Eis o Rei!
Desde sua publicação em 1944-1945, o romance heroico de J. R. R. Tolkien, O Senhor dos Anéis, acumulou fama, fãs e aclamação da crítica. Nenhum outro escritor do mesmo século de Tolkien criou um mundo tão distinto e imaginário como a Terra Média. O Senhor dos Anéis não foi criado como uma alegoria cristã, mas é um mito inventado incorporando verdades bíblicas.
O Senhor dos Anéis apresenta um fundamento bíblico para se entender o bem e o mal. Por exemplo, ele enfatiza a realidade de um mal sinistro e repulsivo, ao contrastar essa perversidade com personagens que são exemplos daquilo que é bom. A base do drama é o óbvio contraste entre o bem e o mal, resultando num grande conflito. A história não é o tipo de drama sem sentido que surge de distinções obscuras ou não identificáveis entre o bem e o mal; em vez disso, a narrativa é profunda e o bem persevera até, por fim, triunfar e erradicar o grande mal (um contraste com os mitos pagãos, onde os personagens meramente introduzem um “equilíbrio” entre o bem e o mal). Os temas de redenção em O Senhor dos Anéis são familiares e pessoais, permitindo assim que os leitores fiquem envolvidos nas lutas dos personagens.
A grande batalha entre as forças do bem e do mal é ganha pelo heroísmo de Frodo Bolseiro e Sam Gamgee. Aragorn é uma figura de Cristo, com seu povo antecipando seu retorno a fim de tomar o seu lugar de direito como rei. Jesus, é claro, é o verdadeiro Rei do cristão e aquele cujo povo anseia seu retorno. Tolkien demonstrou crer que a história da humanidade é realmente um conflito entre o bem e o mal.
O romance heroico de Tolkien cativa os leitores porque a missão dos personagens é emocional/espiritual. O Senhor dos Anéis apresenta um entendimento bíblico do poder de Deus e de sua vitória final sobre o pecado e a perversidade. O livro de Apocalipse é a revelação inspirada por Deus do bem triunfando sobre o mal, especificamente com a vinda de Jesus Cristo em autoridade, glória e poder. Apocalipse é realmente um ponto culminante apropriado para a Bíblia.
Abençoado por ler
O livro de Apocalipse começa com várias proposições notáveis. É evidente que o apóstolo João procurou comunicar uma mensagem que não se originou nele mesmo: era uma revelação a respeito de Jesus Cristo (Apocalipse 1.1). O Senhor não é apenas o tema principal de Apocalipse, ele é também aquele que está de fato comunicando a mensagem. Esta se origina com Deus, é revelada através do Senhor Jesus e é então dada por “seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João”, que então comunicou a “palavra de Deus” a todos os servos do Senhor, ou seja, a todos os cristãos (versos 1-3).
A mensagem de Apocalipse é profética, pois envolve “o que em breve há de acontecer” (verso 1). A palavra grega tachei, traduzida como “em breve”, não significa imediatamente, pois é um advérbio de modo (ao invés de ser um advérbio de tempo). Quando os eventos de Apocalipse ocorrerem, eles serão rápidos e acelerados. O versículo 2 afirma a autoridade e inspiração de Apocalipse em termos inconfundíveis, usando a linguagem de uma testemunha jurídica intimada a testemunhar em um tribunal. A responsabilidade de João era de dar testemunho da “palavra de Deus e [d]o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu” (NAA, ênfase acrescentada).
O livro de Apocalipse é a revelação inspirada por Deus do bem triunfando sobre o mal, especificamente com a vinda de Jesus Cristo em autoridade, glória e poder. Apocalipse é realmente um ponto culminante apropriado para a Bíblia.
Uma declaração muito incomum e única é encontrada no versículo 3, em que se lê: “Feliz aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, porque o tempo está próximo”. A bênção associada com a leitura do livro de Apocalipse envolve mais do que ouvir suas palavras; a pessoa precisa guardá-las, o que significa submeter-se a elas de forma que a sua vida seja diferente de como era antes. A palavra grega tereo, traduzida como “guardam”, também pode ser traduzida no sentido de “obedecer”, e é o mesmo verbo utilizado em João 14–15 no que diz respeito a guardar os mandamentos do Senhor (14.15; 15.10). O ato de ler Apocalipse publicamente é significativo, pois demonstra aceitação do livro entre a igreja, e, assim, é confirmação de sua autoridade e inspiração.
A mensagem inicial às igrejas é, “a vocês, graça e paz” (Apocalipse 1.4). A fonte dessas bênçãos é o Pai, o Espírito Santo e o Filho. Deus Pai é descrito como aquele “que é, que era e que há de vir” (verso 4), um paralelo apropriado a “Eu Sou o que Sou” (Êxodo 3.14); isto é, aquele que existe eternamente. O Espírito Santo também é fonte de graça e paz divinas. O versículo 4 usa uma figura de linguagem chamada pleonasmo, na qual se usa mais palavras do que o necessário para transmitir significado. Os “sete espíritos” ilustram a perfeição do terceiro membro da Divindade (cf. Isaías 11.1-2).
Jesus Cristo igualmente provê graça e paz. Ele é descrito de forma tripla: (1) ele é “a testemunha fiel”, significando que ele revela fielmente tudo o que o Pai deseja que ele comunique (cf. João 1.18); (2) ele é “o primogênito dentre os mortos”, uma lembrança de sua morte e ressurreição (cf. Mateus 16.21; 17.22-23; 20.18-19); e (3) ele é “o soberano dos reis da terra”, uma referência ao seu reino e governo (cf. Apocalipse 19.11–20.6). Os cristãos são vistos em conjunto como “reino e sacerdotes” (verso 6; cf. 5.9-10; Êxodo 19.6), o que antecipa a união com Cristo em seu reinado. A promessa da vinda do Senhor antevê esse glorioso reino (verso 7).
A palavra final da saudação é uma confirmação da veracidade da mensagem, como vinda daquele que é “o Alfa e o Ômega” (verso 8). Apocalipse é transmitido por palavras, e uma vez que todas as palavras gregas (a língua original do Novo Testamento) se encontram entre os limites da primeira e da última letras daquele alfabeto, a ênfase está na mensagem de Deus. O Deus eterno, “que é, que era e que há de vir”, é a fonte da revelação.
Abençoado por guardar
A visão de João inclui uma introdução (versos 9-11), a revelação em si (versos 12-16) e instrução (versos 17-20). João frequentemente enfatiza similaridades com seus leitores, ao invés de diferenças. Ele se identifica para seus leitores como “irmão e companheiro de vocês no sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus” (verso 9). João escreveu em outro lugar: “Meus irmãos, não se admirem se o mundo os odeia” (1João 3.13).
Além da antecipação do reino milenar, a igreja primitiva compartilhava do “sofrimento” com perseverança e paciência. Perseverança em meio ao sofrimento é motivada pela expectativa de uma libertação que está por vir (cf. 1Tessalonicenses 1.3). A afinidade espiritual entre João e seus leitores é o que transforma aqueles que partilham do sofrimento em cidadãos do reino vindouro. A esfera da participação mútua na tribulação que diz respeito ao reino de Deus e requer perseverança está “em Jesus”.
A revelação que veio a João ocorreu quando ele se achou em Espírito “no dia do Senhor” (verso 10), no dia pertencente ao Senhor (um certo tipo de dia no qual João estava sob o controle de Deus; cf. 2Timóteo 3.16-17). A visão começou com som ao invés de algo visível, o que significa que era envolvente e, portanto, difícil de ignorar. Quando estava sob o controle do Senhor, João ouviu “uma voz forte, como de trombeta” (verso 10). A pessoa que falava com João era o Senhor Jesus (verso 17), e o som de trombeta em sua voz enfatizava a importância de suas palavras.
A afinidade espiritual entre João e seus leitores é o que transforma aqueles que partilham do sofrimento em cidadãos do reino vindouro.
A voz ordenou a João que escrevesse “num livro o que você vê” e enviasse a sete cidades (verso 11). A ordem das cartas às sete igrejas simplesmente segue a ordem na qual as igrejas estão distribuídas em uma rota no formato de uma ferradura ao longo da costa, a qual alguém que estivesse de viagem de Patmos à Ásia Menor utilizaria. Éfeso estava um pouco mais ao sul ao longo da costa; portanto, essa igreja foi abordada primeiro. As igrejas foram selecionadas porque representam o que há de bom e de mau entre os cristãos de todos os lugares e todas as eras. O julgamento começa “pela casa de Deus” (1Pedro 4.17); logo, é apropriado que Jesus se dirija à igreja primeiro, antes de responder ao mundo perdido (Apocalipse 6–19). Há insights maravilhosos sobre o comportamento humano nessas sete cartas que demonstram a avaliação do Senhor.
Ao se voltar para a voz que ouvira, João viu “sete candelabros de ouro” (1.12), que simbolicamente significam que cada igreja é uma portadora de luz em um mundo em trevas (cf. Mateus 5.14). Como os cristãos constituem as igrejas locais, cada uma delas deveria ser uma luz que brilha na escuridão. O que chamou a atenção de João foi aquele que se movia entre os candelabros, aquele que é chamado de “um filho de homem” (verso 13).
João viu Jesus Cristo em sua forma humana, com roupas como as de um sacerdote e um juiz (verso 13). Sua cabeça, com cabelos “brancos como a lã”, atesta a sabedoria do Senhor. Seus olhos como chamas são uma referência à sua santidade, e ao fato de que tudo é transparente diante dele (verso 14; cf. 1Coríntios 3.13). Seus pés “como o bronze numa fornalha ardente” são uma referência aos sofrimentos que Jesus padeceu em sua vida terrena (verso 15). Sua voz “como o som de muitas águas” indica autoridade. Na mão direita do Senhor havia “sete estrelas” (verso 16), uma referência aos “anjos das sete igrejas” (verso 20), o que prova o cuidado e preocupação de Deus por sua igreja. Da boca do Senhor “saía uma espada afiada de dois gumes”, uma vez que sua Palavra é o padrão para todo julgamento (cf. Hebreus 4.12).
Em resposta à revelação que recebeu, João caiu de rosto no chão aos pés do Cristo ascendido, glorificado e vivo (verso 17). A manifestação visível de Deus demandava louvor (cf. Êxodo 3.6), o qual então resultou em bênção. Colocando sua “mão direita” sobre João, o Senhor Jesus ressurreto relembrou-o de que é aquele que é eterno e autoexistente (versos 17-18). João registraria as coisas que tinha visto, além das coisas “presentes” e daquelas “que acontecerão” (verso 19). Que todo o povo de Deus possa orar para que ele nos faça brilhar em meio à escuridão, até que seu trabalho por nós seja realizado! Então poderemos estar de pé diante dele sem nos envergonharmos (cf. Romanos 10.11; 1João 2.28).
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