quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O Dilema Palestino


O Dilema Palestino

Thomas Lachenmaier
No conflito árabe-israelense ocorre o encontro dos maiores contrastes. Onde falta a vontade e a capacidade para a formação de um Estado, é impossível que surja um Estado.
Quem lança um olhar retrospectivo sobre a história do conflito árabe-israelense, após o estudo dos fatos certamente chegará a uma conclusão notável: o povo árabe já poderia ter fundado seu próprio Estado palestino diversas vezes. E isso teria acontecido com o consentimento de Israel e da sociedade internacional. Essas oportunidades de ouro, no entanto, foram desperdiçadas pelo lado palestino. E não apenas isso: elas foram encerradas com as mais amargas batalhas, guerras, intifada e terror contra Israel. Por que isso é assim?
A primeira data relacionada a essa incapacidade é 14 de maio de 1948. Nesse dia, os judeus e os palestinos deveriam ter criado um Estado respectivamente para cada povo. Eles estavam devidamente autorizados através de uma resolução concedida pela ONU. No calor dos atuais debates fica esquecido que os palestinos poderiam recentemente ter comemorado os 68 anos de existência de seu Estado soberano, ao lado de Israel, se, na primavera de 1948, eles tivessem aceitado a oferta da Organização das Nações Unidas, para a criação de um Estado próprio. Esse teria sido o primeiro Estado palestino da história.
A perda dessa oportunidade de ouro é justamente um exemplo corrente do modo de agir dos habitantes árabes do Oriente Médio. O mesmo aconteceu no Acordo de Oslo, em 1993 ou no ano de 2000, quando o então primeiro-ministro Ehud Barak fez amplas propostas, mas não encontrou parceiros.
Em setembro de 2008, o primeiro-ministro Ehud Olmert fez uma proposta ao seu colega palestino Mahmoud Abbas, para a criação de um Estado com base nas fronteiras de 1967. Olmert a considerou retrospectivamente como “a mais generosa e mais abrangente proposta já oferecida por um primeiro-ministro”. O que faltou no documento foi unicamente a assinatura de Abbas.
Por que parece ser mais atrativo continuar convencendo adolescentes a amarrarem explosivos ao corpo e detonar-se em um mercado público, a se apresentar como combatentes armados com fuzis Kalashnikov, a bombardear Israel com mísseis, ao invés de se preocupar com a organização de uma burocracia eficiente e com a agricultura, com sistemas de escoamento de esgotos e outras urgentes necessidades de infraestrutura? Como se explica a incapacidade dos palestinos em criar um Estado civilizado?
O autor israelense Obadiah Shoher escreve que é errado acusar os palestinos de não estarem dispostos a assumir responsabilidades. Antes disso, devido a fatores históricos, não haveria neles a conscientização para constituírem um Estado e nem a capacidade de realizá-lo.
O senso de um Estado pressupõe a concepção de um território e a vinculação com uma localização concreta. Os clãs palestinos, pelo contrário, são extraterritoriais. O primeiro vínculo das pessoas pertence ao clã, mas nunca está relacionado a um determinado território. Por outro lado, também o pensamento ou a inclinação pessoal do indivíduo deve corresponder às exigências de lealdade do clã – além de, por exemplo, ser dado um emprego a uma pessoa incapaz do próprio clã do que a uma pessoa capaz que pertença a outro clã. O clã, ou a tribo, é um ponto de referência diferente de responsabilidade do que o de um Estado. O Estado (enquanto for democrático) é um conjunto complexo de órgãos dotados com atribuições definidas, que se controlam reciprocamente e são mantidos à vista pela mídia livre e cujos políticos precisam se responsabilizar através de eleições transparentes. Realizar isso exige uma série considerável de condições. Onde estas não existem, não há condições de fundar um Estado.
Cada indivíduo, entre outros assuntos, precisa ajustar suas ações com uma noção sóbria de autoridade estatal. Caso ele não consiga fazê-lo, então a consequência será a existência de Estados com as características encontradas na região árabe. Por exemplo, no Egito: o ditador Mubarak foi eleito com quase 100 por cento dos votos, não havia Justiça independente, nem imprensa livre. A lealdade de um funcionário egípcio será dedicada primeiramente ao membro de seu clã familiar (mesmo que este esteja distante) ou àquele que lhe dá propina, mas não à estrutura abstrata chamada “Estado”.
A corrupção não é simplesmente uma característica difundida na sociedade, porém, a corrupção se infiltrou na constituição do Estado. Em última análise, não somente o Iêmen e a Somália são “estados problemáticos”. Também as nações árabes não dominam nenhuma forma de constituição estatal adequada aos requisitos atuais.
No lado palestino não houve o desenvolvimento de uma identidade de povo. Fala-se de um povo palestino somente depois que Yasser Arafat escreveu essa ideia sobre as bandeiras da guerra política contra Israel. Nunca antes houve uma nação palestina, nem mesmo alguma constituição estatal.
O conflito árabe-israelense tem relação com isso, sendo que nele há a colisão de duas experiências e ordens de valores em relação ao conceito de responsabilidade, de povo e de Estado. No lado palestino não houve o desenvolvimento de uma identidade de povo. Fala-se de um povo palestino somente depois que Yasser Arafat escreveu essa ideia sobre as bandeiras da guerra política contra Israel. Nunca antes houve uma nação palestina, nem mesmo alguma constituição estatal. “Povo palestino” existe no sentido de “ser contra Israel”, mas não para uma constituição concreta de algum formato que se queira atribuir para um modo de convivência estatal.
Israel, no entanto, é exatamente o contrário de tudo isso. Os israelitas certamente representam o povo mais antigo que existe. Os hebreus, de acordo com os conceitos atuais, formam um povo desde a era do bronze. Além disso, sua existência é especialmente devida a Deus – ao menos é essa a visão dos crentes judeus e cristãos. A Bíblia não escreve somente que Deus escolheu o povo de Israel para ser “o seu próprio povo” (Dt 7.6; 14.2 – ARA).
A Escritura Sagrada diz, ainda, justamente a respeito desse povo, que ele foi “criado” por Deus. É o que lemos no Salmo 100.3, ou em Isaías 43.1, onde consta: “Mas agora assim diz o Senhor, aquele que o criou, ó Jacó, aquele que o formou, ó Israel: ‘Não tema, pois eu o resgatei; eu o chamei pelo nome; você é meu’”.
Não apenas a identidade do povo de Israel persiste desde um tempo incomparavelmente longo, mas também sua identidade como nação que existiu antigamente em uma constituição estatal e hoje existe novamente. O Estado de Israel já existia há 3.000 anos.
Assim, no Oriente Médio, ocorre um choque entre duas realidades diametralmente opostas. É notável que os políticos palestinos considerem sua luta também como uma luta contra a autenticidade histórica de Israel, como uma luta contra a memória. Isso nos remete ao Salmo 83, onde menciona os inimigos de Deus, que O odeiam e levantam sua fronte desafiadora e dizem: “Venham, vamos destruí-los como nação, para que o nome de Israel não seja mais lembrado!” (v. 4).
A luta contra a memória do povo de Israel une os inimigos de Deus já desde milênios. Do mesmo modo como Hamã queria extinguir a memória do povo de Israel e eliminar os israelitas, conforme relata o livro de Ester, assim hoje o presidente iraniano Hassan Rouhani ambiciona varrer Israel do mapa. Também a administração muçulmana do Monte do Templo se opõe a essas provas do passado, que atestam a existência do povo e do Estado de Israel. No âmbito das obras subterrâneas no Monte do Templo, eles destroem os achados da antiguidade e os jogam no lixo. Eles pretendem eliminar a memória da história de Israel. Os arqueólogos israelenses se empenham para ainda salvar alguns vestígios.
No conflito árabe-israelense há a colisão de conceitos diferentes em relação ao povo, à nação e ao Estado. Ali também acontece o confronto entre dois mundos contraditórios referentes à fé no deus bélico Alá e no Deus da Bíblia.
A guerra permanente dos palestinos contra Israel não resultará na criação de um Estado palestino porque, em última análise, eles nem têm esse objetivo, e porque não existe neles a vontade nem a capacidade para a formação de um Estado. Não haveria um Estado palestino, mesmo se os inimigos de Israel conseguissem destruir o país e apagá-lo do mapa. Nesse caso simplesmente restaria uma porção de terra devastada entre o Mar Mediterrâneo e o deserto que passaria a pertencer, ora a um, ora a outro país vizinho – assim como aconteceu durante 2.000 anos. No entanto, para essa faixa de terra, para Israel, a Bíblia promete um futuro diferente. — Thomas Lachenmaier (factum-magazin.ch)

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