A Alegria da Fraqueza
Basta ouvir alguns relatos e elogios sobre líderes cristãos para perceber como nosso “ideal” é alguém forte, visionário, criativo, resistente, humilde, sensível, “homem de Deus” – em resumo, a imagem da perfeição. É verdade que muitos aparentam ser exatamente isso. E também é verdade que muitos, além de aparentar, possuem várias qualidades, tanto inatas como cultivadas. Eu pessoalmente agradeço a Deus pelos líderes fortes, visionários, dispostos, criativos, sensíveis, determinados, organizados e devotos que conheci.
No entanto, a totalidade dos cristãos que eu conheço e com quem tive o privilégio de caminhar me mostra uma outra realidade. Uma realidade que está mais próxima de quebrar o coração do que de inspirar imitação. Na semana passada partiu para casa o conhecido teólogo cristão J. I. Packer. Em um dos seus últimos textos, li seu testemunho de como o avanço da idade nos faz lembrar de nossa fraqueza, de como somos limitados. Ao final ele afirma: “A fraqueza é o caminho!”. Refleti um pouco sobre isso e acredito que precisamos falar da alegria da fraqueza.
Quando pensamos em um líder forte e competente, pensamos em alguém que sabe, que é capaz, que tem uma visão clara e que caminha com segurança conduzindo sua igreja ou organização. Misturamos nesta imagem algumas virtudes como humildade e devoção, mas não fraqueza. Fraqueza parece desqualificar, pois parece que – mesmo com as virtudes cristãs – o líder deve ser forte. Com certeza, uma fraqueza que é fruto de desinteresse, egoísmo e falta de dedicação desqualifica, mas os líderes sobre os quais lemos na Bíblia eram homens e mulheres fortes apenas em sua dependência de Deus. Eram resistentes, sim, mas à tendência humana de autonomia; eram visionários devido à sua compreensão do que Deus estava revelando. Em resumo, eram fortes ao reconhecer sua fraqueza e ao caminhar na dependência de Deus.
Pensem comigo: Abraão entregou sua esposa para salvar sua vida; Jacó era um enganador; José, um filho mimado; Moisés, em um acesso de raiva, perdeu a chance de entrar na terra prometida; Davi era adúltero e assassino; Pedro negou conhecer Jesus para salvar sua pele; Tomé duvidou; Timóteo lutava com timidez e hesitação. O apóstolo Paulo é quem nos ensina com mais clareza a alegria da fraqueza em 2Coríntios 12.7-10:
Para impedir que eu me exaltasse por causa da grandeza dessas revelações, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás, para me atormentar. Três vezes roguei ao Senhor que o tirasse de mim. Mas ele me disse: “Minha graça é suficiente a você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco, é que sou forte.
No verso 10, Paulo afirma: “... regozijo-me nas fraquezas...”. Como pode alguém se regozijar em fraqueza? A fraqueza em si não é motivo de regozijo, mas sim a graça da qual podemos depender somente quando nos damos conta de nossa fraqueza. Se confio e dependo de minha força, estou sempre com medo do próximo teste, se serei forte o suficiente para o próximo desafio, se serei competente, enfim, se eu vou conseguir. Quando me dou conta de minha fraqueza e confio na força de Deus, posso descansar e me alegrar que Ele é o responsável pelos resultados.
Quem assume que não pode mudar sua própria vida, e que só Deus pode restaurá-la, admite que sua alegria, sua esperança, está no Todo Poderoso.
Seguindo o mesmo raciocínio, o ministério cristão chamado Celebrando Restauração ensina, como primeiro passo para uma experiência de transformação, reconhecer que minha vida está fora de controle (Romanos 7.18). Isso não significa uma isenção de culpa, mas um reconhecimento de culpa e de incapacidade de controlar minha própria vida. O passo seguinte é assumir que apenas em Deus posso ser restaurado (Filipenses 2.13). Isso não significa uma atitude derrotista e entreguista, mas sim uma dependência ativa e cheia de fé. Quem assume que não pode mudar sua própria vida, e que só Deus pode restaurá-lo, admite que sua alegria, sua esperança, está no Todo-Poderoso; em contrapartida, quem acha que tem controle sobre si mesmo e que sem Deus pode conseguir alguma transformação ainda está preso à sua arrogância e autonomia.
Deus, em sua misericórdia, permite que encaremos nossa fraqueza de modo coletivo com uma pandemia mundial e de modo individual com os vários desafios e mesmo tragédias em nossas vidas. Se nada mais, o tempo e a idade nos farão enfrentar a fraqueza. Minha oração por você e por mim é que encontremos a alegria de Paulo que afirma “quando sou fraco, é que sou forte”. Assim, viveremos nesta vida com mais leveza e misericórdia para com os fracos (ou seja, toda a humanidade) e mais prontos para buscar a Deus em nossa fraqueza!
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