Prisioneiro do amor
“Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo, e o irmão Timóteo, a você, Filemom, nosso amado cooperador, à irmã Áfia, a Arquipo, nosso companheiro de lutas, e à igreja que se reúne com você em sua casa: A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.” (Fm 1-3)
A carta de Paulo a Filemom também é considerada uma “obra-prima da arte de escrever cartas”. De todas as cartas escritas por Paulo, esta é a de caráter mais pessoal. O carinho e o amor que transparecem nela fez com que essa carta fosse comparada com o livro de Rute, do Antigo Testamento. A Bíblia de Estudo Scofield dá a ela o título de “o amor exemplificado” e sobre ela William MacDonald escreveu: “Essa pequena carta mostra a cortesia, a consideração – com uma pequena dose de humor – e o coração amoroso de Paulo”.
A partir da prisão em Roma, por volta do ano 62 d.C., o apóstolo Paulo escreveu ao seu rico amigo Filemom, o qual, ao que parece, morava em Colossos: “Tíquico informará vocês de todas as coisas a meu respeito. Ele é um irmão amado, ministro fiel e cooperador no serviço do Senhor. Eu o envio a vocês precisamente com o propósito de que saibam de tudo o que se passa conosco, e para que ele lhes fortaleça o coração. Ele irá com Onésimo, fiel e amado irmão, que é um de vocês. Eles irão contar tudo o que está acontecendo aqui. Aristarco, meu companheiro de prisão, envia saudações, bem como Marcos, primo de Barnabé. Vocês receberam instruções a respeito de Marcos, e, se ele for visitá-los, recebam-no” (Cl 4.7-10).
Provavelmente Filemom, a exemplo de Arquipo, tenha sido um dos presbíteros da igreja em Colossos, pois, em Colossenses 4.17, Paulo se dirige a Arquipo: “Cuide em cumprir o ministério que você recebeu no Senhor”. Além disso, Filemom colocou sua casa à disposição para que a igreja local se reunisse, pois lemos: “... e à igreja que se reúne com você em sua casa” (Fm 2).
Esse texto trata principalmente sobre um escravo, chamado Onésimo. Ele estava trabalhando na casa de Filemom e provavelmente havia furtado alguma coisa de seu senhor – conforme referência do versículo 18 – e então havia fugido para Roma. Por alguma circunstância, ele foi preso e conheceu Paulo na prisão, convertendo-se a Cristo.
Agora Paulo estava enviando Onésimo de volta a Colossos, juntamente com um colaborador chamado Tíquico, o qual levou uma carta de Paulo para os colossenses e uma para Filemom, como está relatado em Colossenses 4.7-10.
Que lição aprendemos para nossa vida pessoal?
Apesar de sua condição de prisioneiro, Paulo demonstrou o desejo de salvar uma pessoa que estava aprisionada pelo pecado. Seu coração batia por reis, governadores, príncipes, soldados e escravos; para o rico Filemom como para o pobre Onésimo. Ele estava preocupado em alcançar todas as pessoas com o evangelho.
O apóstolo se empenha ao máximo ao assumir o mandato de advogado de seu outorgante e o representa. Vale observar o modo como Paulo luta, implora e é fiador de Onésimo, mesmo que este seja um “mero” escravo. Não devemos desconsiderar nem julgar uma pessoa pela sua aparência!
Não se pode cercear a ação do Espírito Santo. Apesar de estar aprisionado exteriormente, interiormente Paulo estava liberto. O Senhor pode aproveitar as situações mais adversas de nossa vida para, a partir delas, realizar algo para o louvor do seu maravilhoso nome.
Deus não utiliza apenas grandes eventos especialmente preparados e atos especiais para salvar pessoas em nosso ambiente. Ele também quer nos utilizar em nossa vida cotidiana, na situação em que nos encontramos para sermos suas testemunhas. Paulo, por exemplo, pôde pregar o evangelho em sinagogas, no Areópago em Atenas e na prisão. Ele se dispôs a ser usado em todo lugar e não permitiu ser impedido pelas circunstâncias para ser uma testemunha do Senhor.
O evangelho tem o poder de transformar pessoas. Por um lado, em função do relacionamento de um pecador diante de Deus, mas também, por outro, no que diz respeito aos relacionamentos interpessoais. É muito importante que, onde for possível, sempre que se cometer algo errado, que isso seja reparado mesmo que se tenho obtido perdão por essa falta. Onésimo, por exemplo, foi enviado de volta para o seu patrão. O perdão de Deus é levado em alta conta; no entanto, erros cometidos também precisam ser acertados diante das pessoas, o que fica evidente nas indicações dos versículos 18 e 19.
A sabedoria é vencedora. Paulo escreveu essa carta com muita sensibilidade e sabedoria, não na condição de apóstolo, mas como amigo e irmão. Ele se aproxima de Filemom até com certa submissão, mas desse modo conseguiu a aprovação desse seu caro irmão, para a sua solicitação. Ele agiu totalmente de acordo com o princípio bíblico: “A boca do justo profere sabedoria, e a sua língua fala conforme a justiça” (Sl 37.30) e “aquele que conquista almas é sábio” (Pv 11.30).
Acontece que o Espírito Santo nos concede sensibilidade. A Bíblia de Estudo Scofieldcontém o seguinte comentário: “[...] desta carta, a qual é de incalculável valor como instrução 1) na justiça prática, 2) na fraternidade cristã, 3) na cortesia cristã e 4) na lei do amor”. E Martinho Lutero escreveu o seguinte sobre essa carta:
Essa epístola mostra um exemplo magistralmente lindo de amor cristão. Nele vemos como Paulo assume o pobre Onésimo e o representa diante de seu patrão com tudo que ele precisa, assumindo a postura como se ele mesmo fosse Onésimo, o que cometeu pecado.
No entanto, ele não o faz com força ou obrigação, para as quais ele certamente teria autoridade, mas abdica dos seus direitos e, assim, obriga a que Filemom igualmente abdique de seus direitos. Do mesmo modo que Cristo fez por nós diante de Deus, também Paulo age diante de Filemom em favor de Onésimo [...] pois todos nós somos seus (de Deus) Onésimos, se crermos.
Se cada um de nós considerar a si mesmo como um Onésimo diante de seu irmão ou irmã, mas intercedermos por eles como Paulo fez, isso seria ótimo para o reino de Deus e não haveria dificuldades “entre irmãos”! — Norbert Lieth