Pensando sobre o lugar do sofrimento, somos levados quase imediatamente à história de José. Ela é registrada a partir do capítulo 37 de Gênesis; na verdade, a partir deste ponto ele é o personagem principal da trama, onde Deus age em favor e por meio da família que prometeu abençoar. Ele foi o favorito de seu pai dentre 12 irmãos. A história conta que José foi o primeiro filho de Raquel, a esposa favorita do pai, e que ele nasceu em sua velhice. Talvez Jacó já tivesse acumulado frustrações com seus demais filhos, talvez as mães destes tivessem passado aos filhos parte de sua amargura de serem colocadas em segundo plano. O fato é que Jacó, sendo pai na idade de avô, demonstrava um favoritismo aberto por José.
Não é necessária muita imaginação para entender que este rapaz cresceu se imaginando melhor que seus irmãos. O verso 2 do capítulo 37 de Gênesis afirma que ele contava ao pai a má fama de seus irmãos. Não sabemos qual era sua motivação, mas, conhecendo algo de sistemas familiares, é evidente que José se aliou ao pai delatando seus irmãos. Jacó mandou fazer uma veste especial, símbolo de um herdeiro, e a reação dos irmãos foi natural. O verso 4 do mesmo capítulo diz que eles o odiaram e não conseguiam falar com ele amigavelmente.
A saga continua quando José tem sonhos em que ele é exaltado diante de toda a família. Seguindo o enredo de favorito, ele conta a todos os seus sonhos de autoexaltação. Mais uma vez, o resultado é que os irmãos o odeiam ainda mais. Somente agora o pai o repreende. No entanto, os irmãos crescem em ciúmes.
A sequência dramática é que, assim que têm oportunidade, os irmãos buscam se livrar do favorito. A princípio consideram matá-lo, mas por fim, movidos mais pelo ganho financeiro que por misericórdia, cedem à proposta de vendê-lo. Ao pai contam a mentira apoiada pela apresentação da túnica de José rasgada e manchada de sangue.
Quanto mais pudermos nos apoiar na verdade de que Deus está no controle, mais seremos capazes de lidar com as injustiças e os sofrimentos que vamos enfrentar.
A história continua e teremos de usar o próximo artigo para explorá-la em sua inteireza. No entanto, é possível observar alguns detalhes da história que podem nos ajudar a refletir sobre o sofrimento. Primeiramente é óbvio que a decisão dos irmãos é cruel e reflete seu caráter distorcido. Mas do ponto de vista de José, como é que Deus permitiu tamanho sofrimento em sua vida? Qual o propósito de Deus? Como lidar com isso? Talvez ele tenha mesmo pensado: “O que foi que eu fiz para merecer isso?”. Vamos tentar listar algumas observações que possam nos ajudar a enfrentar os sofrimentos e injustiças em nossa própria vida:
O sofrimento de José tem início com a disfuncionalidade de sua família de origem (poligamia, competição, omissão paterna, entre outros), ou seja, dilemas de nossas famílias de origem vão gerar sofrimentos sobre os quais não tivemos responsabilidade.
A atitude de José foi repreensível, ou seja, embora compreensível, tanto delatar seus irmãos como relatar os sonhos em que seria exaltado foram no mínimo falta de sabedoria. Muito embora ele não fosse responsável pelo favoritismo, ele acirrou o conflito ao alimentar as diferenças.
A tentativa de assassinato e a eventual venda como escravo foram atos de crueldade e injustiça. Não há como aliviar o fato de que vamos sofrer injustiças. Pessoas que deveriam nos amar vão agir contra nós com maldade, qualquer que seja sua motivação. Negar este fato não é espiritual, é alienação! Infelizmente não é incomum pessoas que, ao resolver conflitos, tentam aliviar as motivações daqueles que praticaram a injustiça. José, anos mais tarde, reconhece que seus irmãos agiram com maldade. Reconhecer a injustiça é um passo importante no processo de perdão.
José não podia saber disso tudo, mas todo este drama fazia parte do plano de Deus para salvar seu povo. Este é talvez o maior desafio para nossas mentes alimentadas por expectativa de justiça em nossa perspectiva. Quanto mais pudermos nos apoiar na verdade de que Deus está no controle, mais seremos capazes de lidar com as injustiças e os sofrimentos que vamos enfrentar.
A história de José ainda tem muito para mostrar. No próximo artigo gostaria de continuar a analisar esta história retirando lições para nossas vidas. No entanto, preciso destacar a famosa passagem em que José conclui seu relacionamento com seus irmãos, em Gênesis 50.19-21:
19José, porém, lhes disse: “Não tenham medo. Estaria eu no lugar de Deus? 20Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos. 21Por isso, não tenham medo. Eu sustentarei vocês e seus filhos”. E assim os tranquilizou e lhes falou amavelmente.
Eu sei que eu preciso aprender desta atitude de José. Imagino que você também tenha algo a aprender desta história. Por isso eu oro para que a realidade do cuidado de Deus, mesmo diante do sofrimento, se torne um fundamento em nossas vidas. E que nossa atitude reflita nosso compromisso com nosso Senhor e nossa dependência ativa dele.
Qual é a aplicação dos princípios que devem reger a igreja, tal como são ensinados no Novo Testamento, no século atual?
Para podermos responder a esta pergunta, primeiramente é necessário darmos uma breve olhada para o estado da igreja professa nos nossos dias. Por todos os lados constatamos apostasia, falha e ruína. Existem vastas organizações eclesiásticas reunindo riquezas materiais e influência política, mas destituídas de poder espiritual. Encontramos o denominacionalismo e o sectarismo reivindicando a lealdade e o apoio de seus adeptos; contudo, apresentando um aspecto infiel e pervertido da igreja. Encontramos reuniões na igreja se ocupando com uma liturgia sem vida e um ritualismo que atrofia a alma, oferecendo ao povo sombras no lugar de Cristo. Encontramos um sistema clerical que reduziu o homem comum a um sacerdote estúpido, senão uma mera máquina de distribuição de moedas. Encontramos igrejas com listas de membros que incluem tanto salvos quanto não salvos, tanto verdadeiros crentes quanto aqueles que não têm uma união vital com o Salvador vivo. Por fim, encontramos igrejas que foram corrompidas pelo fermento do modernismo, que substituíram a mensagem da graça redentora por um evangelho social.
Se for perguntado o que deve fazer um cristão que se encontra em tal situação, só pode haver uma resposta: separe-se disso! Avance em direção a ele sem o bando! A Palavra de Deus é impiedosamente inflexível em sua insistência de que os crentes devem se separar de toda espécie de mal – seja eclesiástico, doutrinário ou moral.
“Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente? Que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos? Pois somos santuário do Deus vivo. Como disse Deus: ‘Habitarei com eles e entre eles andarei; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo’. Portanto, ‘saiam do meio deles e separem-se’, diz o Senhor. ‘Não toquem em coisas impuras, e eu os receberei e serei o seu Pai, e vocês serão meus filhos e minhas filhas’, diz o Senhor todo-poderoso.” (2Coríntios 6.14-18)
É inútil argumentar que um cristão deve permanecer dentro de uma igreja corrupta para ser uma voz de Deus ali. “Não há um único herói ou santo, daqueles cujos nomes brilham como astros nas páginas inspiradas, que mudou a sua época de dentro; todos, sem exceção, levantaram o grito: ‘avancemos em direção a ele sem o bando!’ [...] O homem que vai ao mundo procurando elevá-lo logo se descobrirá diminuindo [...] A posição mais segura e forte é fora do bando. Arquimedes disse que poderia mover o mundo se ao menos tivesse um ponto de apoio fora dele. Do mesmo modo, um punhado de servos de Deus pode influenciar o seu tempo se eles se parecessem com Elias, cuja vida foi completamente gasta fora da grandeza da corte e do domínio do mundo nos seus dias”.[1]
Se for perguntado o que deve fazer um cristão que se encontra em tal situação, só pode haver uma resposta: separe-se disso!
Para todos os que defendem a continuação em uma posição na igreja da qual sabem estar errada, Samuel fornece uma resposta poderosa e aguçada: “A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros”.[2]
Mas a pergunta permanece: o que a pessoa deve fazer depois de ter obedecido à instrução bíblica de “sair do meio deles”? Como resposta, sugerimos o seguinte plano bíblico:
Reúna-se na simplicidade cristã com um grupo de crentes com a mesma opinião;
Reúna-se somente a Cristo; faça dele a única atração. Embora tal política não vai gerar grandes multidões, ela pelo menos fornecerá um núcleo de crentes fiéis que não serão facilmente movidos por provações ou desencorajamentos;
Quanto ao local das reuniões, uma casa é totalmente satisfatória e tem um grande precedente bíblico (Romanos 16.5; 1Coríntios 16.19; Colossenses 4.15; Filemom 2). Aqueles que exigem edifícios esplêndidos com utensílios religiosos nunca descobriram realmente a suficiência total do Senhor Jesus como a pessoa para a qual seu povo se reúne;
Não adote nenhum nome ou plano que exclua da comunhão qualquer verdadeiro crente;
Não aceite nenhuma afiliação denominacional e recuse firmemente qualquer interferência ou controle externo que possa infringir a soberania da igreja local;
Resista à tendência constante de deixar que o ministério caia nas mãos de um só homem. Em vez disso, permita que o Espírito Santo use os diferentes dons que Cristo deu à igreja e atue para a manifestação ativa do sacerdócio de todos os crentes;
Reúna-se regularmente para orar, estudar a Palavra, partir o pão e ter comunhão. Depois, empenhe-se num esforço ativo de evangelização, tanto individual como coletivamente;
Resumindo, procure reunir-se como uma igreja do Novo Testamento, no verdadeiro sentido da palavra, dando uma representação fiel do corpo de Cristo e obedecendo aos mandamentos do Senhor.
Permita que o Espírito Santo use os diferentes dons que Cristo deu à igreja e atue para a manifestação ativa do sacerdócio de todos os crentes.
É interessante notar que isso está sendo realizado por cristãos no mundo inteiro. Sem nenhum outro livro como guia senão a Bíblia, eles têm descoberto que esses princípios são de origem divina e os têm seguido, apesar de censuras e calúnias. Eles não aceitam outra autoridade senão a de Cristo, nenhuma comunhão senão a do seu corpo, nenhuma sede senão a do seu trono. Eles buscam em verdadeira humildade testemunhar da unidade do corpo de Cristo. Na sua comunhão, procuram suprir um santuário para os verdadeiros crentes, oprimidos pelo modernismo e males relacionados. Não há um diretório na terra que liste essas igrejas, não há nada de uma natureza terrena que as una. A sua unidade é exclusivamente realizada e mantida pelo Espírito Santo, e eles estão satisfeitos com isso.
Não há razão para que centenas de comunidades semelhantes não sejam formadas pela grande cabeça da igreja através do exercício do sacrifício e da oração do seu povo. Onde os cristãos tiverem captado a visão e estiverem dispostos a sofrer por isso, o Senhor recompensará seus exercícios e esforços, e cumprirá seus anseios para a sua glória.
É possível que, nas vésperas da vinda do Senhor, experimentemos e vejamos uma grande ação do Espírito Santo contra a apostasia na cristandade, e um novo e fresco movimento da sua graça na formação de pequenas igrejas independentes de cristãos que amam a Bíblia?
Que aquele que amou a igreja e se entregou por ela realize esta obra, para a sua própria glória!
Notas
Meyer, Elijah: And the Secret of His Power, p. 65.
C. H. Mackintosh, Notes on Genesis (Nova York: Loizeaux Bros., 1951), p. 155.
“Senhor, a tua mão direita foi majestosa em poder.” (Êxodo 15.6a)
Nenhum cientista pode negar atualmente que milagres podem acontecer. No século 19, as pessoas acreditavam que possuíamos uma cosmovisão científica e natural fechada em si mesma. Acreditava-se em leis naturais exatamente calculáveis e em decursos naturais previsíveis. “A natureza não dá saltos”, dizia-se. Tudo se move em trilhos exatamente definidos (determinismo). Acreditava-se que seria possível operar sem considerar Deus como uma “hipótese de trabalho”; de excluí-lo, já que “tudo pode ser calculado”.
Desde o início do século 20 essa configuração mundial foi fundamentalmente abalada. A Teoria da Relatividade de Einstein colocou questionamentos a essa exata previsibilidade dos desenvolvimentos naturais. A descoberta de que massa e energia são equivalentes provocou um afastamento do materialismo.[1] A teoria da física quântica, que teve início com Max Planck, finalmente chegou à conclusão: “A natureza dá saltos” (saltos quânticos). Os desenvolvimentos – principalmente nas áreas atômica e microcósmica – não são claramente previsíveis. Assim, por exemplo, somente se consegue estabelecer afirmações de probabilidade quando há a divisão do núcleo do átomo e ocorre uma transformação da matéria. Essa insegurança também continua na área visível macrocósmica (p. ex.: na formação de cristais). Nunca foi possível inserir organismos vivos em uma figura mundial estabelecida. Quando mesmo assim isso era feito (experimentalmente), a vida desaparecia.
Não existe mais nenhuma cosmovisão científica fechada em si. É necessário proporcionar a inclusão de imprevistos.
O que foi e continua decisivo? Não existe mais nenhuma cosmovisão científica fechada em si. É necessário proporcionar a inclusão de imprevistos. Conclusão: é necessário contar também com milagres, com Deus, ressurreição, com o além. Isto não quer dizer que podemos comprovar tudo, mas também não se pode afirmar que podemos contestar tais coisas, como alguns cientistas ainda diziam no século 19. Se hoje algum cientista afirmar: “Eu provo para vocês que não existe Deus nem ressurreição”, ele não está devidamente atualizado – ou ele defende uma visão de mundo materialista-ateísta incapaz de reivindicar a defesa de uma linha científica sóbria.
Materialismo é a doutrina que diz que somente aquilo que é material e visível de fato existe.
No dia 5 de junho de 1967 eclodiu uma guerra que deveria durar apenas seis dias. O jovem Israel venceu uma superpotência. Essa guerra alterou efetivamente a história do Oriente Médio e agora, após 51 anos, Israel é considerado como ocupante ilegal por grande parte da população mundial.
No Talmude Babilônico consta: “Dez medidas de beleza vieram à terra. Jerusalém recebeu nove medidas; o restante do mundo, uma. Dez medidas de sofrimento vieram à terra. Jerusalém recebeu nove medidas”.
Nenhuma cidade, na história mundial, foi alvo de disputas tão amargas e duradouras como Jerusalém, cujo nome muitas vezes é traduzido por “Cidade da Paz”. O jornal The New York Times a classificou como sendo “os metros quadrados mais explosivos do mundo”. Nos últimos quatro mil anos houve perto de 120 conflitos em torno de e em Jerusalém. Por duas vezes a cidade foi totalmente destruída, 23 vezes sitiada, outras 52 vezes foi atacada, 44 vezes conquistada e, mesmo assim, foi reconquistada – pela última vez, há 51 anos, durante a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967. A Bíblia nos ensina que Jerusalém será disputada até o fim dos dias. No livro do profeta Zacarias lemos: “Farei de Jerusalém uma taça que embriague todos os povos ao seu redor, todos os que estarão no cerco contra Judá e Jerusalém. Naquele dia, quando todas as nações da terra estiverem reunidas para atacá-la, farei de Jerusalém uma pedra pesada para todas as nações. Todos os que tentarem levantá-la se machucarão muito” (12.2-3).
Quem visita Jerusalém atualmente também constata admirado: Jerusalém é uma cidade sem igual! Ela é chamada de “a eterna” ou “a bela”. Em muitos locais podem ser seguidos os rastros bíblicos e as escavações dão testemunho da rica história judaica.
Um grande número de sítios arqueológicos que nos levam de volta aos tempos bíblicos foram descobertos, desde a década de 1970, por arqueólogos israelenses. Todavia, isso somente foi possível realizar porque Israel conquistou a chamada Jerusalém Oriental nessa Guerra dos Seis Dias de 1967, que era então ocupada pela Jordânia. Apenas desde essa época é que os judeus novamente podem orar junto ao muro ocidental do monte do Templo (também chamado de Muro das Lamentações). Isso não lhes era permitido à época do domínio jordaniano.
Segue uma breve introdução à história moderna na Cidade Eterna.
Os israelenses perdem o coração do judaísmo
Mesmo que no acordo de cessar-fogo de 1948 havia sido previsto que os judeus poderiam ir ao Muro das Lamentações para orar uma vez por ano, os jordanianos não permitiram isso durante o seu tempo de ocupação.
Em 29 de novembro de 1947 a Assembleia Geral da ONU aprovou a divisão do Mandato Britânico da Palestina. Desde 1918 os ingleses mantiveram a ocupação da região que, nos 400 anos anteriores, era uma sofrida província secundária do Império Otomano (turco). Em 14 de maio de 1948 Ben-Gurion proclamou o Estado de Israel e muitos leitores da Bíblia ficaram atentos, pois em Jeremias 16.14-15 está profetizado que Deus conduziria os judeus “de volta para a sua terra”. De acordo com o decreto de divisão da ONU, de 1947, Jerusalém e Belém deveriam ser administradas pela comunidade internacional na condição de Corpus separatum (do latim: corpo separado). O que aconteceu, no entanto, foi algo bem diferente! Cinco exércitos árabes assaltaram a jovem nação. Jordanianos e israelenses lutaram ferrenhamente pela Cidade Eterna. No entanto, os israelenses perderam o coração do judaísmo para a legião árabe. Os sionistas não conseguiram manter Sião, a área judaica com o monte do Templo e o Muro das Lamentações. Tudo isso caiu nas mãos dos jordanianos. O coronel Abdullah el-Tell descreveu assim a batalha em suas memórias (Cairo, 1959): “Eu sabia que a área judaica era densamente habitada por judeus [...]. Apenas após quatro dias desde nossa entrada em Jerusalém o bairro judeu se tornou o cemitério deles. Estava tudo dominado pela morte e destruição [...]. No romper da madrugada do dia 28 de maio de 1948 [...] o bairro judeu se tornou uma nuvem escura – uma nuvem de morte e tormento”. Cinquenta anos antes, o bairro judeu ainda contava com 28.000 moradores judeus (para comparar: hoje vivem ali apenas dois mil). Os remanescentes da população judaica (um total de 1.500 pessoas) foram recolhidos e expulsos através da Porta de Sião em direção à área ocidental da cidade. As moradias do bairro judeu foram sistematicamente destruídas pelos jordanianos e tornadas inabitáveis. Foram destruídas ou violadas 38.000 das 69.000 sepulturas do cemitério judaico, no monte das Oliveiras. As lápides foram usadas na pavimentação, entre outros, das vias que conduziam às latrinas. O pior foi a destruição das sinagogas e das escolas religiosas (um total de 58). A ONU e o restante do mundo não se manifestaram, a exemplo do que já haviam feito dez anos antes disso, quando os nazistas, na Noite dos Cristais, em 1938, destruíram as sinagogas na Alemanha.
O comandante jordaniano teria dito aos seus subordinados: “Pela primeira vez em mil anos não permanece um só judeu no bairro judeu. Nenhuma construção judaica permanece intacta. Isso torna impossível o retorno dos judeus para cá”. Os fatos: a Jordânia realizou uma limpeza étnica total. Jerusalém Oriental foi tornada “livre de judeus”! Apenas duas mulheres judias, que eram casadas com árabes, permaneceram após 1948 na área ocupada pelos jordanianos em Jerusalém. Mesmo que no acordo de cessar-fogo de 1948 havia sido previsto que os judeus poderiam ir ao Muro das Lamentações para orar uma vez por ano, os jordanianos não permitiram isso durante o seu tempo de ocupação.
A “Linha Verde” ou a “Fronteira de 1967”
A fronteira entre jordanianos e israelenses, determinada pelo acordo de cessar-fogo em 1949, foi marcada em um mapa com uma linha verde. Por isso, fala-se muitas vezes na “Fronteira Verde” ou, erradamente, na “Fronteira de 1967” quando se fala sobre quem é dono de qual área. Na verdade, as duas denominações demonstram um desconhecimento histórico largamente difundido. O traçado da divisa após a guerra de 1948-49 é uma linha de cessar-fogo, mas não se trata de uma fronteira (fronteiras são determinadas em negociações)! Na Guerra dos Seis Dias, todavia, não foi estabelecida uma fronteira, mas apenas forçada a marcação de uma linha de cessar-fogo. Naquela época, a área do norte e a ocidental da nova cidade de Jerusalém estavam em mãos de israelenses, enquanto que o segmento sul e oriental (junto com a cidade antiga, o monte do Templo, o Mura das Lamentações, bem como o monte das Oliveiras) eram dominados pelos jordanianos. Um muro de proteção contra os atiradores jordanianos separava as duas áreas. O único ponto em que os diplomatas podiam passar da área jordaniana para a área israelense era o Portão de Mandelbaum. A partir de então a paisagem de Jerusalém incluía obstáculos de arame farpado, campos minados, blocos de concreto e áreas de “terra de ninguém”.
A Guerra dos Seis Dias de 1967
No dia 5 de junho de 1967 eclodiu uma nova guerra que deveria durar apenas seis dias. Essa guerra alterou efetivamente a história do Oriente Médio. Ainda no início da guerra, Israel esclareceu ao rei Hussein, da Jordânia, que não pretendia atacar o seu país. Quando, apesar disso, a Jordânia abriu fogo na linha de cessar-fogo e bombardeou Jerusalém Ocidental, Israel passou ao contra-ataque. No dia 7 de junho a cidade antiga foi conquistada por uma unidade de paraquedistas. Quando os israelenses entraram na cidade antiga pela Porta do Leão, descobriram que havia uma pequena porta, já no início da Via Dolorosa, a qual permitia o acesso ao monte do Templo. Eles correram passando pelo Domo da Rocha, e então descobriram uma porta que dava passagem para o muro que frequentemente é chamado de Muro das Lamentações. O tentente-general Mordechai “Motta” Gur anunciou: “O monte do Templo está em nossas mãos”.
Os judeus haviam retornado e começaram a reconstruir as sinagogas. No entanto, eles não destruíram as mesquitas, como os árabes haviam feito com as sinagogas.
Em poucos minutos o escasso lugar diante do Muro das Lamentações estava superlotado de soldados. Fazia 19 anos que nenhum judeu podia orar nesse local. Uma das fotos mais conhecidas da Guerra dos Seis dias mostra o general Moshe Dayan e seu chefe do Estado-maior, Yitzhak Rabin (que posteriormente foi primeiro-ministro e assassinado), indo apressadamente para o Qotel – para o muro. Quando a pólvora e a fumaça da guerra ainda não haviam se dissipado totalmente, Teddy Kollek, que foi nomeado prefeito de Jerusalém durante aquela noite, ordenou que todos os veículos para construção fossem levados até o muro. A antiga favela próxima ao muro foi derrubada e foi preparado um amplo lugar para os visitantes judeus. O lugar atual para visitantes é resultado daquela ação noturna e com neblina de Teddy Kollek. Ali se reúnem para orar 80.000 judeus crentes em dias festivos.
Os judeus haviam retornado para o seu bairro. Antes de ser reconstruída, os arqueólogos identificaram a Jerusalém da época de Herodes, o Grande. Eles também reconstruíram as sinagogas. No entanto, os israelenses não destruíram as mesquitas, como os árabes haviam feito com as sinagogas. Um caso conhecido é o da sinagoga de Hurva, da qual ficou visível apenas o grande arco ao lado da mesquita. Somente no ano de 2010 foi possível inaugurar essa sinagoga reconstruída. Houve protestos por parte dos islâmicos através do mundo: “Os judeus estão judaizando a Jerusalém Oriental”. Infelizmente essa acusação é muito ouvida atualmente! No entanto, já há séculos que os judeus são maioria na cidade antiga. Eles voltaram para o que é seu – para Sião. Quem quiser transformar Jerusalém na capital de dois estados estará novamente colocando arame farpado, muro de separação e uma expulsão de judeus. Aqueles que ofendem os judeus residentes na cidade antiga, chamando-os de “imigrantes”, certamente nunca compreenderam a história dramática do povo judeu. Todavia, nós sabemos: o centro do conflito do Oriente Médio é Jerusalém, pois o islamismo reivindica a posse da Cidade Eterna baseado em um sonho de Maomé, de ter supostamente realizado uma viagem noturna para Jerusalém (ele comprovadamente nunca esteve em Jerusalém, pois ali dominavam os bizantinos). Esse sonho de Maomé tornou-se um pesadelo para todos os moradores que residem ali.
E a batalha pelo monte do Senhor, o monte do Templo, continuará. No Salmo 137 lemos: “Que a minha mão direita definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti!” (v. 5). Por isso, em todo o mundo os judeus falam: “Até o ano que vem, em Jerusalém!”. Assim, há 51 anos isso deixou de ser um sonho. Os judeus retornaram para a Cidade Eterna com o muro e o platô no qual outrora estava o imponente templo judaico.
Milhares de anos atrás, o profeta judeu Isaías registrou um cântico profético de louvor que nos diz muito sobre o futuro deste mundo e sobre nosso destino pessoal.
Cada país tem o seu Hino Nacional. Este caracteriza a respectiva nação e expressa a alma do seu povo. O Hino Nacional é respeitado; normalmente ele é executado com reverência e expressa a atenção e aceitação mútuas em eventos oficiais e esportivos.
O Hino Nacional de Israel chama-se Hatikvah e significa “A Esperança”. Ele se tornou o hino oficial do Movimento Sionista em 1897 e, com a criação do Estado de Israel em 1948, tornou-se o seu Hino Nacional. Ele diz o seguinte:
Enquanto no coração viver uma alma judia e para frente, ao oriente, o olhar se voltar para Sião, nossa esperança não está perdida, a esperança de dois mil anos, de ser um povo livre, na nossa terra, na terra de Sião e em Jerusalém!
Isaías 12 poderia – em sinal de agradecimento pela salvação – ser o futuro Hino Nacional de Israel. Esse hino é cantado por um Israel liberto depois de ter passado pela última grande tribulação, depois que o Senhor se revelou em sua glória e livrou o seu povo da opressão para, então, governar Israel pessoalmente.
Isaías 12 precisa ser observado em conjunto com o capítulo 11, pois Isaías 12 inicia com as palavras: “Naquele dia...”. Isso quer dizer que o cântico será cantado quando Isaías 11 tiver acontecido. Por isso precisamos primeiramente nos aprofundar um pouco mais em Isaías 11. No entanto, não poderei me aprofundar em todos os aspectos, mas somente naqueles que são os mais importantes para este tema.
“Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo. O Espírito do Senhor repousará sobre ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e temor do Senhor. E ele se inspirará no temor do Senhor. Não julgará pela aparência, nem decidirá com base no que ouviu; mas com retidão julgará os necessitados, com justiça tomará decisões em favor dos pobres. Com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra; com o sopro de sua boca matará os ímpios. A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão” (Is 11.1-5).
Nesses versículos, a primeira e a segunda vinda de Jesus são interligadas. Aquilo que está separado por milhares de anos aqui é revelado, sem transição alguma, em um quadro somente. Isso não é um caso isolado tratando-se da profecia bíblica.
“Um ramo surgirá do tronco de Jessé, e das suas raízes brotará um renovo” (v. 1). Essa afirmação sem dúvida aponta para o Messias de Israel – Jesus Cristo. Nos evangelhos, Jesus nunca é denominado “Jesus de Belém”, mesmo que se soubesse que o Messias nasceria em Belém com base em Miqueias 5.2. Mesmo assim, de maneira singular, o Senhor era chamado de “Jesus de Nazaré”, porque ele viveu em Nazaré até seu 30º ano de vida. Vemos, assim, a exatidão da profecia bíblica. A palavra hebraica para “ramo” ou “renovo” é nezer. Jesus é o Nezer, o Nazareno da casa de Davi, em Belém. Desse modo, cumprem-se duas profecias de uma só vez.
Com referência a Belém, ele seria da casa de Davi. Sabemos que Belém também é chamada de “cidade de Davi” (Lc 2.11). Com o nascimento de Jesus em Belém, cumpriu-se a profecia de Miqueias 5.2 proferida no século 8 a.C. Quando o rei Herodes reuniu os maiorais dos sacerdotes e escribas, perguntando-lhes onde o Rei dos Judeus deveria nascer, eles responderam: “Em Belém da Judeia; pois assim escreveu o profeta: ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, de forma alguma és a menor em meio às principais cidades de Judá; pois de ti virá o líder que, como pastor, conduzirá Israel, o meu povo’” (Mt 2.5-6).
Com referência a Nazaré, de acordo com a palavra profética, ele seria um “ramo” do “tronco de Jessé”, e Jessé era o pai de Davi. Quando José estava no Egito, para onde havia fugido com a sua família porque Herodes buscava tirar a vida do Menino, ele recebeu a ordem de voltar para Israel depois que Herodes havia morrido. José obedeceu, e lemos sobre isso: “... e foi viver numa cidade chamada Nazaré. Assim cumpriu-se o que fora dito pelos profetas: ‘Ele será chamado Nazareno’” (Mt 2.23).
A genealogia de Jesus deixa claro que ele de fato provém da descendência de Davi. É o que lemos no primeiro versículo do Novo Testamento: “Registro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão” (Mt 1.1). E, quase no final da Bíblia, o próprio Senhor Jesus exaltado diz: “Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e a resplandecente Estrela da Manhã” (Ap 22.16).
“O Espírito do Senhor repousará sobre ele, o Espírito que dá sabedoria e entendimento, o Espírito que traz conselho e poder, o Espírito que dá conhecimento e temor do Senhor” (Is 11.2). Tendo em vista o Messias, Moisés precisou mandar confeccionar o candelabro com 7 braços (Menorá) para colocá-lo no Tabernáculo (Êx 37.17ss). O candelabro deveria ser feito em uma só peça, com três braços para cada lado, formando um conjunto de 7 lâmpadas. Aqui Isaías descreve o significado profético sétuplo, simbolizando o Messias. Sobre ele repousará:
O espírito do Senhor; O espírito da sabedoria; O espírito do entendimento; O espírito do conselho; O espírito do poder; O espírito do conhecimento; O espírito do temor do Senhor.
O Apocalipse complementa exatamente neste sentido, que os sete espíritos de Deus pertencem ao Cordeiro, isto é, que nele reside a plenitude do Espírito Santo: “Depois vi um Cordeiro, que parecia ter estado morto, em pé, no centro do trono, cercado pelos quatro seres viventes e pelos anciãos. Ele tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados a toda a terra” (Ap 5.6).
“E ele se inspirará no temor do Senhor. Não julgará pela aparência, nem decidirá com base no que ouviu; mas com retidão julgará os necessitados, com justiça tomará decisões em favor dos pobres. Com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra; com o sopro de sua boca matará os ímpios” (Is 11.3-4).
Quando Jesus veio pela primeira vez ao nosso mundo, ele fez exatamente o que Isaías anunciou aqui:
Ele teve prazer no temor do Senhor: “Então eu disse: Aqui estou, no livro está escrito a meu respeito; vim para fazer a tua vontade, ó Deus” (Hb 10.7). Jesus foi batizado para cumprir a vontade de Deus (Mt 3.15). A sua “comida” era fazer a vontade do Pai (Jo 4.34).
Ele não se deixou influenciar pelas pessoas, nem mesmo pelos fariseus e doutores da lei: que “enviaram-lhe seus discípulos junto com os herodianos, que lhe disseram: ‘Mestre, sabemos que és íntegro e que ensinas o caminho de Deus conforme a verdade. Tu não te deixas influenciar por ninguém, porque não te prendes à aparência dos homens’” (Mt 22.16). Assim, Jesus não tinha necessidade de que alguém lhe falasse algo a respeito de outras pessoas, “pois ele bem sabia o que havia no homem” (Jo 2.25).
Ele trouxe justiça para os humildes e pobres e proferiu juízos isentos de partidarismo. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos” (Lc 4.18). Nesse sentido, podemos lembrar... da mulher no poço de Jacó; da mulher que seria apedrejada; do paralítico que era carregado por seus amigos; da mulher que lavou os pés de Jesus; de Pedro; do malfeitor na cruz.
Isaías também falou diretamente sobre a volta de Jesus, ao profetizar: “... Com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra; com o sopro de sua boca matará os ímpios. A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão” (Is 11.4-5). Pelo fato de Jesus não ter feito isso na sua primeira vinda, certamente isso se refere à sua segunda vinda. Isso significa:
“Com suas palavras, como se fossem um cajado, ferirá a terra.” Essa verdade é mencionada três vezes no Apocalipse. “De sua boca sai uma espada afiada, com a qual ferirá as nações. ‘Ele as governará com cetro de ferro.’ Ele pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus todo-poderoso” (Ap 19.15; ver tb. Ap 1.16; 2.16).
“... com o sopro de sua boca matará os ímpios.” Esse juízo recairá primeiramente sobre o Anticristo: “Então será revelado o perverso, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e destruirá pela manifestação de sua vinda” (2Ts 2.8).
“A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão.” Em Apocalipse 19.11 e 13, o apóstolo João confirma: “Vi os céus abertos e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro. Ele julga e guerreia com justiça... e o seu nome é Palavra de Deus”. Em Apocalipse 19.16 lemos: “Em seu manto e em sua coxa está escrito este nome: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES”.
Os versículos que seguem a passagem de Isaías 11.1-5 contém o cumprimento de um sonho da humanidade. Esse sonho pode ser concretizado única e exclusivamente pelo Messias. Somente ele poderá executar a justiça, e o fará, conforme está descrito nos primeiros versículos desse capítulo. Ele é a Justiça, a qual ele realizou em sua primeira vinda, através da sua morte e ressurreição, e a executará em sua volta: “A retidão será a faixa de seu peito, e a fidelidade o seu cinturão” (v. 5). Na sequência, consta:
“O lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará. A vaca se alimentará com o urso, seus filhotes se deitarão juntos, e o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará perto do esconderijo da cobra, a criança colocará a mão no ninho da víbora. Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar” (Is 11.6-9).
Para muitas pessoas esses versículos parecem ser um conto de fadas; é algo lindo demais para ser verdade. Elas não conseguem absorvê-los de maneira lógica porque, em toda sua vida, observaram ou vivenciaram somente coisas ruins ou destrutivas. Mesmo assim, a gente sonha com um mundo desses.
Isaías 11 descreve uma era de ouro real, na qual animais ferozes e venenosos se tornaram inofensivos, não se matarão entre si e em que o leão comerá pasto; uma época em que as crianças poderão brincar sem terem medo desses animais, onde não haverá mais terror e guerra, nem no Oriente Médio, nem através do mundo...!
No Novo Testamento, esta verdade é confirmada pelo apóstolo Paulo: “A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à inutilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto” (Rm 8.19-22).
Do mesmo modo como as dores de parto de uma mulher prenunciam a chegada de uma nova vida, assim as “dores de parto” da tribulação introduzirão o novo nascimento da criação: “Jesus lhes disse: ‘Digo a vocês a verdade: Por ocasião da regeneração de todas as coisas, quando o Filho do homem se assentar em seu trono glorioso, vocês que me seguiram também se assentarão em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel’” (Mt 19.28). Não devemos perder de vista que, assim como toda a criação caiu em Adão, assim ela será totalmente restaurada em Jesus. Deus nunca abandona uma obra em andamento (Rm 5.12-21)!
“Naquele dia, as nações buscarão a Raiz de Jessé, que será como uma bandeira para os povos, e o seu lugar de descanso será glorioso” (Is 11.10). Essas palavras mostram como os povos pagãos buscarão pelo Senhor, por aquele que é a Raiz de Jessé; por aquele que é o Descendente de Davi. E eles serão conduzidos para o seu descanso. Isso se cumpre em Apocalipse 22.16: “Eu sou a Raiz e o Descendente de Davi, e a resplandecente Estrela da Manhã”. Para tudo isso, Deus estabeleceu um sinal, ou seja, o reagrupamento e a restauração de Israel.
“Naquele dia, o Senhor estenderá o braço pela segunda vez para reivindicar o remanescente do seu povo que for deixado na Assíria, no Egito, em Patros, na Etiópia, em Elão, em Sinear, em Hamate e nas ilhas do mar. Ele erguerá uma bandeira para as nações afim de reunir os exilados de Israel; ajuntará o povo disperso de Judá desde os quatro cantos da terra” (Is 11.11-12). Observemos a afirmação: “... estenderá o braço pela segunda vez”. Para quê? Para reunir Israel. Em ambas as ocasiões, trata-se de um remanescente do povo judeu que é trazido da dispersão de volta para a sua pátria. Assim, Isaías está se referindo a dois eventos futuros:
Na primeira vez, isso aconteceu através do decreto de Ciro, o rei da Pérsia, que libertou Israel do cativeiro babilônico e, assim, já é parte da história (Ed 1.1ss).
Na segunda vez, Israel será trazido de volta a partir da dispersão através do mundo, pois está escrito: “... desde os quatro cantos da terra”. Esse retorno do povo, vindo de todo o mundo, é um sinal de Deus para as nações!
O retorno dos judeus para a sua pátria serve de sinal para finalidades bem específicas:
– É um sinal para a veracidade da Palavra de Deus, um sinal para o final dos tempos. Assim, não podemos excluir Israel de nossa mensagem.
– É um sinal de alerta para as nações com relação à sua postura diante de Israel, pois aponta diretamente para a ação de Deus. As nações não podem afirmar que Israel não tem mais importância alguma, pois o reagrupamento de Israel prova justamente o contrário. Quem se posiciona contra Israel, posiciona-se contra o agir de Deus. Assim, as nações não têm desculpas.
– Serve de sinal condicional para o desenrolar dos últimos acontecimentos proféticos, como por exemplo os eventos do Apocalipse.
– É um sinal para o juízo vindouro, para a derradeira restauração espiritual de Israel, para a volta do Messias e para a renovação da criação. Em última análise, é justamente este o motivo pelo qual a grandiosa ONU está tão nervosa por causa do pequeno Israel. Em Israel vivem apenas 8,2 milhões de pessoas, e isso equivale a 0,1 por cento da população mundial. Apesar disso, Israel reiteradamente é responsável pelas maiores manchetes e preocupa a ONU. O fato de que Deus estabeleceu esse pequeno povo como sinal para as nações causa alvoroço e se assemelha à areia em uma engrenagem. Esse sinal demonstra: ele ainda existe, o Deus vivo e Onipotente! E é por isso que o seu povo também existe ainda. “O ciúme de Efraim desaparecerá, e a hostilidade de Judá será eliminada; Efraim não terá ciúme de Judá, nem Judá será hostil a Efraim. Eles se infiltrarão pelas encostas da Filístia, a oeste; juntos saquearão o povo do leste. Porão as mãos sobre Edom e Moabe, e os amonitas lhes estarão sujeitos. O Senhor fará secar o golfo do mar do Egito; com um forte vento varrerá com a mão o Eufrates, e o dividirá em sete riachos, para que se possa atravessá-lo de sandálias. Haverá uma estrada para o remanescente do seu povo que for deixado na Assíria, como houve para Israel quando saiu do Egito” (Is 11.13-16). Esses versículos descrevem como Israel, no futuro, supervisionará todas as nações; de como será cabeça das nações sob o governo do Messias. Após essa visão geral sobre os acontecimentos que estão estreitamente ligados com esse cântico de gratidão de Israel, nos dirigimos agora para esse hino de gratidão.
“Naquele dia, você dirá: ‘Eu te louvarei, Senhor! Pois estavas irado contra mim, mas a tua ira desviou-se, e tu me consolaste. Deus é a minha salvação; terei confiança e não temerei. O Senhor, sim, o Senhor é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação!’ Com alegria vocês tirarão água das fontes da salvação. Naquele dia, vocês dirão: ‘Louvem o Senhor, invoquem o seu nome; anunciem entre as nações os seus feitos, e façam-nas saber que o seu nome é exaltado. Cantem louvores ao Senhor, pois ele tem feito coisas gloriosas, sejam elas conhecidas em todo o mundo. Gritem bem alto e cantem de alegria, habitantes de Sião, pois grande é o Santo de Israel no meio de vocês’” (Is 12.1-6).
Esses versículos lembram o louvor de Paulo, escrito no final de Romanos 11. Depois de apresentar a maneira maravilhosa como Deus agiu com Israel, Paulo louva a Deus pela profundidade da sua riqueza de sabedoria, pelos seus juízos insondáveis e por seus caminhos inescrutáveis (Rm 11.33-36). Assim, Isaías 11 e 12 são quase um equivalente no Antigo Testamento para Romanos 11. Sabemos, com base nas Escrituras, que antes da volta de Jesus Israel passará por um período de tribulação e, assim, é submetido à ira e ao juízo de Deus. Referente a isso, lemos em Apocalipse 6.16-17: “Eles gritavam às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira deles; e quem poderá suportar?’” (ver tb. Sf 2.2). Eles, no entanto, não farão acusações para Deus, nem recriminações, mas o louvarão e glorificarão: “Naquele dia, você dirá: ‘Eu te louvarei, Senhor! Pois estavas irado contra mim, mas a tua ira desviou-se, e tu me consolaste’” (Is 12.1). A tribulação, finalmente, servirá ao propósito de salvar Israel. Acontece que, durante a tribulação, suas forças serão destruídas, de maneira que será receptível para a salvação de Deus.
Um mensageiro divino esclareceu isso ao profeta Daniel: “Haverá um tempo, dois tempos e meio tempo. Quando o poder do povo santo for finalmente quebrado, todas essas coisas se cumprirão” (Dn 12.7). Trata-se exatamente da mesma época indicada no Apocalipse (Ap 11.2-3; 12.6,14; 13.5-7). O Anticristo recebe permissão para destruir o poder do povo de Israel durante três anos e meio. Isso vai empurrar Israel para os braços salvadores de Deus.
Então a ira de Deus se transformará e Israel será consolado. Israel finalmente terá a experiência de reconhecer que Jesus é sua salvação (Redentor, Salvador): “Deus é a minha salvação... ele é a minha salvação!” (Is 12.2). A palavra “salvação” em hebraico é “yesh’a, yeshu’ah, teshu’a, de onde deriva o nome Je(ho)shua, Josua = grego. Jesus, ‘o Senhor/Yahweh é Salvador’”. Por isso Deus ordenou a José, quanto ao nascimento do Messias: “... você deverá dar-lhe o nome de Jesus” (Mt 1.21).
No momento em que Israel depositar sua confiança no Messias Yeshua, e ele se tornar a salvação de Israel, fluirão rios de água viva: “Com alegria vocês tirarão água das fontes da salvação” (Is 12.3). Também para isso encontramos as respectivas indicações nos eventos do Apocalipse: “Pois o Cordeiro que está no centro do trono será o seu Pastor; ele os guiará às fontes de água viva. E Deus enxugará dos seus olhos toda lágrima” (Ap 7.17). “Então o anjo me mostrou o rio da água da vida que, claro como cristal, fluía do trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22.1).
O resultado dessa experiência será que os judeus do reino messiânico se tornarão um povo missionário que proclamará a glória de Deus na terra: “Naquele dia, vocês dirão: ‘Louvem o Senhor, invoquem o seu nome; anunciem entre as nações os seus feitos, e façam-nas saber que o seu nome é exaltado. Cantem louvores ao Senhor, pois ele tem feito coisas gloriosas, sejam elas conhecidas em todo o mundo’” (Is 12.4-5).
Ao término de tudo, esse povo sofrido terá um final feliz, quando esse Senhor for o Grande entre eles, esse que Israel outrora expulsou de seu meio, mas para quem agora se converteu: “Gritem bem alto e cantem de alegria, habitantes de Sião, pois grande é o Santo de Israel no meio de vocês” (v. 6; ver Ap 7). Diante disso, podemos somente orar: “Maranata! Vem, Senhor Jesus!”.
Muitas pessoas somente reconheceram que o Senhor é sua salvação depois que suas próprias forças foram destruídas – e tornaram-se alegres e felizes. Elas encontraram o caminho para Deus através das crises da vida ou voltaram para ele e, assim, tornaram-se em uma bênção especial para outros. Outros foram empurrados para os braços salvadores de Deus através de dificuldades pessoais. É o que também mostram os exemplos a seguir:
Friedrich von Bodelschwingh (1831-1910) perdeu quatro de seus filhos num intervalo de duas semanas, vítimas de difteria. Posteriormente ele fundou a Instituição Bodelschwingh. Certa vez ele reconheceu: “Através da ‘crueldade’ de Deus, aprendi o que é misericórdia”. Em 1951, a empresa de correios da Alemanha, Deutsche Bundespost, homenageou Bodelschwingh com um selo comemorativo pelo seu êxito com a série Helfer der Menschheit [Ajudantes da Humanidade, em tradução livre].
Charles Spurgeon (1834-1892) disse: “Em momento algum a fé se desenvolve mais do que em tempos que lhe parecem desfavoráveis. Quando lembro de minha vida, provavelmente eu estava mais arraigado na graça quando me encontrava ‘arado e adubado’ enquanto era seriamente tratado pela dor”.
Wilhelm Busch (1897-1966), pastor em Essen, falava de um mineiro que só sabia caçoar de Deus. Em consequência de um acidente, ele ficou paraplégico. Em sua cadeira de rodas, ele visitou uma reunião de estudos bíblicos, dirigida por Busch, onde ele se converteu a Jesus. Alguns anos mais tarde, esse homem sofrido reconheceu: “Senhor Pastor, eu agradeço a Deus por ter destruído minha coluna vertebral, para que eu pudesse encontrar seu Filho, Jesus Cristo. É melhor pertencer a Jesus, mesmo sendo paralítico, do que estar caminhando para o inferno com as duas pernas sadias. Eu gritei muitas vezes para Deus: ‘Por que permitiste isso?’. Hoje eu sei para que isso serviu”.
“Naquele dia, você dirá: ‘Eu te louvarei, Senhor! Pois estavas irado contra mim, mas a tua ira desviou-se, e tu me consolaste’” (Is 12.1). Lembremos do naufrágio do Titanic – um acidente terrível que aconteceu devido a um erro humano. A notícia da tragédia se espalhou pelo mundo. É interessante observar quanta salvação Deus realizou através dessa catástrofe! Existiram, e ainda existem, incontáveis palestras, livros, folhetos, CDs evangelísticos e aplicações cristãs nos mais diversos idiomas sobre esse acontecimento trágico, que serviram de bênção salvadora para muitas pessoas. Deus permitiu que acontecesse um desastre para que muitos fossem eternamente felizes. Se ele tivesse protegido o Titanic, isso teria levado muito mais pessoas a um desastre ainda maior, pois, se uma pessoa fosse constantemente protegida da dor e do sofrimentos ela nunca sairia à procura de Deus.
“Deus é a minha salvação; terei confiança e não temerei. O Senhor, sim, o Senhor é a minha força e o meu cântico; ele é a minha salvação!” (Is 12.2). Spurgeon afirmou certa vez: “Não há maior honra para Deus do que a de uma pessoa que continua se orientando nele com confiança, mesmo que tenha sido abatida até o chão, mas não tenha sido eliminada”.
“... terei confiança e não temerei” (v. 2). Há situações em nossa vida que não conseguimos organizar, para as quais não encontramos respostas. Uma mãe jovem, cujo filho estava doente, disse recentemente: “A pergunta ‘por quê?’ nunca deveria surgir. Devemos somente continuar confiando”.
João Batista foi chamado por Jesus de o maior profeta do Antigo Testamento. Ele foi o precursor direto de Jesus e ainda teve o privilégio de batizá-lo. João foi um servo incondicional do Senhor, que renunciou a todas as comodidades da vida para agradar unicamente a Deus. Ele estava sempre focado em ser um mensageiro da verdade e não tinha medo de pessoas. Houve milhares que se arrependeram devido à sua mensagem e foram batizados. Assim, João era uma pessoa que – em nossa opinião – merecia uma ajuda especial por parte de Deus. No entanto, ele foi preso e jogado no cárcere. Através da artimanha de uma mulher histérica e que vivia em adultério, e de sua filha, a qual dançou para a festa de aniversário de Herodes, João foi brutalmente executado. No final, sua cabeça foi colocada num prato e apresentada para Herodes e seus convidados (Mt 14.6-12).
Surgem, então, perguntas como: a dança erótica de uma moça poderia selar o destino de um homem de Deus tão grandioso? As alegrias mundanas e os desejos pecaminosos de governantes humanos são mais poderosos do que o reino de Deus? A falsidade de tiranos da terra pode vencer a verdade? O pecado pode triunfar sobre a vontade de Deus? Onde estava Deus? Quando Jesus recebeu a notícia da morte de João, ele se recolheu para um local isolado, para ficar a sós (v. 13). Por quê? Ele não poderia ter evitado essa tragédia? Ele era impotente?
Será que podemos encontrar algum consolo nessa história trágica? Em caso positivo, onde o encontramos? Justamente no fato de que Jesus agiu do modo como agiu: ele não deu nenhuma resposta, apenas demonstrou compaixão! Esse exemplo nos mostra que não podemos contar com uma resposta para nosso sofrimento. Se João Batista, em sua dificuldade, não obteve nenhuma resposta, quanto menos nós a receberemos. No entanto, podemos saber que o Senhor, mesmo que pareça estar longe, se entristece e tem compaixão. Jesus havia dito anteriormente para João: “... feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa” (Mt 11.6).
Citando Spurgeon novamente: “Cristo não veio para explicar o sofrimento, mas preenchê-lo até os abismos mais profundos com a sua presença”. Não devemos ficar parados por causa da tristeza, mas devemos ficar confiantes de que o Rei não comete erros e que tudo aquilo que ele permite em nossa vida atende a algum propósito designado por Deus. Depende de como consideramos a questão. A
história de Jó também possuía duas perspectivas.
Às vezes sai para fora um fio da camisa ou do casaco. Isso nos atrapalha e tentamos arrancá-lo rapidamente. O que acontece então? O estrago fica maior! Devemos assumir os desagradáveis “fios soltos” em nossa vida, não nos rebelar contra eles tentando arrancá-los, mas aceitar, suportar e absorvê-los espiritualmente.
Há muitas coisas que ficam ocultas para nós, menos o fim! Pois, no fim, de acordo com o que Isaías escreve, tiraremos “água das fontes da salvação”, cantaremos louvores ao Senhor, “pois ele tem feito coisas gloriosas” e, ainda: “... grande é o Santo de Israel no meio de vocês”!