O SILÊNCIO RELIGIOSO SOBRE A PERSEGUIÇÃO CRISTÃ
| 08 Agosto 2012
Notícias Faltantes - Perseguição Anticristã
Notícias Faltantes - Perseguição Anticristã
Por que o pastor iraniano encarcerado
Youcef Nadarkhani não é conhecido dos ativistas, políticos e cidadãos do
Ocidente?
Neste mês, o pastor Youcef Nadarkhani (foto) completa mil dias de cárcere em Lakan, uma notória prisão no norte do Irã. Acusado de apostasia, o Sr. Nadarkhani encara uma sentença de morte por não renegar sua fé cristã, que é sua religião desde a infância. Embora ele seja um exemplo de devoção sincera e represente o que acontece com outros milhões que sofrem a mesma repressão, a história dele é pouco conhecida.
A
coragem do Sr. Nadarkhani e a tenacidade de seus apoiadores – muitos deles
meros fiéis espalhados pelo Twitter e outras redes sociais alertando o mundo
para essa situação – lembram grandes campanhas pelos direitos humanos dos
últimos tempos: a luta contra o apartheid na África do Sul e a
mobilização para ajudar os judeus soviéticos a emigrarem dos países da Cortina
de Ferro. Assim como Mandela representou a oposição ao racismo na África do Sul
e Anatoly Sharansky exemplificou as justas demandas dos judeus soviéticos, o
Sr. Nadarkhani hoje simboliza a situação crítica a qual líderes da Igreja
alegaramm que 100 milhões de cristãos espalhados pelo mundo sofrem.
Mesmo
assim o Sr. Nadarkhani não tem praticamente nenhum reconhecimento se comparado
aos Srs. Mandela e Sharanski. Apesar da crescente brutalidade com que se alvejam
os cristãos – atentados à bomba na Nigéria, discriminação no Egito (cristãos
são presos lá até mesmo por construírem ou reformarem igrejas) e decapitações
na Somália – os americanos continuam amplamente desinformados sobre o quão
crítica a situação se tornou, particularmente no mundo islâmico e nos países
comunistas como a China e Coreia do Norte.
A
principal razão pela qual a opinião pública não foi alertada sobre a
perseguição de cristãos é o fato de vários líderes das várias igrejas ignorarem
ou tergiversarem a respeito do problema. Se não houver pronunciamentos
enérgicos sobre esse assunto, então é falta de realismo esperar que os governos
democráticos o façam.
Pegue
o Vaticano como exemplo. Em várias ocasiões nos últimos anos, o Papa Bento XVI
falou sobre a perseguição de cristãos no Egito, Paquistão, Somália e outros
lugares. Mas nem o Papa nem um oficial sênior do Vaticano propuseram uma opção
política para combater essa repulsiva tendência. Algumas dessas opções podem ir
desde uma vinculação comercial e assistência financeira de modo a demonstrar um
comprometimento com a liberdade religiosa, até melhorar a segurança em igrejas
e outras instituições ou reforçar a ajuda militar a países como Nigéria e
Quênia, onde milícias islâmicas estão aterrorizando os cristãos.
Nos
Estados Unidos, cleros de todas as denominações, especialmente os influentes
evangélicos, poderiam levantar na Casa Branca e no Departamento de Estado os
arquivos sobre a perseguição aos cristãos. As condições são propícias para uma
campanha pública organizada e os esforços judiciais em nome dos judeus
soviéticos oferecem um modelo valioso.
Vinte
e cinco anos atrás, uma passeata em Washington D.C. pela causa dos judeus
soviéticos atraiu mais de 250.000 participantes de todos os setores da
comunidade judaica. Dado que uma parte significativa dos 250 milhões de
cristãos deste país é engajada politicamente, não é exagero acreditar que uma
iniciativa semelhante em nome dos cristãos perseguidos poderia atrair uma
multidão de mais de um milhão.
Mas
para isso acontecer, primeiro é preciso um mar de mudanças no pensamento dos
líderes das igrejas ocidentais. Para começar, eles devem se despir da aura de
ingenuidade que turva seus testemunhos a respeito das perseguições. Ao
longo dos anos sombrios da existência da União Soviética, os bispos ortodoxos
se desesperaram com a disposição dos forasteiros para tomar ao pé da letra as
suas garantias – oferecida com o olhar nervoso das autoridades – de que a vida
não era tão ruim assim. Podemos constatar uma tendência similar hoje em dia em
relação ao mundo islâmico.
Líderes
cristãos dos países muçulmanos estão preocupados se sobrevivem para um novo
dia. Podemos ajuda-los não entrando em diálogos insossos, mas compelindo seus
governantes a respeitarem a liberdade de culto, bem como seu desejo de conter a
enxurrada de cristãos que fogem da opressão para portos mais seguros.
As
igrejas também precisam dar um reset nas suas prioridades. É uma amarga ironia
que Israel, o único país no Oriente Médio onde os cristãos podem viver em
liberdade, seja o principal foco de opróbrio das igrejas.
Numa
convenção anual realizada neste mês, presbiterianos da América aprovaram uma
campanha de desinvestimento visando comunidades judaicas na Cisjordânia. O
Pastor Nadarkhani não foi sequer mencionado. Nos dias de convenções episcopais,
mais tarde, as resoluções sobre Gaza e o processo de paz israelense-palestino
entraram na pauta, mas o pastor iraniano foi igualmente ignorado. Quanto aos
atentados às igrejas na África e na Ásia, é como se eles nunca tivessem
acontecido.
Ben
Cohen mora em
Nova York e é escritor de assuntos relacionados à política internacional.
Keith Roderick é padre episcopal na Diocese de Springfield, Illinois.
Keith Roderick é padre episcopal na Diocese de Springfield, Illinois.
Tradução: Leonildo Trombela Junior