quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

JERUSALÉM






Oração pela paz de Jerusalém

Cântico de romagem de Davi  (122)

Alegrei-me quando me disseram: Vamos à  Casa do Senhor.
Pararam os nosso pés junto às tuas portas, ó Jerusalém!
Jerusalém, que estás construída como cidade compacta,para onde sobem as tribos, as tribos do Senhor, como convém a Israel, para renderem graças ao nome do Senhor. 
Lá estão os tronos de justiça, os tronos da casa de Davi.
Orai pela paz de Jerusalém! Sejam prósperos os que te amam.
Reine paz dentro de teus muros e prosperidade nos teus palácios.
Por amor de meus irmãos e amigos, eu peço: haja paz em ti!
Por amor da Casa do Senhor, nosso Deus, buscarei o teu bem.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

COMO ENTENDER AS PROFECIAS BÍBLICAS


Israel como exemplo de caso
A existência do Estado de Israel tem algum significado teológico relevante para nós? Ou é apenas um fato político “normal” sem relação direta com a história da salvação divina e com nosso entendimento bíblico? Essas duas posições diferentes são defendidas por cristãos que se consideram fiéis à Bíblia. Na história da interpretação bíblica o caso de Israel sempre foi emblemático e desempenhou um papel-chave para entender o que a Bíblia diz e demonstra como lidar com outros textos proféticos: Jesus estabelecerá um reino de mil anos de paz (o Milênio)? As profecias ainda não cumpridas do Antigo Testamento se cumprirão literalmente? A Igreja de Jesus substituiu o antigo povo de Israel?

Usar Israel como exemplo de caso adequa-se para estudar e entender qualquer outro texto profético da Bíblia. Dentro da brevidade aqui exigida tentaremos analisar as questões hermenêuticas (relativas à interpretação) que devem ser esclarecidas se quisermos compreender corretamente o que a Bíblia tem a declarar acerca do futuro.
1. Os dois polos na questão de Israel: substituído pela Igreja ou promessas concretas para o futuro do antigo povo de Deus?
Vamos limitar-nos à comparação entre essas duas correntes antagônicas sem entrar no fato de que nos dois “campos” existem ainda mais diferenciações e variantes.

a) Teologia da substituição: as promessas feitas a Israel e ainda não cumpridas foram transferidas à Igreja de Jesus. Promessas terrenas (como o retorno à terra de Israel) não se cumprirão literalmente; elas foram transferidas simbólica e espiritualmente à Igreja do Novo Testamento. Essa posição é conhecida como a Teologia da Substituição, já que substitui o povo de Israel (como etnia) pelo Israel “espiritual”, a Igreja. Dentro dessa concepção o retorno do povo de Israel à sua terra não teria qualquer significado profético no plano divino de salvação.

A tese de que a Igreja substituiu Israel é um elemento básico no Amilenismo, que ensina que não haverá um reino de mil anos literal (Milênio). Segundo essa corrente, aquilo que Apocalipse 20 descreve já começou por ocasião da primeira vinda de Jesus e perdurará até Sua volta. Essa é a posição clássica da teologia reformada (e em parte da luterana).

Com isso desaparecem quase todas as diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento, a Aliança Abraâmica vale tanto para Israel como para a Igreja (“Teologia Aliancista”). Segundo Calvino, o Israel do Antigo Testamento já era a Igreja “como que na infância” (Institutas II, 11.2). O “Israel verdadeiro” é absorvido pela “Igreja de Jesus”, existe apenas uma “comunhão dos crentes, e essa comunhão existia desde o início da antiga ordem até o tempo atual e existirá na terra até o fim do mundo”.[1]

b) Cumprimento literal: as promessas ainda em aberto para Israel como povo se cumprirão literalmente no futuro. Delas fazem parte a conversão do remanescente (“todo o Israel”, Rm 11.26) ao Messias em conexão com a volta de Jesus e então sua existência sem opressão em sua própria terra (“restauração de Israel”). Dentro dessa perspectiva, o retorno do povo secular à terra de Israel depois da Segunda Guerra Mundial faz parte do cumprimento do plano divino. E esse retorno cria as condições para os futuros eventos de Zacarias 12 a 14. 

Dentro da perspectiva literal, o retorno do povo secular à terra de Israel depois da Segunda Guerra Mundial faz parte do cumprimento do plano divino.

Dentro dessa perspectiva esperamos um cumprimento literal das promessas de um reino milenar, para cujo estabelecimento o Senhor voltará. Essa é a posição do Pré-Milenismo (Jesus virá antes do estabelecimento do Milênio real). Na Europa essa posição ficou mais conhecida como Dispensacionalismo.[2] Mas nesse debate não deveríamos nos ater a “rótulos”, já que não existe um Dispensacionalismo fechado, mas diversas variantes agrupadas em volta de uma idéia central.[3] Repetidamente os detratores do cumprimento literal esboçam a caricatura de um Dispensacionalismo extremado. Aí surge a impressão de que todos os que esperam pela restauração de Israel e por um Milênio literal também apóiam doutrinas dispensacionalistas particulares (por exemplo, que o Sermão do Monte se aplica somente ao Milênio...). Esse definitivamente não é o caso!

Com isso chegamos a um resultado intermediário: as posições “a” e “b” se excluem mutuamente e exigem um posicionamento. Que pontos de orientação nos seriam úteis nessa tomada de posição?
2. A posição reformada acerca das Escrituras: retorno ao sentido literal da Bíblia.
Um propósito central dos reformadores era o retorno a um entendimento claro da voz das Escrituras (claritas scripturae). Isso exigiu da parte deles uma postura firme contra a arbitrariedade na exegese das Escrituras que se instaurara ainda nos primeiros séculos da História da Igreja. Na época, ao invés de aceitar o sentido literal dos textos como determinante, buscava-se um sentido “múltiplo” no que as Escrituras declaram. Com isso abriram-se as portas para todo tipo de alegoria (simbolismo), espiritualização e reinterpretação do texto sagrado. Isso conduziu a uma deturpação das verdades que Deus havia revelado aos escritores da Bíblia.

Um dos protagonistas dessa “espiritualização” foi Orígines, um dos pais da Igreja (185-254), posteriormente criticado duramente, e com justiça, por Martim Lutero. À alegoria e à arbitrariedade na exegese de textos bíblicos os reformadores contrapunham sua reivindicação central: válido seria o sentido simples e evidente das Escrituras, o sentido “literal”. Segundo essa idéia, um texto bíblico deve ser interpretado da forma mais próxima possível de seu sentido original, o mais perto possível daquilo que seus autores originais queriam dizer, sempre levando-se em consideração a gramática, o uso idiomático e o contexto da passagem.
3. Como os reformadores entendiam Israel
Tendo em vista essa regra de aceitação do sentido literal de uma passagem bíblica, é surpreendente que os principais reformadores não a aplicaram quando se tratava da questão de Israel. Enquanto Lutero, em sua antiga interpretação de Romanos (de 1515 a 1516) ainda dizia que no fim dos tempos uma grande parte do povo judeu como “remanescente” étnico (como coletividade nacional) iria converter-se a Jesus, mais tarde afastou-se dessa interpretação. Calvino também explicou Romanos 11.25ss. – contrariando o sentido literal e o contexto – como a comunidade de judeus e gentios que viriam a crer em Cristo no decorrer de toda a história eclesiástica. Isso correspondia à sua idéia de uma só Igreja “desde o princípio até o fim do mundo” (veja o Catecismo de Heidelberg, pergunta 54).

Como foi possível essa “desapropriação” de Israel, com suas promessas especiais transferidas para a Igreja? Certamente as questões escatológicas não foram as que mais ocuparam a atenção dos reformadores. As batalhas teológicas mais decisivas aconteciam em outras áreas, especialmente na questão da salvação e acerca da doutrina da justificação.

Na área da Escatologia os reformadores ficaram presos à posição encontrada em Agostinho, um dos pais da Igreja (354–430). Mas já antes dele, ainda no segundo século, a igreja primitiva tinha começado a ver a si mesma como única herdeira das promessas feitas a Israel (carta de Barnabé, Justino Mártir). Oríogenes, com seu método alegórico, forneceu as ferramentas que possibilitaram transferir para a Igreja as passagens que eram destinadas a Israel. Mais tarde, a Igreja Católica Romana defendeu seu poderio e sua suposta eleição com todos os meios possíveis e imagináveis. Ela já não tinha o mínimo interesse em devolver as promessas feitas a Israel a seus verdadeiros e originais destinatários. Em seu reino milenar presente (amilenismo!), Cristo já estaria há muito reinando através do papado.
Enquanto Lutero, em sua antiga interpretação de Romanos (de 1515 a 1516) ainda dizia que no fim dos tempos uma grande parte do povo judeu como “remanescente” étnico (como coletividade nacional) iria converter-se a Jesus, mais tarde afastou-se dessa interpretação.

Pelo menos na questão do Milênio, nos três primeiros séculos a Igreja antiga ainda tentava preservar a substância bíblica, mantendo a doutrina de um Reino futuro. No mais tardar com Agostinho começou, também nessa questão, um afastamento do sentido literal da Escritura, e esse afastamento tornou-se predominante em toda a Igreja. E os reformadores, mais de mil anos depois de Agostinho, pelo visto não dispunham do tempo nem da necessária clareza para impor a validade de seus princípios escriturísticos à questão de Israel. Hoje, quem quiser se reportar conseqüentemente à Reforma nesse sentido, precisa ir decididamente além dos reformadores e aplicar a literalidade do texto sagrado a todas as questões, inclusive à questão de Israel. Caso contrário, ficará preso a um confessionalismo tradicionalista.
4. O sentido literal de textos proféticos
O leitor da Bíblia encontra-se diante de uma alternativa bem clara: estou disposto a deixar que o texto fale por si mesmo ou leio o texto bíblico através do filtro de um certo sistema teológico? É óbvio que nenhum leitor da Bíblia se aproximará do testemunho das Escrituras completamente isento do conhecimento que já tem e das convicções já formadas em seu coração . Cada um de nós tem a tendência de considerar sua própria explicação como a opção correta (até então), que também deveria fazer sentido para todos os outros.

Apesar desse elemento humano, a Palavra de Deus comprovou sua força fazendo-se entender e se impondo como verdade, mesmo diante dos maiores disparates.

Vejamos um exemplo para comprovar essa afirmação: o Antigo Testamento constantemente associa a renovação do coração do povo judeu com sua volta à terra. Sobre isso basta ler Ezequiel 36.24-28; Ezequiel 37.12-26; Amós 9.11-15 (comp. Jr 16.15; 23.8; 24.6; 31.8,23-34). Quem estudar esses textos encontrará declarações bem claras do Deus vivo acerca de Israel, Seu povo escolhido. A base para ligar a salvação com a terra é a Aliança Abraâmica (Gn 13.15; Gn 17.6-8, etc). Essa aliança é incondicional, ou seja, não impõe condições para ser válida nem depende da obediência de Israel. Como Deus iria invalidá-la?

No Novo Testamento essa promessa feita a Israel volta a ser reafirmada e não há uma palavra sequer dizendo que ela foi revogada ou invalidada, nem mesmo quando trata da unidade entre judeus e gentios formando juntos a Igreja (Ef 2.11ss.; Rm 11.17-24). E quando, por exemplo, Tiago cita em Atos 15.15-20 a promessa de Amós 9.11-12 feita para Israel nos tempos finais, ele não afirma, de forma alguma, que essa promessa já se cumpriu na Igreja ou com a Igreja. O que Tiago mostra ao citar essa passagem é que os planos futuros que Deus tem para Israel de forma alguma representam algum prejuízo para os gentios: se Deus, no futuro, plantar definitivamente Seu povo na terra de Israel, isso também será uma bênção para os gentios. Isso combina e se harmoniza perfeitamente (At 15.15), de forma que não podemos nem devemos excluir da Igreja os gentios convertidos nem considerá-los “cristãos de segunda categoria”. Os dois casos (cumprimento futuro da promessa de Amós e o atual ajuntamento da Igreja) são regidos pelo mesmo princípio: a bênção de Deus para judeus e a bênção de Deus para os gentios não são excludentes; elas incluem a ambos.

No Novo Testamento não há um único texto questionando a validade das promessas do Antigo Testamento feitas a Israel. Tudo o que o Novo Testamento diz sobre Israel e seu futuro converge para sua conversão a Jesus como seu Messias e a um cumprimento abrangente e pleno de todas as profecias. Numerosas afirmações (por exemplo, Mt 19.28; Mt 23.37-39; Lc 21.24; Lc 22.30; At 1.6; Rm 11.25-27) reforçam a esperança de Israel porque foram feitas pelo próprio Senhor Jesus (e depois confirmadas por Paulo).

Jacob Thiessen fez uma análise mostrando como são sólidas as fontes neotestamentárias garantindo uma restauração final de Israel (Israel und die Gemeinde [Israel e a Igreja], 2008). E Michel J. Vlach provou em sua dissertação que, onde o Novo Testamento complementa promessas do Antigo Testamento e as aplica a situações atuais (por exemplo Amós 9.11ss. em Atos 15.15ss.), isso nunca acontece de forma a anular seu sentido original ou literal nem as retira de Israel.[4]

Por isso, sempre vale a pena batalhar pelo literalismo bíblico, inclusive quando a questão é Israel. O que está em jogo não é nada mais, nada menos que a fidelidade das promessas de Deus, que não deixará ao léu a menina dos Seus olhos (Zc 2.12; Dt 32.10). Igualmente em jogo está a nossa própria fidelidade para com o sentido verdadeiro do texto sagrado. Quem se desvia dele para satisfazer algum sistema teológico corre o risco de repetir o mesmo erro em outras áreas. Que Deus nos proteja disso! (Dr. Wolfgang Nestvogel - http://www.chamada.com.br)

Wolfgang Nestvogel é pastor da Igreja Evangélica Professante de Hannover (Alemanha).
Notas:
  1. L. Berkhof, Systematic Theology, 1969, p. 571.
  2. Todo dispensacionalista também é pré-milenista. Mas a afirmação não é válida ao inverso: existem pré-milenistas que não compartilham de certas posições dispensacionalistas. Por isso existe a diferenciação entre pré-milenistas “dispensacionalistas” e “históricos”.
  3. A Bíblia de Estudo Scofield documenta o dispensacionalismo clássico da geração mais antiga enquanto um autor importante como John Walvoord defende um dispensacionalismo revisado, e outra diferenciação acontece no dispensacionalismo progressivo (a partir de 1986), defendido por C.A.Blaising e outros.
  4. Michal Vlach, The Church as a Replacement of Israel? An Analysis of Supersessionism, Frankfurt, 2009.



sábado, 21 de setembro de 2013

AS PROMESSAS DE DEUS A ISRAEL

Desde o segundo século depois de Cristo, muitos de dentro da Igreja têm afirmado que ela substituiu Israel para sempre. Na metade do segundo século, Justino Mártir, em seu famoso Dialogue with Trypho, a Jew [Diálogo com Trifão, um Judeu], chamou a Igreja de “a verdadeira raça israelita”, com base em que “Cristo é Israel”. Justino continua:
Tais são as palavras das Escrituras; portanto, entendam que a semente de Jacó agora se refere a algo mais, e não como se pode supor, que fale sobre o seu povo. Pois não é possível que a semente de Jacó, ou que Deus tenha aceitado aquelas mesmas pessoas a quem Ele reprovara como sendo inadequadas para a herança, e que prometa essa mesma herança a elas novamente.[1]
Passou apenas uma geração depois do encerramento do cânon do Novo Testamento, e já nasceu a horrível teologia de que Israel foi para sempre substituído pela Igreja. Ainda mais perturbador para nós, atualmente, é o fato de que essa teologia não apenas sobrevive em nossos dias, mas está em alta nos meios evangélicos que costumavam ser sempre isentos de tais visões.

As Promessas Sobre a Terra Para Israel

Por todo o Antigo Testamento, começando em Gênesis, o Senhor fez promessa após promessa a Abraão, Isaque, Jacó e a seus descendentes de que a terra de Israel pertence ao povo judeu. A promessa é repetida cerca de vinte vezes no livro de Gênesis.[2] O livro de Deuteronômio fala pelo menos vinte e cinco vezes que a terra é um presente do Senhor ao povo de Israel (Dt 1.20,25; 2.29; 3.20; 4.40; 5.16; etc.). Walter Kaiser, estudioso do Antigo Testamento, observa: “sessenta e nove vezes o escritor de Deuteronômio repetiu a promessa de que Israel um dia ‘possuiria’ e ‘herdaria’ a terra que lhe fora prometida”.[3] Os Salmos, o livro de adoração ao Senhor, freqüentemente levam o adorador a ações de graça ao Senhor por Suas promessas de aliança e por Sua fidelidade. Por exemplo, o Senhor declara: “Pois o Senhor escolheu a Sião, preferiu-a por sua morada: Este é para sempre o lugar do meu repouso; aqui habitarei, pois o preferi” (Sl 132.13-14).
Por todo o Antigo Testamento, os profetas mostram promessa após promessa desse tempo de restauração futura daquela terra (Is 11.1-9; 12.1-3; 27.12-13; 35.1-10; 43.1-8; 60.18-21; 66.20-22; Jr 16.14-16; 30.10-18; 31.31-37; 32.37-40; Ez 11.17-21; 28.25-26; 34.11-16; 37.21-25; 39.25-29; Os 1.10-11; 3.4-5; Jl 3.17-21; Am 9.11-15; Mq 4.4-7; Sf 3.14-20; Zc 8.4-8;10.11-15). Mesmo assim, a despeito da abundância de declarações tão claras no Antigo Testamento, muitos nos saguões acadêmicos da Igreja dizem que Deus deserdou Seu povo no Novo Testamento.
Falando sobre as promessas da terra a Israel, o estudioso britânico N. T. Wright é típico da mentalidade que vem da academia em nossos dias. Ele diz:
As tentativas modernas de reavivar esse nacionalismo geográfico, e dar a ele um colorido “cristão”, provocam a seguinte e muito importante reflexão teológica: a tentativa de “transportar” algumas das promessas do Antigo Testamento sobre Jerusalém, a Terra, ou o Templo, para que seu cumprimento ocorra em nossos dias tem o mesmo formato teológico que a tentativa do catolicismo da pré-Reforma de achar que Cristo estava sendo recrucificado em cada missa. (...) Se a ira de Deus, sobre a qual Jesus e Paulo falaram realmente tivesse terminado com os horríveis eventos do ano 70 d.C., a única atitude adequada das gerações subseqüentes acerca dos judeus, do Templo, da Terra de Jerusalém deveria ser de pesar ou de dó. Nesse ponto, o “Sionismo Cristão” é o equivalente geográfico de um, por assim dizer, apartheid “cristão”, e deveria ser rejeitado como tal.[4]
Wright segue adiante dizendo que todas essas promessas do Antigo Testamento não devem ser entendidas literalmente, mas são, de certa forma, cumpridas não-literalmente através da primeira vinda de Jesus e da formação do corpo global de Cristo. Ele afirma:
...a leitura completa do Novo Testamento sobre as promessas, de acordo com as quais, como disse Paulo, todas se tornaram realidade no Messias (2 Co 1.20). Isso não é simples “espiritualização”. Em vez disso, essas promessas, vistas através das lentes da cruz e da ressurreição, foram, em certo sentido, afuniladas por um lado, e, por outro lado, foram ampliadas para incluir toda a ordem criada.[5]

Walter Kaiser propôs a seguinte resposta ao sofisma filosófico de Wright:
Há pelo menos cinco erros fatais no pensamento daqueles que apóiam a tese da Teologia da Substituição: (1) A “Nova Aliança” foi feita com a casa de Israel e de Judá. Deus nunca fez uma aliança formal com a Igreja; (2) O fracasso dos judeus, assim como o fracasso da Igreja, estava calculado no plano de Deus (Rm 11.8); (3) O Novo Testamento ensina claramente que Deus não rejeitou o Israel desobediente (Rm 11.25-26), pois eles são os ramos naturais nos quais a Igreja foi enxertada; (4) O aspecto “eterno” da promessa sobre aquela terra não deve ser igualado ao aspecto “eterno” do sacerdócio arônico (1 Cr 23.13) ou aos descendentes de Recabe (Jr 35.19); e (5) A alegoria de Paulo sobre os gálatas (Gl 4.21-31) não ensina que o Israel nacional foi substituído pela Igreja; ela ensina que a busca pela justificação pela fé e pela graça leva à liberdade e à salvação.[6]
Gary Burge, professor na Wheaton College, é um eco americano do sentimento de Wright sobre este assunto quando, após citar Karl Barth, diz:
Portanto, o Novo Testamento coloca em Cristo todas as expectativas antes mantidas para “o Sinai e Sião, Betel e Jerusalém”. Para um cristão, retornar a uma territorialidade judaica é negar fundamentalmente o que transpareceu na encarnação. É desviar a devoção adequada do novo lugar onde Deus reside, isto é, do Filho. Isso explica por que o Novo Testamento aplica à pessoa de Cristo a linguagem religiosa anteriormente dedicada à Terra Santa ou ao Templo. Ele é a nova espacialidade, o novo local onde Deus pode ser encontrado.[7]

Respondendo a Tamanho Absurdo

Tais “teólogos” constroem absurdos totais a partir de um fundamento de pensamento puramente abstrato que não tem apoio nem no Antigo nem no Novo Testamento. Como diz o Pregador em Eclesiastes: “Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 1.2; 2.17). Conheço algumas pessoas que diriam simplesmente que tudo isso é apenas bazófia. As realizações de Cristo em Sua primeira vinda são a base sobre a qual Israel herdará suas promessas físicas, não uma base sobre a qual devem-se negar suas futuras bênçãos.
O apóstolo Paulo responde a tais absurdos em Romanos 11, quando faz a seguinte pergunta: “Pergunto, pois: terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! (...) Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu” (Rm 11.1-2). Adiante, Paulo diz: “Pergunto, pois: porventura, tropeçaram para que caíssem? De modo nenhum!” (Rm 11.11).
Esses “teólogos” estão dizendo coisas que não se encontram na Bíblia. Onde é que o Novo Testamento ensina que Israel foi deserdado de sua terra? Por que o Novo Testamento não menciona isso? O Novo Testamento não o menciona porque isso nunca aconteceu. Por essa razão eles tentam engendrar meras abstrações, produtos de vãs imaginações, porque não há nenhuma passagem que ensine esse deserdar das promessas da terra a Israel.
O sionismo e o sionismo cristão têm sido instrumentos usados por Deus na história para fazer a bola de neve rolar ladeira abaixo e agora ela já não pode mais ser impedida.
Quando pensamos sobre a reunião e o restabelecimento mundiais, sem precedentes, da nação de Israel, deveríamos imediatamente fazer as seguintes perguntas: “Por que Deus traria o povo judeu de volta à sua terra natal, restabelecê-lo-ia como nação, se ele não tivesse qualquer futuro naquela terra? Por que Apocalipse 12 fala de Israel naquela terra durante a Tribulação? Por que Paulo fala da corrupção do Templo de Deus pelo homem da iniqüidade em 2 Tessalonicenses 2 se não haverá uma reconstrução do Templo em Jerusalém?”.
O Templo ocupará seu espaço em Jerusalém. Por que Jesus retornará a Jerusalém em Sua segunda vinda se está correto que a OLP esteja no comando daquele pedaço de chão? Por que haverá 144.000 testemunhas judias, 12.000 de cada uma das doze tribos de Israel, se os judeus foram removidos da terra? E o que dizer das duas testemunhas que ministrarão em Jerusalém durante quarenta e dois meses ou três anos e meio?
Deus não rejeitou – e não rejeitará – Seu povo. Israel é verdadeiramente o “supersinal” de Deus sobre o final dos tempos. Israel é o estopim do barril de pólvora para o conflito mundial final. E, ao mesmo tempo, em quase dois mil anos, o estopim está começando a entrar em combustão. O sionismo e o sionismo cristão têm sido instrumentos usados por Deus na história para fazer a bola de neve rolar ladeira abaixo e agora ela já não pode mais ser impedida. Parece que, a cada dia que passa, Israel e as nações se tornam mais alinhadas no rumo que tomarão durante a iminente Tribulação. Mesmo assim, muitos se tornaram cegos pelo chamado “entendimento espiritual” do Novo Testamento.
Eventos maravilhosos e terríveis estão por vir! Maranata! (Thomas Ice - Pre-Trib Perspectives - http://www.chamada.com.br)

Notas:
  1. Justin Martyr, Dialogue of Justin, Philosopher and Martyr, with Trypho, A Jew [Diálogo de Justino, Filósofo e Mártir, com Trifão, um Judeu] capítulo 135, parágrafo 1.
  2. Observe as seguintes referências em Gênesis: 12.1-3,7-9; 13.14-18; 15.1-18; 17.1-27; 22.15-19; 26.2-6,24-25; 27.28-29,38-40; 28.1-4,10-22; 31.3,11-13; 32.22-32; 35.9-15; 48.3-4,10-20; 49.1-28; 50.23-25.
  3. Walter C. Kaiser, Jr., Toward an Old Testament Theology [Em Direção a uma Teologia do Antigo Testamento] (Grand Rapids: Zondervan, 1978), pp. 124-25.
  4. N. T. “Tom” Wright, “Jerusalem in the New Testament” [Jerusalém no Novo Testamento], in P. W. I. Walker, editor, Jerusalem, Past and Present in the Purpose of God [Jerusalém, Passado e Presente no Propósito de Deus] (Grand Rapids: Baker Book House, 1994), pp. 73-75.
  5. Wright, “Jerusalem in the New Testament” [Jerusalém no Novo Testamento], p. 73.
  6. Walter C. Kaiser, Jr., “An Assessment of ’Replacement Theology”’ [Uma Avaliação da Teologia da Substituição] Mishkan: A Forum on the Gospel and the Jewish People [Mishkan: Um Fórum sobre o Evangelho e o Povo Judeu] (Fevereiro 1994; No. 21), p. 10.
  7. Gary M. Burge, Jesus and the Land: The New Testament Challenge to “Holy Land” Theology [Jesus e a Terra: O Desafio do Novo Testamento à Teologia da Terra Santa”] (Grand Rapids: Baker Academic, 2010), pp. 129-30.