizabeth Barrett Browning, que tomo a liberdade de adaptar e reproduzir aqui:
A terra está repleta do céu,
E Deus põe em chamas cada arbusto comum:
Mas somente aqueles que veem, tiram seus calçados;
Os outros apenas se sentam ao redor e colhem pitangas.
Minha oração é que a tua e a minha vida sejam centradas em Cristo e não estressadas numa tentativa alucinante de manter tudo em equilíbrio. Pode levar algum tempo, mas eu te desafio a reduzir o ritmo, a não se comprometer com tudo que lhe é pedido. Quando o povo de Israel pediu para adorar a Deus no deserto, a estratégia do faraó (e de Satanás) foi justamente lhes dar uma agenda mais apertada. Eu não quero perder um encontro com Deus num arbusto em chamas por estar ocupado demais colhendo pitangas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário