AS ORAÇÕES DE JESUS
Todas as orações de Jesus deveriam se tornar as
orações de todos os cristãos. Orando as orações de Jesus, envolvemo-nos na mais
elevada forma de discipulado. Para o discípulo é suficiente ser como
seu mestre, e o escravo, como seu senhor (Mateus 10:25). Jesus não
somente orava mais do que qualquer outra pessoa, mas as suas orações também se
diferenciavam de todas as demais orações da Bíblia.
Muito embora fosse plenamente humano, Ele já tinha
um conhecimento perfeito, tanto das palavras como do propósito das Escrituras
desde sua infância. Assim sendo, quando Ele estava no templo, com os seus
tenros doze anos de idade, conseguiu dialogar com os seus mestres de tal forma
que todos que o ouviam se admiravam de seu entendimento e de suas
respostas (Lucas 2.47).
A medida que crescia, Jesus ia a lugares solitários
para orar (veja Marcos 1:35). Ele orava com tanta intensidade que as suas
orações vinham em alta voz e com lágrimas (Hebreus 5.7). Uma
vez Ele orou tão fervorosamente que seu suor caía na terra como gotas e
sangue (Lucas 22.44). O estilo de vida de oração que Jesus nos deu
como modelo quase nunca foi tocado pela maioria os cristãos. Mas, quando as
orações de Jesus são oradas de volta Para Ele, lentamente passamos a entender o
que Ele Obviamente sabia sobre o poder da oração. As palavras o dirigirão às
experiências de oração Dele, e, então, à de Filho que Ele mesmo desfrutava com
o seu Pai.
Vemos assim que Jesus estabeleceu um relacionamento
com Yahweh que era radical para a sua época. Até aquele momento, ninguém na
história jamais havia se dirigido ao Senhor Deus Todo-Poderoso da forma como
Jesus o fazia. Os judeus devotos tinham medo até mesmo de usarem o nome de
Deus, Yahweh. Temiam tomar o seu nome em vão. Para evitar isso, minuciosos
sistemas foram estabelecidos para que os judeus pudessem se referir a Yahweh
sem de fato pronunciarem o seu nome. Os judeus diziam Adonai, que significa
“meu Senhor”. Mais tarde no período medieval, as vogais de Adonai foram anexadas
às consoantes y, h, w e h, resultando na palavra Jehovah. Portanto, foi um
enorme choque o fato de Jesus aparecer da extremidade oposta e dirigir-se a
Deus como Aba Pai ou Querido Papai (veja
Marcos 14.36). Esse termo carinhoso não era nada menos do que revolucionário.
Nem mesmo os escravos podiam dirigir-se ao dono da casa como Aba, porque esse
termo era considerado pessoal demais. Normalmente, apenas as crianças pequenas
usavam essa palavra inocente e comum, referindo-se aos seus próprios pais. Mas
um judeu jamais se dirigiria a Deus de uma forma tão familiar assim. Portanto,
Jesus estava abrindo aporta a um nível totalmente novo de intimidade ao
instruir os seus discípulos a orarem: Pai nosso que estás no céu (Mateus
6:9). Jesus nos introduz em um novo relacionamento com Deus — que se assemelha
à intimidade e familiaridade entre um papai e seu filhinho.
As orações de Jesus também são únicas no sentido de
que Ele ainda está orando essas orações hoje. O autor de Hebreus nos encoraja,
dizendo: Mas, visto que ele vive para sempre, seu sacerdócio é
permanente, Portanto, ele é capaz de salvar de uma vez por todas
aqueles que se aproximam de Deus por meio dele. Ele vive sempre para interceder
em favor deles (Hebreus 7.24, 25). Num sentido bastante real, Ele está
orando por você neste exato momento. A oração de Jesus por Pedro torna-se um
exemplo de que Ele está orando por nós agora. Naquela ocasião, Jesus disse a
Pedro: Simão, Simão, Satanás pediu [intimou para juízo] para peneirar
cada um de vocês [plural] como trigo. Contudo, supliquei em oração por você
[singular], Simão, para que sua fé não vacile (Lucas 22.31 ,32). Jesus
não estava dizendo que apenas Pedro seria provado e testado, Ele estava
indicando que todos os 12 discípulos seriam testados e provados e que Ele orava
por todos. No entanto, Ele orou por Pedro especificamente, ao dizer: Supliquei
em oração por você… Portanto, quando tiver se arrependido e voltado para mim,
fortaleça seus irmãos (Lucas 22.32). Pelo fato de Jesus ainda estar
vivo e interceder por nós, essa oração refere-se a todos nós que, de maneira
semelhante, somos escolhidos para passarmos por tribulações e provações. Quem
dentre nós não precisa da contínua e incessante intercessão de Jesus? Falando
na prática, poderíamos fazer - uma substituição e colocar os nossos próprios
nomes nas de Jesus ou orá-las por nossos próprios discípulos. Portanto, quando
você estiver orando as orações de Jesus, estará se unindo a Ele em sua
intercessão celestial. maneira, as orações de Jesus são tao relevantes hoje
foram ao ser oradas pela primeira vez.
Contudo, ainda há outras formas de abordarmos essas
orações. Quando começamos a orar as orações de Jesus, começamos orando o texto
literalmente, concordando com nos contextos histórico e teológico das pessoas e
coisas pelas quais Ele orou. Quando Ele ora pelos seus discípulos, pedindo a
Deus por algo, você também pode adotar o mesmo contexto histórico. Comece as
suas próprias orações lembrando-se, simplesmente, dos 12 discípulos que estavam
com Ele durante o seu intenso ministério e da igreja que surgiu do testemunho
deles. Quando você ora a oração de Jesus: Glorifica teu Filho, para que
ele te glorifique (Jo 17. l) você está concordando com Jesus e continuando
a orar pela manifestação da glória do Filho. Pode ser uma simples oração de
concordância, pela qual também ansiamos que Jesus seja glorificado hoje, que a
sua vida e paixão continuem a glorificar o Pai agora. Dessa forma, estaremos
orando hoje pelas mesmas coisas que Jesus orava em sua época.
Num nível mais profundo, à medida que o intercessor
continua orando essas orações vez após vez, dizendo as mesmas palavras que
Jesus disse, torna-se mais aparente a forma como Jesus pensava. O que Jesus
estava pedindo? Quais eram as suas preocupações? Orando as suas palavras,
entramos em sua mente e em seu espírito — a sua paixão, Em pouco tempo, as suas
preocupações tornam-se as nossas preocupações, e as suas palavras, as nossas
palavras. Enquanto isso acontece, podemos começar a aplicar as mesmas orações à
nossa própria vida. Também podemos pedir que Deus seja glorificado em nossa
vida por meio das nossas ações, Podemos pedir que a sua vontade seja feita em
nossas escolhas. Podemos orar por nossa própria família, amigos e entes
queridos da mesma maneira que Jesus orava pelos seus discípulos, As suas
preocupações relação a seus discípulos eram sobre proteção e unidade (veja João
1 7,11, 12), sobre alegria no meio de um hostil (veja João 17,13-16) e para que
a santidade prática crescesse pela Palavra da verdade (veja João 17.17-19). E
um pequeno passo para qualquer cristão consagrado transformar esses textos
clássicos em orações básicas por seus próprios discípulos. Uma vez mais, vemos
a aplicação das orações de Jesus em nossa própria vida.
Além disso, orando as orações de Jesus como se
fossem as nossas próprias orações, tornamo-nos tipos de Cristo (“ungidos”)
pedindo essas coisas a Deus para nós mesmos. Como foi mencionado anteriormente,
Jesus desfrutava de um lugar especial como Filho de Deus, e, como tal,
conversa- a com Deus com uma ousadia desconhecida por outros. João 17 está
repleto de assuntos que o cristão comum jamais ousaria proferir. Mas, à medida
que oramos essas palavras, lentamente começamos a nos dar conta de que assim
como tu [o Pai] me enviaste [o Filho] ao
mundo, eu [Jesus] os envio [todos os cristãos] ao
mundo (João 17.18). Nós devemos fazer o que Jesus fez, porque Jesus
nos deu a h mesma glória que o Pai lhe deu (veja João 17.22). Portanto, nós também
deveríamos glorificar o Pai com a nossa vida, exatamente como Jesus fez com a
Dele (veja João 17.1). Uma vez que o Pai concedeu a Cristo autoridade sobre todas
as pessoas, Jesus, por sua vez, é capaz de dar aos seus seguidores autoridade
para saírem em seu nome e chamarem os outros à vida eterna em Cristo Jesus
(veja Mateus 28.18). O fato de orarmos as orações de Jesus permeia e inspira o
nosso espírito com o entendimento de que toda a nossa vida deve seguir o padrão
de toda a vida Dele. Também vemos que temos um trabalho a realizar à medida que
nos movemos na direção da nossa própria paixão, quando nós também seremos
ressuscitados incorruptíveis e com um corpo glorioso, O Pai nos glorificará
quando formos a Ele (veja I Coríntios 15.40-42). Paulo até mesmo ora para que
conheçamos, com um conhecimento íntimo, a esperança, a herança e a suprema
grandeza de seu poder para conosco, os que cremos. E o mesmo poder
grandioso que ressuscitou Cristo dos mortos e o fez sentar-se no lugar de
honra, à direita de Deus, nos domínios celestiais (Efésios 1. 19,20).
Isso é fantástico! O poder que ressuscitou Jesus
dentre os mortos e trouxe glória ao Pai é o mesmo poder que está em nós agora,
enquanto estamos vivos! Orar as orações de Jesus nos leva ao lugar em que Jesus
estava, ao lugar onde Ele deseja que estejamos.
Posteriormente, ao orarmos as orações de Jesus,
estaremos moldando a nossa vida segundo a Dele. Pedro disse: Porque
Deus os chamou para fazerem o bem, mesmo que isso resulte em sofrimento, pois
Cristo sofreu por vocês. Ele é seu exemplo; sigam seus passos (l Pedro
2.21). A palavra “exemplo” vem da palavra composta grega hupo, que
significa “embaixo” e grammos, que significa “escrita” —
literalmente, um “subscrito, assinatura”. A vida de Jesus é o protótipo ou o
padrão, a matriz de onde nós, como cristãos, delineamos a nossa vida. Somos
seus imitadores. E, no início da nossa caminhada cristã, nada melhor que
substituirmos os pronomes das Escrituras pelo nosso nome, o que torna mais
pessoal o fato de orarmos e recitarmos as Escrituras. Enchendo o nosso coração
e a nossa boca com as próprias palavras de Jesus, a sua essência se forma em
nós, Começamos a crer que realmente somos cristãos – pequenos Cristos cujo
propósito é vivermos a mesma vida sobrenatural e milagrosa que Jesus viveu.
Por fim, incluímos “A Oração a Jesus”, que se
desenvolveu a partir do desejo de seguirmos o mandamento bíblico de orar sem
cessar. Ela recebeu vários nomes ao longo da história da igreja, como, por
exemplo, “oração da respiração”, “oração centralizadora”, “oração monástica” e
oração contemplativa”. Muito embora existam diferentes nomes e nuanças, a
essência desse estilo de oração é a mesma. E uma forma de oração extremamente
simples e pura, que nos leva à presença de Deus. Qualquer pessoa pode usar esse
método, porque é uma oração baseada na experiência, e não no intelecto. Moisés
disse, certa vez, ao Senhor: Se não nos acompanhares pessoalmente, não nos
faças sair deste lugar (Êxodo 33.15). Numa só sentença, Moisés capturou o
anseio da “Oração a Jesus”. O seu / desejo é permanecermos constantemente na
presença manifesta de Deus. Essa sublime meta de oração perpétua é alcançada de
uma forma bastante simples. O autor de The Cloud of Unknowing [“A nuvem do
desconhecido”] diz: “Uma palavra de uma sílaba, como, por exemplo, ‘Deus’ ou
‘amor’, é melhor. “1 Repetindo-se uma palavra Z/ ou frase vez após vez até que
se torne para nós tão natural quanto o nosso respirar, o nosso espírito fica
tão imerso na comunhão com Deus que conseguimos descansar à sombra do
Todo-poderoso (Salmo 91. l), permanecer Nele, a videira (Jo
15.4) e nunca deixar de orar (l Tessalonicenses 5.17).
Esse método de oração originou-se na época dos Pais
do Deserto e foi incorporado à tradição grego-ortodoxa mais tarde. As três ou
quatro frases simples que os Pais do Deserto escolheram para orar vieram de uma
parábola que Jesus contou em Lucas 18,9-14. Mais tarde, ela foi modificada para
que se dirigissem ao Senhor Jesus, e daí veio o título “A Oração a Jesus”. A
oração é a seguinte: “Jesus Cristo, Filho de Deus, tem misericórdia de mim,
pecador!” Pequenas diferenças podem trazer mudanças no sentido de que você pode
dirigir a oração ao nosso Senhor Jesus Cristo ou você pode omitir a palavra
“pecador”. Mas, no final, é uma frase ou pensamento simples, sutil como uma
respiração, que requer foco para dirigir a mente a fim de afetar o coração, e,
em última análise, mover o espírito.
Uma excelente ilustração disso encontra-se em The
Way of a Pilgrim [“O Caminho de um peregrino”], uma linda história de
um camponês russo que estava buscando a resposta de como orar sem cessar.
Depois que o seu mentor lhe disse para orar “A Oração a Jesus” até 12 mil vezes
por dia, ele finalmente tornou-se um perito nisso e foi então arrebatado à
presença de Deus. Ele descreve a sua experiência, dizendo:
Depois de receber essa instrução, passei o resto do
verão recitando o nome de Jesus vocalmente e gozei de grande paz. Enquanto eu
dormia, frequentemente sonhava que estava orando. E, se por acaso me deparasse
com pessoas durante o dia, todas elas me pareciam parentes, muito embora eu não
as conhecesse. Os meus pensamentos haviam me sossegado completamente; eu
pensava somente na oração à qual o meu coração começou a ouvir, e o meu coração
mostrou um certo calor e alegria… A minha cabana solitária era para mim um
esplêndido palácio, e eu não sabia como agradecer a Deus por enviar a mim, um
grande pecador, um ancião tão santo assim para me conduzir. Assim sendo, agora
ando e oro a Oração a Jesus sem cessar, e isso é mais precioso para mim do que
qualquer outra coisa do mundo. Ando num estado semiconsciente, sem
preocupações, interesses e tentações. O meu único desejo e atração é por
solitude e incessante recitação da Oração a Jesus, Isso me deixa feliz. Deus
sabe o que tudo isso significa. (HELEN,
Bacovcin, trans., The Way of a Pilgrim: A Classic of Orthodox Spirituality [“O
caminho de um Peregrino: Um Clássico da Espiritualidade Ortodoxa”] (New York:
Image Books, 1978), págs. 23, 24)
Dessa maneira, se estivermos nos movimentando na
direção da experiência de comunhão contínua com Deus, orando “A Oração a Jesus”
ou entrando na mente de Cristo, por meio das mais extensas e didáticas orações
de Jesus, devemos seguir a -Jesus em seu exemplo de oração. Ele nos ensinou a
orar por palavras e ações. Portanto, todas as orações de Jesus deveriam se
tornar as orações de todos os cristãos.
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