A Nova Moda das Igrejas: Ambientes Escuros e Negros!
Depois, no decorrer dos dias, algumas dessas igrejas pintaram as laterais do templo e algumas delas pintaram o forro de preto, e depois pintaram por fora todo o templo de preto! No entanto, as explicações que me deram não me convenceram. Por isso, saí a pesquisar sobre a função da cor preta, especialmente na arquitetura moderna e nos comerciais de televisão. Eu carecia de uma explicação científica sobre o porquê pintar todo o templo ou salão de reuniões de preto.
Alguns especialistas afirmam que o preto é uma “não cor”; para outros o preto é a ausência de cor, enquanto para outros o preto engloba todas as cores! Vi o vídeo ([i]) em que André Valadão no The Noite se orgulhou do que fez com o púlpito da igreja da Lagoinha e passei a pesquisar sobre igrejas contemporâneas.
Em todos os sites pesquisados notei que as informações científicas são mínimas e porque não dizer irrisórias. Os vídeos e comentários dos pastores que defendem a cor preta são sofismas facilmente contraditados pela ciência. Um desses pastores argumentou que o templo verdadeiro não foi pintado de preto, porque o verdadeiro templo é a igreja, isto é, o povo, e que dá menos trabalho, porque a sujeira e a poeira não aparecem tanto! (Acho que vou trocar a cerâmica branca do piso de minha casa por cerâmica preta – risos).
Imaginei, então, que consultando os especialistas em cromoterapia, isto é, quem procura trazer alívio e cura às pessoas pela cor teriam algo a dizer, mas, aí encontrei resposta á pergunta: Até que ponto considera-se a cromoterapia uma ciência? Ora, a cromoterapia é uma pseudociência: “Cromoterapia é a prática pseudocientífica de utilizar cores na cura de doenças, a qual vem sendo utilizada pelo homem desde as antigas civilizações — Egito antigo, Índia, Grécia e China — com o objetivo de harmonizar o corpo, atuando do nível físico aos mais sutis”. Interessante que verificando o uso das cores na cromoterapia não encontrei o preto nem a importância da cor preta na cura de pessoas! ([ii]).
Gostei do que disse a professora Ana Luiza Fernandes, jornalista, mestre em Ciências da Comunicação ao afirmar que “a cor preta não favorece a comunicação, e pela falta de energia estimula a individualidade e evita a troca entre as pessoas. Além de estimular a teimosia, que é a consequência da falta de comunicação e do excesso de individualidade” ([iii]). Hum! Essa declaração dela me preocupou, porque um dos principais problemas das pessoas hoje é o senso de isolamento, apesar dos recursos das redes sociais.
Um dos sites a que consultei informou que a cor preta é a cor do ocultismo, da magia e do mistério e lembra o cosmos e o universo – o que me levou a pensar nos “buracos negros”, o terror dos viajantes espaciais!
No vídeo da Igreja Multimídia, Rodrigo Kashima explica as razões de se usar a cor preta em boates, clubes, cinemas e teatros e, indiretamente defende o uso da cor nos templos das igrejas porque elimina a distração e prende o foco das pessoas a quem está na plataforma. Mas, também não apresenta uma explicação científica plausível, apenas técnica. Eu gostaria de, além de ter uma resposta científica saber que influência o preto tem na religião! Na realidade, a cor preta serve para que a luz foque apenas o homem na plataforma. Ele é o show!
Na cultura da igreja usa-se o preto apenas dois dias por ano: Sexta-feira da Paixão e sábado de aleluia! Sobre as cores usadas no calendário litúrgico, sabe-se que a cor branca é usada na Páscoa e no Natal. A cor vermelha, no dia de Pentecostes, para lembrar o Espírito Santo; a cor verde é usada nos domingos comuns; o roxo no advento e na páscoa, e o preto, é usado como sinal de luto. O preto em todos os dias de culto seria um ato profético dessas igrejas anunciando a morte de alguma coisa?
Assim, o preto como adorno nos cultos da igreja, é usado na decoração da mesa da eucaristia na sexta-feira da paixão e no sábado um dia antes da páscoa. No domingo de páscoa sai de cena e entra a cor branca para anunciar a ressurreição do Senhor. Nesta ocasião se adorna a mesa com toalhas brancas e, se possível, com flores e lírios brancos sobre a mesa!
Depois de ler e ouvir vídeos a respeito, concluí que:
1. A cor preta, usada em ambientes como teatros, cinemas e casas de shows serve para que as pessoas direcionem o foco de seu olhar e de sua atenção para o palco, e não se distraiam com alguém passando ao seu lado nem com pessoas mal vestidas ou bem vestidas com roupas coloridas. Seu foco está no palco! Na tela do cinema. Assim, ninguém dispersa o olhar! Isso acontece também nos templos pintados de preto, com uma diferença, que o leitor verá no ponto seguinte:
2. Nos templos e salões de reuniões da igreja a cor preta serve para destacar o palco em que o pastor, o dirigente do culto e os músicos são vistos com suas calças coladas, suas camisas atraentes, suas tatuagens e colares, o que traz implícita a ideia de show.
3. A cor preta esconde as pessoas uma das outras e as tornam “invisíveis”. As pessoas que gostam desses ambientes escuros das igrejas não querem ser notadas nem observadas, o que estimula a individualidade e o egocentrismo. Ora, vive-se num tempo em que as pessoas estão isoladas, em completa solidão, e que, apesar de terem suas redes sociais, com muitos “amigos”, estão sós. E não sei se a igreja deve contribuir para fechá-las ainda mais em seus isolamentos sociais.
4. A cor preta desestimula a comunhão entre os irmãos que é feita principalmente pela visualização. Com a ausência de cor – o preto é ausência de cor – os irmãos não conseguem ver uns aos outros, e, assim como entram voltam para suas casas, a menos que já tenham construído relacionamentos saudáveis, o que não acontece com os visitantes! Para muitos, a comunhão se dará na calçada ou nas pizzarias, a menos que se abra espaço para que se tomem drinques e cafezinhos no intervalo dos cultos.
5. Os que defendem o uso da cor preta como fundo de palco – e vários de meus amigos a usam afirmando que para as gravações de vídeo é melhor, e de que o preto serve para destacar as pessoas nas gravações de vídeos de suas igrejas, e que escondem a bagunça das caixas de sons e instrumentos musicais, tem sua argumentação derrubada, quando se vê que nos principais estúdios de tevê das emissoras do país, pelo menos nos noticiários não se utiliza o preto, mas uma variedade de cores, e seus vídeos ou gravações são muito lindos!
Não quero ser contendedor, e se o fosse argumentaria biblicamente sobre a cor preta usando as várias passagens em que Jesus fala de trevas e da noite sempre com um sentido negativo. Até mesmo Paulo falou da questão da noite como algo negativo. Porque trevas falam de coisas ocultas, por isso, Lucas, quando registra que na reunião dos irmãos havia muitas “lâmpadas no cenáculo” (At 20.8) onde estavam reunidos, está dizendo a Teófilo, a quem dirigia o livro, de que aqueles irmãos não estavam se reunindo secretamente, e não infringiam a lei romana que proibia reuniões em lugares secretos, e sim, que podiam ser vistos pela guarda romana da cidade. Quem sabe se alguma lei federal exigir que não haja reuniões secretas, as igrejas voltarão a escancarar as portas e deixar os templos e salões bem iluminados!
Obviamente que os mais bíblicos e espirituais derrubariam minha argumentação afirmando que Deus mora nas trevas e que faz das trevas seu esconderijo, como afirmam vários versículos dos Salmos. Alguns usarão a declaração de Salomão que afirmou: “o Senhor declarou que habitaria em trevas espessas!” (1 Rs 8.12). E habita, realmente em trevas, porque Salomão se referia ao fato de que a nuvem que cobria o monte Sinai e a arca da aliança com os querubins era escura, negra, e encobria a presença de Deus para que o homem não morresse. A pergunta que faço é: Hoje, a cor escura encobre o quê? Estará encobrindo a presença de Deus para que o homem seja visto?
E, como não encontrei uma resposta científica plausível quanto ao uso do preto como tela de fundo para destacar as gravações, nem no estudo da cromoterapia, pediria aos meus leitores que enviem publicações científicas a respeito deste tema; se as encontrarem, porque até agora o que encontrei está no terreno do esoterismo!
É difícil para qualquer membro antigo de igreja, acostumado à luz, assimilar o fato de que a cor preta dos templos e salões de reuniões significa contemporaneidade. Afinal, dizem: Durante dois mil anos de crescimento da igreja não se usou a cor preta, bem ao contrário, os locais de reuniões eram limpos, claros e por vezes coloridos! Por que razão nunca se precisou do preto? Concordo com eles, porque o foco era sempre Cristo, a luz, a vida, a ressurreição, enquanto nos dias de hoje o foco deixou de ser Cristo, para ser o homem; e o evangelho light, fofinho que não machuca ninguém!
Desconfio, e estou estudando a respeito, que deve existir uma ligação espiritual ainda não perceptível em tudo isso! E, se o descobrir escreverei a respeito.
As pessoas mais velhas cresceram em ambientes de igrejas cheios de luzes, em que os antigos vitrais coloridos dos templos transmitiam uma sensação de paz e tranquilidade ao frequentador do culto dominical. Quanto mais claro o ambiente, mais paz de espírito se sentia! As cores dos vitrais refletiam no templo os raios solares coloridos.
O argumento é de que se trata de uma inovação cultural positiva.
Quanto a questão da inovação, deixe-me pontuar aqui uma coisa: Eu fui um inovador na questão da hinódia da igreja a partir da década dos anos 70, mas foi uma inovação sadia que levava as pessoas a uma vida de adoração e de compromisso com Cristo e não como uma novidade a mais! Sempre acreditei que música é cor e energia, e por vezes imaginava que a marcha fúnebre representava um quarto escuro, cheio de intensas trevas, momentos de tristeza e choro, enquanto cânticos de louvores a Deus flutuavam angelicalmente nas cores do arco-íris. Posso dizer sem medo de errar: No céu não tem negrume! Lá deve ser tudo claro! Agora, por que Jesus falou tanto em trevas eternas?
Meus livros, a respeito do tema mudaram o conceito de louvor e adoração de várias gerações. Se por um lado fez bem naquele tempo, hoje louvor e adoração tomaram rumos desastrosos até mesmo em igrejas históricas, que eu não esperava! Porque sempre ensinei um louvor Cristocêntrico, sem shows, em que os músicos não precisavam vestir o paletó do diabo para serem vistos, apenas Cristo era glorificado. A propósito, “vestir o paletó do diabo” é o título de um artigo que escrevi anos atrás, falando dos cantores e músicos que precisam imitar o mundo para serem vistos!
Nenhum de nós é Amish, pessoas que vivem no passado, sem energia elétrica nem carros, e se deslocam de carroças; nada disso ([iv]). Somos modernos quanto a tecnologia desde que essa contribua para divulgar a essência da mensagem do evangelho. O problema é que alguns pastores não se deram conta de que mudaram o evangelho pela tecnologia que usam!
Quando sou convidado a pregar nas igrejas que utilizam o preto, limito-me a pregar a palavra de Deus, sem condená-los, ainda que tenha que fazer um enorme esforço para ler o texto bíblico e ver as pessoas no auditório! Dia desses não conseguia ler a Bíblia, porque não havia luz e nem um apoio para a Bíblia. Trouxeram-me, então, uma caixa de som e a colocaram sobre uma cadeira onde apoiei a Bíblia!
Sei que estou pisando em areia movediça, e que não serei entendido e que perderei espaço para pregar nas igrejas, mas, para mim – e enfaticamente o digo – para mim trata-se de uma cor esotérica, fúnebre, que infunde respeito pela morte, isolamento e solidão. Para outros representa tristeza e reverência, não aquela reverência alegre que se tenha num culto de adoração, mas uma reverência de tristeza e luto! Ora, a tristeza e o luto em algum momento do culto devem dar lugar a alegria e gozo!
Aliás, no cântico, “no Santo dos Santos a fumaça me encobre”, posso afirmar que a única fumaça hoje é a fabricada pela maquininha de gelo seco nos palcos! Porque se a nuvem de Deus descer na igreja os crentes saem correndo ou desmaiam, como fizeram alguns sacerdotes, na inauguração do templo de Salomão. Não fica ninguém em pé!
Também me acostumei a associar o preto como a cor dos cabarés de beira de estrada com suas luzes vermelhas, com os clubes de dança onde poucos se veem, em que as luzes coloridas misturadas ao preto provocam alucinações aos frequentadores.
O preto lembra o pecado, a tristeza, o velório e a dor.
Em contrapartida observo que alguns centros de umbanda estão usando o branco em seus salões envidraçados com muita luminosidade para que os transeuntes enxerguem do lado de fora o que passa no lado de dentro, enquanto nós nos escondemos na escuridão para que os de fora não enxerguem o que se passa no lado de dentro!
Fica aqui minha observação. Respeito a opinião de cada pastor, e proponho que sigam na direção que Deus lhes deu neste mundo de novas ideias sem que se dilua a mensagem do evangelho!
Ficaria contente se nesses templos pretos e sem luminosidade os pastores pregassem contra o pecado, falassem da necessidade de arrependimento, da necessidade da purificação pelo sangue de Cristo; se os pastores levassem as pessoas a mudarem de vida para que sejam libertas dos demônios e batizadas no Espírito Santo; se houvesse manifestações demoníacas nos cultos – raridade hoje – e se parassem de pregar sobre autoajuda e conclamarem seus ouvintes a uma mudança radical de vida. Repito, se tudo isso ocorrer dentro de um ambiente preto e lúgubre, voltarei atrás no que escrevi! Mas, de maneira geral muda-se a cor do templo e muda-se também a “cor” do evangelho!
Concluindo uso aqui as palavras do pregador e avivalista Charles Spurgeon:
“O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela. Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem avidamente pelo caminho da tolice.”
[iii] Veja em http://www.wemystic.com.br/artigos/fachada-preta-os-efeitos-de-ter-a-fachada-pintada-na-cor-preta/.
[iv] Os Amish são um grupo religioso cristão anabatista, baseado nos Estados Unidos e Canadá. São conhecidos por seus costumes conservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos, inclusive telefones e automóveis.
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