Ao longo dos anos tem havido muitas
argumentações contra o pré-tribulacionismo. Algumas tentativas são
exegéticas, outras são teológicas, e algumas são práticas. Embora eu
venha escutando este argumento prático específico (do preparo para a
Tribulação) desde o início dos anos 1970, eu o ouvi apresentado com uma
frequência muito maior no ano passado do que em todos os anos anteriores
juntos. A questão que levantam é a seguinte: “Se o Arrebatamento
pré-Tribulação não for verdadeiro, então a Igreja não estará preparada
para passar pela Tribulação e muitos se perderão no tempo da perseguição
por causa desse falso ensino”.
Não Estarão Preparados?
O trailer de um vídeo contra o pré-tribulacionismo pergunta:
E o que acontecerá se a Igreja não for arrebatada aos céus antes da Grande Tribulação como muitos estão ensinando? E o que acontecerá se a Igreja for deixada com preparo insuficiente para encarar o Anticristo e a marca da besta? E o que acontecerá se as afirmativas de Tim LaHaye sobre o Arrebatamento pré-Tribulação forem falsas? Então, a bendita esperança se tornará a infeliz esperança para milhões de pré-tribulacionistas? E o que acontecerá se os milhões que foram conduzidos ao erro pelo ensino pré-tribulacionista se tornarem parte da grande apostasia que Jesus advertiu que iria acontecer naquela hora?[1]
O mesmo trailer apresenta o anti-pré-tribulacionista Joel Richardson, declarando:
A questão do Arrebatamento pré-Tribulação versus o Arrebatamento pós-Tribulação é uma das questões pastorais mais importantes dos nossos dias. Se você é um pastor que neste momento não está preparando seu povo para enfrentar potencialmente o Anticristo e a Grande Tribulação, simplesmente porque sua denominação ensina isso, ou por outro motivo qualquer, acho pessoalmente que você está fracassando em seu papel como pastor.
De acordo com essa maneira de pensar, aparentemente, há algum
ensinamento especial ou algum preparo especial em que os pastores devem
estar engajados para que possam preparar seu povo para os rigores de
enfrentar a Tribulação. Certamente, a Tribulação será como Jesus disse
que seria: “Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o
princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais” (Mt
24.21). Mas, esta visão (da necessidade de preparo para a
Tribulação) pressupõe, incorretamente, que o Novo Testamento não ensina o
Arrebatamento da Igreja antes da Tribulação. Durante os últimos vinte e
cinco anos tenho apresentado o ensino do Novo Testamento apoiando o
pré-tribulacionismo. Contudo, mesmo que eu pressupusesse, para fins de
argumentação, que a Igreja iria enfrentar a Tribulação, seria verdade
que os pastores pré-tribulacionistas não teriam preparado seus rebanhos
para suportarem aquele momento? A resposta é “não”!
Preparo Para a Perseguição
A chave para todo cristão sobre como tratar com a perseguição de
qualquer tipo não é algum conhecimento especial de que tal perseguição
está chegando; em vez disso, a chave depende do nível de maturidade do
indivíduo que está passando pelas dificuldades. Na noite antes de ser
crucificado, Jesus disse aos Seus discípulos no Cenáculo: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou
a mim.?Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como,
todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o
mundo vos odeia” (Jo 15.18-19). Todas as instruções do Discurso do
Cenáculo (João 13-16) são instruções especiais finais aos Seus
discípulos que logo se tornariam os fundadores, juntamente com Cristo,
da nova era que chamamos de Igreja. A mensagem de Jesus foi que o mundo O
odiava e também odiaria e perseguiria Seus seguidores. O versículo
final do Discurso do Cenáculo foi projetado para encorajar aqueles que
estavam destinados a se tornarem parte da Igreja. Disse Jesus naquele
momento: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim.
No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”
(Jo 16.33).
O apóstolo Paulo ressoa a advertência de Jesus sobre a perseguição durante a Era da Igreja quando declara: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12).
Os crentes que realmente viverem a vida cristã são aqueles que sofrerão
perseguição, seja a perseguição mais branda da mera rejeição social, ou
a perseguição severa que leva à morte. O motivo para tal perseguição
foi revelado por Cristo no Discurso do Cenáculo, quando Ele observou que
o mundo O odeia e também odiará aqueles que viverem como Jesus. Esta
verdade é ilustrada em todo o Livro de Atos à medida que a igreja
primitiva divulgava o Evangelho por todo o mundo antigo. A perseguição é
frequentemente a razão pela qual um escritor do Novo Testamento foi
inspirado pelo Espírito Santo a escrever uma epístola a muitas das
recém-formadas igrejas do primeiro século. O fato é que as dificuldades,
as tribulações e a perseguição são coisas que vêm acontecendo desde a
fundação da Igreja do Novo Testamento, quase dois mil anos atrás. Então,
como os crentes da era presente devem tratar com essa questão?
Maturidade Cristã
O que tem preparado os crentes de qualquer época para tratarem com as
dificuldades e a tribulação? Pode-se afirmar simplesmente que é a
maturidade na fé. Os crentes que são amadurecidos na fé conseguem lidar
com qualquer tipo de teste que Deus permita acontecer em suas vidas.
Portanto, um pastor é responsável por alimentar seu rebanho com a
Palavra de Deus, a qual capacita os crentes a suportarem as dificuldades
que possam encontrar em seu caminho, seja dentro ou fora da Tribulação.
Não fui capaz de encontrar, tampouco alguém foi capaz de me mostrar,
passagens bíblicas especiais que tenham o objetivo de capacitar uma
pessoa a passar pela Tribulação. Como disse Paulo aos anciãos de Éfeso
em seu encontro de despedida: “Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os que são santificados” (At 20.32).
É o ensinamento da Palavra de Deus, sob a supervisão de Deus Pai,
através do poder do Espírito Santo, que é capaz de edificar os crentes
individualmente, preparando-os para suportarem qualquer que seja a
circunstância.
Durante dois mil anos de história da Igreja, tem havido dezenas de
milhões de crentes que já suportaram tremenda perseguição imposta a eles
por aqueles que odeiam nosso Senhor e Salvador, sim, há dezenas de
milhões que deram suas vidas por amor a Cristo. Como eles foram capazes
de perseverar? Eles perseveraram porque eram sólidos na fé. Assim também
será depois do Arrebatamento: aqueles que vierem à fé em Cristo
perseverarão ao passarem por semelhantes perseguições, confiando no
Senhor. Se a Igreja estiver “despreparada”, como os críticos do
pré-tribulacionismo afirmam que acontecerá por causa do
pré-tribulacionismo, será, na verdade, porque seus membros não cresceram
adequadamente na fé.
É verdade que há muitíssimos crentes professos hoje, tanto
pré-tribulacionistas quanto não pré-tribulacionistas, que não estão
crescendo na fé como deveriam. Mas isto não acontece porque tenham uma
determinada visão do momento do Arrebatamento. Em vez disso, é porque
não amadureceram na fé como deveriam ter amadurecido. Vemos isto
refletido por Paulo em sua primeira carta aos coríntios: “Eu, porém,
irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais,
como a crianças em Cristo.?Leite vos dei a beber, não vos dei alimento
sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo.
Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. Porquanto, havendo
entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais
segundo o homem?” (1Co 3.1-3). Esses crentes tinham tido tempo para
superar a infância espiritual e se tornarem crentes amadurecidos, mas
escolheram não crescer. Existem muitos cristãos assim na igreja de hoje.
O objetivo de muitíssimas igrejas hoje é aumentar em número e entreter o
rebanho, não é ver os crentes amadurecerem e se tornarem adultos na fé.
Espalhando Mitos
Lembro-me de assistir, no início dos anos 1970, a Pat Robertson em
seu programa de televisão chamado “O Clube 700”. Robertson sempre foi um
pós-tribulacionista fervoroso e, portanto, um anti-pré-tribulacionista
militante. Assisti a um programa no qual Corrie ten Boom era a
convidada. Ela juntou-se a Robertson na crítica ao pré-tribulacionismo e
contou sua tão frequentemente repetida história sobre como, na China, o
Arrebatamento pré-Tribulação era ensinado aos crentes e, portanto,
estes não estavam adequadamente preparados quando os comunistas tomaram o
poder e impuseram uma severa perseguição aos cristãos. Recentemente, um
pós-tribulacionista enviou-me um e-mail com a seguinte citação,
supostamente de ten Boom a respeito desse assunto: “Fracassamos.
Deveríamos ter feito com que o povo ficasse mais forte para a
perseguição, em vez de dizer-lhe que Jesus voltaria primeiro. Digam ao
povo como ser forte em tempos de perseguição, como permanecer firme
quando a tribulação vier, como perseverar e não desanimar”. Ela disse em
muitas ocasiões que os cristãos chineses não estavam preparados para a
perseguição que lhes sobreveio em 1949, quando os comunistas tomaram o
controle da China, porque eles estavam esperando ser arrebatados. Este
simplesmente não é o caso!
O trabalho missionário evangélico teve início na China no começo dos
anos 1800, e estima-se comumente que houvesse cerca de 750.000 crentes
na China quando os missionários foram expulsos de lá no começo dos anos
1950. Nos anos 1970, quando foi restabelecido o contato da China com o
mundo exterior, diz-se que havia dezenas de milhões de chineses cristãos
lá. Hoje, estima-se que haja algumas centenas de milhões. Se a Igreja
na China foi derrotada por causa do pré-tribulacionismo, então como é
possível que o Evangelho tenha se espalhado e se multiplicado tão
tremendamente quando lá não havia missionários de fora? Seja o que for
que tenha acontecido nesses vinte e cinco anos depois que os
missionários partiram de lá, o que vemos não é o resultado de uma igreja
derrotada, despreparada, como a Corrie ten Boom sempre afirmou.
Desta forma, é falsa a noção de que, se o pré-tribulacionismo estiver
errado – e tenho certeza de que não está errado – os crentes não
estarão adequadamente equipados para a perseguição que acontecerá na
Tribulação. Tal visão não é verdadeira, uma vez que a habilidade para
lidar com provações e tribulações está relacionada com a maturidade
espiritual das pessoas, e não simplesmente por serem avisadas que terão
que passar pela tribulação. Isto é demonstrado na história pelos muitos
pré-tribulacionistas que têm sido capazes de permanecer fortes em meio à
perseguição durante nossa atual Era da Igreja. Maranata! (Thomas Ice — Pre-Trib Perspectives
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