Tempo de Graça, Tempo de Juízo
Durante a grande tribulação profetizada na Bíblia, acontecerão coisas terríveis e difíceis de imaginar. Como podemos enquadrar corretamente essa palavra profética?
O livro de Apocalipse se empenha principalmente com a descrição dos acontecimentos durante a grande tribulação.[1] Em um espaço de sete anos, dois terços da população mundial serão mortos. Com relação ao inferno envolvido no livro de Apocalipse e à morte dessa incontável e tão gigantesca multidão de pessoas em um período de tempo tão curto, muitos se perguntam: como podemos classificar essa tribulação?
É certo e adequado que se responda essa pergunta somente após um período de oração e da leitura e estudo de toda a Escritura Sagrada. Não basta apenas ler alguns trechos isolados quando se pretende chegar a um resultado maduro e responsável.
Quanto tempo durará a tribulação e como Deus a subdivide? Há vários profetas que anunciaram previamente os sete anos de tribulação que são descritos no livro de Apocalipse. Lemos sobre isso, por exemplo, em Daniel 9.24-27. Nessa profecia, o anjo Gabriel relata para Daniel os acontecimentos pelos quais a nação de Israel passará até a volta de Jesus. As 70 semanas ali mencionadas descrevem 490 anos, subdivididos em três fases. As duas primeiras se encerraram com a morte do Senhor Jesus. A terceira fase, de apenas sete anos, é o período da tribulação que também está descrita no livro de Apocalipse. Ela inicia com o Anticristo impondo uma aliança com muitos países e termina com a volta do Senhor Jesus para a terra. A verdadeira face do Anticristo será revelada e, ao final da tribulação, ele será destruído.
O profeta Jeremias afirma (cap. 30.7) que uma tribulação sobrevirá a Israel e que o povo fugirá dela. O motivo da tribulação é o pecado do povo e seu distanciamento de Deus. Jeremias menciona uma particularidade da tribulação: as faces das pessoas se tornarão da cor verde – um símbolo de extremo medo e miséria. O profeta prossegue inserindo um versículo, em 23.19 e 30.23, que esclarece o objetivo da ira de Deus: a ira de Deus alcançará os incrédulos.
Descrições semelhantes são encontradas nos livros dos profetas Joel, Sofonias, Isaías e outros. Ninguém precisa imaginar que apenas os profetas mais recentes mencionam esse evento. Moisés também o fez, em Deuteronômio 31–32. Lá ele descreve o que acontecerá ao povo de Israel devido à dureza de seus corações.
No evangelho de Mateus, quando se encontrava no monte das Oliveiras, o Senhor Jesus falou sobre os acontecimentos envolvendo a tribulação e respondeu às perguntas de seus discípulos sobre os sinais que antecederão a sua volta. Ele citou então do livro de Daniel e esclareceu que, na metade da tribulação, a verdadeira face do Anticristo seria revelada. Disse que o Anticristo perseguirá aqueles do povo de Israel que reconheceram a sua identidade e que, a seguir, voltaram-se em direção à verdade.[2]
O profeta Isaías relata (cap. 63.1-6) como o Messias destruirá todos os que se opuserem a ele e de como salvará o remanescente de Israel ao final da tribulação. O profeta Zacarias também menciona isso (caps. 12; 14.1-15).
O apóstolo Paulo incentivou e consolou os crentes de Tessalônica ao lhes dizer que a ira de Deus não será dirigida contra os seus filhos redimidos (1Ts 5.9; 2Ts 2.1-12). Deus reunirá seus fiéis antes de derramar sua ira sobre o mundo que o rejeitou.[3]
Assim, a tribulação é descrita em muitas páginas da Bíblia, juntamente com sua duração e objetivo. Se isso foi feito para prevenção, então muitas gerações já foram alertadas. A duração da tribulação será de sete anos para castigo daqueles que rejeitam a Deus – a ira de Deus sobre os incrédulos.
Antes de nos envolvermos novamente com a tribulação do livro de Apocalipse, deveríamos nos recordar de uma tribulação que há alguns anos atingiu todos os habitantes da terra. Nesse caso, a maioria dos filhos de Deus pode compreender e comprovar seu propósito. No tempo de Noé, as pessoas cometeram sérios pecados contra Deus; elas foram tão longe a ponto de Deus decidir que elas não deveriam continuar vivas.
Existem paralelos entre a condenação com o Dilúvio e os sete anos de tribulação.
Existem paralelos entre a condenação com o Dilúvio e os sete anos de tribulação. Em ambos os casos, Deus executa o castigo contra o mundo que o rejeitou. Para ambos existe um recomeço. Não devemos esquecer que a criação pertence a Deus e que ele é o Senhor soberano e justo.
O plano original de Deus era de governar sua criação em santidade, justiça, paz e veracidade. Antes que isso aconteça, Deus precisa afastar as pessoas da terra que se rebelam teimosamente contra o seu poder supremo. Isso é o que o profeta Daniel descreve em uma profecia (Dn 2): os pés da estátua, esta que representa o domínio das nações, foram esmigalhados pela pedra (o Messias), esta que estabelece o reino de Deus na terra. Todavia, observemos o momento maravilhoso em que o Senhor Jesus se revela ao apóstolo João, em Apocalipse 1.
No ano 95 d.C. o imperador romano Tito Flávio Domiciano iniciou uma perseguição homicida contra os cristãos. O imperador ordenou o exílio do apóstolo João na ilha de Patmos. João, o único apóstolo ainda sobrevivente dentre todos os apóstolos, foi removido para que não pudesse proporcionar auxílio, consolo ou encorajamento. Nessa época, João estava com 90 anos de idade. Podemos imaginar como ele se sentia, isolado na ilha, enquanto eram abatidas as igrejas do Messias nas cidades do império. Os cristãos sobreviventes perderam todas as suas posses e a maioria continuou vivendo em esconderijos.
O que o apóstolo João poderia fazer na ilha de Patmos, longe de seus irmãos na fé? Ele clamava a Deus: “Por favor, ajude-nos! O que restará aos teus filhos? Até quando o mal vencerá?”. Nesse período tão terrível para o “corpo de Cristo”, o Senhor Jesus se manifestou na ilha de Patmos com respostas claras para João:
Deus tem controle sobre tudo o que ocorre no mundo.
Deus é fiel e manterá os seus filhos em suas mãos; eles não sofrerão na tribulação, pois esta é destinada aos que rejeitaram a salvação de Deus. É uma mensagem de encorajamento.
O mal e os maus serão julgados. Deus removerá os maus da face da terra. A sentença justa de Deus ocorrerá exatamente do modo como ele alertou e profetizou.
O Senhor voltará e reinará sobre sua criação, como estava planejado desde o princípio.
Será que os detalhes descritos sobre os acontecimentos do período de tribulação são exagerados para provocar medo? De modo algum!
Será que os detalhes descritos sobre os acontecimentos do período de tribulação são exagerados para provocar medo? De modo algum! O exagero também é pecado e Deus opera como o Soberano, o Santo e o Puro, e não alguém que utiliza instrumentos que não correspondam ao seu caráter. Um exemplo em nossa própria vida familiar esclarece o objetivo de Deus e ajuda a entendê-lo.
Por que existe um programa nas escolas no qual os alunos são levados a visitar clínicas de reabilitação, onde elas são apresentadas a pessoas que se tornaram vítimas de acidentes causados por negligência ao dirigir? Será porque os pais e os professores são desumanos e querem causar pânico? Será porque queremos assustar e amedrontar os filhos de tal modo que nunca venham a requerer sua habilitação de motorista? Não! Fazemos isso, sim, porque amamos nossos filhos e queremos preservá-los de sofrimentos. Nós lhes mostramos a dolorosa realidade que atinge aqueles que não observam as recomendações para a preservação da vida.
Como, então, podemos enquadrar corretamente a tribulação? Para os maus, que não querem aceitar a graça de Deus em Jesus, a palavra profética é uma mensagem de alerta e do juízo: “Este será o seu futuro se você continuar a desprezar e rejeitar a amorosa salvação de Deus, que ele oferece a todos aqueles que creem no sangue do seu único Filho, Jesus Cristo. Arrependa-se agora mesmo, antes que seja tarde!”.
Para os salvos ela é uma mensagem de ânimo e de justiça: “O mal não prevalecerá para sempre. Chegará o dia de seu castigo”. Deus prometeu remover da terra toda a impiedade e todos os ímpios antes que ele volte novamente para governar esse mundo juntamente conosco. O período de tribulação profetizado na Bíblia é uma expressão da justiça de Deus. É o cumprimento da condenação dos pecadores que rejeitaram a sua redenção. Simultaneamente, ele é um período de graça para seus filhos fiéis.
Notas
- Apocalipse 6–19
- Ver também Apocalipse 12.13-18
- Apocalipse 3.10; 15.1 – A comprovação de que a ira de Deus se originou no primeiro selo.
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